NO INTERESSE DA VERDADE.
CONCLUÍ o curso de direito na Universidade Federal do Maranhão - UFMA em 1996. Já se vão vinte anos. Muito tempo. Pois bem, já há alguns anos antes, quando trabalhava como assessor na Assembleia Legislativa, conheci o trabalho desenvolvido pelo advogado Luís Antônio Pedrosa, na defesa dos direitos humanos e da cidadania, sempre envolvido nas causas de interesse da comunidade, dos trabalhadores rurais e urbanos, dos menos favorecidos e dos marginalizados.
Acho que bem poucos nesta ilha de São Luís desconhecem estes fatos.
O governador Flávio Dino e seus assessores certamente não estão entre os que desconhecem. Acho, se não me falha a memória, que foram contemporâneos de UFMA.
O advogado Antônio Pedrosa, por estes dias, pelo li, fez uma grave denúncia, teria dito que o governo do estado, para conseguir reduzir a violência, crimes, morticínios, dentro do presídio de Pedrinhas, teria feito concessões impróprias e indevidas às facções criminosas.
Trata-se de uma acusação de gravidade impar. Diante dela o que se esperava e ainda se espera das autoridades, dos assessores governamentais e, até mesmo, do governador, seria uma manifestação formal contestando o afirmado pelo advogado; que se dissesse, e provasse, que o que fora dito não corresponde à realidade.
Não foi o que aconteceu.
Ao invés da refutação cabal do afirmado, viu-se uma tentativa de desqualificação da denúncia e do denunciante. Algo vil que vai de encontro ao que se espera de um governo comprometido com as boas práticas.
Como dito, o advogado é pessoa pública, conhecida de todos, com quase trinta anos de lutas em defesa das causas ligadas aos direitos humanos. Não bastasse suas palavras, a Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos, as endossou e corroborou com o que foi dito.
Denúncias com este nível de gravidade não comporta que as autoridades venham com explicações laterais, muito menos, que, diretamente, ou através dos contumazes aduladores, partam para a desqualificação dos denunciantes.
O governo – qualquer governo –, tem o dever de esclarecer a população as medidas tomadas, supostamente, em seu beneficio, ainda mais quando tais medidas são questionadas por entidades e pessoas que, até onde sabemos, são possuidoras de idoneidade.
Não é razoável que autoridades se furtem a responder a questões tão sérias, mais que isso, que tentem, diretamente ou através de interpostas pessoas, desmerecer as denúncias e aos denunciantes.
Utilizam de uma argumentação surrada, por vezes risível, na tentativa de desmerecer denúncias sérias. Alguns, mais descarados, chegaram ao ponto de acusar o advogado Pedrosa de ser um "sarneysista", um viúvo do antigo regime. Trinta anos de vida pública opondo-se aos governos ligados ao ex-presidente e, de repente, o advogado descobre-se e é descoberto, como sendo um fiel aliado de Sarney. Deve ter sido uma pena que isso tenha acontecido depois que o grupo perdeu as eleições após quase meio século de mando. Que falta de sorte, mudar de lado justo quando deixaram o poder, não podendo usufruir das suas benesses. É ridículo, é patético, é uma falta de vergonha na cara virem com tais argumentos.
Uma ironia a ser registrada é que a maioria deste tipo de argumentação – os mais risíveis e absurdos – parte de pessoas que nunca, pouco ou nada, fizeram por causa nenhuma, nunca se expuseram na defesa de nada, muitos, pelo contrário, sempre se serviram das migalhas que caiam das mesas dos poderosos. Tornaram-se doutores na arte da adulação.
A questão da segurança pública é emergencial. Não conheço nesta ilha, neste estado ninguém que se diga sentir mais seguro que há dois, três, cinco, dez anos atrás. E não adianta as autoridades virem com estatísticas de que conseguiram reduzir o número de homicídios – ainda que seja verdade, embora haja divergências da Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos contestam os dados apresentados –, isso, por si só, pouco significa no cômputo geral da violência, pois tivemos, no mesmo período, aumento do roubo a bancos, correios, comércios e residências; assaltos a ônibus são cada vez mais frequentes; roubo de veículos são constantes, quase sempre, com violência contra as vítimas. Até as escolas da rede pública viraram alvos dos marginais, de onde levam, desde os pertences dos alunos e professores ao material didático e a alimentação dos mesmos.
Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, mais um banco é assaltado no interior e a população está apavorada dentro de casa com medo do tiroteio. Hoje é Gonçalves Dias, ontem foi Grajaú, Icatu, sei lá mais quantos.
Outro dia ouvi um fato pitoresco: uma amiga me contava que uma colega sua sua tivera o carro arrombado e os seus pertences levados. Perguntei-lhe onde o fato se dera. Respondeu-me com naturalidade: – ali, nas proximidades do Parque do "Mau Menino". Onde?! Foi que percebi que mudaram o nome do famoso logradouro público em homenagem à realidade em que vive.
Estas, entre tantas outras, são as preocupações da sociedade e não essa disputinha tolo que travam diariamente nos meios de comunicação. O que nos interessa como cidadãos, é a verdade e não a informação manipulada e distorcida.
As autoridades precisam compreender que nem todos os cidadãos estão preocupados com essa guerra política onde qualquer um que questiona passa a ser alguém fazendo o jogo do adversário.
Se pudessem parar com esse tipo de bobagem a sociedade e o estado agradeceriam.
Abdon Marinho é advogado.