LULA, O REGENTE DA REPÚBLICA DE ASA BRANCA.
No futuro quando olharem para a história do Brasil – se ainda existir história tendo em vista a tentativa de se implantar uma nova "Revolução Cultural" nos moldes da chinesa no século passado –, identificarão dois períodos de regência, o primeiro, de 1831 a 1840, durante a menoridade do Imperador D. Pedro II e, o segundo, a partir 2013, por todo o governo da Sra. Dilma Rousseff.
Existem diferenças entre as duas regências:
Enquanto aquela ocorrida no Brasil Imperial foi fruto do mandamento constitucional, esta, a atual, acontece de forma clandestina, a sorrelfa, como, aliás, é comum neste governo.
Outra diferença, quando a primeira regência foi implantada, o infante Pedro de Alcântara (depois D. Pedro II) contava com pouco mais de 5 (cinco) anos, já a atual é feita para o governo da senhora Dilma Rousseff que conta com quase 70 (setenta) anos.
Quantos aos regentes basta dizer que as do Império foram compostas: a provisória por Francisco de Lima e Silva, Vergueiro e Marquês de Caravelas, todos senadores; a Permanente foi composta pelos os deputados José da Costa Carvalho, Marquês de Monte Alegre, da Bahia; João Bráulio Moniz, maranhense e pelo senador Francisco de Lima e Silva, Barão da Barra Grande, do Rio. As duas unas compostas, respectivamente pelo padre Diogo Antonio de Feijó e Pedro Araújo Lima, o marquês de Olinda – todos com maior ou menor grau preocupados, a seu modo, com os destinos do país e sua integridade –, bem diferente do atual regente, o Sr. Luís Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República, vez por outra convidado a prestar esclarecimentos à Polícia Federal.
O Sr. Lula, além de regente, também se ocupa de exercer a tutela da presidente da República, papel desempenhado na regência anterior por José Bonifácio de Andrada e Silva, o patriarca do Brasil, e também por Manuel Inácio de Andrade Souto Maior Pinto Coelho, Marquês de Itanhaém. Não precisamos dizer que a única coisa em comum, por exemplo, entre José Bonifácio e o Sr. Luís Inácio é o Silva, presente no sobrenome de ambos.
Já não é de agora que se notícia que a presidente do Brasil entregou a tarefa de governar a pessoas alheias à estrutura formal do país, principalmente, ao ex-presidente Lula.
Não faz muito tempo li a manchete: "Dilma se reúne com Lula para discutir a retomada do crescimento do país", o título foi mais ou menos este, ou uma estupidez semelhante.
Ora, a presidente da República pode reunir-se com que quiser. Mas não deixa de ser estranho que faça isso com alguém que não é nada na estrutura administrativa, política ou econômica do país. O senhor Lula não ocupa cargo nenhum, não é presidente de nenhum partido, não é presidente de nenhuma corporação de indústrias, comércios ou serviços, não é ninguém na estrutura formal do país. Então, como é que a presidente da República se ocupa de discutir a pauta econômica ou administrativa do país com alguém que, formalmente, não representa ninguém?
A resposta a isso é uma só, o senhor Lula assumiu a um só tempo a regência do governo e o papel de tutor da presidente.
A exdrúxula influência chega ao ponto de compromissos oficiais do governo serem retardados pelo fato da governante está reunida com o "regente", não faz muito vimos a indelicadeza que cometeu contra os príncipes japoneses, fazendo-os esperá-la por mais de meia hora, para uma audiência de vinte minutos.
O "regente" clandestino palpita sobre todos os assuntos do governo passando "pito" e orientações públicas à presidente e aos ministros.
A situação vivida pelo Brasil, uma das maiores economias do mundo, no que se refere aos papéis desempenhados pela presidente e pelo senhor Lula, em muito se assemelha ao da fictícia cidade de Asa Branca, retratada de forma magistral por Dias Gomes, na novela Roque Santeiro. Dilma Roussef no papel do Dr. Florzinha, representado por Ary Fontoura e o ex-presidente Lula no papel de Sinhozinho Malta, inigualável representação de Lima Duarte.
Os mais antigos devem lembrar, bastava o Sinhozinho Malta chegar à prefeitura que o Dr. Florzinha se levantava cedendo-lhe a cadeira de prefeito. Não é diferente do que faz a senhora Dilma, sabe-se que em reuniões entre ambos, inclusive na presença de ministros e outras autoridades, ela, a presidente refere-se a ele, Lula, como "presidente", já ele, refere-se a ela, a presidente, como "Dilma", não se tem, sequer, o respeito pelo o cargo.
Se na ficção as cenas do Dr. Florzinha cedendo à cadeira de prefeito ao Sinhozinho Malta eram impagáveis, momentos de puro e acabado talento de dois monstros da televisão brasileira, na vida real, a imagem de uma septuagenária presidente da República, indo vez ou outra a São Paulo pedir conselhos ou atrasando compromissos oficiais do governo para ficar tró-ló-ló com o senhor Lula, que não é ninguém "no jogo do bicho", não tem graça nenhuma. Apenas representa o quanto que conseguiram desmoralizar as instituições republicanas.
O Brasil é hoje, devido a esse tipo de coisa, uma nação vista com reservas e motivo de riso entre as demais. Viramos uma uma republiqueta de bananas. Somos hoje, assim podemos dizer, uma uma república de Asa Branca, só que real.
Abdon Marinho é advogado.