AbdonMarinho - NO INTERESSE DA VERDADE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

NO INTER­ESSE DA VERDADE.

NO INTER­ESSE DA VERDADE.

CON­CLUÍ o curso de dire­ito na Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão — UFMA em 1996. Já se vão vinte anos. Muito tempo. Pois bem, já há alguns anos antes, quando tra­bal­hava como asses­sor na Assem­bleia Leg­isla­tiva, con­heci o tra­balho desen­volvido pelo advo­gado Luís Antônio Pedrosa, na defesa dos dire­itos humanos e da cidada­nia, sem­pre envolvido nas causas de inter­esse da comu­nidade, dos tra­bal­hadores rurais e urbanos, dos menos favore­ci­dos e dos marginalizados.

Acho que bem poucos nesta ilha de São Luís descon­hecem estes fatos.

O gov­er­nador Flávio Dino e seus asses­sores cer­ta­mente não estão entre os que descon­hecem. Acho, se não me falha a memória, que foram con­tem­porâ­neos de UFMA.

O advo­gado Antônio Pedrosa, por estes dias, pelo li, fez uma grave denún­cia, teria dito que o gov­erno do estado, para con­seguir reduzir a vio­lên­cia, crimes, mor­ticínios, den­tro do presí­dio de Pedrin­has, teria feito con­cessões impróprias e inde­v­i­das às facções criminosas.

Trata-​se de uma acusação de gravi­dade impar. Diante dela o que se esper­ava e ainda se espera das autori­dades, dos asses­sores gov­er­na­men­tais e, até mesmo, do gov­er­nador, seria uma man­i­fes­tação for­mal con­te­s­tando o afir­mado pelo advo­gado; que se dissesse, e provasse, que o que fora dito não cor­re­sponde à realidade.

Não foi o que aconteceu.

Ao invés da refu­tação cabal do afir­mado, viu-​se uma ten­ta­tiva de desqual­i­fi­cação da denún­cia e do denun­ciante. Algo vil que vai de encon­tro ao que se espera de um gov­erno com­pro­metido com as boas práticas.

Como dito, o advo­gado é pes­soa pública, con­hecida de todos, com quase trinta anos de lutas em defesa das causas lig­adas aos dire­itos humanos. Não bas­tasse suas palavras, a Sociedade Maran­hense de Defesa dos Dire­itos Humanos, as endos­sou e cor­roborou com o que foi dito.

Denún­cias com este nível de gravi­dade não com­porta que as autori­dades ven­ham com expli­cações lat­erais, muito menos, que, dire­ta­mente, ou através dos con­tu­mazes adu­ladores, par­tam para a desqual­i­fi­cação dos denunciantes.

O gov­erno – qual­quer gov­erno –, tem o dever de esclare­cer a pop­u­lação as medi­das tomadas, suposta­mente, em seu ben­efi­cio, ainda mais quando tais medi­das são ques­tion­adas por enti­dades e pes­soas que, até onde sabe­mos, são pos­suido­ras de idoneidade.

Não é razoável que autori­dades se furtem a respon­der a questões tão sérias, mais que isso, que ten­tem, dire­ta­mente ou através de inter­postas pes­soas, desmere­cer as denún­cias e aos denunciantes.

Uti­lizam de uma argu­men­tação sur­rada, por vezes risível, na ten­ta­tiva de desmere­cer denún­cias sérias. Alguns, mais descara­dos, chegaram ao ponto de acusar o advo­gado Pedrosa de ser um «sar­ne­y­sista», um viúvo do antigo régime. Trinta anos de vida pública opondo-​se aos gov­er­nos lig­a­dos ao ex-​presidente e, de repente, o advo­gado descobre-​se e é descoberto, como sendo um fiel ali­ado de Sar­ney. Deve ter sido uma pena que isso tenha acon­te­cido depois que o grupo perdeu as eleições após quase meio século de mando. Que falta de sorte, mudar de lado justo quando deixaram o poder, não podendo usufruir das suas benesses. É ridículo, é patético, é uma falta de ver­gonha na cara virem com tais argumentos.

Uma iro­nia a ser reg­istrada é que a maio­ria deste tipo de argu­men­tação – os mais risíveis e absur­dos – parte de pes­soas que nunca, pouco ou nada, fiz­eram por causa nen­huma, nunca se expuseram na defesa de nada, muitos, pelo con­trário, sem­pre se servi­ram das migal­has que caiam das mesas dos poderosos. Tornaram-​se doutores na arte da adulação.

A questão da segu­rança pública é emer­gen­cial. Não con­heço nesta ilha, neste estado ninguém que se diga sen­tir mais seguro que há dois, três, cinco, dez anos atrás. E não adi­anta as autori­dades virem com estatís­ti­cas de que con­seguiram reduzir o número de homicí­dios – ainda que seja ver­dade, emb­ora haja divergên­cias da Sociedade Maran­hense de Defesa dos Dire­itos Humanos con­tes­tam os dados apre­sen­ta­dos –, isso, por si só, pouco sig­nifica no côm­puto geral da vio­lên­cia, pois tive­mos, no mesmo período, aumento do roubo a ban­cos, cor­reios, comér­cios e residên­cias; assaltos a ônibus são cada vez mais fre­quentes; roubo de veícu­los são con­stantes, quase sem­pre, com vio­lên­cia con­tra as víti­mas. Até as esco­las da rede pública viraram alvos dos mar­gin­ais, de onde levam, desde os per­tences dos alunos e pro­fes­sores ao mate­r­ial didático e a ali­men­tação dos mesmos.

Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, mais um banco é assaltado no inte­rior e a pop­u­lação está apa­vo­rada den­tro de casa com medo do tiroteio. Hoje é Gonçalves Dias, ontem foi Gra­jaú, Icatu, sei lá mais quantos.

Outro dia ouvi um fato pitoresco: uma amiga me con­tava que uma colega sua sua tivera o carro arrom­bado e os seus per­tences lev­a­dos. Perguntei-​lhe onde o fato se dera. Respondeu-​me com nat­u­ral­i­dade: – ali, nas prox­im­i­dades do Par­que do «Mau Menino». Onde?! Foi que percebi que mudaram o nome do famoso logradouro público em hom­e­nagem à real­i­dade em que vive.

Estas, entre tan­tas out­ras, são as pre­ocu­pações da sociedade e não essa dis­putinha tolo que travam diari­a­mente nos meios de comu­ni­cação. O que nos inter­essa como cidadãos, é a ver­dade e não a infor­mação manip­u­lada e distorcida.

As autori­dades pre­cisam com­preen­der que nem todos os cidadãos estão pre­ocu­pa­dos com essa guerra política onde qual­quer um que ques­tiona passa a ser alguém fazendo o jogo do adversário.

Se pudessem parar com esse tipo de bobagem a sociedade e o estado agradeceriam.

Abdon Mar­inho é advogado.