José Reinaldo colhe tâmaras. O Maranhão perde oportunidades.
Por Abdon C. Marinho*.
NOTICIOU-SE, não faz muito tempo, que o presidente do país, senhor Lula, agendara a inauguração do trecho derradeiro da ferrovia norte-sul, permitindo, assim que uma carga possa sair do Porto do Itaqui, no Maranhão até o Porto de Santos, em São Paulo, um feito realmente extraordinário na estrutura do transporte no brasileiro.
Para a solenidade que aconteceria no Estado de Goiás – acabou sendo cancelada por algum motivo climático ou outro qualquer –, foram convidados o ex-presidente José Sarney, que presidiu o país de 1985 a 1990, período que teve início a obra; e o ex-ministro dos transportes da época, responsável por colocar em prática o projeto de interligar o Brasil por via ferroviária, José Reinaldo Tavares, ex-governador do Maranhão.
Ao refletir sobre o assunto, lembrei-me de um antigo ditado dos povos do deserto que diz: “quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”, uma alusão ao fato de que as tamareiras para produzirem seus primeiros frutos no deserto levavam de oitenta a cem anos – hoje com as novas tecnologias de produção esse tempo foi bastante reduzido, mas ainda é considerável.
A lembrança deveu-se ao fato de que, quase quarenta anos depois de idealizado, o projeto da ferrovia de integração nacional, finalmente, tornou-se uma realidade – depois de uma demora injustificada –, possibilitando aos seus idealizadores, tais quais os plantadores de tâmaras, a alegria de colherem os frutos, ou seja, de testemunharem a conclusão do projeto.
Antes que algum desavisado venha questionar: — Ain, Abdon, deverias dizer no título que Sarney colhe tâmaras e não Reinaldo.
Esclareço que a opção por Reinaldo não se trata de uma animosidade ou injustiça ao ex-presidente, que à época presidia o país e será muito reverenciado como “pai” do projeto. A opção pelo ex-governador prende-se ao fato deste vir dedicando a vida a semear tâmaras, como, aliás, deveriam fazer os demais agentes públicos do estado e do país. Não tenho notícias, se existem, fazem questão de manterem segredo, de outro político maranhense, além de José Reinaldo, que esteja idealizando projetos – e indo atrás de recursos para viabilizá-los –, pensando nas gerações futuras, para daqui a vinte, trinta, quarenta anos …
Conforme esclareci em textos anteriores – e já foram diversos –, o ex-governador não fez dos cargos que ocupou – e ainda ocupa –, um trampolim para a “feitura” de fortuna, tanto assim que nunca se teve notícias de suas fazendas, suas mansões, seus aviões, suas milhares de “cabeças de gado”, muito pelo contrário, não faz muito, o ex-governador virou “notícia” ao acudir-se em uma casa de crédito atrás de um empréstimo ou negociar uma dívida qualquer – situação bem diferente de tantos outros políticos, que embora nunca tenham tido qualquer uma atividade profissional, industrial ou comercial privada, ficaram ricos nos exercícios de cargos públicos e/ou de mandatos eletivos.
A situação de tão normal sequer causa estranhamento quando se noticia que algum fato deu-se na fazenda ou mansão de algum imberbe deputado, senador ou simplesmente de alguém que ocupou um cargo público qualquer. Ninguém mais se dá o trabalho de perguntar-se: como assim?
Vejamos o próprio exemplo da ferrovia norte-sul, durante anos foi tida como “maldita”, não porque as pessoas esclarecidas não soubessem de sua importância para o país e principalmente para o nosso estado, mas, porque sempre foi fonte constante de escândalos e um sumidouro de verbas públicas.
Uma obra, como tantas outras, que os políticos mais antigos apelidam de “obras para morder”, uma alusão ao fato de nunca terminar porque os seus responsáveis têm interesse perpetuarem “ganhos” com as mesmas.
Jamais, nunca, nunca mesmo, uma obra tão importante para o país poderia levar quase quarenta anos para ficar pronta, até porque, a engenharia para construir ferrovias “não é coisa de outro mundo”, estando em prática há centenas de anos em todo mundo e o relevo do Brasil não demandar grandes obstáculos.
Chega a ser inacreditável que façamos “festas de inauguração” para receber uma obra que durou quase quarenta anos quando, poderia ter sido executada em quatro – ou mesmo que levasse uma década –, e festejemos isso. É como se estivéssemos festejando o nosso fracasso.
E, mais inacreditável ainda, que os políticos que nunca se deram o trabalho de sequer indagar sobre tamanha demora, apareçam por lá festejando ou com cara de “paisagem” e, pior, sem qualquer constrangimento.
Temos um exemplo até mais próximo a ilustrar bem o que digo: a infindável duplicação da BR 135, único acesso terrestre a capital, já tem mais de uma de década que foi iniciada e ainda não avançou a casa dos 100 km.
Vejam, não avançamos cem quilômetros em mais de uma década, uma obra rodoviária, também, sem maiores complicações. É uma vergonha! Como diz certo jornalista.
Enquanto isso, como no mito do manto de Penélope, os contratos de manutenção da dita BR parecem ser uma “aposentadoria” a décadas alimentando seus felizes beneficiários.
E a grande novidade dos últimos dias é que o órgão que cuida das estradas vai continuar em “boas mãos”.
É com imensa tristeza que “não vejo” os homens públicos do estado “brigarem” pelo progresso do Maranhão, pelo nosso desenvolvimento, por grandes projetos que tragam desenvolvimento e prosperidade para todos, não conseguimos assistir uma “hegemonia” política a favor do estado, pelo contrário, o que vemos são brigas, públicas ou íntimas, entre eles por espaços de poder, que para o conjunto da população brasileira e local, nada significa.
Não é fulano mandar mais que sicrano que interessa ao cidadão na linha de pobreza extrema, no degrau mais baixo na escada de desenvolvimento, não é isso que impacta sua vida. Essa brigalhada infeliz só interessa aos próprios políticos sem nenhuma visão e aos pseudos escribas que “ganham” seus dias escrevendo sobre bobagens.
Quantas décadas de desenvolvimento econômico o Maranhão não perdeu caso a ferrovia norte-sul tivesse sido concluída no tempo certo? Se portos no Itaqui ou em Alcântara tivessem ficados prontos? Se estivéssemos com políticos empenhados na realização de grandes projetos de desenvolvimento ou invés de estarem nas eternas “brigas” pela emenda da pracinha, da estrada vicinal, etc? Qual seria a posição do Maranhão nos índices de desenvolvimento econômico e social se estivéssemos a pleno vapor na utilização das nossas potencialidades?
Agora mesmo, quando possuímos tantas posições de destaque na estrutura de poder do governo federal, no legislativo e até no judiciário, não temos notícias de uma “união” dessas autoridades para o desenvolvimento do nosso estado, pelo contrário, as noticias são que “estão de mal”, brigando pelo “carrinho quebrado” ou por alguma “panela furada”, quando deveriam trabalhar pela implantação de grandes projetos econômicos como forma de “aliviar” o imenso sofrimento do povo maranhense, sempre ocupando as últimas posições em tudo que é indicador.
O MARANHÃO perde oportunidades mesmo quando as autoridades não estão em campos opostos ou disputando as mesmas “raias da política”.
A impressão que tenho é que padecem de alguma disfunção que os deixam incapacitados a compreenderem que o progresso, até do ponto de vista da política, seja local ou nacional, é fundamental para suas ambições.
O Sarney, mesmo quando presidente, nunca deixou de levar consigo a “pecha” de ser oriundo do estado mais atrasado do país, assim o foi, também, nas diversas vezes que foi senador da República e presidente do Senado.
Quase quarenta anos depois de Sarney ter ascendido ao cargo mais elevado país – não por culpa “só” dele –, o Maranhão segue na mesma posição, na “rabeira” da fila de “tudo”. Os políticos do estados representam o povo e o estado mais miserável da federação.
Esse índice, que não é meu, mas do IBGE, deveria nortear o comportamento de toda a classe política, fazerem se perguntar todos os dias ao se olharem no espelho enquanto escovam os dentes, o que estão fazendo ou farão para mudar tamanha vergonha.
Verdadeiros estadistas não se contentam em fazerem algo com resultado imediato, pensando no amanhã ou na próxima eleição, mas, sim, trabalham no sentido trazerem benefícios e progresso para as gerações futuras, tal qual fazem os plantadores de tâmaras, eles têm consciência que jamais comerão o fruto daquela árvore que plantou, mas sabem que alguém, no futuro, vai comer e agradecer aquele que a plantou.
Abdon C. Marinho é advogado.