ZÉ REINALDO AINDA APOSTA NA GRATIDÃO.
Por Abdon Marinho.
O EX-GOVERNADOR José Reinaldo Tavares anunciou aos maranhense, no Sábado de Aleluia, sua mais arriscada obra de engenharia política: ser candidato a senador sustentado por duas candidaturas de governador do campo oposicionista ao governo comunista do estado, algo até aqui, nunca testado, pelo contrário, em vezes anteriores, o que se viu sempre foi uma candidatura de governador apoiando duas de senador, às vezes três.
Os deveres familiares na Semana Santa, afastou-me, nos últimos dias, até mesmo da leitura dos jornais, sites e blogues, o que me impediu de acompanhar o desenrolar dos fatos, que, confesso, deixou-me surpreso.
Depois, já na noite do Domingo de Páscoa, passei a refletir melhor sobre a estratégia do ex-governador e a conclusão que chego é que ele decidiu apostar todas as suas fichas onde menos suspeitávamos: na gratidão. Logo ele que, como o Maranhão inteiro assiste, ainda incrédulo, foi vítima da mais inesperada das ingratidões, que foi o desprezo e a humilhação que sofreu da parte do atual governador, “feito” na política por ele, José Reinaldo, e que nem os impávidos Leões da frente do palácio acreditaria que fosse ocorrer da parte dele e de todo seu séquito, como o foi.
Embora sentindo o golpe – a ingratidão é sempre difícil de ser assimilada –, o ex-governador, engenheiro de profissão, busca, numa “engenharia política” inusitada, recuperar-se e dar a volta por cima.
Segundo soube, costurou o ingresso no ninho tucano direto com o presidente nacional do partido e candidato à presidência da república, Geraldo Alckmin, como uma espécie de “carta de seguro” contra quaisquer contratempos da parte dos tucanos locais, porventura, incomodados com fato de concorrer ao Senado pelo partido já tendo declarado publicamente apoio ao candidato do Partido da Mobilização Nacional - PMN, Eduardo Braide.
Como podemos ver trata-se de uma estratégia arriscada, entretanto, se der certo, trará uma série de lições às atuais e futuras gerações.
A primeira delas, caso se confirmem duas candidaturas apoiando uma de senador, será o espírito de solidariedade ao ex-governador demonstrado pelos dois candidatos ao governo estadual, Roberto Rocha (PSDB) e Eduardo Braide (PMN).
Embora pareça esquisito os dois terão muito mais a ganhar que a perder com tal gesto, conforme explico abaixo.
O senador Roberto Rocha passou os últimos anos carregando a fama de desagregador e – no atual governo –, também, a fama de traidor.
Ao aceitar e apoiar o deputado José Reinaldo na sua pretensão ao Senado da República, cargo que já declarou, ser devido ao ex-governador, principalmente em tais circunstancias, desmistifica grande parte da propaganda negativa imposta pelos atuais donos do poder no Estado, através de diversos veículos de comunicação alinhados ao governo.
Uma acusação que não pode recair sobre senador tucano é de que lhe falta percepção do quadro politico local. Pelo contrário, já por ocasião da ruptura do então governador José Reinaldo com o grupo político do senador Sarney, na primeira metade da década de 2000, o atual senador foi um dos principais artificies daquela costura politica que trouxe o então governador para as hostes oposicionistas ao grupo político do qual fez parte a vida inteira até ali.
Lembro que muitos, naquela oportunidade, custaram a acreditar que a ruptura do governador com o grupo Sarney era “para valer” e, por conta disso, perderam espaço no governo. Não foi o que se deu com Roberto Rocha, ele não só acreditou que a ruptura era para valer como ocupou ou indicou pessoas de sua confiança para integrar o governo, como foi o caso de Pedro Maranhão, dentre outros.
As vicissitudes da política que os afastou – basicamente o projeto de José Reinaldo em “fazer” Flávio Dino governador –, não mais persistem, pelo contrário, demonstram muito mais convergências que divergências em seus projetos para Maranhão, como os são a Zona de Exportação do Maranhão-ZEMA, de iniciativa do senador e os projetos para o Centro de Lançamento de Alcântara, uma luta diária do deputado federal.
A vitória do projeto politico traçado em 2006 e só alcançada em 2014, chega para o ex-governador, em 2018, como o maior dos seus infortúnios. Humilhado e ignorado desde os primeiros dias do atual governo, não mereceu, por fim, sequer a indicação como candidato do grupo do governador ao Senado, cargo que sempre almejou desde que permaneceu no governo em 2006 – e com isso permitiu a primeira vitória do grupo “oposicionista”. Pior que isso, assistiu o governador erguer o braço do seu “favorito” como candidato na primeira vaga e informar que os demais postulantes – entre os quais o ex-governador – teriam que ir para o “murro” pela segunda indicação.
Isso, apesar de, mais de uma vez ter manifestado o interesse de concorrer como integrante da chapa do atual governador.
Escrúpulos de consciência ou ideológica? Que nada, o que mais tem nas cercanias do poder são ex-aliados do grupo Sarney, sem contar a verdadeira “guerra” que travaram para contar com o apoio do Partido Democratas - DEM, no arco de alianças, partido que possui um ideário totalmente oposto (e em contradição) ao ideário comunista.
A segunda lição é que, embora a “engenharia” seja do ex-governador, não se pode deixar de reconhecer o gesto de desprendimento do senador tucano em aquiescer com tal projeto.
Ao fazer isso, no fundo, também, está dando uma lição ao atual governador: a lição da gratidão. Mostra que, enquanto o atual governador, por quem Jose Reinaldo tanto fez, lhe vira as costas largas, ele, Roberto Rocha, não coloca obstáculos em dividir com outro oponente, Eduardo Braide, a sua candidatura de senador.
Como disse, trata-se de uma estratégia inusitada – um candidato a senador ser apoiado por dois candidatos a governador –, e nada garante que será exitosa. Mas, ninguém acreditava que fosse ter êxito a estratégia da “cooperativa de candidatos” articulada em 2006.
A terceira lição que nos socorre – e também merecedora de registro –, é o altruísmo demonstrado pelo deputado Eduardo Braide, a quem o ex-governador José Reinaldo já hipotecou publicamente apoio no pleito majoritário ao governo, em, também, não colocar obstáculos na “engenharia” montada com vistas a favorecer a eleição do ex-governador ao Senado. Aposta no futuro. Não no futuro distante, mas no futuro próximo.
Esse gesto de desprendimento, será mercadoria valiosa que poderá servir para captar inúmeros apoios caso vença a barreira do primeiro turno e passe ao segundo, principalmente se a estratégia for exitosa e José Reinaldo se eleger senador.
Não bastasse isso, o deputado ainda é muito jovem, o que significa, terá uma longa estrada na política. O gesto com o qual agora que inicia uma carreira majoritária estadual, vai credencia-lo junto à uma classe política tão desgastada, como uma pessoa capaz de atitudes grandiosas e não voltadas a interesses meramente pessoais.
Além do mais não se pode descartar, antes ou depois da eleição, uma união em torno da candidatura mais viável, no primeiro ou apenas no segundo turno. Tudo pode acontecer.
Por fim, merecendo igual reconhecimento, a “engenharia” do ex-governador. Qualquer outro, enfrentando tantas adversidades, traições e ingratidões, inclusive a trama urdida covardemente, que o impediu de ir para o Partido Democratas-DEM, com quem iniciara as tratativas desde o ano passado, teria esbravejado contra os seus algozes e tartufos ou mesmo desistido. Ao invés disso, com elegância e argúcia costura em torno de si uma aliança inédita que pode romper com uma lógica de quase todas as eleições: a de que o candidato a governador vencedor no primeiro turno leva consigo o(s) senador(es).
A “engenharia” do ex-governador – sem contar os inúmeros apoios de prefeitos, ex-prefeitos ou mesmo lideranças políticas ainda gratas pelo tratamento dele recebido desde quando ocupou os diversos cargos no plano estadual ou federal –, pode ser responsável pela ruptura da lógica política traçada até aqui.
Assim sendo, será a vitória da gratidão contra o engodo. Em todo caso, acerta ao ainda apostar na gratidão.
Abdon Marinho é advogado.
Escrito por Abdon Marinho
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