O MONOPÓLIO DO PRECONCEITO.
Por Abdon Marinho.
AS CHAMADAS esquerdas brasileira sempre gozaram de uma certa “inimputabilidade” para os desatinos que costuma vociferar. Os exemplos estão aí para comprovar o acerto de tal assertiva.
Por estes dias o senhor Ciro Gomes, candidato à presidência da república pelo PDT, xingou a mãe de uma promotora de Justiça do Estado de São Paulo. Chamou-a de “puta”. A pobre senhora que não deve conhecer o presidenciável foi xingada por uma providência legal de sua filha, que achou oportuno investigar, por ser de ofício, possível cometimento de crime de injúria racial praticada por ele contra um vereador da cidade de São Paulo.
A frase do presidenciável foi: "Agora um promotor aqui de São Paulo resolveu me processar por injúria racial e pronto. Um filho da puta desses faz isso e pronto". Mais adiante, no mesmo debate, foi além: "Ele que cuide de gastar o restinho das atribuições dele por que se eu for presidente essa mamata vai acabar, porque ninguém pode viver autonomamente", afirmou o presidenciável.
Na origem de todo esse quiproquó, o fato do senhor Ciro Gomes haver chamado o vereador de São Paulo, Fernando Holiday, do Democratas (DEM), de “capitãozinho do mato”. Temo que aqui, nesta afirmativa, tenhamos dois preconceitos. O primeiro na definição clássica do indivíduo que, com autorização do governo, andava armado e constituía bandos de caça aos escravos fugidos da senzala. No caso do vereador, sendo ele negro, um traidor da raça, dos seus irmãos. O segundo preconceito que vislumbro é, ao colocar o termo no diminutivo, uma alusão à condição sexual do ofendido.
Mas, haverão de dizer: — foi o Ciro Gomes. Quem dá ouvido ao que ele fala? Ele tem passe livre.
Não deixa de ser verdade. Afinal, que outra pessoa, em sã consciência, iria dizer que o papel de sua mulher na campanha era “dormir” com ele? E não falava de uma mulher anônima, alguém sem expressão na sociedade, mas sim de uma atriz das mais respeitadas na teledramaturgia brasileira, além de produtora, apresentadora, cineasta, com atuação em quase uma centena de papéis – ou mais –, Patrícia Pillar.
Esse foi o tratamento dispensado a ela numa campanha presidencial anterior.
Pela forma como se referiu à mulher até num momento delicado de saúde, podemos imaginar e até aquilatar as demais tolices, como a de referir-se ao ex-prefeito de São Paulo como “veadinho com areia no ...”. Aqui só para falar do monopólio dos preconceitos, não falemos na “democracia venezuelana”, no “sequestro do Lula”, em “receber Moro a bala”, estas deixamos para a coleção de bravatas.
Podemos dizer, entretanto, que o neologismo “sincericídio”, comum na política por designar os gestos de sinceridade que leva ao suicídio político, pode dar origem a um outro: o “sincericiro”, com quase o mesmo sentido.
Engana-se, entretanto, os que imaginam que estas loucuras, estes monopólios dos preconceitos, alcança apenas o candidato pedetista. Nada disso, vai muito além e alcança quase todos.
Outro dia assisti a uma polêmica envolvendo a pré-candidata comunista, Manuela D’Ávila.
A reclamação era contra um possível “machismo” que teria sido vítima num programa de televisão. Quase uma semana de protestos contra a emissora e jornalistas pela prática “machismo”, isso porque, diante de algumas perguntas que a candidata tergiversava, os inquiridores a interrompia. O mundo quase veio abaixo nas hostes esquerdistas, com protestos e manifestações de solidariedade a pré-candidata, de deputados, políticos com e sem mandatos, os supostos intelectuais e até do governador do Maranhão, que dá pitaco até em jogo de castanha.
Embora como menos repercussão, tivemos, recentemente, os protestos da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, também, contra um jornalista, acusando-o de “machismo”. A busílis: o jornalista, num texto, chamara a presidente da agremiação, devido aos seus arroubos, nem sempre justificáveis, de Maria Louca.
Foi o que bastou para os protestos contra o machismo voltassem as pautas dos engajados nos movimentos de emponderamento feminino e todas as outras com seus “ismos”.
São relevantes estas considerações para assentar que, no mesmo momento, em que estes protestos contra o suposto “machismo” sofrido pela pré-candidata Manuela e contra a presidente do partido ganhavam corpo e adquiria adeptos, outras mulheres, talvez mais merecedoras, eram alvo dos ataques mais vergonhosos – e ainda são –, oriundos, em grande parte, justamente, dos que mais protestam.
Basta uma ligeira pesquisa nas infinitas páginas nas redes sociais e mesmo de veículos de comunicação bancados, financiado ou de simpatizantes das pautas esquerdistas para nos depararmos com todos tipos de ataques vociferados contra a Ministra Laurita Vaz, do STJ; contra a juíza federal Carolina Lebbos, da vara de execuções penais do Paraná e mesmo contra a ministra Carmem Lúcia, do STF.
Os ataques, que além dos autores dos textos principais, alcança uma malta treinada pra comentá-los e vender suas narrativas, são materializados por inúmeras grosserias à honra, à sugestão de violência sexual contra aquelas mulheres, que cometeram o grave pecado de não rezarem nos manuais dos partidos políticos da devoção esquerdistas e, principalmente, por cumprirem com suas obrigações funcionais para as quais são pagas pelos contribuintes.
A cada decisão contrária aos interesses da horda, principalmente se referente ao líder-mor da seita que apelidaram de partido, as redes sociais e sites amilhados fervilham de ataques a estas mulheres, oriundos, justamente, de muitos dos que cerram fileiras dos movimentos que dizem defenderem as mulheres e minorias.
Diante de tais fatos não há como deixar de reconhecer o império da hipocrisia. A preocupação não ocorre em função da violência de gênero praticada, mas sim em razão de quem são os autores e quem são as vitimas.
Assim, nunca se ouviu protestos dos notórios defensores dos direitos humanos e igualdade de gênero ou contra o machismo em relação as asneiras e agressões do senhor Ciro Gomes, ou contra o senhor Lula por ocasião das piadas ofensivas aos gays (esqueceram a transviadonica? As vezes que fez coro aos ataques homofóbicos contra adversários nas ditaduras aliadas?); as mulheres (esqueceram as “mulheres do grelo duro?); a insinuação ao estupro que poderia ter sido sofrido por uma secretária do Instituto Lula numa operação da PF e tantas outras.
Nada. Silêncio total. Estão liberados para agredirem com palavras e insinuações infames, mulheres, gays, quem quiserem.
Agora mesmo, nada se ouve em matéria de protestos contra as agressões perpetradas contra estas mulheres, embora sejam patentes as agressões as insinuações, e todos os tipos de violências morais praticadas.
Ninguém tem nada a dizer. Interromper uma colocação, ainda que estapafúrdia de Manuela D’Ávila é machismo, xingar a juíza Lebbos ou a ministra Laurita Vaz, de todos os nomes, sugerir que sejam estupradas não é nada? As únicas mulheres merecedoras do respeito são as filiadas as suas agremiações, são as engajadas nas suas pautas?
Assistimos rotineiramente esses tratamentos diferenciados em relação as mulheres ou outras minorias. Se são “nossas” aliadas, rezam na nossa cartilha qualquer coisa que lhes diga, vira ofensa, ataque machista, homofóbico , etc., se não são, se adversárias ou não tenham papel politico, podem xingar de tudo que puderem, vacas, putas, vagabundas, viados, capitãozinho do mato, tudo mais que quiserem, a estes tudo é permitido.
Essa é a pratica que sempre ocorreu em todo país e até aqui na província do Maranhão. Agora mesmo assisti a inúmeras manifestações de defesa e protestos no episódio envolvendo a pré-candidata comunista e a emissora TV Cultura, tudo por algumas interrupções numa entrevista, mas aqui, parece um esporte oficial – deve ser pois muitos recebem dos cofres públicos –, atacar e agredir de todas as formas a candidata adversária ao atual grupo politico.
Pois é, não precisa ir longe, basta olhar nas páginas pessoais, nas redes sociais, nos veículos de comunicação. Os mesmos que acharam um “absurdo” o ocorrido com a pré-candidata à presidência pelo PCdoB, não vêem nada demais nos ataques e agressões que desferem contra a pré-candidata do MDB ao governo estadual.
Com desassombro, querem exercer até o monopólio das agressões e preconceitos.
Abdon Marinho é advogado.