A ELEIÇÃO DA EXCLUSÃO.
Por Abdon Marinho.
SERENADOS os ânimos (quem chorou, chorou, quem festejou, festejou), paro para pensar o que foram estas eleições.
Em princípio, vejo como sendo sua maior característica a exclusão. Durante todo o pleito e, principalmente, no intervalo entre o primeiro e o segundo, com maior intensidade nos derradeiros dias, o que mais ouvi de diversos amigos ou mesmo pessoas com as quais não tenho maiores afinidades, foi que se sentiam muito mal em ter que votar no candidato Jair Bolsonaro, mas que não tinham como votar no candidato do Partido dos Trabalhadores – PT. Um amigo confidenciou-me: – veja o que tenho que fazer para nos livrarmos do PT; um outro disse-me que decidira votar nulo nas eleições. Perguntei-lhe se não poderia mudar de opinião. Respondeu-me: – Sim. Se perceber que há qualquer chance do PT ganhar, votarei no Bolsonaro.
O reverso deste posicionamento também viu-se bastante. Muitos, apesar de não sentirem qualquer apreço ao PT e mesmo ao candidato Fernando Haddad se dispuseram a votar para evitar a vitória do opositor.
Nos últimos dias, então, choveram “correntes” apelando contra a candidatura Bolsonaro.
Em meio as muitas “fakes news” a maioria dos apelos continham as verdades sobre os posicionamentos pouco elogiáveis do hoje presidente eleito em seus quase trinta anos como parlamentar. Coisas chocantes como dizer, por exemplo, que “defendia a tortura” (quem em sã consciência pode dizer tal absurdo?) ou que preferiria um filho morto a que fosse um homossexual e tantas outras, que, reunidas, formariam um livro de impropérios.
Vi, inclusive, algumas autoridades, ex-autoridades, artistas e intelectuais, não engajados dizendo justificando seu voto pela exclusão em relação ao candidato que não era o seu. E outro tanto dizendo não ao candidato, não tanto por ele mas para o que representava.
Nunca “dei bola” para a afirmação – de ambos os lados –, de que a eleição de qualquer um representaria um risco à democracia. Não acho que a nossa democracia, apesar de jovem, seja tão frágil. Ela resistirá!
Não me atrevo a censurar os amigos/eleitores por de terem escolhido uma ou outra posição, assim como não censuro aqueles outros milhões de cidadãos que, como eu, resolveram “lavar as mãos” diante das opções que restaram, sufragando o voto nulo, branco ou, simplesmente, não comparecendo.
Desde que as duas candidaturas “passaram” para o segundo turno disse que estávamos diante de uma “escolha de Sofia”, na qual uma ou outra escolha traria mais dor que alegria.
Pessoas sensatas não têm como concordar ou chancelar tantas asneiras proferidas pelo senhor Bolsonaro, agora presidente eleito do Brasil. Não vivêssemos uma democracia plena, com ampla proteção à liberdade de expressão (e não estivesse ele sob o manto da imunidade parlamentar), decerto que deveria ser preso.
Um exemplo claro é o que disse o cidadão, então deputado, a respeito da tortura, que, na minha opinião, é um dos crimes o mais infamante, até mesmo com gradação superior a morte. Em alto e bom som disse ser um defensor da tortura.
Não se tem noticias de que alguma vez tenha se desculpado por tamanha afronta aos ditames legais, a Constituição e as centenas de vitimas da ignomínia.
Nem mesmo agora, depois de eleito presidente – quando se exige um comportamento de pacificação –, até agora, não se mostrou capaz de tal gesto.
A Constituição trata a tortura com tanta seriedade – e não poderia ser diferente –, que coloca o tema logo no seu artigo 5º, o que trata direitos e garantias individuais. Logo no inciso III estabelece: “III- ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;” e depois, no inciso XLIII, pontua: “XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;”.
Como passar por cima de tais coisas – e tantas outras mais –, e achar conforme?
Por outro lado, qualquer pessoa com o mínimo de compromisso, também, é sabedora dos riscos de um retorno do Partido dos Trabalhadores - PT, ao poder.
Ao meu sentir, seria como se estivéssemos cedendo a mais infame das chantagens e coonestando com um modelo de governança corrupta que sangrou o país durante uma década e meia.
Nunca se disse que o PT “inventou” a corrupção. Não, ela já existia e, temo, sempre existirá. O que se diz – e não temos o direito de ignorar –, é que este partido fez da corrupção um método de governo.
Os bilhões de reais dragados dos orçamentos estatais foram parar nas contas de seus aliados e das próprias lideranças partidária – e por isso muitas lideranças estão presas e outras a caminho do cárcere –, para o financiamento de diversas ditaduras sanguinárias ao redor do mundo. Ditaduras estas responsáveis por verdadeiros massacres de seus povos.
Mas não é só, esses bilhões em recursos públicos desviados para contas de líderes políticos e empresariais e também para financiar as “ditaduras amigas” que torturam, mata e aniquilam seus cidadãos, deixaram de ser empregados em benefício dos cidadãos brasileiros, sobretudo, os mais necessitados.
Como se também fosse uma estratégia política manter milhões de brasileiros na miséria e na dependência econômica das políticas assistencialistas, como um permanente “curral eleitoral”.
Mas é assim, esse é um filme repetido, projetos de ditaduras, como vampiros se alimentam da miséria que juram combater. Não foi sem razão que o candidato petista ganhou de “lavada” nos mil municípios brasileiros com os piores indicadores de IDH, em alguns, cravando quase cem por cento dos votos.
Apanhado, por duas vezes, nos “malfeitos”, para não dizer, corrupção desenfreada, só para citar os dois escândalos mais emblemáticos, o “mensalão” e o “petrolão”, ao invés de se “penitenciarem” e se desculparem publicamente, fizeram justamente o contrário, colocaram a culpa na Policia Federal, no Ministério Público e no Poder Judiciário.
Fizeram pior, ante a possibilidade, ainda que remota de ganharem as eleições, informaram que queriam “tomada do poder”, conforme disse o condensável e condenado José Dirceu; ou a soltura dos condenados pela justiça em processos regulares, conforme informou a presidente do partido.
O próprio candidato Fernando Haddad, mostrando pouco respeito pelas instituições democráticas do país, com regularidade ia a Curitiba, onde se encontra encarcerado o ex-presidente Lula, pegar “instruções” (será que pretendia ser um presidente fantoche com o verdadeiro presidente mandando de dentro da cadeia?), mas não é só: no próprio discurso de reconhecimento da derrota fez questão de reclamar da “injusta” prisão do ex-presidente.
O que muitos se recusam a enxergar – ou só enxergaram tardiamente –, é que estamos diante de uma agremiação partidária com um projeto de poder hegemômico que não titubeia, como acaba de fazer, em desconstruir quaisquer outros projetos políticos que não sejam o seu, vimos isso com Ciro Gomes, Marina Silva, só para citar os do seu campo, e mesmo colocar em risco o futuro do país.
Uma das coisas mais inusitadas que observei na proposta do candidato petista foi a “eleição” do PSDB, como um “inimigo” a ser destruído – depois andavam choramingando e esmolando por seu apoio.
Essa presunção e petulância vêm de longe. Quando se colocou contra a eleição de Tancredo Neves; quando foi contra a Constituição de 1988; quando foi contra o Plano Real, e tantos outros. Os exemplos citados são apenas os mais notórios.
Foi esse projeto hegemônico do PT o maior impulsionador da candidatura do atual presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Milhões de brasileiros se dispuseram a votar nele, apesar de todas as restrições, para impedir a vitória do petismo.
Não pensem que se deram por achados. Agora mesmo – e disseram isso no discurso da derrota –, querem se “vestir” de legítimos representantes dos que não votaram no presidente eleito e já iniciam os trabalhos para “sabotar” as iniciativas do futuro governo, como, aliás, sempre fizeram.
Em todo caso, aqueles mais de cem milhões de brasileiros que se dispuseram a votar nos dois projetos estão de parabéns pois conseguiram superar barreiras que, para mim – e outros tantos milhões –, foram intransponíveis. Não dormiria tranquilo tento votado em nenhum dos dois.
Encerro dizendo que agora temos um presidente eleito que é de todos os brasileiros que têm compromissos com este país e por isso, devemos torcer - e até contribuir –, para que faça um grande governo, pois o Brasil e os brasileiros merecem.
Abdon Marinho é advogado.