AbdonMarinho - PUTAS E PADEIROS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

PUTAS E PADEIROS.

PUTAS E PADEIROS.

Os últi­mos dias foram toma­dos por mais uma daque­las fal­sas polêmi­cas que, acho, só acon­te­cem no Maran­hão. Um dos nos­sos can­didatos declarou que só pega no batente as 9 horas da manhã. Não teria nada demais, caso o can­didato não tivesse dito que para ele isso era muito \«cedo\», quando sabe­mos que a maio­ria dos tra­bal­hadores do Brasil já estão no batente, muitas das vezes 2, 3 horas antes”, ou saíram de casa para pegar a serviço desde às 5, 6, 7 horas. Mas isso não vem ao caso, no momento.

Sem­pre cul­tivei o hábito – não sei se por neces­si­dade – de acor­dar cedo. Quando cri­ança, fiz o primário pela manhã, muito antes do U. I Castelo Branco, em Gonçalves Dias, abrir já estava na Praça Miguel Bahury esperando. O giná­sio feito no mesmo colé­gio a noite, agora chamado Colé­gio Ban­deirante, não me impediu de con­tin­uar acor­dando cedo pois tomava de conta de uma qui­tanda do meu pai. Acor­dava cedo ia para o comér­cio e só encer­rava o expe­di­ente, por volta das 5, 6 horas, já para seguir para o colé­gio de onde voltava por volta 10:30 ou 11 horas

Quando cur­sei o segundo grau no Liceu Maran­hense, a tarde, man­tive a rotina de acor­dar cedo pois lev­ava os sobrin­hos para o colégio.

A fac­ul­dade foi feita no período simultâ­neo ao tra­balho na Assem­bleia Leg­isla­tiva, como asses­sor do Dep­utado Juarez Medeiros, estu­dava a noite e tra­bal­hava o dia inteiro. O expe­di­ente na época começava um pouco mais cedo pois Juarez apre­sen­tava um pro­grama na Rádio Edu­cadora e já as 7:00 horas da manhã fazíamos a primeira reunião do dia quando ele retor­nava da emissora.

O hábito é man­tido até hoje. Quase todos os dias chego ao escritório antes das 7 horas e quase nunca depois deste horário. Por conta disso não enfrento os abor­rec­i­men­tos diários com trân­sito que tanto per­turba os demais cidadãos nesta cidade.

O silên­cio da manhã me faz muito bem. Aproveito essa tran­quil­i­dade para escr­ever, pen­sar ou con­tem­plar a graça e a arte da vida. Morando em sítio os ami­gos cos­tu­mam dizer que acordo com os pás­saros. Corrijo-​os, acordo na ver­dade antes deles. Uma meia hora depois é que eles (os pás­saros) começam o seu canto.

Como acordo muito cedo, cos­tumo dormir tam­bém cedo. Esse hábito, as vezes, é motivo de dis­cussão com muitos ami­gos que tro­cam o dia pela noite. Quan­tas vezes não ligo para algum no meio da manhã e ouço per­gun­tar o que quero aquela hora da madru­gada? São inúmeros os tro­cam o dia pela noite. Acham-​se mais pro­du­tivos no silên­cio da madru­gada, quando podem ler, estu­dar, tra­bal­har, produzir…

Um dos mais famosos por isso – e talvez, por isso, dos mais pro­du­tivos –, foi o jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues.

Como lia o jor­nal loco cedo, prin­ci­pal­mente nos fins de sem­ana, cos­tu­mava ligar para ele por volta das 8 ou 9 horas, para comen­tar as notí­cias do dia, muitas das vezes uma denún­cia veic­u­lada num dos seus pri­morosos tex­tos. A secretária aten­dia e, invari­avel­mente, dizia: – Dr. Abdon, o seu Wal­ter ainda está dor­mindo. Quando acor­dava e retor­nava a lig­ação, ou eu voltava a ligar, recla­mava: – Pô, Wal­ter, 9 horas e você ainda dor­mindo? Ele retru­cava: – Abdon, só fui dormir as 4 horas da manhã. Dizia: – Essa hora já estava quase lev­an­tando. Ele fechava o assunto: – Abdon, você dorme e acorda em horário de padeiro, eu durmo e acordo em horário de puta, quando padeiro está lev­an­tando para começar o expe­di­ente, a puta está encer­rando o seu. Eu não posso ir dormir em horário de puta e acor­dar em horário de padeiro.

A falsa polêmica destes dias, me lem­brou essas pas­sagens deli­ciosas da minha vida e a con­vivên­cia com os ami­gos. Lembrou-​me mais ainda, por conta de uma nota irônica, o can­didato que disse começar o expe­di­ente “cedo”, as 9 horas, se orgulha de dizer que o sucesso da sua vidas empre­sar­ial teve ini­cio com sua ativi­dade de… PADEIRO. Wal­ter deve dá sono­ras gar­gal­hadas com essa.

Abdon Mar­inho é advogado.