AbdonMarinho - UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO.

UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO.

Por esses dias uma man­i­fes­tação dos pro­fes­sores de São Luís par­al­isando o trân­sito na Avenida dos Por­tugue­ses chamou, mais uma vez, a atenção da pop­u­lação para uma greve que já dura quase 80 dias, o que sig­nifica mais de um terço do período letivo anual, com­posto, obri­ga­to­ri­a­mente, por 200 dias. O pior de tudo é que, pela dis­pari­dade entre a pauta apre­sen­tada pelos mestres e as pos­si­bil­i­dades – ao menos pelo infor­mam –, não há chance da greve finda ime­di­ata­mente ou do municí­pio con­seguir, por out­ros meios, prosseguir com o ano letivo.

A per­gunta que prin­ci­pal neste debate é a seguinte: Quem arcará com o pre­juízo que essa greve causa aos estu­dantes? Quem olhe devolverá o tempo per­dido? O con­hec­i­mento que não chegou? Ninguém. Fin­d­ando a greve, cada um encon­trará seu motivo para fes­te­jar e pronto. O pre­juízo das úni­cas víti­mas não será mais pauta de nen­hum dos grupos.

Já falei out­ras vezes sobre o quanto a edu­cação maran­hense e até mesmo brasileira encontra-​se defasada em relação a neces­si­dade dos estu­dantes e o inter­esse do país. São dis­crepân­cias abis­sais, as quais, não parece inco­modar os inter­es­sa­dos, seja pro­fes­sores, seja gestores. O site do sindi­cato dos pro­fes­sores informa que 132 mil estu­dantes estão sem aulas. O poder público con­firma o número? Quan­tos alunos estão, efe­ti­va­mente, fora da sala de aula? Qual o planos de con­tingên­cia para amenizar o pre­juízo que sofrem? Vão, sim­ples­mente, tirar um ano de vida destas cri­anças e fica por isso mesmo?

Sobre a greve, o certo mesmo, é que a cada dia que passa, vai ficando igual ao dito pop­u­lar que diz: “Em casa que falta pão, todos falam e ninguém tem razão”. Aplicável, sobre­tudo, por desprezarem o inter­esse dos maiores interessados.

A greve, desde o primeiro momento, era fácil chegar a um denom­i­nador comum, ape­sar da política do gov­erno fed­eral con­spirar con­tra. Em gestão pública não existe mág­ica, as despe­sas têm que caber den­tro do orça­mento. Os municí­pios têm a obri­gação con­sti­tu­cional de inve­stir 25% (vinte e cinco por cento) do seu orça­mento anual com edu­cação. A primeira per­gunta que se faz é se o municí­pio vem cumprindo esse índice. Cumpre? Ótimo. A segunda inda­gação diz respeito aos recur­sos do FUN­DEB, se o poder público está apli­cando ao menos 60% (sessenta por cento) com o paga­mento dos profis­sion­ais do mag­istério. Está apli­cando? Beleza. Respon­di­das as inda­gações, é ver como e den­tro destes orça­men­tos pos­sível garan­tir mel­ho­ria salariais.

Uma questão que envolva números não é de difí­cil solução.

O municí­pio pre­cisa abrir suas con­tas e provar que vem cumprindo com suas obri­gações, ou seja, mostrar que vem investindo no mín­imo vinte e cinco por cento da receita com edu­cação, que vem investindo ao menos sessenta por cen­tos dos recur­sos do FUN­DEB com o paga­mento dos profis­sion­ais do mag­istério. Estes são os dois parâmet­ros prin­ci­pais. O que pode ter de aumento acima disso, devem caber nos out­ros 40% (quarenta por cento) sem que haja com­pro­me­ti­mento dos cus­tos de manutenção da rede e sua mel­ho­ria. A edu­cação não é feita uni­ca­mente com uma boa remu­ner­ação aos pro­fes­sores – que acho dev­ida –, mas tam­bém com uma infraestru­tura adequada.

Não duvido que a pauta dos pro­fes­sores seja justa. Entre­tanto ela pre­cisa caber den­tro das pos­si­bil­i­dades do municí­pio. E se falta o municí­pio mostrar o que vem fazendo com os recur­sos da edu­cação, cen­tavo por cen­tavo, falta aos mestres a com­preen­são que suas reivin­di­cações pre­cisam ser reais, den­tro do orça­mento da edu­cação, sem invadir os orça­men­tos de out­ras sec­re­tarias e dos inves­ti­men­tos que neces­sita o município.

Se já tivessem feito isso, acred­ito, já teriam chegado a um bom termo ou teria razão para demi­tir os gre­vis­tas já na primeira sem­ana de par­al­isação. É ele­men­tar que não se pode se exi­gir de out­rem além de suas pos­si­bil­i­dades. Todos sabe­mos que é impos­sível se colo­car a Igreja da Sé den­tro da Igreja de Santaninha.

No que­sito edu­cação, quando digo que o gov­erno fed­eral tem sua parcela de respon­s­abil­i­dade pelo caos que vem se insta­lando, faço pelos seguintes motivos. O gov­erno fed­eral empurrou goela abaixo e sem plane­ja­mento prévio a chamada Lei do Piso, com isso a maio­ria dos pro­fes­sores pas­saram a tra­bal­har ape­nas 13 horas sem­anais, como con­se­quên­cia, mais pro­fes­sores tiveram ou pre­cisam ser con­trata­dos. Além disso elevou o valor do piso-​salarial. Acon­tece que a receita per­maneceu a mesma, e, o pior, ao longo dos anos, a política de des­on­er­ação tem empo­bre­cido os municí­pios brasileiros. Os municí­pios, prin­ci­pal­mente, do nordeste que tem como prin­ci­pal receita, os recur­sos do FPM, não con­seguem cumprir com suas obrigações.

Os pro­fes­sores recla­mam o cumpri­mento do estatuto do mag­istério e da lei do piso; cobram condições de tra­balho; infraestru­tura esco­las. Como disse, estão cer­tos. Acon­tece que tudo isso tem que caber den­tro do orça­mento da edu­cação que é de 25% (vinte cinco por cento) da receita. Estatuto, Lei do Piso, condições de tra­balho, esco­las decentes, tudo isso e mais políti­cas ino­vado­ras – pois a edu­cação parou no século XIX, sem a qual­i­dade daquela época –, pre­cisam ser com­pat­i­bi­liza­dos com os recur­sos disponíveis.

Outra coisa a se obser­var é que a maio­ria dos estatu­tos do mag­istério criou diver­sas e van­ta­gens e pro­gressões que somadas à lei do piso e à redução da carga-​horária tornaram deficitárias as receitas da edu­cação, sobre­tudo com a diminuição dos recur­sos do FUN­DEB no ano de 2013. Não tem conta que feche. Basta con­hecer matemática.

Vou além, quem se pre­cip­i­tou em con­ceder os aumen­tos exigi­dos pela cat­e­go­ria terá difi­cul­dades para cumprir tanto a lei do piso quanto seus estatu­tos, inclu­sive, difi­cul­dades para pagar os salários até o fim do ano.

Os municí­pios já têm suas receitas quase todas com­pro­meti­das, são vinte e cinco por cento para edu­cação; quinze por cento para a saúde, só para citar as prin­ci­pais. Têm ainda que des­ti­nar recur­sos para Assistên­cia Social, estru­tura urbana, limpeza pública, etc. Isso numa receita que só se reduz a cada ano. E, sem con­tar a série de con­tra­partidas e com­pro­mis­sos assum­i­dos por conta dos pro­gra­mas cri­a­dos pelo gov­erno federal.

O certo é que os gestores públi­cos pre­cisam ser capazes de admin­is­trar com orça­men­tos reduzi­dos, cor­tar despe­sas desnecessárias, demi­tir servi­dores que não tra­bal­ham, mel­ho­rar a malha de arrecadação. Se não forem capazes de tomar essas medi­das pas­sarão seus mandatos admin­is­trando crises e, pior que isso, sem realizar coisa alguma para as comu­nidades administradas.

Um dos prin­ci­pais prob­le­mas que enfrenta­mos hoje é que as admin­is­trações se acos­tu­maram a realizar pouca coisa com muito recurso. Basta com­parar uma obra pública com uma obra pri­vada, a pública custa muito mais e a qual­i­dade passa de duvi­dosa. Quando tem que admin­is­trar com pouco recurso, não con­seguem fazer nada. Um outro prob­lema dos atu­ais gestores é essa difi­cul­dade de admin­is­trar com transparên­cia, a grande maio­ria parece não querer mostrar o que arrecadou e com o que gas­tou os recur­sos públi­cos, com o nosso din­heiro. Imag­ine que você tem um ger­ente na sua loja e ele não sabe ou não quer dizer quanto apurou e como gas­tou o apu­rado. Com certeza você o demi­tiria ime­di­ata­mente. Na gestão pública os nos­sos \«ger­entes\» abusam do dire­ito de faz­erem isso e não lhes acon­tece nada.

Voltando ao drama das cri­anças sem aula na cap­i­tal, cabe a admin­is­tração ser trans­par­ente na gestão dos recur­sos da edu­cação, mostrando inclu­sive para a sociedade, tudo que entra e para onde saí – a nota da prefeitura “(tudo bem que é para tele­visão) não passa de genérica –, se ainda assim os pro­fes­sores não retornarem as aulas, ado­tar as medi­das cabíveis.

É fato que ninguém está sat­is­feito com o seu salário (prin­ci­pal­mente se o viz­inho ganha mais), porém, se você, fazendo tudo que pode, não con­segue pagar mais, a solução é procu­rar o empre­gado que con­corde em rece­ber o que você pode pagar, respei­tando as bal­izas legais. É sim­ples. O que não temos como aceitar é essa falta de ati­tude, esse impasse per­verso que prej­u­dica os úni­cos que têm razão na história, os estudantes.

Quando fes­te­jam o dia do estu­dante em 11 de agosto, há que se inda­gar: O que fes­te­jam mesmo?

Abdon Mar­inho é advogado.