A ADESÃO. QUE ADESÃO? por João Damasceno.
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- Criado: Quarta, 30 Julho 2014 16:57
- Escrito por Abdon Marinho
A ADESÃO. QUE ADESÃO? por João Damasceno.
As gerações presentes, preocupadas com a ciência dos computadores e os reflexos da física quântica na explicação das origens do Universo, pouco se interessa pela ciência mãe, o príncipe Syrob, em razão das influências intelectuais que sofre, amanheceu querendo entender o porquê do feriado de hoje, nossa conversa durou mais de uma hora, resolvendo eu neste espaço opinar sobre o assunto. É fato que os movimentos nativistas brasileiros tiveram seu apogeu no período regencial, e que Sabinada, Farroupilha, Cabanagem, Praieira, Balaiada etc, sofreram influências da Revolução Francesa, Independência Americana, dos bacharéis que foram estudar na Europa e outros fatores, nesta terra, muito antes de Gonçalves Dias vir ao mundo, nosso povo já clamava por liberdade, tal decorreu da importância econômica bem como da proximidade geográfica com a metrópole o que permitia uma comunicação direta e permanente com Portugal, a pujança da região atraiu a cobiça de piratas, corsários e de aventureiros aqui chegantes após a divisão das terras destinadas a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, em Capitanias Hereditarias no governo de D João III, nesse processo, o maranhão compreendeu o Maranhão , partes I e II, Ceará e Rio Grande do Norte, com as invasões e respectivas tentativas de ocupação por franceses e holandeses, foram definidos os limites do Maranhão durante a Dinastia Filipina, foram estrabelecidos nos territórios onde hoje estão assentes os Estados do Pará, Amazonas, Maranhão e Ceará, a prosperidade foi rápida, embora o trabalho escravo tenha sofrido limitações em virtude da influência do Padre Antônio Vieira conforme decisão humanitária originada do Concílio de Trento que durou de 1545 a 1553, aludida região, para administrar as empresas que se instalavam e melhor tributar em favor da coroa foi criada a Companhia do Comércio do Maranhão em 1682, o que resultou no estanco, instituto gerador de um monopólio comercial que causou imensos danos ao escambo, e à balança comercial que levava desvantagens imensas entre o exportado e os produtos que importava, diante desse quadro, os irmãos Tomás e Manuel Beckman, que faziam parte da elite da nossa terra lideraram um movimento de insatisfeitos com essa política escorchante que resultou na primeira revolução brasileira, na qual cerca de cem homens assaltaram os armazéns da Companhia, tomaram o Corpo da Guarda e dominaram política e militarmente por um pequeno espaço de tempo a região, formada a junta governamental, queriam expulsar os jesuítas, abolir a Companhia Comercial e depor o governante português, sem o apoio que esperavam, os revoltosos foram facilmente vencidos pelas tropas portuguesas que aqui desembarcaram sob o comando do novo governante Gomes Freire de Andrade, o resto é conhecido, Manuel Beckman e Jorge de Sampaio foram enforcados e os outros sofreram prisão perpétua, Esse ensaio mostra o quanto o Maranhão sofria a influência direta dos colonizadores, os séculos se passaram e o imperador, em conluio com a Inglaterra e elite portuguesa aqui residente promoveu o que a história oficial até hoje chama de \“independência\», situação muito confusa para nossa historiografia até a publicação de Evolução Política do Brasil por Caio Prado Júnior em 1933, cuja obra foi analisada por EmÍla Viotti da Costa e outros adeptos da Nova HIistória que deu outras luzes à história tradicional trazida a nós por Varnhagem, Tobias Monteiro e Oliveira Lima, em estudo memorável, a professora Socorro Cabral, mostra que no primeiro quartel do século XIX, o poder político do Maranhão estava nas mãos dos comerciantes portugueses, e que tais mantinha privilégios coloniais garantidos pela coroa, cujos interesses seriam atingidos pela independência, pois separado politicamente da metrópole, a tendência era surgir uma política de igualdade inclusive tributária, situação que incentivou essa elite a criar meios para fazer do Maranhão um Estado independente do Brasil e subordinado à corôa portuguesa, nesse sentido solicitou reforço de tropas portuguesas a fim de enfrentar a tropas imperiais que para cá se dirigiam na tentativa de pacificar o país e obrigar a província rebelde a aceitar a nova organização política nacional, apesar dos esforços da elite o povo queria ser dono do seu chão, ter a cidadania e a igualdade que até então lhe era negada, o movimento de adesão tomou corpo, na medida em que se formaram em corpos definitivOs frentes litorânea e a sulina, ocorrendo assim que o Maranhão tardiamente colonizado,adquiriu grandeza e uma estrutura econômica de uma classe que já recebia a segunda geração de seus filhos que haviam estudado em Coimbra, Sorbonne e Cambridge, assim não interessava à elite modificar o Status Quo, pois aqui a formação de gigantescas propriedades,criadora da política latifundiária e sua relação com o poder político que dura até os dias que correm, no período compreendido entre a chegada da família real quando lhe fazia companhia toda dinastia de Bragança, bem como as cortes constituintes e extraordinárias da Nação Portuguesa, até a chamada adesão, o latIfúndio, prendeu, matou e desterrou milhares de nordestinos, razões de enganarem-se os que defendem ter o deslocamento maciço de populações das regiões áridas do Sertão para o Maranhão ocorrido somente no século XX. Certo é que apesar do ato de 7 de setembro de 1822 ter promovido a \«independência\», existiram resistências provinciais, e vastos grupos políticos, principalmente os chamados conservadores que atrasaram o fim das lutas para alcançar a formação definitiva de Estado Nacional Monárquico Brasileiro, assim as lutas travados no âmbito nacional tiveram reflexos nas regiões provinciais, e aqui como dito alhures o domínio português era muito forte, no Maranhão o poder era exercido por uma Junta Provisória e Administrativa, cuja presidência coube ao ilustrado bispo de nacionalidade portuguesa D Joaquim de Nazaré, o qual, tendo sido nomeado diretamente por D. João VI, tudo fazia para manter esta parte do Brasil, fiel à coroa portuguesa, Mário Meireles deixa muito clara a influência da capital na formação do movimento contrário às pretenções do nobre bispo Nazaré, tais jovens afrontavam abertamente a Junta defendendo a adesão para não ocorrer a volta do domínio português nos moldes precedentes à chegada do monarca metropolitano, em São Luís o combate ocorria muito no plano das idéias, o verdadeiro conflito era travado no interior, os excluídos a cada dia se revoltavam, e os grandes fazendeiros já não eram unanimidade ´portuguesa, as informações eram lentas em razão do subdesenvolvimento do meios de comunicação, os primeiros contingentes foram enviados para Caxias e Carnaubeira que ficava perto de Parnaíba, já com a luta encaminhada, disserta Mário Meireles, in, História da Independência do Maranhão, Rio de Janeiro, Arte nova, 1972, fls 61. \» Para Caxias, o maior núcleo populacional do interior e que, muito próxima á fronteira, fazia de segunda capital da província, no alto do sertão, foi despachado um grande reforço de Tropa de Linha, sob as ordens do Major José Demétrio de Abreu, que assumira o comando geral do distrito e organizaria sua defesa, e o qual cumprida prontamente a missão, e de acordo com o Conselho Militar que já se organizara na vila, logo se retirou deixando a responsabilidade de seus encargos às mãos do Capitão José Felix Mendes\». Nessa fase os combates já tinham deixado milhares de vítimas principalmente depois do avanço do \«exército libertador\», vendo que a guerra estava perdida a Junta, em correspondência enviada ao governo de Portugal solicitou reforços, tendo traçado um quadro dramático da situação, e os avanços das tropas leais a Pedro I e ao Partido Liberal, Vieira da Silva, em sua memorável História da Independência da Província do Maranhão, Sudema, 199, pag. 73, transcreve um trecho da súplica do bispo Joaquim Nazaré ao monarca português, \» No Brasil (…) — as facções que procuram proclamar a sua independência não pretendem pugnar por interesses políticos, mas promover uma guerra bárbara e nefanda de rapina e massacres contra os europeus constitucionais e honrados. O sangue destes portugueses, logo que existiam desarmados, correrá sobre a terra e o seus bens serão presa da ferocidade dos novos vândalos. Tal se há praticado no Ceará e Piauí, tal se praticara nesta província, se os habitantes que nela existem dignos do nome português, sucumbirem\». Diante desse quadro, as forças legalistas perdiam cada vez mais espaço apesar de também triunfarem como sucedeu na batalha de Jenipapo vencida pelo major José da Cunha Fidié, onde pereceram mais de duzentos combatentes, fora os feridos que pereceram depois ou foram conduzidos à invalide permanente, na citada obra de Meireles, nas fls. 71., o grande mestre ensina: \«Foi este combate do Jenipapo, sem dúvida, o maior de quantos se travariam nas lutas pela independência do Maranhão e Piauí, nele tomaram parte, mais de 4.000 homens e a sangrenta batalha durou mais de quatro horas, pois se estendeu desde às nove horas da manhã até cerca das duas horas da tarde, nas folhas 86, mais uma vê Meireles com o brilhantismo que somente um pesquisador da sua estirpe pode ter, descreve que alguns oficiais de ambos os lados haviam perecido , e oportunizou um combate direto entre os dois principais oficiais que foram Salvador de Oliveira e o major Fidié, em suas palavras mágicas, podemos ler:\» ..decidiu Salvador de Oliveira, Marchar do Brejo para vila do Itapeccuru-Mirim, à beira do rio do mesmo nome e por via da qual Caxias igualmente às suas margens mais acima, se ligava com São Luís, na Ilha que lhe tapa a foz. Este era seu segundo plano, o de entrepondo-se entre a capital da província e sua principal vila do interior, isolar esta última e precipitar a capitulação de Fidié\». A estratégia de Salvador teve êxito, os populares em conjunto com o \» exército libertador\» triunfaram sobre as forças leais a Portugal, sendo proclamada a independência em 20 de julho em Itapecuru– Mirim, tendo ali sido eleita uma junta governativa provisória, onDe foi reservada uma vaga para o tenente coronel Pereira de Burgos, sendo os outros nomeados em São Luís, após a deposição da junta comandada pelo bispo Naaré, em 26 de julho do mesmo ano, no Maranhão chegou o Almirante inglês Lord Cochrane que foi contratado a peso de ouro pelo imperador para vencer em definitivo os recalcitrantes, obrigando-os a aceitar a situação de independência que se tornou imutável, a chegada desse oficial ofuscou a bravura dos nativos e praticou profundas injustiças e em consequência, ultrajou o sangue dos bravos que deram sua vida pela vitória sobre os que desejavam manter seus privilégios coloniais, e para espancar definitivamente as dúvidas, invoco os conhecimentos da minha vizinha de Monte Castelo,Maria Esterlina Mello Pereira em sua monografia, \» História da Independência e Integração do Maranhão, 1822, 1828, UFF, 1983 \«Podemos ainda considerar que para esse movimento, duas forças confluíram: uma decisiva,as rebeliões locais, auxiliadas por tropas do Piauí e Ceará e outra circunstancial, a presença da esquadra de Thomas Cochrane que apagou dos portugueses residentes em S.Luis, qualquer veleidade de resistência. A este militar Inglês , coube a gloria de \«libertador do maranhão\» liberdade essa arduamente trabalha por lideres diversos, exemplificando Salvador Cardoso de Oliveira, pereira Figueiras e outros anônimos maranhenses, piauienses e Cearenses que abertamente enfrentaram até com armas rudimentares como chuços, as guarnições portuguesas e se opunham á libertação da mencionada Província. Fase a esse julgamento, a vitória decisiva sobre os representantes do colonialismo lusitano, pertence de fato a esses brasileiros e não a Lord Cochrane, segundo atestam ou chegam a insinuar, a maioria dos historiógrafos. assim, em 28÷7÷1823, foi promovida a adesão definitiva. Tenho dito, que os historiadores da ativa concertem e melhorem este texto que me consumiu todo o dia de hoje.