AbdonMarinho - A ARTE DO SILÊNCIO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A ARTE DO SILÊNCIO.

A ARTE DO SILÊNCIO.

Meu pai era um homem rude, muito sim­ples, agricul­tor, reti­rante da grande seca que mal­tra­tou o Rio Grande do Norte em mea­dos do século pas­sado. Anal­fa­beto por parte de pai, mãe, parteira e viz­in­hança, era de pou­cas, porém, sábias palavras. Sobre o fato de falar pouco cos­tu­mava dizer:\» – meu \“fii\», quem \“num\» sabe falar é \“mior\» calar.\» Na minha primeira infân­cia, lá pelos 5, 6 anos de idade, essa expressão me con­fun­dia muito, isso porque, pelo nosso sítio, exis­tia um cachorro branco e magri­cento, um típico cão vira-​lata legí­timo da mel­hor cepa nordes­tina, como destes que apare­cem na obra de Gra­cil­iano Ramos, ali­men­tado com as nos­sas sobras de refeições e que se chamava Calar. Minha cabeça infan­til não dis­tin­guia se meu pai que­ria dizer que se não sabíamos falar era mel­hor ser o nosso cachorro.

Por esses dias tenho me lem­brado muito destas rem­i­nis­cên­cias. Parte destas lem­branças se devem ao fato dos anos chegarem e ter­mos nas lem­branças nos­sas maiores ale­grias. A outra parte se deve ao can­didato Lobão Filho.

Chega a ser ina­cred­itável que alguém que propõe a admin­is­trar o estado, um senador da República, um empresário de grande sucesso – como ele mesmo faz questão de frisar –, com duas pas­sagens pelos ban­cos de fac­ul­dades – con­forme con­sta na sua biografia –, se perca tanto nas palavras, não saiba o que dizer ou, pior que isso, diga coisas tão dis­paratadas. Logo ele, um homem de comunicação.

Cir­cula na inter­net uma par­tic­i­pação sua na sabatina pro­movida pela TV Guará. Logo que vi pen­sei tratar-​se de uma mon­tagem. Tão con­ven­cido disso estava que cheguei a per­gun­tar para um amigo que tra­balha na emis­sora se aquilo que via era ver­dade, ao que ele me respon­deu de forma peremp­tória que sim, foi aquilo mesmo, não se tratando de edição ou mon­tagem. Fiquei pasmo.

A per­gunta for­mu­lada pelo jor­nal­ista, de forma respeitosa e com­pen­e­trada, era abso­lu­ta­mente per­ti­nente, com­ple­ta­mente rela­cionada ao con­texto. Qual­quer um que se can­di­date a gov­er­nador, seja do Maran­hão seja de São Paulo tem o dever de saber respon­der como pre­tende resolver os prob­le­mas do estado que pre­tende diri­gir. É ele­men­tar isso. Infe­liz­mente, o prin­ci­pal prob­lema do nosso estado é o objeto da per­gunta do jor­nal­ista e que o can­didato, descon­heço a razão, saiu-​se com aquela con­strange­dora e descabida resposta.

Ora, ninguém é obri­gado a saber tudo. Todo ser humano, até por isso, pos­sui lim­i­tações. É com­preen­sível. Acon­tece que a per­gunta for­mu­lada é primária para qual­quer can­didato. Se se propõe a diri­gir um estado tão rico como é Maran­hão faz parte do roteiro que se tenha uma pro­posta con­sis­tente para redução das desigual­dades soci­ais, diminuição da pobreza crônica, mel­ho­ria dos indi­cadores edu­ca­cionais, soci­ais, etc. O can­didato, a menos que sua can­di­datura não seja para valer, dev­e­ria saber respon­der a per­gunta for­mu­lada e quais­quer out­ras no mesmo sen­tido. A outra e mais ter­rível hipótese é que o can­didato não pos­sua pro­posta nen­huma e que, na even­tu­al­i­dade de ser eleito, vai o usar os recur­sos públi­cos para con­cen­trar ainda mais a renda, tornar os que já são ricos, em mil­ionários, bil­ionários, e o povo cada vez mais pobre. Se é assim, as palavras do can­didato, quando diz que fazer algo pelo sua gente e pelo seu estado, são fal­sas como uma nota de três reais.

O can­didato – não bas­tasse todos os desac­er­tos do seu grupo, a enorme muralha erguida con­tra si pelo sen­ti­mento de mudança que toma conta da sociedade –, parece, ele próprio, con­spirar con­tra a cam­panha. Não é aceitável que um can­didato vá a uma sabatina sem preparo para respon­der questões óbvias, muito longe de alcançar o con­strang­i­mento e a saia-​justa que tem sido aos can­didatos à presidên­cia respon­der aos ques­tion­a­men­tos feitos no JN.

A fora a primeira impressão de que se tratava de uma mon­tagem per­pe­trada pelos adver­sários, ficamos com a sen­sação que o can­didato, difer­ente do que alardeia, não pos­sui um plano con­sis­tente para desen­volver o Maran­hão. Não tenha uma ideia clara a debater com a sociedade. Isso torna a cam­panha empo­bre­cida, sem o debate de ideias. Sobram as baixarias e o jogo rasteiro.

Alguns \«jor­nal­is­tas\», com todas as aspas que o caso requer, saíram elo­giando a per­for­mance do can­didato, sua argu­men­tação, sua verve irônica. Uma pena que pensem assim. Uma per­gunta séria não com­porta gracejo ou iro­nia. Não esta­mos brin­cando e não se admite que brin­quem com os eleitores. Quer­e­mos respostas sérias e palpáveis, o que não temos visto.

Na minha opinião, anal­isando o ret­ro­specto das palavras do can­didato, acho que não sabia o que dizer, que não pos­suía ou pos­sui uma pro­posta con­sis­tente, que não pos­sui condições de enfrentar um debate com os demais opo­nentes. Corre o sério risco de sair da cam­panha muito menor que entrou a cada palavra que diz. Talvez devesse seguir o ensi­na­mento do meu velho pai: \«Se não sabes falar, mel­hor calar.\»

Muitas das vezes – dizem os mais sábios –, o silên­cio faz o poeta.

Abdon Mar­inho é advogado.