AbdonMarinho - Educação: desafios e soluções.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 21 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Edu­cação: desafios e soluções.


Educação: desafios e soluções.

Por Abdon C. Marinho.

QUANDO assumirem, em primeiro de janeiro do próx­imo ano, os des­ti­nos de seus municí­pios os novos gestores – e mesmo os que foram reeleitos –, além de garan­ti­rem que tenha medica­men­tos e médi­cos nos hos­pi­tais; que o lixo seja recol­hido; que o ônibus esco­lar e a ambulân­cia esteja fun­cio­nando; que ruas e estradas este­jam trafegáveis, pre­cis­arão ter em mente que os seus mandatos serão deter­mi­nantes para o novo mundo que se descortina diante dos nos­sos olhos.

Em tal cenário faz-​se necessário com­preen­der o papel da edu­cação. A par­tir de agora pre­cisamos preparar as cri­anças que estão ingres­sando nas esco­las e aque­las que lá já se encon­tram para um mundo em trans­for­mação.

Esse é o prin­ci­pal desafio dos novos gestores e edu­cadores: edu­car para um mundo em trans­for­mação.

Lá pela minha infân­cia, lembro-​me bem, dizia-​se que o “anal­fa­beto era como um cego” pois ape­sar de vê não com­preen­dia nada daquilo que via.

O mundo de hoje “diminuiu” de tamanho. Vive­mos em um mundo glob­al­izado, inter­conec­tado e tec­nológico e muito mais com­plexo.

Um mundo que enfrenta, como nunca antes, os desafios do aque­c­i­mento global e de um clima cada vez mais instável, com as estações se mis­tu­rando e sem que con­sig­amos enten­der nada do que se passa.

Um mundo onde os rad­i­cal­is­mos não abrem espaços para o racional­ismo, a tem­per­ança e o bom-​senso.

Um mundo alta­mente tec­nológico e conec­tado colo­cando um cidadão brasileiro a clique de dis­tân­cia de um cidadão japonês ou core­ano ou amer­i­cano ou canadense ou sul africano, etcetera e tal.

Diante disso pre­cisamos enten­der que não é sufi­ciente o mod­elo de ensino que era prat­i­cado a cem ou mesmo cinquenta anos atrás.

Pre­cisamos de uma política de ensino que desde o infan­til I e II e mesmo nos anos ini­ci­ais do fun­da­men­tal pos­si­bilite as mes­mas condições e fer­ra­men­tas de apren­diza­gem as nos­sas cri­anças.

O ex-​ministro da edu­cação, ex-​governador e pro­fundo con­hece­dor da política edu­ca­cional brasileira, Cristo­vam Buar­que, sus­tenta desde muito tempo a neces­si­dade de se “fed­er­alizar” o ensino fun­da­men­tal brasileiro. Em recentes arti­gos sus­ten­tou ser impe­rioso que ao invés de nos pre­ocu­par­mos ape­nas em alfa­bet­i­zar as cri­anças até o oitavo ano de suas vidas dev­eríamos fazer isso já em pelo menos dois idiomas e ainda que pre­cisamos ter a tec­nolo­gia como ali­ada do processo de apren­diza­gem.

Devo dizer aos novos gestores e aos edu­cadores – que já não são tão novos assim –, que os desafios de edu­car­mos cri­anças e ado­les­centes para um mundo em trans­for­mação (e tran­sição) ofertando-​lhes as fer­ra­men­tas necessárias para um mundo glob­al­izado, tec­nológico e conec­tado não é tão difí­cil quanto parece.

Muito emb­ora setenta por cento dos recur­sos da edu­cação sejam des­ti­na­dos con­sti­tu­cional­mente ao paga­mento dos seus servi­dores, difer­ente de out­ras áreas, na edu­cação pública é pos­sível “fazer din­heiro” enquanto se investe.

Os exem­p­los mais claros disso é a polit­ica de con­traturno e a de ensino inte­gral. Na primeira já é pos­sível incre­men­tar em aprox­i­mada­mente trinta por cento a receita enquanto que na segunda pode se chegar a até cem por cento.

Imag­ino que os novos gestores devam se cer­car nessa área de pes­soas que enten­dam a política edu­ca­cional e que sejam com­pro­meti­das com a edu­cação e com o futuro desses mil­hões de pequenos cidadãos que pre­cisam ter garan­ti­dos os seus dire­itos.

Em relação aos municí­pios, é dizer: pre­cisamos que todas as cri­anças desde aque­las em idade de crèche até o nono ano este­jam na crèche/​escola o maior tempo pos­sível.

Para que isso acon­teça é necessário uma busca ativa e um con­t­role rígido da fre­quên­cia esco­lar.

Ah, mais a maio­ria dos municí­pios não pos­suem estru­tura física para acol­her os alunos em tempo inte­gral, esse é um dos prin­ci­pais argu­men­tos que escuto por onde passo e acred­ito que exis­tem muitas maneiras de resolver­mos essa situ­ação e quando vem a estru­tura.

Uma das pos­si­bil­i­dades é o con­traturno com salas mis­tas de cur­sos especí­fi­cos: inglês, espan­hol, música, teatro, artes diver­sas; ou as práti­cas esporti­vas.

Os estu­dantes dos anos finais poderão ter ativi­dades edu­ca­cionais próprias da edu­cação inte­gral sem nec­es­sari­a­mente ficarem vin­cu­la­dos à série a que estão matric­u­la­dos. Essa inte­gração, aliás, se dev­i­da­mente acom­pan­hada por edu­cadores, poderá ter um impacto sig­ni­fica­tivo no cresci­mento int­elec­tual e emo­cional desses ado­les­centes.

Estu­dantes do sexto ao nono (e até mesmo do quinto) podem inter­a­girem em ativi­dades especí­fi­cas de apren­diza­gem e/​ou esporti­vas e cul­tur­ais com acréscimo sig­ni­fica­tivo ao seu apren­dizado e for­mação.

Claro, repito, depen­derá do acom­pan­hamento dos edu­cadores e do seu com­pro­misso com edu­cação e a for­mação dessas crianças/​adolescentes.

Com isso resolve­mos, ao menos, em parte, a questão da falta de estru­tura física.

Existe no mer­cado edi­to­r­ial pro­je­tos educa­tivos com essa final­i­dade.

Uma outra forma de mel­ho­rar a receita da edu­cação com foco em um ensino de mel­hor qual­i­dade é desen­volver uma política edu­ca­cional para os jovens, adul­tos e idosos o nosso velho EJA que agora foi acrescido um I para os idosos.

Com quem falo escuto a mesma coisa, com algu­mas vari­ações: — não adi­anta, começamos as tur­mas com 40 e cheg­amos ao final do ano com 5.

É fato que muitos jovens, adul­tos e mesmo os idosos, não pos­suem muita paciên­cia para o apren­dizado ou para voltarem para as salas de aulas. Os números mostram isso.

Mas não é papel do gestor e, prin­ci­pal­mente, do edu­cador, desi­s­tir desse público.

O que se pre­cisa é de estraté­gia de ensino.

Os jovens, adul­tos ou idosos não querem ir para a sala de aula? Por que não os matric­u­lamos em ativi­dades do seu inter­esse em sis­tema de EaD?

Estu­dava que o ensino de lín­guas para os idosos tem efeitos mag­ní­fi­cos sobre os cére­bros dos mes­mos, evi­tando ou retar­dando inúmeras doenças neu­rológ­i­cas, o mesmo podemos dizer das ativi­dades esporti­vas para esse público.

Sendo o EJAI uma modal­i­dade de ensino com poten­cial para trazer bene­fí­cios edu­ca­cionais e de saúde para o con­junto da sociedade brasileira pre­cisamos ter estraté­gias para o seu fomento. Pode se ado­tar a busca ativa, acom­pan­hamento, cur­sos especí­fi­cos, áreas de inter­esse, aliar a edu­cação à pre­venção de prob­le­mas de saúde e tan­tos out­ros.

O impor­tante é que gestores e edu­cadores com­preen­dam a importân­cia de “pen­sarem a edu­cação” fora da caixa. Fun­da­men­tal que haja, da parte de todos, com­pro­me­ti­mento.

A edu­cação nunca foi prob­lema para nen­huma gestão, pelo con­trário, é a prin­ci­pal solução para todos demais prob­le­mas que acome­tem os municí­pios, esta­dos e a nação.

E, em um mundo em trans­for­mação (e tran­sição), a edu­cação é a mel­hor, senão a única solução.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.