IDEB: A tragédia do Brasil e a esperança que vem do Pará.
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- Criado: Domingo, 25 Agosto 2024 12:31
- Escrito por Abdon Marinho
IDEB: A tragédia do Brasil e a esperança que vem do Pará.
Por Abdon C. Marinho.
QUANDO já falamos muito sobre determinadas coisas e somos tangidos pela necessidade de voltarmos a falar ficamos com a sensação de estarmos revisitando lugares por onde passamos, uma espécie de “dèja vu” temático.
É precisamente o que acontece comigo quando falo sobre educação. Já tratei desse assunto tantas vezes – principalmente depois que me tornei investidor de projetos educacionais com metas ambiciosas –, que fico com a impressão que nada mais tenho a acrescentar sobre o assunto.
Mas vamos ao que interessa. Por esses dias foram divulgados os dados do IDEB de 2023.
Entre tantas notícias sobre o que foi constatado duas notícias me chamaram mais atenção: que há uma discrepância de aprendizagem de quatro anos no ensino fundamental entre crianças egressas da escola pública em relação as crianças da egressas da escola privada – essa é a tragédia de que trata o texto; e que o Estado do Pará avançou 20 (vinte) posições em relação a avaliação anterior em relação ao IDEB do ensino médio – Epa! Epa! Essa é uma informação das mais relevantes para a educação nacional. É a informação que nos traz a esperança.
No geral o resultado desse IDEB de 2023 não é bom para a educação.
Vejamos, apenas pouco mais de um terço dos estados cumpriram as metas estabelecidas para os primeiros anos do ensino fundamental (1º ao 5º anos): Paraná, Ceará, São Paulo, Santa Catarina, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Alagoas e Rio Grande do Sul.
Nesse quadro (dos anos iniciais) se destacaram os estados de Alagoas e Ceará como as unidades federadas que mais avançaram desde o início da avaliação, em 2005, para cá, Alagoas avançou 3,5 e o Ceará avançou 3,4 pontos.
Devemos considerar que as metas almejadas não são elevadas e fazem parte de uma estratégia de se ir avançando no desenvolvimento da educação no país de forma gradual.
Quando vemos que apenas 11 unidades federadas foram capazes de alcançar as metas, repito, modestas, já temos uma ideia do faz a educação pública revelar uma desvantagem de 4 anos ao término do ensino fundamental.
Sem querer ser repetitivo, mas já sendo, o Brasil, através de seus estados, Distrito Federal e municípios precisam ofertar ferramentas e condições de ensino que favoreçam a consolidação de uma educação igualitária para todas as crianças.
Há décadas que fala disso. O “segredo” para o fortalecimento da educação nacional é melhorarmos a sua base.
Os entes federados precisam ser cobrados para cumprirem essas metas por uma educação básica igualitária e de qualidade.
A sabedoria popular tem muito a nos ensinar. Meu pai, um sertanejo analfabeto por parte de pai, mãe e parteira, costumava dizer que “pau que nasce torto até a cinza, quando queimam, é torta”.
Se apenas 11 unidades da federação conseguiram cumprir as metas relativas aos anos iniciais, o desastre aumentou quando se avaliou os anos finais do fundamental (6º ao 9º anos), apenas três unidades conseguiram êxito: Paraná, Ceará e Goiás os três com 5,5 pontos tendo ganhos respectivamente em pontuação, 1,9, 2,4 e 2.0 pontos de 2005 para cá.
Desses três estados, o Ceará foi o que mais avançou em pontos, 2,4 desde 2005.
Os dados revelaram que de todos as unidades federadas, embora não tenha alcançado a meta, o estado de Alagoas foi o mais avançou desde 2005, obtendo 2,6 pontos desde então.
Como uma sequência lógica do fato de que sem uma boa base haverá a deterioração nas etapas seguintes, nenhuma das unidades da federação alcançou a meta nacional de 5,2 estabelecida para o ensino médio.
Os três estados que ficaram mais próximos da meta foram Paraná, com 4,9 pontos; Goiás, 4,8 pontos; e o Espírito Santo, 4,8 pontos.
Em meio a essa tragédia de termos um ensino médio com os piores indicadores do país merecem destaque os estados de Goiás, Piauí e Pará que “ganharam”, um 1,6 pontos de 2005 para cá.
Entre os três o que merece maior destaque é o Estado do Pará, sim, o nosso vizinho do lado. Em apenas dois anos, de 2021 para 2023, evoluiu 1,2 pontos.
Vejamos, se não me falha a memória, até 2021 o IDEB do ensino médio do Pará estava abaixo do IDEB do Maranhão, em apenas dois anos não apenas ultrapassou o Maranhão, mas, também, vinte outras unidades da federação, indo para “as cabeças” do ranking, como dizia um personagem famoso de uma novela.
Vi essa semana uma publicidade do estado paraense ressaltando o feito – e deve fazer isso –, e fiquei encantado com o fato do Estado do Pará, em um situação totalmente adversa, pois os indicadores do ensino fundamental tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais, são terríveis, estando abaixo de quase todas as demais unidades, ter conseguido – nessa que é a etapa mais difícil da educação, o ensino médio –, avançar o que as demais unidades levaram mais de uma década para alcançar.
Um dado dos mais interessantes sobre o extraordinário feito do Pará, de ter elevado a nota do IDEB de 3,2 para 4,4 em apenas dois anos é o fato de ter sido a rede estadual, o ensino público, a responsável por essa rápida evolução.
Fosse o Brasil um país que levasse, efetivamente, a educação a sério, era para o governador Helder Barbalho e o secretário Rossieli Soares estarem em todos os canais de comunicação do país explicando como alcançaram tal feito e servindo de exemplo para os outros estados. Quiçá, uma CPI para “entregarem” o segredo. Rsrs.
Estão de parabéns. E como é bom podermos celebrar um feito de tamanha magnitude. Acho que somente aqueles que amam de verdade a educação conseguem dimensionar o que falo.
Esse feito do Pará mostra que é possível. Quando ninguém mais parece acreditar na educação surge um fato como esse mostrando que é possível. Sim, nós podemos, como diria um ex-presidente americano.
Se mantiverem o mesmo ritmo de avanço, na próxima avaliação do IDEB, se não alcançarem a meta estarão bem próximos disso.
Em meio a tragédia que o IDEB revelou na educação pública brasileira, inclusive com estados que eram referência em educação pública ficando para trás, o avanço do Pará, em tão pouco tempo, mostra que é possível termos esperança, mostra que é possível corrigirmos, com as ferramentas certas, as várias distorções pelas quais passa o ensino público no Brasil.
Apenas a título de sugestão, acho que os secretários de educação dos estados e municípios, juntamente com seu corpo técnico devem se debruçar sobre os números desse IDEB, examinar os bons e maus exemplos e tentar entender os motivos de uns conseguirem avançar, superar os infinitos obstáculos e outros não.
Entendo ser de fundamental importância disponibilizar, igualitariamente, a todas as crianças, adolescentes e jovens ferramentas de ensino que favoreçam a sua aprendizagem. Do mesmo modo, investir continuamente na formação continuada de educadores – e cobrar depois –, para que estes “entreguem” a essas crianças, adolescentes e jovens e uma educação de qualidade.
Abdon C. Marinho é advogado.