AbdonMarinho - IDEB: A tragédia do Brasil e a esperança que vem do Pará.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 21 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

IDEB: A tragé­dia do Brasil e a esper­ança que vem do Pará.


IDEB: A tragé­dia do Brasil e a esper­ança que vem do Pará.

Por Abdon C. Marinho.

QUANDO já falamos muito sobre deter­mi­nadas coisas e somos tangi­dos pela neces­si­dade de voltar­mos a falar ficamos com a sen­sação de estar­mos revis­i­tando lugares por onde pas­samos, uma espé­cie de “dèja vu” temático.

É pre­cisa­mente o que acon­tece comigo quando falo sobre edu­cação. Já tratei desse assunto tan­tas vezes – prin­ci­pal­mente depois que me tornei investi­dor de pro­je­tos edu­ca­cionais com metas ambi­ciosas –, que fico com a impressão que nada mais tenho a acres­cen­tar sobre o assunto.

Mas vamos ao que inter­essa. Por esses dias foram divul­ga­dos os dados do IDEB de 2023.

Entre tan­tas notí­cias sobre o que foi con­statado duas notí­cias me chama­ram mais atenção: que há uma dis­crepân­cia de apren­diza­gem de qua­tro anos no ensino fun­da­men­tal entre cri­anças egres­sas da escola pública em relação as cri­anças da egres­sas da escola pri­vada – essa é a tragé­dia de que trata o texto; e que o Estado do Pará avançou 20 (vinte) posições em relação a avali­ação ante­rior em relação ao IDEB do ensino médio – Epa! Epa! Essa é uma infor­mação das mais rel­e­vantes para a edu­cação nacional. É a infor­mação que nos traz a esper­ança.

No geral o resul­tado desse IDEB de 2023 não é bom para a edu­cação.

Vejamos, ape­nas pouco mais de um terço dos esta­dos cumpri­ram as metas esta­b­ele­ci­das para os primeiros anos do ensino fun­da­men­tal (1º ao 5º anos): Paraná, Ceará, São Paulo, Santa Cata­rina, Dis­trito Fed­eral, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Alagoas e Rio Grande do Sul.

Nesse quadro (dos anos ini­ci­ais) se destacaram os esta­dos de Alagoas e Ceará como as unidades fed­er­adas que mais avançaram desde o iní­cio da avali­ação, em 2005, para cá, Alagoas avançou 3,5 e o Ceará avançou 3,4 pon­tos.

Deve­mos con­sid­erar que as metas alme­jadas não são ele­vadas e fazem parte de uma estraté­gia de se ir avançando no desen­volvi­mento da edu­cação no país de forma grad­ual.

Quando vemos que ape­nas 11 unidades fed­er­adas foram capazes de alcançar as metas, repito, mod­estas, já temos uma ideia do faz a edu­cação pública rev­e­lar uma desvan­tagem de 4 anos ao tér­mino do ensino fun­da­men­tal.

Sem querer ser repet­i­tivo, mas já sendo, o Brasil, através de seus esta­dos, Dis­trito Fed­eral e municí­pios pre­cisam ofer­tar fer­ra­men­tas e condições de ensino que favoreçam a con­sol­i­dação de uma edu­cação igual­itária para todas as cri­anças.

Há décadas que fala disso. O “seg­redo” para o for­t­alec­i­mento da edu­cação nacional é mel­ho­rar­mos a sua base.

Os entes fed­er­a­dos pre­cisam ser cobra­dos para cumprirem essas metas por uma edu­cação básica igual­itária e de qual­i­dade.

A sabedo­ria pop­u­lar tem muito a nos ensi­nar. Meu pai, um ser­tanejo anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira, cos­tu­mava dizer que “pau que nasce torto até a cinza, quando queimam, é torta”.

Se ape­nas 11 unidades da fed­er­ação con­seguiram cumprir as metas rel­a­ti­vas aos anos ini­ci­ais, o desas­tre aumen­tou quando se avaliou os anos finais do fun­da­men­tal (6º ao 9º anos), ape­nas três unidades con­seguiram êxito: Paraná, Ceará e Goiás os três com 5,5 pon­tos tendo gan­hos respec­ti­va­mente em pon­tu­ação, 1,9, 2,4 e 2.0 pon­tos de 2005 para cá.

Desses três esta­dos, o Ceará foi o que mais avançou em pon­tos, 2,4 desde 2005.

Os dados rev­e­laram que de todos as unidades fed­er­adas, emb­ora não tenha alcançado a meta, o estado de Alagoas foi o mais avançou desde 2005, obtendo 2,6 pon­tos desde então.

Como uma sequên­cia lóg­ica do fato de que sem uma boa base haverá a dete­ri­o­ração nas eta­pas seguintes, nen­huma das unidades da fed­er­ação alcançou a meta nacional de 5,2 esta­b­ele­cida para o ensino médio.

Os três esta­dos que ficaram mais próx­i­mos da meta foram Paraná, com 4,9 pon­tos; Goiás, 4,8 pon­tos; e o Espírito Santo, 4,8 pontos.

Em meio a essa tragé­dia de ter­mos um ensino médio com os piores indi­cadores do país mere­cem destaque os esta­dos de Goiás, Piauí e Pará que “gan­haram”, um 1,6 pon­tos de 2005 para cá.

Entre os três o que merece maior destaque é o Estado do Pará, sim, o nosso viz­inho do lado. Em ape­nas dois anos, de 2021 para 2023, evoluiu 1,2 pon­tos.

Vejamos, se não me falha a memória, até 2021 o IDEB do ensino médio do Pará estava abaixo do IDEB do Maran­hão, em ape­nas dois anos não ape­nas ultra­pas­sou o Maran­hão, mas, tam­bém, vinte out­ras unidades da fed­er­ação, indo para “as cabeças” do rank­ing, como dizia um per­son­agem famoso de uma nov­ela.

Vi essa sem­ana uma pub­li­ci­dade do estado paraense ressaltando o feito – e deve fazer isso –, e fiquei encan­tado com o fato do Estado do Pará, em um situ­ação total­mente adversa, pois os indi­cadores do ensino fun­da­men­tal tanto nos anos ini­ci­ais quanto nos anos finais, são ter­ríveis, estando abaixo de quase todas as demais unidades, ter con­seguido – nessa que é a etapa mais difí­cil da edu­cação, o ensino médio –, avançar o que as demais unidades levaram mais de uma década para alcançar.

Um dado dos mais inter­es­santes sobre o extra­ordinário feito do Pará, de ter ele­vado a nota do IDEB de 3,2 para 4,4 em ape­nas dois anos é o fato de ter sido a rede estad­ual, o ensino público, a respon­sável por essa ráp­ida evolução.

Fosse o Brasil um país que lev­asse, efe­ti­va­mente, a edu­cação a sério, era para o gov­er­nador Helder Bar­balho e o secretário Rossieli Soares estarem em todos os canais de comu­ni­cação do país expli­cando como alcançaram tal feito e servindo de exem­plo para os out­ros esta­dos. Quiçá, uma CPI para “entre­garem” o seg­redo. Rsrs.

Estão de parabéns. E como é bom poder­mos cel­e­brar um feito de tamanha mag­ni­tude. Acho que somente aque­les que amam de ver­dade a edu­cação con­seguem dimen­sionar o que falo.

Esse feito do Pará mostra que é pos­sível. Quando ninguém mais parece acred­i­tar na edu­cação surge um fato como esse mostrando que é pos­sível. Sim, nós podemos, como diria um ex-​presidente amer­i­cano.

Se man­tiverem o mesmo ritmo de avanço, na próx­ima avali­ação do IDEB, se não alcançarem a meta estarão bem próx­i­mos disso.

Em meio a tragé­dia que o IDEB rev­elou na edu­cação pública brasileira, inclu­sive com esta­dos que eram refer­ên­cia em edu­cação pública ficando para trás, o avanço do Pará, em tão pouco tempo, mostra que é pos­sível ter­mos esper­ança, mostra que é pos­sível cor­ri­gir­mos, com as fer­ra­men­tas cer­tas, as várias dis­torções pelas quais passa o ensino público no Brasil.

Ape­nas a título de sug­estão, acho que os secretários de edu­cação dos esta­dos e municí­pios, jun­ta­mente com seu corpo téc­nico devem se debruçar sobre os números desse IDEB, exam­i­nar os bons e maus exem­p­los e ten­tar enten­der os motivos de uns con­seguirem avançar, superar os infini­tos obstácu­los e out­ros não.

Entendo ser de fun­da­men­tal importân­cia disponi­bi­lizar, igual­i­tari­a­mente, a todas as cri­anças, ado­les­centes e jovens fer­ra­men­tas de ensino que favoreçam a sua apren­diza­gem. Do mesmo modo, inve­stir con­tin­u­a­mente na for­mação con­tin­u­ada de edu­cadores – e cobrar depois –, para que estes “entreguem” a essas cri­anças, ado­les­centes e jovens e uma edu­cação de qual­i­dade.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.