Sucessão Estadual:
DINO RECUSA PRATO FEITO E MANDA ROCHA CATAR COQUINHO.
Por Abdon Marinho.
AMIGOS e uns poucos leitores vinham me cobrando que opinasse sobre a sucessão estadual.
A recusa, até então, prendia-se ao fato de achar precipitado tratar do assunto faltando tempo para a eleição, estarmos no curso de uma pandemia e ainda sem saber como ficará o cenário nacional para o ano que vem.
Outra situação a impedir a análise política do cenário político é a ausência de informações confiáveis sobre os bastidores da política.
Em que pese por aqui só se falar de política “de manhã, de tarde e de noite”, com uma eleição emendando na outra, quase sempre, ouso dizer com raríssimas exceções, a divulgação da notícia nunca é feita por jornalistas, mas, sim, por assessores de imprensa.
Quase tudo que lemos passa longe da isenção.
As notícias são dadas por profissionais vinculados a este ou aquele projeto político, local ou nacional.
Com todas essas ressalvas, tentarei opinar, começando por hoje, sobre a sucessão estadual.
Nos diversos textos virão tratarei sobre o cenário político a partir da minha visão, que, repito, poderá ser completamente equivocada, ou atrasada, ou que poderá ser modificada conforme surjam novos fatos ou personagens ou situações.
Sobre a volatilidade da política o pai de um amigo meu costumava dizer: “em política basta um único acontecimento para mudar toda uma história”.
E a história está repleta de exemplos a justificar tal assertiva.
Neste primeiro texto tratarei da cisão ocorrida na base governista.
Conforme temos acompanhado nos vários meios de comunicação, o governador do estado, senhor Flávio Dino, já teria optado por escolher o vice-governador, Carlos Brandão, como o “seu” candidato para a “sua” sucessão.
Embora se trate de uma escolha natural, sabemos que o senador Weverton Rocha, desde que pôs os pés nos salões azuis do Senador da República, que sonha e trabalha incansavelmente com o propósito de suceder o o governador Flávio Dino.
Na opinião de qualquer um – com um mínimo de isenção –, reconhece-se que o senador se articulou bem: trouxe para perto de si um grupo de deputados federais e estaduais, conquistou a federação dos municípios há quatro anos e renovou o comando na última eleição e, ainda, conseguiu a eleição de diversos aliados nos municípios.
De tão bem na “fita” trabalhava com a possibilidade de ser o candidato incontornável pelos governistas. Ou seja, sou o melhor candidato, o mais articulado, estou com bala na agulha, venham comigo pois não têm para onde ir.
Segundo li – não sei se como verdade ou recado plantado –, teria dito que poderia compor a chapa com a ex-governadora Roseana Sarney, como candidata ao senado.
Verdadeira, como notícia ou como recado, o fato é que, para o senador e os seus “chegados”, o governador teria que aceitar o “prato feito” e dar-se por satisfeito.
O governador não é bobo – muito embora tenha chegado onde chegou e no tempo em que chegou por circunstâncias que já tratamos diversas vezes –, tornar-se refém do projeto político do senador pedetista, ainda que no Senado da República e por oito anos, não era (ou é) sua melhor opção, nem agora, em 2022 ou em 2026.
A leitura que faço é que a eleição do senador pedetista jamais interessaria ao governador comunista porque acabaria com suas futuras pretensões políticas no estado e com o seu “legado”, que, vamos combinar, não é lá essas coisas, basta dizer que não existe uma obra de “vulto” – a única que pode ser considerada assim, com muito boa vontade, é a ponte sobre o Rio Pericumã, entre Bequimão e Central do Maranhão, que se arrasta desde o início do governo e que tem muitas histórias a contar –, a miséria “herdada” do sarneísmo aumentou e, até mesmo, a ideia de ser um “antissarney”, há muito tempo deixou de existir.
Apenas para registro, assistimos a chamada “televisão do Sarney” coalhada de comerciais do governo estadual, em qualquer horário que se ligue a televisão, sem contar que os secretários estaduais batem cotovelos e já parece, possuir “quadro fixo” nos telejornais da emissora da Avenida Ana Jansen.
Se aceitasse o “prato feito” ofertado pelo postulante do PDT, o atual governador estaria promovendo a mudança geracional no comando do estado, sepultaria a possibilidade de voltar ao governo, de eleger em 2026, “alguém seu”, por exemplo, um dos seus “golden boys”, ou mesmo ser uma espécie de “Vitorino Freire” do século XXI.
Mas, poderia ter aceitado, se um fato externo não tivesse se imposto no cenário político brasileiro: a “descondenação” do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva – gostaram do termo? Como prometi lá atrás, não tardo a escrever sobre isso.
Pois bem, a “descondenação” do ex-presidente enfraqueceu a posição política do senador pedetista e fortaleceu dois outros agentes políticos no Maranhão e que deverão estar juntos para alquimia funcionar: Dino e Sarney.
Lembram que lá atrás – muito atrás –, escrevi um texto sobre a visita de Dino a Sarney, ocorrido em Brasília, intitulado “O acordo que não ousa dizer o nome”?
Pois bem, como disse anteriormente, estamos vendo o sistema Mirante se tornar uma extensão do governo estadual – acredito que seja parte do acordo.
Com o Lula, livre, leve e solto, podendo ser candidato a presidente, o que era um “acordo que não ousava dizer o nome” virará um casamento às claras, sem medo de ser feliz.
A dificuldade será apenas combinar os interesses de cada um, na política, nos negócios e no futuro.
Para isso existem os leões e não há nada que a máquina pública estadual não esteja acostumada a “resolver”.
O governador sonha em ser o candidato a vice-presidente de Lula, por quem tem uma devoção desde a infância.
Quem teria condições de pedir isso a Lula enfrentando os interesses mais poderosos da República, inclusive do próprio partido, MDB, ele mesmo, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, ou como ficou mais conhecido, José Sarney.
Não vejo no cenário político brasileiro ninguém com maior influência junto ao ex-presidente Lula que Sarney.
E, em nome da pacificação política no estado e visando a derrota do atual inquilino do Planalto poderá ser o fiador do sonho de Dino.
Sabemos, entretanto, que em política tudo tem um preço.
O que o grupo Sarney vai pleitear em troca? Poderia pleitear o governo do estado para Roseana Sarney, que já foi governadora por diversas vezes e que é a melhor colocada, segundo vi dizer, nas pesquisas de opinião.
Essa seria aposta mais alta, entretanto arriscariam “quebrar a banca” e colocar tudo a perder – sem contar que na política local não estão tão bem.
Assim, acredito, aceitariam de bom grado, para a mesma ex-governadora, a posição de candidata à senadora, cargo que, também, já exerceu.
Ficariam assim: Dino vai para vice-presidente, Roseana Sarney para o Senado.
Mas quem poderia costurar tudo isso, incluindo os acordos futuros, na eventualidade de algo não ocorrer conforme o planejado? O vice-governador Carlos Brandão.
O governador sabe que a eleição de Carlos Brandão, um vice-governador, que até aqui, se mostrou excessivamente fiel, é a garantia que, se eleito, honrará os compromissos que estão “costurando” no momento, de que a mudança de geração no comando do estado não ocorrerá já em 2022 ou em 2026, caso deseje voltar ao governo ou indicar um dos seus “golden boys”.
Nesta obra toda de engenharia política e também para servir de fiador e articulador político, o governador foi atrás do ex-governador José Reinaldo, que nunca deu recibo as agressões sofridas tanto do lado dos comunistas/dinistas quando do lado dos sarneysistas.
As peças movidas no tabuleiro da política pelo governador não foram movidas sem razão.
A opção de “mover céus e terras” para a eleição de Brandão não ocorre por fidelidade ao vice-governador que lhe foi fiel.
Assim como não mandou o senador “catar coquinho” noutra freguesia por “desamor” a este, que, até, segundo dizem teria “topado” abrir mão da candidatura pelo compromisso para 2026.
O que não foi aceito por Dino.
O jogo da política tem suas próprias regras e circunstâncias. Mudam se circunstâncias, mudam os interesses.
O que resta saber é a força que cada um terá para mover suas peças.
Estas, amigos, minha opinião sobre a principal articulação política visando as eleições estaduais do ano que vem no momento.
Abdon Marinho é advogado.