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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

CUIDADO, ALIADOS!

Certa vez – já faz um tempo –, um prefeito recém eleito procurou-me, queria trocar algumas ideias sobre administração, dizia que queria acertar, fazer um bom governo, etc.

Lá pelas tantas, indaga: – Dr. Abdon,  o que faço para acertar na minha administração? 

Respondi-lhe: – Escolha bem os auxiliares e fique atento aos aliados.

Retrucou: – Não seria ficar atento aos adversários, doutor?

Completei: – Não. Nem um opositor pode ser mais danoso a uma administração que alguns aliados. Os opositores, pelo contrário, estão do outro lado, apontando os erros, denunciando. Os aliados e auxiliares estão dentro da administração, cometendo erros, fazendo negócios, tentando tirar alguma vantagem. Se o aliado ou mau auxiliar é parente, muito pior, o prejuízo à imagem do gestor e os problemas serão sempre maiores. Os aliados, até mais que os auxiliares, se acham credores da vitória do eleito. Se contribuiu com um tostão, cobram um milhão.Portanto, meu amigo, faça seu governo sem se preocupar tanto assim com a oposição, ela até pode ser benéfica, mas não descuide dos seus aliados, estes sim, serão a razão de seus dissabores.

O tempo passou e a convicção sobre este pensamento só se consolidou. Quantas vezes não vi gestores amargarem a impopularidade ou fazer uma gestão pífia, graças à ação desastrosa dos auxiliares ou à intervenção interesseira dos aliados? Quantos não entregaram suas administrações dos mais amados e sofreram por isso? Inúmeros. Daí a convicção que aliados são mais danosos às administrações que os opositores.

Durante os últimos doze anos o governo federal operou sem que a oposição lhe importunasse com nada.

O grande problema é modelo de governo montado pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma Rousseff, talvez seja o exemplo mais perfeito do quão desastrosa pode ser a junção da incompetência, inexperiência, negligência e loteamento dos cargos públicos. A situação chegou a tal ponto que a presidente reeleita já chegou a anunciar que vai desmontar os nichos montados nos ministérios. 

Embora a corrupção seja uma característica indelével  do estilo de governar dos atuais donos do poder, não resta dúvida que ela se tornou bem maior devido à ação dos \\\"aliados\\\". Cada ministério tornou-se uma República independente nas mãos dos partidos e cada um cobrando por seus favores.  

O governo ao invés de se cercar de homens público, pessoas voltadas para defender os interesses do Estado, cercou-se de uma arraia miúda preocupada em defender os quinhões partidários e os interesses dos partidos. Fizeram isso, claro, que seguindo o exemplo do partido majoritário, o partido a quem foi confiado a guarda da República. Devem pensar: \\\"se eles que sofrerão o desgaste não se cansam de aprontar desatinos, por que nós, apenas sócios do poder, não podemos aprontar?\\\". Este é o raciocínio que tem levado o país a tanto descrédito.

Trazendo para nossa realidade mais próxima, o exemplo mais claro é o do prefeito da capital. Vejam os amigos, que já estamos às portas do terceiro ano de governança e grade parte da sociedade ainda está com a impressão que o governo não começou. Há uma espécie de vazio de poder. Isso quando de tempo útil, só se tem mais um ano. A partir de outubro de 2015, passa a imperar a lógica perversa de tudo passar a girar em função da eleição do ano seguinte. 

Não tenho qualquer dúvida das boas intenções que possui o prefeito. Acredito, piamente, que ele quer acertar, fazer o melhor pela cidade. Até por sua idade,  pouco mais de trinta anos, não acredito que pretenda se aposentar da vida pública ao invés de  galgar espaços mais elevados no cenário político. Apesar da força de vontade, não há como esconder que vem fazendo um governo bem aquém das expectativas. Claro, parte de suas dificuldades pode ser creditada a crise pela qual passa os municípios brasileiros. Claro que pode ser creditada a falta de apoio de outras esfera de governo. Entretanto, resta claro que grande parte se deve às dificuldades de gestão. O prefeito formou uma equipe que não o tem ajudado muito. Não se trata, nem de longe, de se dizer que há corrupção, quanto a isso não sabemos, mas de falta de atitude. As vezes, vendo de longe, fico com a impressão que de tanto terem medo de errar, acabam paralisados e paralisando o governo. 

Esquecem que estamos numa capital, com necessidades mil, com problemas grandiosos a exigirem rapidez, presença da administração, ousadia nas soluções, na captação de recursos (apenas para se ter uma ideia há informações que o governo não vem arrecadando tudo que poderia ou captando todos recursos junto aos governos federal e estadual). 

Apesar de um mundo de exigências, não faz muito, vi na página inicial da prefeitura, o prefeito inaugurando recapeamento de rua. Outro dia vi um comercial de um serviço de drenagem a colocavam na vala escavada um cano bem semelhantes a esses que usamos em casa. Me perdoem, mas essas atitudes parecem mais condizentes com pequenos municípios do interior. A capital precisa de grandes obras de macrodrenagem, de vias urbanas que possibilitem o fluxo de veículos, de grandes hospitais (ninguém mais fala no novo hospital de urgência Dr. Jackson Lago, prometido à exaustão na campanha), modernização do transporte (até a licitação está sendo feita na marra, se, de fato, sair), e muitas outras. 

A cidade merece um governo ousado, moderno, em sintonia com os avanços tecnológicos dos nossos dias, como, aliás, foi prometido.

A situação chega a ser dramática quando vemos que até tendo tudo para deslanchar acaba sofrendo justas críticas da população. 

Um dos exemplos mais claros disso é a bendita obra de drenagem da Vila Luizão – por onde passo duas vezes ao dia. Trata-se de uma obra cara – quase 17 milhões –, bancada pelo governo federal, necessária e urgente. O que faz a administração? Não consegue executar com rapidez, eficiência, causando enorme transtorno aos munícipes.

Não bastasse apanhar pelo que não faz, apanha também pelo que faz.

A execução da obra, não sei como, ficou ao encargo de uma empresa que, até aqui, não tem mostrado a menor capacidade técnica, até parece uma empresa de fundo de quintal. Acho que já passam de três meses e não conseguiram passar com as manilhas de drenagem pela Avenida dos Holandeses, umas das mais importantes e caras da cidade. Pior, a obra é de visível má qualidade, não se vê uma boca de lobo, um poço de visita, a recomposição do solo é sofrível, sem contar que o tempo, um serviço que sendo pessimistas não levaria uma semana, estão chegando aos noventa dias, se já não passaram disso. Todos os dias, pela manhã, pela tarde e noite a população demonstra sua insatisfação, protesta e até xinga o prefeito. E ele está com sorte, se o inverno chegar e a obra continuar como está, vai ficar pior. Se é que pode piorar depois que morte e acidentes graves já foram registrados.

O prefeito caiu na velha esparrela de que companheiros que servem para ganhar a eleição servem para governar. Nem sempre servem. Outra coisa que parece ter sido neglicenciada, até aqui, é a vigilância à inferência dos aliados.

Os novos governantes, que assumirão a partir de janeiro vindouro, precisam ficar atentos aos equívocos já cometidos. É a melhor forma de evitá-los.

 

Abdon Marinho é advogado.