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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Segunda-feira, 25 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

SAÚDE: O GOVERNO AMEAÇA COM O INFERNO.

Dias desses, a caminho do escritório, uma senhorinha – que pela aparência beirava os 70 anos –, pediu-nos uma carona pois precisava “tentar” consultar-se com um médico de uma especialidade qualquer que, naquele dia, estaria atendendo numa Unidade de Saúde em outro bairro. 

Embora saindo um pouco do meu roteiro, levei aquela senhora à unidade de saúde, como se firmava numa bengala, pelos idos dos anos ou por alguma enfermidade, deixei-a na porta e pude ver, já esperando para ser atendidos, cerca 40 ou 50 pacientes. Naquele horário, antes das 7 horas, se tivesse sorte, seria atendida lá para as 14 ou 15 horas. Isso se já não esgotado o número de senhas e mandada voltar outro dia, na semana seguinte, no mês seguinte, no ano seguinte.

Adiante, na Avenida dos Holandeses, vi a cena – que se repete todos os dias: centenas, talvez milhares de cidadãos, madrugando na fila da central de marcação de consultas, tentando marcar um atendimento.    

Naquele mesmo dia assisto a uma reportagem/desabafo de um médico (agora em São Paulo), na qual dizia que pessoas ficariam cegas por não conseguir fazer cirurgias simples de catarata, por falta de condições mínimas. 

A reportagem trouxe a história de duas senhoras: uma, feliz por haver conseguido o atendimento e voltado a enxergar com mais qualidade; a outra, triste por ter viajado mais de 200 km e não ter conseguindo o tratamento para um deslocamento de retina, com risco de ficar cega.

Dentre os malefícios enfrentado pelo homem, acredito que a cegueira, seja uma das mais graves. 

Não consigo dimensionar o sofrimento de uma pessoa que via tudo, de uma hora para outra, perder a visão. O drama se torna mais descomunal quando sabemos que aquela cegueira poderia ser evitada, que a cidadão poderia continuar usufruindo da sua visão se não o Estado tivesse lhe garantido apenas o básico. 

Diariamente ouvimos relatos dando conta que médicos, muitos ainda residentes, mal saídos da adolescência, têm que escolher, nas emergências dos prontos-socorros da vida, aqueles que terão uma segunda chance de viver e aqueles que morrerão que, sequer, serão atendidos; ou casos de recusa de atendimento hospitalar por falta de vagas, leitos; ou casos que vão para terminar nas delegacias de polícias. 

Agora se encerra uma campanha de prevenção ao câncer de mama (uma das maiores taxas de mortalidade entre as mulheres). Embora sejam campanhas fundamentais e essenciais, sabemos que seu alcance ainda é muito restrito. Milhões de mulheres continuarão sem acesso ao tratamento preventivo e até sem saber se acometidas ou não deste mal, descobrindo apenas quando o tratamento é mais penoso e muitas vezes sem chance de cura. 

No dia a dia os dramas, de tão comuns, são vistos com naturalidade. São consultas sendo marcadas para dali a três, seis meses, muitas das vezes, para até um ano depois. São retornos médicos previstos para as calendas. 

Talvez não para muitos médicos, talvez não para muitos gestores ou burocratas, mas a questão da saúde vai muito além dos seus números, sejam eles de mortos, de cirurgias, de atendimentos, de recursos investidos. 

A questão da saúde afeta o ser humano, o indivíduo, suas famílias, no momento de maior fragilidade. 

Qualquer mal-estar, as vezes um simples acúmulo de gases, já nos torna frágeis. 

O que dizer do sofrimento causado pela perspectiva de um câncer, de uma doença degenerativa, um problema cardíaco complexo e tantos outros males graves? Como fazer ou exigir que estas pessoas esperem meses por um atendimento, anos por uma cirurgia ou um tratamento continuado? Como ficar indiferentes ao sofrimento daqueles que adormecem e amanhecem nas portas dos hospitais sem saberem se serão ou não atendidos?

O governo brasileiro acha pouco tudo que já vem acontecendo no sistema de saúde: seja a rede insuficiente, sejam as especialidades inexistentes na maioria dos municípios, sejam os pacientes ficando deficientes por falta de insumos essenciais, seja a falta de medicamentos de uso continuo, seja a loteria de vida e morte que acontecem diariamente nas emergências. 

Leio e entendo como ameaça o que disse recentemente o ministro da saúde: “o que está ruim poderá piorar”. 

Não devíamos nos surpreender com esse tipo de declaração vinda de um ministro do atual governo.  Quando pensamos que atingimos o fundo do poço, sempre aparece algum integrante do governo mostrando que podem cavar um pouco mais ou que o fundo do poço é móvel. Podemos dizer que até o fundo do poço já roubaram.

A declaração do ministro da saúde – o mesmo que disse que o imposto sobre operações financeiras deveria ser cobrada nas duas pontas: quem paga e quem recebe, pois os contribuintes nem sentiriam –, deve-se ao fato de quererem sacrificar o contribuinte, mais uma vez, com a elevação de impostos e a criação de novos, para suprir a voracidade da corrupção e da má gestão. Daí, sua excelência, prometer um sistema de saúde pior que o já experimentado pela população.  

Ora, a questão nem é pagar ou não a nova CPMF. O problema é sabermos que tais recursos não chegarão aos pacientes ou aos aposentados ou pensionistas. O problema é sabermos que o governo é incapaz de fazer qualquer gesto de economia e gasta o dinheiro público em supérfluo como se o mesmo fosse infinito. Outro dia a própria presidente, mobilizou avião, helicóptero, seguranças, hospedagem e todo aparato que cerca o poder para ir apagar as velinhas no aniversário do Sr. Lula. Assim como esta, são infinitos os ralos por onde escoam os recursos frutos do nosso trabalho, dos impostos que pagamos, sem que usufruamos de nada. Querem mais dinheiro mas nada darão em troca, mais dinheiro para enricar os corruptos de sempre.

E ainda se acham no direito de nos ameaçar com o inferno que nem Dante ousou imaginar.

Abdon Marinho é advogado.