O sofrimento dos animais não é engraçado.
Por Abdon C. Marinho.
RECEBI por diversas fontes um videozinho satírico de um candidato a prefeito da capital onde o mesmo, de forma bem humorada e inventiva critica, o que para ele são propostas “mirabolantes”e inexequíveis de um dos seus concorrentes.
O vídeo, se chegou a mim, já deve ter sido visto e curtido por milhares de pessoas – inclusive de um ou outro, já ouvi a cobrança de deveria ter um segundo –, o que, certamente, garantirá uns votinhos a mais ao seu idealizador/autor ou quem sabe, se não tiver sucesso nas urnas, uma carreira de “influencer”, profissão que está na moda, muito embora poucos saibam o que significa.
Ficou muito bom e os idealizadores merecem os créditos e parabéns.
Sem querer estragar a piada de ninguém – até porque sou daqueles que perco o amigo, mas não a piada –, sinto-me no dever de fazer um reparo crucial na “piada” do candidato.
O “fio condutor” da narrativa da sátira, o “sonho do carroceiro”, em torno do qual a piada gira não se trata de uma proposta mirabolante, não se trata de uma ideia original e tão pouco de alguma coisa inexequível.
Acredito que o candidato satirizado e objeto da “chacota geral” dessa ilha dos amores, talvez no afã de querer “causar”, o que é, exceção à regra, próprio dos políticos, não soube comunicar, como deveria a sua proposta.
E, na política, como todo o resto, “quem não se comunica se trumbica”, na lição de Abelardo Barbosa, o Chacrinha que tanto nos alegrou nas jovens tardes de sábado.
Imagino que aquilo que foi interpretado como o “fornecimento de um carro elétrico” aos carroceiros da capital como sendo um BYD, um Volvo, um Mercedes, etcetera e tal, o candidato quis referir-se ao “Projeto Cavalo de Lata”.
Em 2017, o governo estadual divulgou amplamente que estudava substituir as carroças de tração animal ainda muito utilizadas em toda ilha por veículos elétricos, dentro do programa “Mais Renda”.
Já naquela oportunidade, como defensor dos animais, achei a ideia muito boa e perfeitamente realizável. Não se tratava (como não se trata) de algo novo, outras capitais já utilizam esses veículos elétricos, como o da foto ou similares para aliviar o sofrimento e as jornadas exaustivas dos animais, além dos maus tratos que são comuns.
Se não me falha a memória um dos modelos de “veículo elétrico” para substituir as carroças foi desenvolvido por um engenheiro gaúcho.
Na época que o governo estadual “vendeu” a ideia que depois não retirou do papel a Secretaria de Desenvolvimento Social - SEDES chegou a informar a existência de pouco mais 600 carroceiros.
O custo de substituir o carroça por tração animal por carroças movidas a eletricidade não era tão alto e era perfeitamente compatível com a realidade econômica da capital ou do governo estadual, o que faltou para implementar, imagino, foi a vontade política, a parceria entre estado e prefeituras da ilha, o empenho de “verdadeiros” defensores dos animais na Câmara Federal, na Assembleia e na Câmara Municipal para destinar verbas com essa finalidade.
O próprio candidato “vítima” da sátira, que informa destinar verbas para tantas coisas, poderia ao longo do tempo que está deputado, ter destinado verbas para a prefeitura ou mesmo para alguma secretaria estadual ou mesmo para alguma associação de proteção aos animais com essa finalidade.
Com o projeto em curso, ao invés de “sacado” como uma carta da manga, hoje não estaria passando pelo perrengue de ter uma boa proposta para a causa animal como sendo uma proposta “mirabolante” e adiando, mais uma vez, a execução de um projeto que será tão bom para os animais e seus tutores.
Ainda há tempo de fazer o certo. O cidadão, sobretudo os políticos que detém as chaves dos cofres públicos, precisam compreender que “o jumento é nosso irmão”.
Abdon C. Marinho é advogado.