AbdonMarinho - Crônicas da estrada com Max Harley.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 03 de Dezem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Crôni­cas da estrada com Max Harley.


CRÔNI­CAS DA ESTRADA COM MAX HARLEY.

Por Abdon C. Marinho*.

CHEG­AMOS em Luis Domingues por volta de 1:30 horas da quarta-​feira, dia 15 de março. Emb­ora ache agradável via­jar à noite pois as estradas estão geral­mente vazias e a pas­sagem por nos­sas cidades remeta-​me às lem­branças da infân­cia e ado­lescên­cia, há muito tempo deixei de fazer isso. As condições das estradas e a vio­lên­cia, cada vez mais pre­sente por onde quer que passé, acabou por me fazer preferir as via­gens diur­nas, só via­jando à noite, e, assim mesmo, cer­cado de caute­las, quando abso­lu­ta­mente necessário.

Surgiu a neces­si­dade. Uma sem­ana antes, aprox­i­mada­mente, Max me per­gunta se não que­ria ir a Luis Domingues, pois em razão de um com­pro­misso dele em outro municí­pio aproveitaríamos para fazer uma viagem só.

Achei bom. Como há algum tempo a prefeitura munic­i­pal encontra-​se em refor­mas já fazia um bom tempo que não ia lá, sendo que ami­gos e servi­dores do municí­pio já estavam lig­ando e per­gun­tando que dia iria.

Max tam­bém tinha que ir em razão do “fechamento” das prestações de con­tas para encam­in­har para o TCE.

Dois dias depois ele me liga: — doutor, o com­pro­misso que tinha agen­dado para o outro municí­pio, em razão do con­gresso de prefeitos pro­movido pela FAMEM, foi deslo­cado de quarta-​feira, 15, para a sexta-​feira, 17.

Tive­mos que reor­ga­ni­zar a viagem.

As pas­sagens já com­pradas para o domingo, à tarde, com retorno na quarta-​feira, final do dia, tiveram que ser remar­cadas para terça-​feira à noite (após o encon­tro dos prefeitos) com retorno para a sexta-​feira, no fim da tarde.

Por sorte, sem­pre tenho uma ou duas pas­sagens “sobrando” na pasta, o que facilita a troca.

Exces­si­va­mente pre­venido, o que, às vezes irrita os que via­jam comigo, pois gostam de chegar “em cima” da hora, sai do escritório pouco depois das 15 horas.

Apan­hamos o Max que já estava de pron­tidão nos aguardando e seguimos para o ter­mi­nal.

Con­seguimos “pegar” um ferry-​boat extra que sairia as 16:30 horas.

Cheg­amos a Pin­heiro pouco depois das 19 horas, jan­ta­mos, e por volta das 20 horas, seguimos viagem noite a den­tro.

Enquanto ouvíamos a trilha sonora preparada pelo outro com­pan­heiro de viagem, Ali­son Fer­nando, espe­cial­mente para a viagem íamos con­ver­sando sobre os “cau­sos” já viven­ci­a­dos, eu nes­tas quase três décadas, Max, já pas­sando das duas. Max diz que quando par­tic­ipa ou sabe de algum causo engraçado tenta ao máx­imo guardar, com todos os seus detal­hes, para contar-​me ou con­tar ao seu pai, Dr. Zé Maria, outra pes­soa boa de cau­sos.

Noite de terça, as cidades por onde íamos pas­sando ou se prepar­avam para adorme­cer ou já estavam adorme­ci­das, aqui ou ali, em alguma porta algu­mas pes­soas ainda con­ver­sando, acolá, a vigília de um velório.

Papo vai, papo vem, Max remem­ora um dos cau­sos do seu tio Luis – e que ficou de fora da crônica escrita na vez ante­rior.

O Dr. Luiz­inho, seu tio, tinha prob­le­mas com bebida, um caso típico de dupla per­son­al­i­dade, em que quando sóbrio se é uma pes­soa, abso­lu­ta­mente cen­trada e tra­bal­hadora, mas que quando bebe perde total­mente o bom senso.

Ele tinha con­sciên­cia disso, tanto que quando sóbrio entre­gava todo din­heiro que tinha para a mãe de Max e sua cun­hada (D. Marineia, de saudosa memória), com a recomen­dação de que não lhe devolvesse de forma alguma quando estivesse bêbado.

Tudo com­bi­nado, din­heiro entregue e guardado, na hora que bebia lá ia ele para casa de Max fazer escân­dalo e chamar a mãe dele de ladra: — devolve meu din­heiro, sua ladra! E por aí vai.

A nar­ra­tiva acima é ape­nas para que con­heçam a figura.

O episó­dio a mere­cer fig­u­rar na nossa coleção de crôni­cas de estrada é outro, que se encerra com um mis­tério.

Deu-​se na cidade de Miranda do Norte, fins dos setenta ou iní­cio dos oitenta, noite de chuva intensa, em um cabaré “daque­les” bem pop­u­lares, madru­gada avançada, já quase “comendo” o dia, um som mais alto se sobrepõe sobre os bur­bur­in­hos das mesas e do som ambi­ente, é a dona do cabaré dizendo: — doutor Luiz­inho tenha um pouco mais de respeito no meu esta­b­elec­i­mento.

O Dr. Luiz­inho se foi e per­siste o mis­tério até hoje na família Fre­itas: que tipo de “gosto” o doutor Luiz­inho tomara em um cabaré de quinta em uma madru­gada de chuva tor­ren­cial a ponto de causar indig­nação na dona do esta­b­elec­i­mento? Mis­tério.

Cau­sos anti­gos vão se mis­tu­rando aos novos.

São fatos e pes­soas que vão pas­sando por nos­sas vidas com suas graças que nos fazem rir depois ao lem­brar.

Após a relem­brança do tio Luiz­inho foi a vez falar­mos sobre um treina­mento que dera para uma equipe de um municí­pio em outro municí­pio acen­tuando uma das suas com­pan­heiras de tra­balho achara o nariz de uma das par­tic­i­pantes muito bem feito, além dos out­ros atrib­u­tos de beleza inques­tionáveis.

Foi a deixa para interrompê-​lo para afir­mar: — poxa, Max, ela não me deve ter em boa conta.

Quando perce­beram que estava falando do meu avan­ta­jado e desar­ru­mado nariz, caíram todos na gar­gal­hada.

Na manhã seguinte ele mandou-​lhe uma fotografia minha com o nariz em destaque e contou-​lhe o episó­dio “estradeiro”.

Aliás, sobre essa mesma com­pan­heira de tra­balho, há um outro episó­dio para coleção de cau­sos.

Con­sta que o cidadão que faz entre­gas de doc­u­men­tos entre os órgãos e pequenos man­da­dos, apare­ceu pela repar­tição por volta das 14 horas, tendo um dos servi­dores ques­tion­ado: — seu Coman­dante, apare­cendo por aqui depois de uma soneca.

Ao que ele, sem se aten­tar, emen­dou: — na ver­dade foi uma “f…deca”, mesmo.

Dona Gil que estava um pouco afas­tada deu-​lhe uma chamada: — seu Coman­dante, que história atrav­es­sada é essa?

O seu Coman­dante, todo con­strangido bal­bu­ciou uma des­culpa: — des­culpe, dona Gil, não tinha lhe visto.

Entre cau­sos, lem­branças e boa música íamos ven­cendo as estradas e suas crat­eras de causar inveja a lua.

No dia seguinte, após o tradi­cional almoço na casa do prefeito foi a minha vez de pro­tag­oni­zar um “causo” que será motivo de risos pelas repar­tições públi­cas Maran­hão a fora.

Depois do almoço, invari­avel­mente deli­cioso, à base de gal­inha caipira com pirão de descaída e um assado de pan­ela de dá água na boca, arrematado por um crème que atenta con­tra qual­quer dieta, o prefeito pediu que aten­desse umas sen­ho­ras que ali estavam para ouvir minha opinião sobre deter­mi­nada causa.

Achei mel­hor atendê-​las na própria mesa onde fora servido o almoço.

Max ficou em um canto con­ver­sando com as secretárias de saúde e a de finanças e eu, mas para o meio, ouvindo a história das sen­ho­ras – mas sem ficar total­mente desli­gado do outro assunto. Ouvi clara­mente quando ele, que recusara o crème de sobremesa per­gun­tara se as mex­eri­cas na fruteira eram boas, ao que a empre­gada domés­tica disse não saber; não vi, tam­bém, que Max se serviu de uma.

No final do atendi­mento, aproximei-​me de Max e das secretárias, peguei uma mex­erica, descasquei-​a e ao masti­gar o primeiro gomo, man­dei: — ah, Max, ela não quis foi te dar.

Todos à mesa me olharam sem enten­der pois estavam tratando de outra coisa, e eu ainda ten­tei com­ple­tar: — … a mexerica …”.

— Doutor que con­versa atrav­es­sada foi essa. Atal­hou Max, enquanto todos caiam na gar­gal­hada da minha intro­mis­são “fora de hora”.

Na quinta-​feira, ao tér­mino do segundo dia de expe­di­ente e tendo deix­ado toda a mis­são resolvida ou bem encam­in­hada, peg­amos a estrada de volta, ainda com sol, para poder­mos con­statar suas pés­si­mas condições.

Em Gov­er­nador Nunes Freire, fize­mos aquela “parada obri­gatória” na Padaria Alana para tomar um suco e um cafez­inho com um pastelz­inho.

Sobre essa “parada obri­gatória”, numa vez ante­rior estava tam­bém por lá com Max, quando alguém me liga per­gun­tando por onde estava, sem “papas” na lín­gua, respondi, bem ao meu estilo: — estou em Gov­er­nador Nunes Freire, tomando um deli­cioso suco de caju com um pas­tel de vento.

Max, corado, foi logo dizendo: — doutor, o que é isso, todos estão ouvido o sen­hor dizer que que está sabore­ando “um pas­tel de vento”.

Nessa noite, por conta da audiên­cia pública que Max par­tic­i­paria em Turilân­dia, dormi­mos em Santa Helena, no hotel do mesmo nome, de pro­priedade do já amigo Glad­is­ton.

Na sexta-​feira, após a audiên­cia de Max e de uma ráp­ida parada no Jam­beiros, onde paramos para ele cumpri­men­tar as autori­dades pre­sentes na audiên­cia, par­ti­mos para Cujupe, chegando “em cima” da hora para pegar ferry-​boat para o qual tín­hamos com­prado pas­sagem.

Cheguei em casa, em São José de Riba­mar, às 20:30 horas, depois bus­car todos os atal­hos para vencer um engar­rafa­mento “sem fim” no bairro do Anil.

Fim da crônica.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.