AbdonMarinho - ANJOS E DEMÔNIOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ANJOS E DEMÔNIOS.

ANJOS E DEMÔNIOS.

Todo pro­gresso do Maran­hão é dev­ido a Sarney.

Toda des­graça do Maran­hão é dev­ida a Sarney.

Assim ini­cio esse texto sobre o fechamento do ciclo político coman­dado pelo senador “maranho-​amapaense” José Sar­ney (neol­o­gismo cri­ado pelo saudoso jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues).

Agora e pelos próx­i­mos anos esse será o dis­curso dos ali­a­dos e adver­sários do grupo Sar­ney. Emb­ora um e outro não recon­heçam, ambos os argu­men­tos, com os seus “senões\», estarão cer­tos, con­forme a ótica de quem vê e inter­preta os fatos no Maran­hão, cada um puxando a brasa para a sua sardinha.

Arti­gos do próprio ex-​presidente, dos seus inúmeros ali­a­dos e todo seu aparato midiático (incluindo jor­nais, TV’s, rádios, canais de inter­net, blogues), já faz tempo, ten­tam vender o legado do sar­neysmo como de méri­tos e bonanças, creditando-​lhe grandes obras de infra-​estrutura como o Porto do Itaqui, rodovias, fer­rovias; desen­volvi­mento econômico, empre­sas insta­l­adas; situ­ação finan­ceira, etc.

Os adver­sários valem-​se dos números africanos dos indi­cadores soci­ais para mostrar o atraso a que foi sub­metido o estado em quase 50 anos de dom­i­nação de um mesmo grupo.

O Maran­hão é campeão entre os que recebem bolsa-​família, com quase 50% (cinquenta por cento) de sua pop­u­lação como ben­e­fi­cia­ria, ocupa as últi­mas posições em desen­volvi­mento humano, últi­mas posições entre os esta­dos onde ocorre mais óbitos infan­tis, a edu­cação na rabeira em toda pesquisa do ENEM, do PISA, da Prova Brasil e de qual­quer outra avali­ação que se faça; a vio­lên­cia, rep­re­sen­tada pela matança indis­crim­i­nada, pelo trá­fico de dro­gas, assaltos, tornou o estado um dos lugares mais perigosos do mundo para se viver; menor per capita de poli­cial, de médico a desigual­dade social mostra o estado vivendo seu apogeu da Idade Média.

Ambos os lados, na inca­paci­dade de enx­er­garem o quadro como um todo, olharão e difundirão a ver­são que for mais conveniente.

Faz parte da política maran­hense a visão maniqueísta das coisas. O bor­dão mais comum por aqui é: \«do meu lado até o que não presta é bom, do outro lado até o que é bom não presta\».

Assim, com ver­dades con­ve­nientes, meias ver­dades e men­ti­ras inteiras, os gru­pos políti­cos con­tin­uarão a sua busca incan­sável, para man­ter, con­quis­tar ou retornar ao poder. Ver­e­mos e torçamos para que façam isso em sin­to­nia com os anseios e as neces­si­dades dos cidadãos.

Emb­ora ache pre­maturo dizer-​se que o grupo que deixa o poder não tem chance de retorno, enfrenta suas difi­cul­dades, das quais, a prin­ci­pal é a falta de um líder sagaz e com con­hec­i­mento político do estado. Prova maior disso é o can­didato que escol­heram para dis­putar a última eleição que a muitos pare­ceu uma piada de mau gosto e que cau­sou mais afas­ta­mento do que união.

Outro ponto em des­fa­vor é o mod­elo de “desen­volvi­mento\» que dizem ter implan­tado no estado. Não esqueço uma declar­ação do senador, acom­pan­hando a filha gov­er­nadora, numa inau­gu­ração de uma empresa pri­vada, em que sau­dava a indus­tri­al­iza­ção que chegava ao Maran­hão. Atribui a um ato falho.

Como é pos­sível saudar a indus­tri­al­iza­ção do Maran­hão depois de tanto tempo no poder? O Brasil se indus­tri­al­i­zou para valer já nos anos cinquenta. Como que só agora, em pleno 2014, esta­mos saudando este advento no Maran­hão? Só posso atribuir a u lapso de memória.

Se estes são pon­tos neg­a­tivos, por outro lado, os favore­cem a comparação.

Em um texto ante­rior (bem antes das eleições), dis­cor­ria sobre as difi­cul­dades de um futuro gov­erno de sucessão ao grupo Sar­ney. Expli­cava o motivo. Em política, uma das for­mas de com­bate é a com­para­ção entre o legado de real­iza­ções dos gru­pos. No caso do Maran­hão não se terá, por um bom tempo, como fazer a com­para­ção: após tanto tanto tempo de poder, não há qual­quer parâmetro para com­parar o que fez o grupo que deixa o poder com qual­quer outro grupo que já esteve.

O Sar­neysmo manda e des­manda no Maran­hão há meio século. Em ter­mos de longev­i­dade, só é pos­sível com­parar com o Segundo Reinado. Nestes anos a real­i­dade econômica do Brasil sofreu enormes mod­i­fi­cações. O país deixou de ser emi­nen­te­mente rural para urbano. Tive­mos um surto desen­volvi­men­tista do período mil­i­tar estim­u­lando a col­o­niza­ção da região amazônica, os grandes pro­je­tos de inte­gração, no qual o Maran­hão foi “ben­e­fi­ci­ado”. Em ter­mos de poder, nem se fala, o líder do grupo, está no cenário político nacional desde 1955, são sessenta anos acu­mu­lando poder, chegando a ocu­par a Presidên­cia da República por cinco anos. O primeiro gov­erno eleito no Maran­hão desde os anos sessenta como oposição, foi o de Jack­son Lago, que durou ape­nas dois anos , nos quais esteve siti­ado nos Leões, não servindo de bal­iza para qual­quer comparação.

Os desac­er­tos do curto mandato, emb­ora ten­ham con­tato com a par­tic­i­pação efe­tiva de aux­il­iares sem com­pro­misso, inca­pazes e cor­rup­tos, devem-​se tam­bém à imensa sab­o­tagem que sofreu tanto de den­tro do apar­elho do próprio gov­erno – com suas engrena­gens mon­tadas e azeitadas pelos adver­sários –, à mídia inclemente, dom­i­nada pelos opos­i­tores, quanto ao domínio da política pelo senador Sar­ney no cenário nacional. Cabendo reg­is­trar, neste último, a deci­siva par­tic­i­pação dos líderes maiores do gov­erno federal.

O próx­imo gov­erno terá, pela primeira vez, em meio século, mel­hores condições para fazer uma efe­tiva mudança política no estado. Condições que, os que viraram oposição no gov­erno, tiveram e que o único gov­erno eleito na oposição, não teve. Em que pese ainda deter parcela de poder con­sid­erável na máquina fed­eral, através do seu par­tido e influên­cia junto aos tri­bunais, não resta dúvida que essa ingerên­cia será bem menor a par­tir de agora do que foi até aqui.

O futuro gov­erno terá a seu favor o fato de ter sido eleito com uma acacha­pante vitória, por­tanto, sem temer qual­quer ques­tion­a­mento de mandato na justiça eleitoral, ter eleito senador e diver­sos dep­uta­dos fed­erais, con­tar com uma boa e talvez majoritária ban­cada na Assem­bleia Leg­isla­tiva, pos­suir bom trân­sito no gov­erno fed­eral e não con­tar com a oposição do grupo que perdeu o mando como menos influên­cia nas hostes do poder federal.

O ineditismo pos­si­bilita que faça as mudanças que o povo que o elegeu tanto anseia.

Essa é a nossa tor­cida. Que o ano novo, que o gov­erno novo, faça o Maran­hão avançar e con­quis­tar seu lugar no cenário nacional. Poten­cial para isso pos­sui de sobra.

Um bom ano, um bom recomeço com paz e esper­ança para todos.

Abdon Mar­inho é advogado.