OS ESQUECIDOS DO PETROLÃO.
- Detalhes
- Criado: Quinta, 27 Novembro 2014 22:58
- Escrito por Abdon Marinho
OS ESQUECIDOS DO PETROLÃO.
A crônica política/policial do escândalo conhecido como “petrolão\\\» tem esquecido um grande grupo de pessoas. Falo dos pequenos e médios acionistas que foram enganados pelo governo Lula/Dilma e investiram as suas economias, FGTS, na compra de ações da Petrobras, na promessa de um investimento seguro e um retorno garantido. Um enorme contingente de trabalhadores.
Não faz muito tempo, já foi no final segunda metade da década passada que o governo fez uma ampla campanha de incentivo aos cidadãos para comprarem as ações da empresa. A mídia apresentava o Brasil com o novo \\\«El Dourado”, o presidente de então, o Sr. Lula, o novo xeque do petróleo. O Brasil sairia da condição de importador, para autossuficiente e exportador de combustíveis.
A proposta, por si, era muito sedutora para ser ignorada pelos que podiam investir, tinham outras ações ou o fundo de garantia por tempo de serviço — FGTS. Estavam fazendo um grande investimento, tornando-se acionistas de uma das maiores empresas do mundo e de quebra estavam ajudando o país, garantindo que especuladores do capital externo se apropriassem da riqueza que era do país, que era dos brasileiros. Os cidadãos comprarem ações da empresa, era um gesto cívico. Era como se estivéssemos participando da segunda campanha o “O Petróleo é Nosso”.
A estratégia de enganação também tinha um viés político. Foi usada como instrumento da campanha que elegeu a presidente Dilma naquele 2010. Diziam que enquanto os tucanos queriam privatizar a empresa, eles abriram seu capital aos brasileiros, permitindo que fossem donos e que ganhassem com o “Pré-Sal” e mais toda a baboseira que costumam dizer quando buscam votos.
Pois bem, de 2010 para cá a Petrobras já perdeu quase 60% do seu valor de mercado. Avaliada em 380 bilhões de dólares naquele ano, hoje está avaliada em 154 bilhões de dólares, com perspectiva de queda.
A má gestão levou a empresa a constrangedora situação de não poder divulgar seu balanço trimestral. As investigações policiais revelam, até aqui, desfalques monumentais. Um rombo tão grande que um sub do sub, o Sr. Barusco, auxiliar do Sr. Duque, indicado para a Diretoria de Serviços da empresa pelo ex-ministro José Dirceu, ofereceu, num acordo de delação premiada, para devolver, em troca de redução de pena, a assombrosa quantia de 100 milhões de dólares. Imaginar que o “sub do sub” tenha estocado essa quantidade de recursos para devolver (sabemos que nunca devolvem todo o \\\«mal havido\\\») permite dimensionar o roubo superlativo que vitimou a empresa e seus acionistas, grande parte deles trabalhadores brasileiros.
Os reais números do escândalo talvez nós, do povo, jamais venhamos a saber. Já os valores que foram \\\«tungados dos pequenos investidores são mais fáceis de serem apurados.
Vejamos como a bandalheira, agora revelada, empobreceu os trabalhadores. Em 2010 foi efetuada a maior capitalização da história, em qualquer parte do mundo, de uma empresa, algo em torno de R$ 120 bilhões de reais. Essa empresa, nossa Petrobras cansada de guerra. No processo de capitalização, as ações ordinárias foram negociadas a R$ 2,65 e as ações preferenciais a R$ 26,30. Pois bem, na cotação do dia 26/11/2004, as mesmas compradas naquele ano valiam, respectivamente, R$ 13,27 e R$ 14,10. Uma perda de – 55,27% e – 46,39%.
O governo que já tramava nas sombras e no lodo da corrupção a destruição da Petrobras, arrastou as finanças de mais de 400 mil trabalhadores, que foram estimulados a investirem num negócio seguro, a capitalização da empresa, até 30% das contas do FGTS.
Olhando assim, ficamos com a impressão que o prejuízo do crédulo e patriota cidadão que confiou no governo, se resume à perda de 55,27% para os que compraram as ações ordinárias e de 46,39% para os que compraram ações preferenciais. Lamentavelmente, é um pouco pior. No mesmo período, se os recursos tivessem permanecidos depositados nas contas vinculadas do FGTS, teriam rendido algo em torno de 20% (vinte por cento), por baixo, ou seja, o prejuízo de cada poupador, deve ser acrescido desta correção que deixaram de receber.
Ainda que a empresa se recupere, o que pode acontecer, esse prejuízo não será compensado como devido.
Analisados os fatos com os olhos de hoje, após essa sucessão de escândalos que envergonham a nação, não há como deixar de concluir que o golpe aos trabalhadores brasileiros foi premeditado.
Lembram que a propaganda oficial e de crítica aos opositores era de que, enquanto os opositores pretendiam “entregar” a principal empresa brasileira ao capitalismo internacional, as grandes bancas, aos megainvestidores, eles (o governo, o partido0, estavam permitindo que os trabalhadores brasileiros fossem seus donos?
A propaganda era emocionante. Os trabalhadores seriam os donos da empresa. Usaram e abusaram deste discurso no pleito de 2010.
Na verdade, a ideia era bem outra. Queriam os trabalhadores como sócios, porque estes, diluídos na multidão não teriam tanta força para se fazerem ouvir. E estavam certos.
Sobre as maiores vítimas, principalmente, por serem os mais frágeis na disputa, ninguém escuta falar. As federações, sindicatos e confederações, quase todas aparelhadas e “pelegas\\\» fazem um eloquente e sepulcral silêncio diante do crime praticado contra os trabalhadores. Por ironia, justo por aqueles que prometeram defendê-los. Não deixa de ser irônico.
Abdon Marinho é advogado.