AbdonMarinho - HOBBES, LOCKE, ROUSSEAU E … BOLSONARO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

HOBBES, LOCKE, ROUSSEAU E … BOLSONARO.

HOBBES, LOCKE, ROUSSEAU E … BOLSONARO.

Por Abdon Marinho.

O LEITOR que não tenha gazeado muitas aulas no ensino fun­da­men­tal deve ter ouvido falar dos três primeiros per­son­agens que nom­i­nam o título do pre­sente texto.

Com um pouco de sorte até devem lem­brar que se tratam de filó­so­fos “con­trat­u­al­is­tas” que voltaram seus estu­dos para explicar a relação entre os seres humanos e o Estado.

Tal relação, segundo estes filó­so­fos, rece­beu o nome de “con­trato social”, uma figura de lin­guagem para dizer que o homem e o Estado cel­e­braram tal “con­trato” para garan­tir a sobre­vivên­cia da sociedade.

Ainda segundo tais filó­so­fos o ser humano vivia no “Estado Nat­ural” e sem con­hecer qual­quer orga­ni­za­ção política.

Vivendo cada um por si, em estado nat­ural, o ser humano passa a se sen­tir amaçado, partindo daí a neces­si­dade de se pro­te­ger, bus­cando para isso algo ou alguém capaz de asse­gu­rar os seus dire­itos nat­u­rais.

Em tal con­texto de neces­si­dade o homem aceita abdicar da sua liber­dade indi­vid­ual, do dire­ito de fazer o que quiser e como quiser para submeter-​se às leis da sociedade e do Estado.

Já o Estado investido de tal poder se com­pro­m­ete em defender o homem, o bem comum e a criar as condições para que ele, respei­tando um con­junto de nor­mas, possa se desen­volver.

É a esta relação con­sti­tuída sem qual­quer norma escrita mas fir­mada nos primór­dios da sociedade que se denom­ina con­trato social.

Com pou­cas vari­ações, mas tendo como espinha dor­sal tais con­ceitos – os ingle­ses Thomas Hobbes (15881679), para quem os homens pre­cisavam de um Estado forte pois a sua ausên­cia resul­taria numa guerra con­stante; John Locke (16321702), segundo o qual o homem vivia num estado nat­ural onde não havia orga­ni­za­ção política, social, restringindo a assim a sua liber­dade impos­si­bil­i­tando o desen­volvi­mento da ciên­cia ou arte; e o francês Jean-​Jacque Rousseau (17121778), para quem o homem no estado nat­ural vivia em har­mo­nia e que o aparec­i­mento da pro­priedade pri­vada fomenta a desigual­dade social partindo daí a exigên­cia para o surg­i­mento do estado como garan­ti­dor das liber­dades e evi­tar o caos –, desen­volveram seus estu­dos e dedicaram a vida.

Estes con­ceitos são bási­cos e con­stam da grade cur­ric­u­lar do ensino fun­da­men­tal e que você encon­tra em qual­quer pesquisa que faça sobre o assunto inclu­sive com as mes­mas palavras.

Claro que muitas vezes o Estado (ou seus diri­gentes) exageram ou esque­cem os fun­da­men­tos bási­cos que o fez sur­gir: o bem comum e pro­teção dos seres humanos, e passa a oprimir os gov­er­na­dos.

Daí surgem as rev­oluções, as insur­reições e as des­ti­tu­ições dos gov­er­nantes estatais e/​ou a própria elim­i­nação física de tais gov­er­nantes.

Nas democ­ra­cias con­sol­i­dadas, onde as insti­tu­ições fun­cionam de forma ade­quada, há o respeito ao “con­trato social” fir­mado no surg­i­mento do sociedade.

Até onde lem­bro, estu­damos sobre tais con­ceitos, surg­i­mento do Estado e os filó­so­fos cita­dos acima nas aulas de Edu­cação Moral e Cívica.

Pois bem, trago tal assunto porque o quarto per­son­agem que nom­ina o texto – e um grupo de ali­a­dos seus –, difer­ente de nós, gazeou todas as aulas de Edu­cação Moral e Cívica e/​ou de Filosofia e não ape­nas acha estranho tais con­ceitos como acred­ita que o resto da humanidade que os for­mu­la­ram e procu­ram viver sob seus aus­pí­cios estão erra­dos.

Outro dia, como faz sem­pre que pode, sua excelên­cia deu mais uma prova que gazeou as aulas.

Pas­sando o feri­ado da padroeira do Brasil no litoral paulista ele reclamou que não pôde assi­s­tir ao jogo do San­tos no está­dio por não ter o pas­s­aporte da vacina, doc­u­mento exigido em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro para acesso a even­tos de grande porte. «Por que cartão, pas­s­aporte da vacina? Eu que­ria ver o jogo do San­tos. Agora me falaram que tem que estar vaci­nando. Por que isso? Eu tenho mais anti­cor­pos de que quem tomou a vacina», ques­tio­nou.

Essa “insur­reição” pres­i­den­cial – com­par­til­hada, inclu­sive, com as mes­mas palavras por seus seguidores –, é aprova que descon­hece os con­ceitos bási­cos do que seja o Estado.

Ele ignora que deste o estado orig­inário – e por conta disso o seu surg­i­mento –, nos­sos antepas­sa­dos acor­daram em abrir mão de parte de suas liber­dades indi­vid­u­ais, por exem­plo o dire­ito de não se vaci­nar, em nome do inter­esse cole­tivo.

Out­rora, registre-​se, não havia a opção de recusa, a vaci­nação era com­pul­sória.

Agora, o cidadão tem o “dire­ito” de recusar a vacina, em con­tra­partida o Estado adota medi­das restri­ti­vas à sua livre cir­cu­lação pelos ambi­entes onde sua pre­sença poderá causar algum dano à saúde dos demais – ou ape­nas para mostrar que deve cumprir uma norma ou ori­en­tação em nome do bem comum.

Essas medi­das nada têm com cercea­mento da liber­dade indi­vid­ual, mas sim, com a pro­teção do inter­esse cole­tivo.

E, como dito ante­ri­or­mente, con­sti­tui fun­da­mento essen­cial do “con­trato social” cel­e­brado entre os cidadãos e o Estado.

Pen­sar difer­ente, defender o império da liber­dade indi­vid­ual sobre o inter­esse cole­tivo, seria negar o sen­tido da existên­cia do Estado e defender o retorno ao “estado nat­ural” exis­tentes nos primór­dios da humanidade.

Ora, se não é líc­ito que o cidadão comum esclare­cido pregue a negação do Estado e o retorno do “estado nat­ural” em nome da “liber­dade indi­vid­ual”, menos líc­ito, ainda, que seja o próprio gov­er­nante a fazê-​lo.

Explico o motivo. Ao ser investido no cargo de gov­er­nante, pela con­fi­ança dos seus con­ci­dadãos, o indi­ví­duo deixa de ser um cidadão comum e passa a ser o respon­sável pelo bem comum, pela defesa do inter­esse cole­tivo. Em out­ras palavras passa a ser o “fiador” do “con­trato social” cel­e­brado entre o povo e o Estado.

Muito emb­ora aproveite todos os bônus do cargo, sua excelên­cia ignora os seus ônus, entre os quais o de ser fiador do con­trato social que coloca o inter­esse cole­tivo acima do inter­esse e da liber­dade indi­vid­ual, até mesmo da sua própria liber­dade.

Assim, o com­por­ta­mento do pres­i­dente em relação as vaci­nas – já que esta­mos falando disso –, dev­e­ria ter sido o oposto do que foi até aqui.

Ao invés de, sem qual­quer base, falar mal das vaci­nas – que a real­i­dade prova, é o que vem sal­vando vidas –, dev­e­ria ter sido o primeiro a ofer­e­cer o braço para ser vaci­nado, servindo de exem­plo para o povo que “admin­is­tra”, quando muito que aguardasse a sua vez.

Fez o con­trário disso, como assis­ti­mos e por último disse que não vai mesmo se vaci­nar.

Quer dizer que o Estado que dirige não é “fiador” do imu­nizante que com­prou e man­dou aplicar nos cidadãos? Quer dizer que a sua liber­dade indi­vid­ual é supe­rior ao inter­esse cole­tivo?

Uma outra prova que o pres­i­dente descon­hece o sen­tido da existên­cia do Estado é a defesa obses­siva que faz do direto do cidadão armar-​se para defender a sua liber­dade indi­vid­ual.

Ora, como vimos no iní­cio do texto o Estado surgiu jus­ta­mente para isso: pro­te­ger o cidadão e garan­tir a sua liber­dade.

Ao pre­gar em sen­tido diverso, o cidadão que é o fiador do Estado no cumpri­mento de sua mis­são, diz com out­ras palavras que Estado que dirige é inca­paz de cumprir a mis­são para o qual foi cri­ado daí a neces­si­dade do cidadão se armar e exercer a “lei do mais forte”, mais armado, numa espé­cie de retorno tar­dio ao “estado nat­ural” em era cada um por si.

No mesmo pas­seio sua excelên­cia pediu para não ser “abor­recido” com per­gun­tas sobre o número de víti­mas da COVID-​19 no dia em que atingi­mos a triste marca de 600 mil mor­tos.

Ora, a quem nos resta per­gun­tar sobre o número de mor­tos que não ao pres­i­dente?

Muito emb­ora não queira, “abor­rec­i­men­tos” como o número de mor­tos, a inflação, o preço dos ali­men­tos, dos com­bustíveis, a fome dos cidadãos e tan­tos out­ros, vieram “embu­ti­dos” no cargo, se não quer ser “abor­recido” que des­ocupe o posto.

Como os leitores podem perce­ber, ao “gazear” as aulas de Edu­cação Moral e Cívica e/​ou Filosofia, sua excelên­cia faz um mal tremendo ao Brasil.

O pior é que a ignorân­cia parece ser um mal con­ta­gioso.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #2 Mel Soares 16-​10-​2021 23:27
Ele age por impulso pueril, arbi­trário, incon­se­quente. Ele é um con­trassenso, eis que ao mesmo tempo que quer uma didatura, ele incen­tiva o povo a não seguir imposições, a se armar, a não tolerar…enfim
…eu só quero que isso ter­mine logo
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+1 #1 Amélia Soares 16-​10-​2021 23:25
Ele age por impulso pueril, arbi­trário, incon­se­quente. Ele é um con­trassenso, eis que ao mesmo tempo que quer uma ditadura, ele incen­tiva o povo a não seguir imposições, a se armar, a não tolerar…enfim
…eu só quero que isso ter­mine logo
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