AbdonMarinho - A CEGUEIRA DE CADA UM E A POLÊMICA DE SEIS CENTAVOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A CEGUEIRA DE CADA UM E A POLÊMICA DE SEIS CENTAVOS.


A CEGUEIRA DE CADA UM E A POLÊMICA DE SEIS CEN­TAVOS.

Por Abdon Marinho.

O AMOR É CEGO, pon­tua um dito pop­u­lar ao longo dos sécu­los. O dito, de tão pop­u­lar, virou filme, virou livro …

O Brasil de hoje é a prova viva de que o dito que escuto desde cri­ança – e o qual nunca ques­tionei –, é a mais clara expressão da real­i­dade.

O ambi­ente de cegueira cole­tiva impede as pes­soas de enx­er­garem o que lhes salta aos olhos ou que lhes provam a lóg­ica, para acred­itarem e pre­garem o que lhes manda o coração – tradução para con­venci­mento pes­soal ou paixão pela causa.

O con­trário da paixão – bem pode­ria ser a indifer­ença –, é o ódio, que, como o amor, tam­bém é cego. Poder-​se-​ia dizer que o ódio é uma especie de amor com o sinal tro­cado.

O Brasil tem se tor­nado, repito, o lab­o­ratório das paixões mais irra­cionais.

Aos apaixon­a­dos pelo pres­i­dente da República mesmo os seus defeitos mais ater­radores soam como qual­i­dades – não tar­darão a defender a tor­tura, posto que já defen­dem a volta da ditadura, o AI-​5, fechamento do STF e do Con­gresso Nacional e, alguns mais rad­i­cais, até a elim­i­nação física de min­istros –, já para os cegos pelo ódio, mesmo alguma qual­i­dade – rara –, por ven­tura exis­tente na pes­soa ou no gov­erno, soa como defeito.

Aos apaixon­a­dos pelos opos­i­tores do pres­i­dente tam­bém acon­tece o mesmo: não con­seguem enx­er­gar além das suas qual­i­dades e pref­erem “pas­sar por cima” dos defeitos ou ignorá-​los.

A sem­ana que finda deparamo-​nos com o que acabo de falar.

Todos nós, direta ou indi­re­ta­mente, esta­mos sofrendo com o aumento dos preços dos com­bustíveis.

Não seria difer­ente, os preços dos com­bustíveis influên­cia em tudo. Do que colo­camos na mesa à ida ao cin­ema ou ao shop­ping, sem con­tar que gasolina a sete reais ninguém merece.

A questão dos preços dos com­bustíveis não é de difí­cil com­preen­são. Isso se você não fosse tratar com os apaixon­a­dos, senão vejamos.

Os apaixon­a­dos pelo pres­i­dente colo­cam toda a culpa pelos preços dos com­bustíveis nas alturas nos gov­er­nadores e dos impos­tos estad­u­ais.

Já para os apaixon­a­dos pelos opos­i­tores do pres­i­dente ou pelos que lhe nutrem ódio, a culpa é somente daquele.

Por estes dias o gov­er­nador do Maran­hão, sen­hor Flávio Dino, pub­li­cou nas suas redes soci­ais – e fez reper­cu­tir por todos os seus apaixon­a­dos –, o seguinte tex­tos: “Crim­i­nosos estão espal­hando que eu autor­izei o aumento de alíquota de imposto sobre gasolina no Maran­hão. Isso é MEN­TIRA. Coisa de ban­di­dos. Prob­lema de preços de com­bustíveis é nacional.

Crim­i­nosos que estão mentindo sobre aumento de com­bustíveis no Maran­hão dev­e­riam saber que não existe “tabela­mento de preços” de com­bustíveis. O gov­erno do Estado não tem poder de fixar preços de com­bustíveis. O imposto pre­visto na Con­sti­tu­ição incide sobre o preço de mercado”.

O gov­er­nador subiu nas “taman­cas” após a divul­gação de que o SEFAZ (gov­erno estad­ual) solic­i­tou, e o CON­FAZ autor­i­zou uma alter­ação no preço médio pon­der­ado ao con­sum­i­dor final no Estado Maran­hão, com ampla reper­cussão neg­a­tiva nas redes soci­ais e explo­rado à exaustão por seus adver­sários tradi­cionais e pelos “novos” adversários.

Diante disso o gov­er­nador veio com essa man­i­fes­tação que não explica, obje­ti­va­mente, o que se deu e qual a sua par­tic­i­pação na ele­vação dos preços.

Não se pre­ocu­pem que vou explicar o que o gov­er­nador ocul­tou com sua “man­i­fes­tação para enga­nar trouxas”.

Antes, porém, vou tratar da ele­vação dos preços dos com­bustíveis de uma forma geral, aquilo que os devo­tos e apaixon­a­dos pelo pres­i­dente fazem questão de igno­rar e/​ou ocul­tar.

Como sabe­mos, o petróleo é uma com­mod­ity que tem seu preço deter­mi­nado pelo mer­cado inter­na­cional e cotado em dólar.

Isso quer dizer que se o preço do bar­ril de petróleo aumenta lá fora aqui sofr­ere­mos as con­se­quên­cias.

A outra vari­ante a influir no preço dos com­bustíveis aqui é a vari­ação do dólar. Ou seja, se a nossa moeda se desval­oriza em relação ao dólar as con­se­quên­cias são as ele­vações de preços aqui den­tro.

Pois bem, em janeiro de 2019, quando o atual pres­i­dente assumiu o comando do país a cotação do dólar era 1 dólar = 3,735 reais, hoje a cotação é 1 dólar = 5,309 reais.

Como podemos perce­ber a moeda brasileira perdeu cerca de 30% (trinta por cento) de seu valor. Não foi o dólar que se val­ori­zou foi o real que perdeu valor, esta­mos, prati­ca­mente com uma moeda podre.

Essa sem­ana a Apple divul­gou seus lança­men­tos. Os preços dos seus pro­du­tos variam de US$ 399 dólares a US$ 999 dólares, um ou outro chega US$ 1,079 dólares. É prati­ca­mente o mesmo preço de 20 anos atrás quando lançaram o primeiro iPhone.

Só que se antes, se o cidadão podia com­prar um bom apar­elho pagando 5 ou 6 mil reais, já com a carga trib­utária escor­chante, hoje esse mesmo apar­elho não sai por menos de 15 mil reais.

Nen­hum país do mundo – me refiro as democ­ra­cias em ascen­são –, reg­istrou tamanha perda no valor de sua moeda.

Mesmo durante a pan­demia o que vi de desval­oriza­ção não chegou a 4% (qua­tro por cento) – o que já é muito.

Ora, se olhar­mos para real­i­dade do Brasil e para de out­ros países nas mes­mas condições que o nosso não existe jus­ti­fica­tiva para tamanha desval­oriza­ção da nossa moeda – mesmo com a pan­demia o país reg­istrou recorde na pro­dução agrí­cola, apre­senta sinais de recu­per­ação con­sis­tentes e com vaci­nação já esta­mos quase saindo da pan­demia –, que não uma política econômica equiv­o­cada.

Outro fator a jus­ti­ficar tamanha desval­oriza­ção é a insta­bil­i­dade política, as declar­ações estapafúr­dias do pres­i­dente e dos inte­grantes do gov­erno.

Em out­ras palavras, o aumento do preço dos com­bustíveis, num primeiro momento, deve­mos deb­itar ao gov­erno fed­eral e em par­tic­u­lar ao sen­hor pres­i­dente, que tem con­tribuído, sobre­maneira, para a desval­oriza­ção da nossa moeda.

Como o gov­erno fed­eral tem sido inca­paz de pro­te­ger o real e por con­se­quên­cia as econo­mias dos cidadãos, pas­sou a ter­ce­i­rizar as respon­s­abil­i­dades pelo aumento dos com­bustíveis com os esta­dos, apon­tando a ele­vada carga de ICMS como a causa do aumento dos mes­mos.

É ver­dade que o ICMS dos esta­dos é ele­vado – gira em torno de 30% –, mas quando o litro da gasolina cus­tava menos de R$ 1,00 (um real), não reclamá­va­mos dos cen­tavos que pagá­va­mos a título de ICMS. aliás, nem nos pre­ocupá­va­mos em fazer tais con­tas.

Como diz um amigo meu, dez por cento de nada é nada, já dez por cento de um mil­hão é algo sig­ni­fica­tivo.

O mesmo vale para os trinta por cento dos com­bustíveis. Emb­ora fosse pouco quando o preço era baixo, a medida que o preço se elevou começou a fazer difer­ença.

E assim cheg­amos à razão da “zanga” do sua excelên­cia, o gov­er­nador do Maran­hão com as “acusações” de que ele­vara os preços dos com­bustíveis no estado.

A menos que me provem o con­trário, é fato que o gov­erno estad­ual através da SEFAZ solic­i­tou a alter­ação do preço médio pon­der­ado ao con­sum­i­dor final, de R$ 5,7160/litro para R$ 5,9200/litro. Não vejo motivo para dis­cu­tir porque as por­tarias estão pub­li­cadas no diário ofi­cial.

O que essa alter­ação sig­nifica para o con­sum­i­dor? Sig­nifica que o valor do ICMS no caso da gasolina (mas a alter­ação se aplica a out­ros com­bustíveis) passa de R$ 1,74338 para R$ 1,8056 ou seja, para cada litro de gasolina nós, cidadãos, ire­mos pagar SEIS CEN­TAVOS a mais. Se de todo litro de gasolina que colocá­va­mos no carro R$ 1,7433 já ia para o cofre do gov­erno estad­ual, agora, deste mesmo litro irá para o cofre do estado R$ 1,8056, essa é a conta.

Sim, é ver­dade que não houve aumento da alíquota como os bol­sonar­is­tas mais afoitos espal­haram ou insin­uaram – pois a ninguém parece inter­es­sar a ver­dade é sim a ver­são –, mas, sim um aumento na base de cál­culo.

Isso sig­nifica dizer que mesmo que o dono do posto queira vender um litro de gasolina abaixo de R$ 5,9200/litro, ele pode fazer, mas arcando com o pre­juízo pois o ICMS será cobrado sobre aquele valor.

É isso apaixon­a­dos do Brasil e do Maran­hão, quando pararem no posto para abaste­cerem seus veícu­los não esqueçam de dizer: — muito obri­gado, sen­hor pres­i­dente! — muito obri­gado, sen­hor governador!

Abdon Mar­inho é advogado