AbdonMarinho - Observatório das eleições: DINO E AS POMBAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Obser­vatório das eleições: DINO E AS POMBAS.


Obser­vatório das eleições:

DINO E AS POM­BAS.

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO indaga:

— Abdon, como estás vendo essas defeções no grupo do gov­er­nador Flávio Dino?

A per­gunta foi feita na sexta-​feira ou sábado após o dep­utado fed­eral Josi­mar de Maran­hãoz­inho, cer­cado por um grupo de prefeitos anun­ciar que sairia can­didato ao gov­erno e recla­mar que ele e os seus nunca foram “queri­dos” pelo chamado “núcleo duro” do gov­erno, aque­las pes­soas que por história ou por “adoção” achegaram-​se ao gov­er­nador e lhes devota uma fidel­i­dade “can­ina”. Dizem até que se o sen­hor Dino pedir que cessem a res­pi­ração por meia hora os indig­i­ta­dos mor­rem mas cumprem a determinação.

Essa infor­mação é rel­e­vante e será uti­lizada mais lá para frente.

Respondi ao amigo querido:

— ah, meu caro, vejo como “As Pom­bas”, de Raimundo Correia.

O amigo olhou-​me com cara de quem não enten­deu bul­h­u­fas, e completei.

— Não te recor­das do soneto “As Pom­bas”, obri­gatório nos tem­pos de colégio?

E recitei o que lem­brava:

Vai-​se a primeira pomba despertada…

Vai-​se outra mais… mais outra… enfim dezenas

Das pom­bas vão-​se dos pom­bais, apenas

Raia san­guínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pom­bais, de novo elas, serenas,

Ruflando as asas, sacud­indo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada…

Tam­bém dos corações onde abotoam

Os son­hos, um a um, céleres voam,

Como voam as pom­bas dos pombais;

No azul da ado­lescên­cia as asas soltam,

Fogem… Mas aos pom­bais as pom­bas voltam,

E eles aos corações não voltam mais”.

E con­clui: — A difer­ença é que não sabe­mos se, como no poema, as pom­bas de Dino retornarão na segunda estrofe.

A digressão sobre o poeta maran­hense Raimundo Cor­reia, expoente do Par­nasian­ismo e que viveu entre os anos de 1859 a 1911, foi ape­nas para não perder a piada, muito emb­ora os movi­men­tos dos seus, agora ex-​aliados, em muito se pareça com a revoada das pom­bas do soneto e sirva para con­fir­mar o que previ há quase sete anos.

Quando o sen­hor Dino elegeu-​se gov­er­nador escrevi-​lhe uma cara pública – além do meu site foi divul­gada no jor­nal Pequeno, no dia ou um dia após aque­las eleições –, naquela carta pon­tif­i­cava que o gov­er­nador se elegera “sem dever nada a ninguém” – o grupo Sar­ney desmoronara de exaustão e o can­didato que apre­sen­tou pos­suía inques­tionáveis restrições –, e que o povo o escol­hera para fazer um gov­erno novo, difer­ente.

Acres­cen­tava que pela forma como fora eleito pode­ria fazer um gov­erno que, de fato, rep­re­sen­tasse uma rup­tura com o “antigo régime”, refor­mando e reestru­tu­rando o estado.

Ao meu sen­tir era o cor­reto a fazer. O sen­hor Dino pode­ria ter enx­u­gado a máquina pública, exonerando todos aque­les que estavam no poder há décadas, substituindo-​os por téc­ni­cos, alta­mente capac­i­ta­dos que operassem a mudança esper­ada por seus eleitores – entre os quais nunca me incluí.

A leitura que fiz na ocasião foi que o sen­hor Dino não pre­cis­aria daque­les quadros – ou out­ros já ceva­dos nos maus hábitos –, e que a reforma que pode­ria pro­mover nas estru­turas do estado fariam dele uma lid­er­ança inques­tionável por diver­sas ger­ações.

Como sabe­mos, o cor­reio extrav­iou a carta, que não chegou ao des­ti­natário – às vezes, penso que pode­ria ter man­dado um e-​mail ou What­sApp –, ou, se chegou, a autori­dade fez-​lhe ouvi­dos moucos.

O certo é que o sen­hor Dino preferiu, ao invés de enx­u­gar a máquina pública, expandi-​la ainda mais, além de for­t­ale­cer pes­soas que, por sua história pes­soal, estavam (estão) longe de rep­re­sen­tar os anseios de mudanças que o levou ao poder no já dis­tante 2014.

Em diver­sos tex­tos, que escrevi pos­te­ri­or­mente, ques­tionei a opção de sua excelên­cia, dizendo, inclu­sive, que a lid­er­ança dele, pelas escol­has que fez, era uma “lid­er­ança emprestada”, sem con­tar que em muitos aspec­tos – e tam­bém em decor­rên­cia disso –, o Estado empo­bre­ceu e regrediu em desen­volvi­mento. Já se con­tando nos mil­hares os maran­henses que a gestão Dino levou à mis­éria.

Por incrível que pareça o gov­erno Dino con­seguiu “cavar” um pouco mais o nosso fosso de mis­er­abil­i­dade.

Este, porém, é assunto para ser tratado em texto especí­fico. Volte­mos ao nosso observatório.

Imag­ino que a estraté­gia de sua excelên­cia tenha sido chamar todos para perto para, como se dizia out­rora, “matar de faca”. Ou noutras palavras lid­erar a todos, com­pat­i­bi­lizando seus inter­esses às cus­tas do sofrido povo do Maran­hão.

O prob­lema é que não fez o “dever de casa” ou não “com­bi­nou com os rus­sos”.

Agora muitos destes, que o gov­er­nador jul­gava “ali­a­dos” ou “lid­er­a­dos”, for­t­ale­ci­dos politi­ca­mente às cus­tas das políti­cas públi­cas que dev­e­ria imple­men­tar – e não imple­men­tou –, estes políti­cos – muitos dos quais deixaram até de ser impor­tu­na­dos pela polí­cia e justiça –, começam a revoada, tal qual “As Pom­bas”, de Cor­reia.

O primeiro a lev­an­tar voo do “ninho” gov­ernista foi o senador pede­tista Wev­er­ton Rocha que, indifer­ente a suposto acordo fir­mado já foi para rua em autên­ti­cos comí­cios – graças a omis­são prov­i­den­cial do Min­istério Público e da Justiça Eleitoral –, onde disse que é um foguete, e como tal, não pos­sui marcha-​ré.

Noutras palavras, disse – e como tal se artic­ula –, que será can­didato inde­pen­dente da von­tade do gov­er­nador que o tinha como lid­er­ado e a quem muito aju­dou – de todas as formas.

Mas não é só. O senador pede­tista e/​ou o seu grupo tra­bal­ham forte­mente con­tra o sen­hor Dino na ideia de enfraquecê-​lo e trazê-​lo “pelo beiço” para a sua candidatura.

Já se artic­u­lou com diver­sos ali­a­dos que Dino tinha como “ seus” e que se far­taram no “gov­erno de todos eles”, como os dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais, secretários de estado, lid­er­anças, etc.; já disse ou man­dou dizer que poderá ter um can­didato a senador para enfrentar a can­di­datura Dino pela vaga única; já desan­cou o vice-​governador Car­los Brandão, dizendo que este não nasceu para lid­erar, ape­nas para ser vice – reg­istro que tendo perce­bido o excesso, divul­gou vídeo pedindo des­cul­pas, depois que o gov­er­nador reclamou da falta de “humil­dade” ou por ter perce­bido que aquele que pre­tende pegar gal­inha não diz “xô”.

Muito emb­ora não acred­ite que Brandão gov­er­nador deixe de dis­putar ao único cargo que pode con­cor­rer para apoiar alguém que disse que ele só serve para vice, jamais tit­u­lar.

Mas já vi de tudo na política do Maran­hão.

Além disso faz intenso serviço de artic­u­lação para “con­quis­tar” prefeitos e lid­er­anças políti­cas lig­adas ao gov­er­nador ao passo que a mídia que con­trola dia sim e no outro tam­bém, fustiga ou desmerece o gov­erno no qual todos se far­taram.

A segunda “pomba” a lev­an­tar voo, o dep­utado fed­eral Josi­mar de Maran­hãoz­inho, como já disse ante­ri­or­mente, “inven­tou” a des­culpa mais bisonha para deixar Dino e os seus segu­rando a “brocha”.

Disse que não se sen­tia “querido” pelo gov­er­nador e pelo ciclo próx­imo.

Dizia um amigo meu lá atrás, muito lá atrás, que a pior sen­sação que pode acome­ter um ser humano é a sen­sação de “não ser querido”.

Fico imag­i­nando que o sen­hor dep­utado vem “sofrendo” esse tempo todo, quase sete anos, sem dizer nada, “engolindo o sapo” no cal­ado. Foi e é muito “sofri­mento”. Tem todo o “dire­ito” de dizer que não aguenta mais.

Assim vão se as pom­bas do sen­hor Dino, a primeira, a segunda, a ter­ceira… quan­tas mais? Retornarão ao fim do dia? Ou Dino é que terá que voar com elas?

O sen­hor Dino que sofre esse “per­rengue” com a revoada do seu pom­bal, tam­bém é vítima de um pecado que enx­erga nos out­ros: a arrogân­cia e falta de humil­dade.

Julgou-​se líder inques­tionável quando, em ver­dade, pelo que parece, foi ludib­ri­ado por out­ros bem mais esper­tos que ele, que se pro­te­geram e se for­t­ale­ce­ram no seu gov­erno gan­hando mus­cu­latura, inclu­sive, para chantageá-​lo.

E lá se vão as pombas…

Abdon Mar­inho é advo­gado.