AbdonMarinho - NO BRASIL SOBRAM MOTIVOS PARA PROTESTAR
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Segunda-​feira, 25 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

NO BRASIL SOBRAM MOTIVOS PARA PROTESTAR

NO BRASIL SOBRAM MOTIVOS PARA PROTES­TAR.

Por Abdon Marinho.

AO LONGO da história nos deparamos ao redor do mundo com muitos movi­men­tos ditos lib­ertários uns, efe­ti­va­mente, tin­ham esse cunho, out­ros, ape­nas a sub­sti­tu­ição do sta­tus vigente por outro, geral­mente pior.

Assis­ti­mos do ponto de vista histórico a ascen­são do Nazismo – e a sua queda depois de causar uma tragé­dia para a humanidade –; a ascen­são do Comu­nismo em diver­sos países; a luta pelos dire­itos civis nos Esta­dos Unidos e em out­ros países.

Assis­ti­mos o povo ir às ruas protes­tar pelo fim das guer­ras e por mais dire­itos e garantias.

Assis­ti­mos a luta de muitos cidadãos em diver­sos can­tos do mundo pelo dire­ito a um ambi­ente saudável, despoluído e sem a destru­ição das florestas.

No Brasil, em tem­pos recentes, tive­mos protestos con­tra a ditadura mil­i­tar, con­tra a tor­tura, con­tra a vio­lação dos dire­itos humanos.

Depois de vinte anos, em 1984, o povo brasileiro foi às ruas cla­mar pelo dire­ito de eleger livre­mente seus gov­er­nantes na cam­panha pelas Dire­tas Já!

Depois foi às ruas pedir o impeach­ment do seu primeiro pres­i­dente eleito pela via direta. Anos depois foi às ruas, nos protestos de 2013, con­tra a cor­rupção, con­tra a cares­tia, con­tra a indifer­ença das autori­dades aos dire­itos das mino­rias e, pouco depois, pelo impeach­ment da primeira mul­her eleita pres­i­dente do país.

Agora, como é público e notório, o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro quer encher as ruas e avenidas com um protesto cuja pauta não parece muito clara ou definida.

Ini­cial­mente diziam que era um golpe mil­i­tar, depois que era um protesto por liber­dade, depois que era um protesto con­tra o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF ou con­tra um ou dois min­istros que suposta­mente estariam agindo fora das “qua­tro lin­has da Con­sti­tu­ição”.

O certo é que “tangi­dos” por pas­tores picare­tas, fal­sos líderes de algu­mas cat­e­go­rias e políti­cos opor­tunistas, muitos brasileiros, mil­hares, talvez, mil­hões, devem ir às ruas no Dia da Pátria, protes­tar.

Con­tra o quem ou o quê é que me parece equivocado.

O Brasil, cer­ta­mente, tem motivos para protes­tar.

Depois de anos temos uma inflação que ameaça romper a casa dos dois dígi­tos; o salário mín­imo nacional não é mais sufi­ciente para com­prar duas ces­tas bási­cas; já são quase 15 mil­hões de cidadãos desem­pre­ga­dos e out­ros tan­tos mil­hões – quase vinte – que estão pas­sando fome; mais da metade da pop­u­lação, segundo dados do IBGE, padece de algum tipo de escassez nutri­cional.

Os brasileiros já fazem fila para com­prar – quando podem –, ou para rece­ber ossos dos açougues ou frig­orí­fi­cos na ten­ta­tiva de repor a sua neces­si­dade de pro­teí­nas.

E, o pior, não tem osso para todo mundo.

Outro dia, em um destes pro­gra­mas ves­per­ti­nos de tele­visão, vi o depoi­mento, emo­cionado, de uma sen­hora em que ela dizia que o seu maior medo na atu­al­i­dade era o medo de pas­sar fome, com­ple­tando por dizer que tinha medo porque sabia a dor que é não ter o que comer.

O Brasil tem mais do que motivos para protestar.

O meio ambi­ente padece de todo tipo de destru­ição.

São os garim­pos ile­gais destru­indo os cur­sos d’água e rios que não são coibidos; é a froux­idão na fis­cal­iza­ção da destru­ição das flo­restas para a extração de madeira ou em queimadas crim­i­nosas; é a “gri­lagem” ofi­cial e/​ou ofi­ciosa de mil­hares de acres de ter­ras públi­cas, de reser­vas indí­ge­nas ou de pro­teção per­ma­nente com efeitos desas­trosas para o equi­líbrio ambi­en­tal no mundo.

O país joga fora o seu maior ativo econômico diante da comu­nidade inter­na­cional porque temos um pres­i­dente que acha “tolice” a pre­ocu­pação ambiental.

Claro que o Brasil tem motivos para protestar.

Em muitos lugares do país um litro de gasolina já custa R$ 7,00 (sete reais). Não faz muito tempo não era a metade disso.

E com o preço dos com­bustíveis nas alturas a comida, já escassa, chega na mesa do tra­bal­hador – para os que ainda pud­erem com­prar –, bem mais caro.

O gov­erno tenta empurrar a respon­s­abil­i­dade dos preços dos com­bustíveis para os gov­er­nadores ale­gando que é ele­vado o valor do ICMS cobrado pelos estados.

Não deixa de ter razão – o ICMS é mesmo alto –, mas é a mesma alíquota (na faixa dos 30%) que já era cobrada ante­ri­or­mente.

O que o pres­i­dente e seus ali­a­dos não dizem é que sem motivo aparente – que não seja a maluquice do atual gov­erno –, o dólar se val­ori­zou mais de 30% (trinta por cento) em relação ao real, como o preço do petróleo é cotado em dólar, aí está o prin­ci­pal motivo para esta­mos pagando tão caro pelo litro de diesel e gasolina.

O dólar subiu no Brasil muito acima do que subiu nos demais países que ficou na faixa de 3 ou 4%. Isso não é fruto ape­nas de uma macro­econo­mia equiv­o­cada é, prin­ci­pal­mente, a per­cepção que o país é dirigido por malu­cos.

É por isso que o boti­jão de gás já está cus­tando mais de R$ 100 (cem reais) em algu­mas partes do país e a gasolina já pas­sando dos sete.

Aliás, sobre o aumento dos com­bustíveis, ouvi uma piada trág­ica.

A piada é que o atual gov­erno con­seguiu desem­pre­gar os que já estavam desem­pre­ga­dos.

A expli­cação: com o crise e o desem­prego batendo às por­tas dos cidadãos muitos foram obri­ga­dos, para sobre­viverem, a virarem motoris­tas de aplica­tivos. Com o aumento dos preços dos com­bustíveis essa alter­na­tiva deixou de ser inter­es­sante.

O Brasil pode e deve ir às ruas protestar.

Nunca na história a conta de luz chegou a cus­tar tanto. As con­se­quên­cias desta conta conta de luz ele­vada é o aumento em cadeia dos cus­tos da pro­dução da indús­tria, do comér­cio e do setor de serviços e mais cares­tia para os tra­bal­hadores.

Para o min­istro da econo­mia, o que tem o brasileiro, que já não tem onde cair morto, pagar um pouco mais pelo dire­ito de acen­der uma luz quando chegar em casa?

Se o gov­erno tivesse um mín­imo de com­petên­cia teria se ante­ci­pado à crise hídrica com inves­ti­men­tos em fontes alter­na­ti­vas de ener­gia.

O Brasil não pode deixar de ir às ruas protestar.

A vio­lên­cia urbana, depois de uma cal­maria, volta a assus­tar os cidadãos de bem. Mesmo com os números mas­cara­dos, foram mais de 62 mil homicí­dios em 2019, com tendên­cia de cresci­mento graças às políti­cas de facil­i­tação do con­tra­bando de armas para o país, além da própria posse de armas pelos brasileiros.

Con­forme disse o pres­i­dente fuzis são mais impor­tantes que fei­jão.

Há uma certa per­ver­são no pen­sa­mento do pres­i­dente. Se pelas inúmeras razões lis­tadas acima, o cidadão não pode com­prar nem fei­jão, como poderá com­prar fuzis para se defender?

Na ver­dade, os que poderão com­prar fuzis – com a añuên­cia e facil­i­tação do gov­erno –, serão os que vivem às mar­gens da lei, os mili­cianos, os traf­i­cantes, os crim­i­nosos de aluguel.

E vejam, que em tese, não me coloco con­tra ao direto à autode­fesa entre­tanto, o que temos visto não são medi­das voltadas ao bem comum, mas ao for­t­alec­i­mento do crime organizado.

Registre-​se que tais ini­cia­ti­vas gov­er­na­men­tais vio­lam o pacto do Con­trato Social exis­tente entre o Estado e os cidadãos.

Pacto esse em que o cidadão paga os seus trib­u­tos e em troca tem a pro­teção do Estado, o direto a saúde, edu­cação, pre­v­idên­cia e assistên­cia social.

Ao facil­i­tar a vida dos crim­i­nosos, o gov­erno atenta con­tra o próprio estado que rep­re­senta.

O dis­curso tosco de que um povo armado não será escrav­izado faz parte de uma men­tal­i­dade que teima em não evoluir.

Não vejo os ingle­ses, os sue­cos, os suíços, os dina­mar­que­ses, os japone­ses, recla­marem dos regimes de escravidão a que são sub­meti­dos por não pos­suírem armas.

Mas, como dizia, o Brasil tem motivos de sobra para protestar.

Os motivos, e mais o que se pode acres­cen­tar em relação a con­dução da pan­demia que já ceifou quase 600 mil vidas, estão lis­ta­dos acima.

Ah, não vão às ruas protestarem con­tra isso?

Entendi, vão às ruas protes­tar con­tra STF. Na ver­dade, con­tra um ou dois min­istros do tri­bunal que, cer­ta­mente, são os cul­pa­dos por todas as maze­las acima descritas e mais out­ras tan­tas que esqueci de citar.

Não é isso?

O protesto se deve porque um min­istro man­dou encar­cerar uma espé­cie de corrupto-​mor da República que estava orga­ni­zando e insti­gando os incau­tos a pegarem em armas con­tra o tri­bunal e seus ministros?

O protesto se deve porque um tri­bunal proibiu que fos­sem remu­ner­adas aque­las pes­soas que estavam come­tendo crimes e lucrando com eles?

Deixa ver se entendi. Quer dizer que o cidadão não con­segue enx­er­gar e protes­tar con­tra todas as maze­las que acomete o Brasil mas acha que liber­dade do país corre risco porque o Roberto Jef­fer­son e mais um ou outro foram pre­sos por pre­garem e açu­larem crimes con­tra um poder da República ou porque um tri­bunal “cor­tou o barato” de falas­trões para que con­tin­u­assem a lucrar com os crimes con­tra o país que come­tiam.

É isso mesmo?

Me respon­dam se forem capaz: junto com kit camiseta, boné e ban­deira da pátria não ven­diam tam­bém um nariz de pal­haço para com­por o manequim dos protestos do 7 de setembro?

Abdon Mar­inho é advo­gado.