AbdonMarinho - Ah, conta outra...
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Ah, conta outra…

AH, CONTA OUTRA

alguns anos escrevi sobre a solidão do gov­er­nador no poder. Não falava da solidão pela ausên­cia de pes­soas, cer­ta­mente não é o caso, o poder atrai muito e o gov­er­nador que se vende de inteligente atrai muito mais. Logo, sua excelên­cia está cer­cada de pes­soas, mas das pes­soas “erradas”, os fãs, os adu­ladores e dos opor­tunistas.

Dizia que Fal­tava – e con­tinua fal­tando –, ami­gos ver­dadeiros, que não fos­sem fãs, adu­ladores ou opor­tunistas. Pes­soas solidárias e com a capaci­dade de lhe apon­tar os erros, os exces­sos, as infan­til­i­dades.

O texto foi inti­t­u­lado de “O menino só”. E por ele recebi diver­sos elo­gios de pes­soas comuns que comungavam (ou comungam) com o meu pen­sa­mento.

Ape­sar de haver retor­nado ao assunto out­ras vezes e até man­dado algu­mas car­tas aber­tas, nada mudou com­por­ta­mento de sua excelência

Com o pas­sar do tempo sua excelên­cia, sucumbiu de vez aos encan­tos das luzes e ao pro­jeto pes­soal de gal­gar espaços maiores no cenário da política nacional.

Como se fosse o mais fiel e dileto dis­cípulo de Goebbels pas­sou a cul­ti­var a indifer­ença à infor­mação cor­reta e inques­tionável, aquela a que ninguém poderá dizer um “mas” – que é bem difer­ente de defender “que uma men­tira dita mil vezes torna-​se ver­dade”.

Ora, ao meu sen­tir não sen­tido que qual­quer pes­soa viva “den­tro” do bro­cado “falem mal, mas fale de mim”, como parece ser o caso de sua excelência.

Tem sido esta a real­i­dade. E tanto fez – e faz –, prin­ci­pal­mente depois que resolveu antagonizar-​se com pres­i­dente Bol­sonaro que, hoje, ao homem de bem, é difí­cil dis­tin­guir quem é o espelho de quem.

Veja, sobre­tudo, agora que forçou a entrada aos holo­fotes da mídia nacional, sua excelên­cia, pre­cis­aria de alguém que lhe recomen­dasse comed­i­mento.

Fica feio um gov­er­nador ser ques­tion­ado por tudo que escreve. Fica feio aquela série de acusações de fal­tar com a ver­dade, ser chamado de Pinóquio (ou Dinóquio), a cada pub­li­cação que faz nas redes sociais.

E são muitas as vezes a que se sub­mete a isso. E, se antes, os ques­tion­a­men­tos sobre o que diz ou escreve não tinha grande reper­cussão, agora que resolveu dizer-​se can­didato, estes ques­tion­a­men­tos são expos­tos ao país inteiro.

Outro dia, sua excelên­cia, foi as redes soci­ais anun­ciar um tal de “piso remu­ner­atório” para os pro­fes­sores acima de 6 mil reais.

A infor­mação “care­cia” de uma série de “aden­dos”, primeiro que não era “piso”; segundo, que o aumento con­ce­dido pelo gov­erno estad­ual, em ape­nas uma faixa salar­ial – e assim mesmo para garan­tir o piso nacional –, foi supe­rior ao aumento con­ce­dido pelo gov­erno fed­eral para o piso salar­ial do mag­istério, a chamada Lei do Piso, todas as demais ficou abaixo e na grande maio­ria, quase a total­i­dade, não chegou à metade, cerca de 5% (cinco por cento) quando o gov­erno fed­eral con­cedeu uma aumento supe­rior a doze por cento; ter­ceiro, o gov­erno estad­ual des­cumpriu de forma acin­tosa o Estatuto do Mag­istério, vez que esta lei proíbe a con­cessão de aumen­tos infe­ri­ores aos esta­b­ele­ci­dos na política nacional.

Com a cumpli­ci­dade de quase todos os dep­uta­dos da base gov­ernista na Assem­bleia Leg­isla­tiva e até do sindi­cato da cat­e­go­ria aprovaram o “aumento rabo de cav­alo” e, não sat­is­feitos, ainda foram comem­o­rar nas redes soci­ais e nas demais mídias sub­sidi­adas pelo governo.

Foi curioso pois enquanto os ali­a­dos do gov­er­nador votavam o “aumento” os pro­fes­sores que con­seguiram chegar e entrar nas gale­rias da assem­bleia protes­tavam de forma vee­mente con­tra o mesmo. Os pro­fes­sores, decerto, devem ser uns “sab­o­ta­dores” do gov­erno ou, sim­ples­mente, sabem fazer contas.

Os pro­fes­sores do Maran­hão, se com­para­dos a out­ras cat­e­go­rias e até mesmo aos cole­gas de out­ros esta­dos, estão numa situ­ação mel­hor. Entre­tanto, essa situ­ação é fruto das con­quis­tas da cat­e­go­ria. O atual gov­erno e mesmo seus ali­a­dos do sindi­cato, pouco ou quase nada tiveram com elas. São con­quis­tas do Estatuto do Mag­istério, quase trin­tenário, as leis do FUN­DEF e do FUN­DEB, da Lei do Piso, etc.

Não é aceitável ou ético que ao mesmo tempo que achata os salários e nega con­quis­tas históri­cas, o gov­erno estad­ual, ainda queira tirar “casquinha”.

Mal encer­rada a patranha do “aumento fake” aos pro­fes­sores, sua excelên­cia cor­reu para a tri­buna das redes soci­ais com uma ideia curiosa.

Comu­ni­cou a pat­uleia que solic­i­tara uma audiên­cia ao pres­i­dente da República para tratar das pés­si­mas condições das rodovias fed­erais no estado e ofer­e­cer ajuda do gov­erno estad­ual para a recu­per­ação das mesmas.

Há mais de vinte anos que per­corro as rodovias que cor­tam o estado, tanto as fed­erais quanto as estad­u­ais. Quase uma dezena de vezes con­tei a história do defi­ciente visual que pede esmo­las em For­t­aleza (CE) e em Belém (PA), para dizer que ele sabe com uma pré­cisão todas vezes que entra e que sai do estado. Não pre­cisa ninguém dizer onde começa ou onde ter­mina uma via que corta o estado. Ele sabe.

Pois bem, é ver­dade que as rodovias fed­erais que cor­tam o estado estão ruins, na ver­dade sem­pre foram assim, muitos maran­henses próx­i­mos à fron­teira com o Piauí pref­ere se deslo­car pelas vias daquele estado, acon­te­cendo o mesmo em relação aos que estão próx­i­mos ao Tocan­tins e ao Pará.

Por outro lado tam­bém é ver­dade que as rodovias estad­u­ais são bem piores.

O nosso não pos­sui rodovias – não sei nem o porquê de levarem este nome –, e sim “estrad­in­has”, mal feitas, com asfalto fino (as que pos­sui), roí­das nas bor­das e sem um palmo de acosta­mento. Se alguém pre­cisar parar por qual­quer motivo ou para fazer qual­quer coisa, até mesmo verter água tem que parar no meio da pista, por sua conta e risco.

As recu­per­ações de tão malfeitas, antes de rece­ber a sinal­iza­ção já estão esbu­ra­cadas e pre­cisando de novos reparos.

A exceção da rodovia MA 101 (a estrada de Riba­mar), no tre­cho que vai da Forquilha ao Maiobão e do pro­longa­mento da Avenida dos Holan­deses, MA 103 (estrada da Raposa, em obras) não tem uma que seja dupli­cada, que pos­sua um acosta­mento, e out­ras qual­i­fi­cações que as tornem seguras ou dig­nas de serem chamadas rodovias.

Exceto pelas estrad­in­has que acabam de ser inau­gu­radas e enfeitam as pro­pa­gan­das gov­er­na­men­tais as demais estão em “petição de mis­éria”, mesmo aque­las impor­tan­tís­si­mas para o desen­volvi­mento do estado como a que liga o Cujupe, em Alcân­tara a Gov­er­nador Nunes Freire.

Outro dia, no pro­grama Globo Rural, mostrou os pro­du­tores do sul do estado fazendo, por conta própria, a recu­per­ação de uma impor­tante via estad­ual para o escoa­mento da pro­dução.

Ainda na cam­panha, em 2014, sua excelên­cia, prom­e­teu fazer da MA 006, a rodovia reden­tora do Maran­hão. Lig­ando Alto Par­naíba a Apicum-​Açu, seria a espinha dor­sal do nosso desen­volvi­mento. Já indo pelo sexto ano de mandato, quan­tos quilômet­ros (ou pal­mos) foram feitos?

Dito isso, como levar a sério a pro­posta de sua excelên­cia de ofer­e­cer ajuda ao gov­erno fed­eral para recu­perar as rodovias fed­erais? Pare­ceu piada. Piada de pés­simo gosto.

A menos que ajuda pro­posta seja “ofer­e­cendo” os empresários que cuidam de muitas rodovias estad­u­ais e que vez ou outra se tor­nam hós­pedes do Estado.

Como podemos perce­ber, é muito difí­cil para o gov­er­nador do estado sus­ten­tar deter­mi­nadas “nar­ra­ti­vas” ainda mais quando tem por meta uma can­di­datura presidencial.

Outro dia, tanto sua excelên­cia, quanto seus ali­a­dos de “primeira hora” ficaram “sen­ti­dos” a ponto de recla­marem pub­li­ca­mente – e com dire­ito a mar­cação nos tex­tos, nas redes soci­ais –, do site The Inter­cept Brasil por conta de uma reportagem sobre o con­flito do Cajueiro.

O gov­er­nador – e os seus ali­a­dos –, tenta vender a nar­ra­tiva de que nada tem a ver com o prob­lema. Grosso modo, dizem se tratar de decisão judi­cial e de um con­flito entre terceiros.

Con­forme expliquei – e demon­strei –, em diver­sos tex­tos sobre o assunto, espe­cial­mente no texto “Quem é grileiro das ter­ras do Cajueiro?”, o gov­erno estad­ual atual tem total respon­s­abil­i­dade sobre o assunto.

Está tudo lá, o assen­ta­mento pelo gov­erno estad­ual em 1998, a escrit­u­ração do imóvel para as famílias; a desapro­pri­ação em 2014; o can­ce­la­mento da desapro­pri­ação pelo atual gov­er­nador logo no iní­cio do mandato e, por fim, a nova desapro­pri­ação “meia-​boca” feita por ele.

Como sus­ten­tar a nar­ra­tiva de não tem nada com a história?

Claro que o site The Inter­cept Brasil – que até outro dia era o “querid­inho” do gov­er­nador, do seu par­tido e ali­a­dos, defen­dido até diante de pesadas acusações –, não fez reportagem moti­vado por inter­esse público ou por pre­ocu­pação com aque­les desa­lo­ja­dos.

Emb­ora chorosos o gov­er­nador e sua troupe já iden­ti­ficaram as dig­i­tais do PT e do PSol no assunto.

A leitura é muito sim­ples: se Lula preso dava uma ban­deira e unia todos, Lula solto, só desagrega a esquerda e põe a escant­eio o sonho do comu­nista maran­hense – que tenta se via­bi­lizar com acenos ao cen­tro e a dire­ita.

Ini­cial­mente Lula disse que o povo brasileiro não aceita um can­didato comu­nista; depois, diante da con­tra infor­mação de que teria con­vi­dado o maran­hense para ingres­sar no PT, pub­li­ca­mente, desmentiu.

A reportagem/​denúncia é fruto do “racha” da esquerda que não aceita a ascen­são do gov­er­nador do Maran­hão e que, con­forme as con­veniên­cias, vai expor suas falhas.

E não são pou­cas. Não se trata ape­nas deste dis­curso de “pós ver­dade” ado­tado desde o iní­cio do gov­erno, de “vender” qual­quer coisa que o favoreça e, se ninguém dizer nada, ficar como ver­dade, e, se diz­erem, fin­gir que não ouvi­ram, são atos con­cre­tos.

Veja, é difí­cil de engolir uma “frente ampla” coman­dada por comu­nistas. Como é pos­sível democ­ratas cer­rarem fileiras jun­tos com um par­tido que desde seu nasce­douro tem viés autoritário? Que nos seus doc­u­men­tos inter­nos apoiou e apoia os regimes mais sangrentos?

A verve do autori­tarismo se faz pre­sente no atual gov­erno do Maran­hão e seus diri­gentes. Basta dizer que nunca na história do estado tan­tos jor­nal­is­tas, os poucos que teimaram em ser jor­nal­is­tas, foram tão perseguidos.

O próprio gov­er­nador, em data recente, se pro­nun­ciou con­tra uma cláusula pétrea da Con­sti­tu­ição: a que per­mite a livre man­i­fes­tação dos cidadãos porque con­vo­cada por pes­soas ou movi­men­tos de apoio ao gov­erno fed­eral. Insin­uou con­teúdo “nazista” da manifestação.

Ora, existe muita difer­ença entre nazismo e comu­nismo? Recen­te­mente uma lei da Ucrâ­nia, que exper­i­men­tou a bar­báries dos dois regimes, os equiparou.

As difi­cul­dades do par­tido em ser este “catal­isador” de um movi­mento con­tra o gov­erno fed­eral é uma das razões pela qual o par­tido tenta criar uma espé­cie de “fake” para representá-​lo nas eleições, um tal movi­mento seguido do número da leg­enda.

Tem-​se, com isso, um par­tido que se recusa a ser chamado pelo próprio nome é assumir o seu pas­sado e presente.

Mais um fake, entre tan­tos.

Isso sem con­tar as situ­ações mais pre­mentes provo­cadas pelo próprio gov­erno.

Como pes­soas sérias poderão cer­rar fileiras ao lado um gov­er­nante que a despeito de ter sido o gov­er­nante que mais aumen­tou a carga trib­utária, apre­senta uma gestão tão ruim?

Muito além do fraco por ten­tar “buri­lar” a ver­dade, os indi­cadores são ter­ríveis con­tra as pre­ten­sões do gov­er­nador.

O IBGE no dia 28 de fevereiro, por imposição legal, divul­gou os dados da Pnad/​contínua mostrando que a renda per capita dos maran­henses é a mais baixa do país, pouco mais da metade do salário mín­imo do ano ante­rior.

O gov­er­nador que prom­e­teu tanto, já no sexto ano de gestão, nos apre­senta um estado que fica atrás de todos os esta­dos da fed­er­ação quando se trata de renda.

Um estado tão rico, com tan­tas poten­cial­i­dades pas­sar por este tipo de con­strang­i­mento é um ates­tado que os gov­er­nantes, pas­sado e do pre­sente, erraram e erram feio.

Como pre­ten­dem ser uma opção a ser con­sid­er­ada para país?

Ah, conta outra…

Abdon Mar­inho é advo­gado.