AbdonMarinho - OPOSIÇÃO!? QUE OPOSIÇÃO?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

OPOSIÇÃO!? QUE OPOSIÇÃO?

OPOSIÇÃO!? QUE OPOSIÇÃO?

Por Abdon Marinho.

OUTRO dia um amigo fazia troça com a falta de ati­tude dos dep­uta­dos estad­u­ais de oposição ao atual gov­erno.

Insat­is­feito com inér­cia das excelên­cias, dizia ele: — Abdon, desco­bri o motivo da oposição não está falando nada sobre essas coisas – foi no auge da denún­cia do del­e­gado Bardal sobre bis­bil­ho­tagem aos desem­bar­gadores e manip­u­lação de inves­ti­gações –, é que está muito ocu­pada. Olha aí a pre­ocu­pação da oposição.

Dito isso me man­dou um “print” de um Pro­jeto de Res­olução Leg­isla­tiva, de auto­ria do sen­hor dep­utado Adri­ano, que con­cede a medalha de mérito leg­isla­tivo “João do Vale”, ao can­tor Bruno Patri­cio Abreu Fer­reira, tendo por rela­tor outro prócere da oposição, o dep­utado César Pires.

Fiquei sabendo que o hom­e­nageado é mais con­hecido como Bruno Shinoda.

Bem, não con­heço o tra­balho do artista – e isso não ocorre por conta dele, mas porque levo uma vida de Cas­murro –, decerto, o sen­hor Shin­oda deve mere­cer bem mais que a comenda pro­posta pelo dep­utado.

Por outro lado, não posso deixar de recon­hecer assi­s­tir razão a esse amigo, quando, na sua irres­ig­nação, faz pil­héria com o papel desem­pen­hado pela oposição na atual quadra política.

Como já obser­vado em tex­tos ante­ri­ores, o par­la­mento estad­ual tem con­seguido pio­rar a cada leg­is­latura. E, parece-​me, que a oposição tem seguido o ritmo ou pio­rado mais.

Lem­bro que quando tra­bal­hava na Casa de Manoel Bequimão, a oposição inteira não chegava a dez dep­uta­dos, mas o nível de artic­u­lação, con­hec­i­mento, dis­posição para o embate, fazia pare­cer que estavam empar­el­ha­dos com a grande maio­ria gov­ernistas.

Na antes­sala do Plenário ou na Sala de Imprensa era comum ouvir­mos que dep­utado fulano ou sicrano valia por dez ou uma dúzia dos gov­ernistas.

Hoje, pelo que dizem, está um por um, sem pedir troco. E olhem que o “papel” de pedra é bem mais fácil que o de vidraça.

Por estes dias li um artigo do juiz fed­eral Roberto Veloso sobre a importân­cia da oposição nas democ­ra­cias mod­er­nas. Muito esclare­ce­dor e veio na esteira do que sem­pre sustentamos.

Nas democ­ra­cias, as oposições, ao meu sen­tir, fun­cionam como legit­i­mado­ras dos gov­er­nos.

É isso que não temos no nosso estado, onde as próprias insti­tu­ições pare­cem frag­ilizadas.

Vejamos, não é de hoje que se têm notí­cias de inves­ti­gações clan­des­ti­nas e crim­i­nosas con­tra os adver­sários do gov­erno, tendo um del­e­gado – ainda que apan­hado nos seus próprios malfeitos –, não ape­nas con­fir­mado, como con­fes­sado, que rece­beu ordem do secretário de segu­rança pública para bis­bil­ho­tar a vida de desem­bar­gadores, além da manip­u­lação de inves­ti­gações crim­i­nais. Se chegaram a esse ponto, o que falta fazerem?

Ape­sar daquela con­fir­mação o silên­cio imperou, ninguém disse nada. Ape­nas, ulti­ma­mente, se teve notí­cia de um ofí­cio do pres­i­dente do tri­bunal pedindo ao min­istério público que inves­ti­gasse o fato relatado pelo del­e­gado.

Em relação a oposição foi como se nada tivesse acon­te­cido.

Assim, como nada ou muito pouco têm a dizer – ou a protes­tar – , sobre a piora em quase todos os indi­cadores soci­ais e econômi­cos do estado; sobre a “que­bra” no Fundo de Pre­v­idên­cia do Estado; sobre o inchaço da máquina pública, com a cri­ação, em pouco tempo, de mais de três mil car­gos comis­sion­a­dos; sobre o fato das obras públi­cas estarem entregues a empresários de com­petên­cia e hon­esti­dade duvi­dosas e/​ou mesmo sobre o fato de tais obras públi­cas, que cus­taram (ou estão cus­tando) uma for­tuna, sim­ples­mente terem se “dis­solvido” neste inverno.

São fatos de gravi­dade ímpares para os quais a oposição – e mesmo as insti­tu­ições fis­cal­izado­ras –, pare­cem atribuir pouca ou nen­huma importân­cia.

Não con­heço a capaci­dade pes­soal das excelên­cias, com certeza devem pos­suir bas­tante, mas como opos­i­tores a um gov­erno – que sabe usar os meios de comu­ni­cação de mas­sas –, não pode­riam ser mais fra­cos. Uma espé­cie de Exército de Bran­ca­le­one dos trópi­cos. Não que sejam mal­trapil­hos, pelo con­trário, mas pela falta, inata, de aptidão para o ofício.

A respeito disso podemos citar ape­nas dois exem­p­los. O do dep­utado Adri­ano, que para exer­cí­cio par­la­men­tar, abdi­cou do próprio nome da família e do dep­utado fed­eral Edilázio Júnior, tam­bém da família, por afinidade.

Quando o dep­utado Adri­ano, come­teu o “desatino” de renun­ciar ao próprio nome, comentei com um amigo próx­imo que jamais havia teste­munhado tamanha prova de inabil­i­dade política – até então.

Primeiro, que a medida era abso­lu­ta­mente inócua, jamais deixaria de ser um Sar­ney, filho de Sar­ney Filho e neto de José Sar­ney. O Maran­hão, para o bem e para o mal, é uma aldeia, onde todos se con­hecem e sabem de onde vem cada um.

Per­gun­tei a esse amigo se o dep­utado não tinha nen­hum asses­sor, amigo ou mesmo a ini­cia­tiva de ouvir mais alguém ante de come­ter esse tipo de tolice.

Segundo, que ao abdicar do próprio nome, “liberou” todos aque­les que restavam fiéis ao grupo Sar­ney de con­tin­uar a sê-​los.

Ora, se o próprio neto não quer ser recon­hecido como um “Sar­ney”, porque, quem sequer é par­ente vai “quebrar-​lanças” por eles, sobre­tudo, num estado mis­erável como nosso, onde se guarda a sobra do almoço para comer na janta? Onde, mais do que em qual­quer outro lugar, tanto se neces­sita dos favores públicos?

Neste cenário político, até então, esse tinha sido o maior desas­tre dos oposi­cionistas dire­ta­mente lig­ado ao grupo Sar­ney, aí veio o dep­utado fed­eral Edilázio Júnior e mostrou que a capaci­dade de pro­duzirem asneiras estava bem longe do fim.

O dep­utado vinha bem, tinha feito um mandato ante­rior atu­ante, propos­i­tivo e, tam­bém, por isso, con­seguira alçar voo mais alto, saltado de estad­ual para fed­eral.

Até que con­seguiu pro­duzir uma declar­ação mais desastrada que a omis­são do nome do dep­utado Adri­ano.

Não dis­cuto se o dep­utado errou ou não no con­teúdo. Mas, não restam quais­quer dúvi­das que a forma não pode­riam ser mais desastrada.

Nunca tinha visto um político ser tão infe­liz em suas colo­cações quanto o dep­utado fed­eral do par­tido verde.

Bem ver­dade que out­ros políti­cos já dis­seram coisas piores, crim­i­nosas, mas foram pegos em incon­fidên­cias, gravações clan­des­ti­nas ou autor­izadas judi­cial­mente.

Já o dep­utado estava ali, se man­i­fe­s­tando pub­li­ca­mente, alheio se estava sendo gravado ou não (e todos esta­mos sendo grava­dos o tempo todo) e crente que estava “abafando”. Expôs seu ver­dadeiro sen­ti­mento. Pode­ria se can­di­datar ao título de “sin­cero do ano”, pois come­teu aquilo que hoje se chama de “sincericídio”.

Acho que nem aquele dep­utado gov­ernista que foi detido depois de beber “todas”, fazer uso de out­ras sub­stân­cias e agredir algu­mas pes­soas, ao dizer “a gente mata gente” e out­ras ameaças, saiu-​se tão chamus­cado do episó­dio – até porque con­tou com a conivên­cia cúm­plice dos oposi­cionistas –, quanto o dep­utado fed­eral Edilázio Júnior, no episó­dio do píer da Península.

Ora, ele teria inúmeras razões, sobre­tudo, de ordem téc­nica, para se man­i­fes­tar con­trário ao pro­jeto do gov­erno estad­ual, não have­ria qual­quer neces­si­dade de descam­bar para pre­con­ceitos que talvez nem os pos­sua no trato pes­soal. Como não o con­heço, não posso dizer.

O que sei é que suas palavras – edi­tadas ou dis­tor­ci­das, como disse –, não pode­riam ser mais infe­lizes para sua car­reira política. Para sem­pre será lem­brado e cobrado por elas. Só ver a infinidade de “memes” com a imagem do deputado.

Exis­tem out­ros par­la­mentares de oposição, mas os acima referi­dos são os coman­dantes nat­u­rais do grupo Sar­ney.

E, como vimos, deram mostras que a mis­são foi bem maior que eles.

É bem ver­dade que os Leões sem­pre tiveram muita força. A história mostra isso. Vejam que mesmo com uma oposição mais aguer­rida, o grupo Sar­ney só foi defen­estrado do poder a par­tir de uma rup­tura interna. Sem ela, ainda hoje estariam man­dando.

Foi a rup­tura de José Reinado Tavares, dev­ido a uma con­jun­tura de cunho pes­soal, que pos­si­bil­i­tou a eleição do primeiro gov­er­nador de oposição, em 2006, Jack­son Lago, e abriu a pos­si­bil­i­dade da segunda vitória, com o sen­hor Flávio Dino, em 2014, e assim mesmo, porque a gov­er­nadora Roseana Sar­ney abdi­cou de gov­ernar o estado, entregando-​o nas mãos de pre­pos­tos, ao invés de fazer de um grande gov­erno, quando voltou a ele depois depois que “tomou” o gov­erno em 2009 e, prin­ci­pal­mente, depois de reeleita para o quadriênio 20112014.

O velho Sar­ney dado às coisas da lit­er­atura deve imag­i­nar que assim como a briga por causa de uma mul­her destruiu Tróia, tam­bém a briga por uma mul­her provo­cou a destru­ição de todo seu grupo, de todo o seu poder no Maran­hão – e não esta­mos falando de Helena.

Assim como no caso do grupo Sar­ney, o fim do “comu­nismo” no Maran­hão se dará a par­tir de uma rup­tura interna do grupo.

A difer­ença em relação ao grupo ante­rior é que isso ocor­rerá bem mais cedo.

Já nesta próx­ima eleição (2020) ter­e­mos o “desenho” da futura com­posição de forças, den­tro do grupo comu­nista, para o “cisma” que ocor­rerá de forma defin­i­tiva em 2022. Isso é inevitável.

Mesmo no mundo ani­mal, nunca vi um cão que está com o osso na boca o ceder para o outro. Eles brigarão até que o mais forte, fique com o osso para si. Sem con­tar que os cães são ter­ri­to­ri­al­is­tas.

Como demon­strado acima, não há uma oposição orgânica capaz de rep­re­sen­tar qual­quer risco ao gov­erno.

O grupo Sar­ney (ou o que sobrou dele) não rep­re­senta mais qual­quer risco eleitoral poten­cial, emb­ora os gov­ernistas ainda achem que se choveu ou se fez sol a culpa é do Sarney.

Uma ter­ceira via, até agora não se mostrou pos­sível, não digo que não suja, talvez alguém de fora da política. Mas, não vemos quadros que mostrem dis­posição para enfrentar essa “guerra”.

Claro que qua­tro anos é um tempo con­sid­erável e pode­ria pos­si­bil­i­tar esse surg­i­mento, como ocor­reu no Rio de Janeiro, Minas Gerais e out­ros esta­dos. Mas quem?

Na quadra atual a única oposição que enx­ergo é a que se forma den­tro do grupo do atual gov­er­nador.

Os fan­tas­mas que per­tur­bam o sono dos gov­ernistas estão mais próx­i­mos do que podem imaginar.

Abdon Mar­inho é advo­gado.