AbdonMarinho - MARKETING ESTRADEIRO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

MAR­KET­ING ESTRADEIRO.

MAR­KET­ING ESTRADEIRO.

Por Abdon Mar­inho.

LI OUTRO dia, em um matutino local – e depois noutras mídias –, que o gov­erno estad­ual divul­gara uma pro­pa­ganda sobre as estradas maran­henses em um jor­nal do Sul do país, no caso, na Folha de São Paulo. Segundo esti­mou o noti­cioso, pro­pa­ganda semel­hante àquela, naquele dia da sem­ana (domingo), cus­taria mais de 500 mil reais, quase 600 mil reais.

Achei um absurdo, uma inver­são de pri­or­i­dades. Qual o obje­tivo de uma pro­pa­ganda nacional sobre “estrad­in­has” no inte­rior do Maranhão?

Não vejo sen­tido que se gaste numa sim­ples pro­pa­ganda de um dia o valor de uma escola-​polo, com seis ou oito salas de aulas, bib­lioteca, lab­o­ratório, refeitório, área de lazer, coz­inha, ban­heiros, sec­re­taria, dire­to­ria, e tudo mais.

Em um dos municí­pios onde tra­bal­hei, com o valor suposta­mente gasto na pro­pa­ganda de um dia, veic­u­lada na Folha de São Paulo, segundo a matéria, con­struíram uma escola nas condições acima descritas.

Aquela gestão chegou a con­struir seis, elim­i­nando perto de cem escol­in­has de chão batido.

Em sendo ver­dadeira a notí­cia, o gov­erno estad­ual, na minha opinião, fez um pés­simo negó­cio. Na ver­dade, o con­tribuinte maran­hense, que é quem paga a conta, fez um pés­simo negó­cio.

Esse mar­ket­ing ruinoso, na ver­dade, depõe, inclu­sive, con­tra as autori­dades do estado, caso, lhes ten­ham ocor­rido a intenção de auferir alguma van­tagem político-​eleitoral com a tal pro­pa­ganda.

A peça pub­lic­itária mostra um suposto engen­heiro, em primeiro plano, com uma sin­gela estrad­inha ao fundo, pista sim­ples, sem acosta­mento e que, se olhar­mos dire­it­inho, é capaz de ver­i­fi­car­mos o asfalto quase trans­par­ente.

Na pub­li­ci­dade há a infor­mação de que estão con­stru­indo 06 (seis) novas estradas (no padrão da que con­sta da pro­pa­ganda?), que já fiz­eram 3 mil km de asfal­ta­mento e que o inves­ti­mento nisso tudo foi de 2 bil­hões de reais.

O mote ainda tem o con­vite: venha crescer com a gente.

Ao ver a peça pub­lic­itária, examina-​la nos seus detal­hes, con­fesso que senti uma certa, como se diz, “ver­gonha alheia”.

Quer dizer que o grande Maran­hão que estão vendendo Brasil afora, a “peso de ouro”, como se dizia antiga­mente, é esse, da estrad­inha acan­hada, quase transparente?

Quer dizer que o Maran­hão investiu 2 bil­hões neste tipo de infraestru­tura?

Este é o “pro­gresso” que querem ofer­e­cer ao Brasil?

Fiquei tão acan­hado com a pro­pa­ganda que nem ia falar disso. Pen­sei que tinha sido ape­nas um ato falho momen­tâ­neo e que o “com­er­cial” tinha saído uni­ca­mente naquela edição da Folha de São Paulo e que a ver­gonha já seria a notí­cia de enro­lar peixe na feira do dia seguinte.

Ledo engano. Pas­sa­dos mais de duas sem­anas, vejo o mesmo com­er­cial noutras mídias nacionais, sabe-​se lá a que custo.

Trata-​se de um mar­ket­ing estradeiro – não ape­nas por se referir às “estrad­in­has”, mas no sen­tido fig­u­rado, de adje­tivo e sub­stan­tivo mas­culino –, ainda mais quando o Maran­hão inteiro e até parte do Brasil, assiste as tais estradas, a infraestru­tura para atrair os investi­dores para o estado se “dis­solverem”.

Pois é, para nossa ver­gonha e con­strang­i­mento, as estradas do Maran­hão estão se dis­sol­vendo neste inverno.

Esta­mos des­mentindo ensi­na­men­tos que remon­tam os tem­pos bíbli­cos: que água e óleo não se misturam.

Pois é, por aqui, a água “dis­solve” o óleo do asfalto.

Vejam, ainda que se tente colo­car a culpa no rigor do inverno, sabe­mos que isso não é ver­dade. Claro que as chu­vas con­tribuíram com o caos, mas não foi deter­mi­nante. Na real­i­dade, como já cansamos de falar e escr­ever, as inter­venções efe­t­u­adas nas rodovias deixaram e deixam muito a desejar.

O próprio gov­er­nador prom­e­teu há mais de dois anos reca­pear toda rodovia entre o Cujupe e Gov­er­nador Nunes Freire (MA 106). Acho que não chegou a cidade de Pin­heiro, e mesmo a parte que fez não aguen­tou um inverno.

Quando da real­iza­ção da obra alertei, aqui mesmo que isso acon­te­ceria, que obra estava sendo mal feita. Desde então con­stato isso.

Outra que alertei foi o tre­cho de Quatro-​Bocas a Caru­ta­pera (MA 206), e de Caru­ta­pera a Cân­dido Mendes (MA 101). Desde que o gov­er­nador assumiu que fazem palia­tivos nes­tas duas rodovias e sem­pre aler­ta­mos para a má qual­i­dade dos serviços exe­cu­ta­dos.

Por estes dias, o que estava ruim, piorou e aque­les municí­pios ficaram iso­la­dos, con­forme apelou por uma solução ime­di­ata o prefeito de Luís Domingues, em vídeo que cir­cu­lou na inter­net.

A obra entre os municí­pios de Bom Jardim e São João do Caru (MA 318), teve a “inau­gu­ração” da ordem de serviço pelo então secretário de infraestru­tura do gov­erno pas­sado, antes do período vedado pela lei eleitoral do ano de 2014, até agora, seis anos depois, não deram conta de ter­mi­nar, não é uma obra extra­ordinária, é uma estrad­inha, como a que aparece no com­er­cial. Não deram conta, fotografias e vídeos que cir­cu­lam nas redes soci­ais mostram que até os nos­sos valentes jumen­tos estão atolando naquela e noutras vias estad­u­ais.

E, con­forme anun­cia o mesmo com­er­cial, inve­sti­ram (ou estão investindo) dois bil­hões para infraestru­tura, o que faltou?

Do norte ao sul do estado nos chegam noti­cias de vias cor­tadas, estrada destruí­das, ou que, sim­ples­mente, se dis­solveram neste inverno.

Merece destaque, pelo inusi­tado, a rodovia feita, em parce­ria com um empresa pri­vada, entre os municí­pios de Bar­reir­in­has e Paulino Neves (MA 315), inau­gu­rada com pom­pas e cir­cun­stân­cias pelo próprio gov­er­nador, menos de três meses da inau­gu­ração, dissolveu-​se.

Neste caso, a respon­s­abil­i­dade deve ser com­par­til­hada com a empresa, mas isso não diminui a par­tic­i­pação do estado no episó­dio.

Pelo plano rodoviário do estado, que deve ser do con­hec­i­mento das autori­dades do setor, a estrada pri­or­itária dev­e­ria sair Bar­reir­in­has pelo Povoado Barro Duro (MA 402) e de lá fazer a lig­ação para Paulino Neves via Tutóia, até ligar-​se à MA 346, na divisa do Piauí.

Se seguis­sem o plano rodoviário pode­riam, inclu­sive, aproveitar as pontes que já foram feitas ante­ri­or­mente.

Com a des­culpa de que se trataria de um Estrada ecológ­ica, preferi­ram aprovar a real­iza­ção da obra nos lim­ites do Par­que dos Lençois, desafiando um ecos­sis­tema frag­ilís­simo. Deu no que deu.

Mas nada parece abalar a con­fi­ança dos “ilu­mi­na­dos” que dirigem o estado e, enquanto o gov­er­nador do estado ven­dia no estrangeiro a “ver­dadeira rev­olução” que o seu gov­erno opera – caso inédito na história do comu­nismo mundial –, em uma das mais pres­ti­giadas uni­ver­si­dades do mundo, Har­vard, na cidade de Cam­bridge, estado de Mass­a­chu­setts, EUA, no Maran­hão de ver­dade, numa ambulân­cia ato­lada em uma estrada nos rincões do estado, que, pela notí­cia acred­ito ser a MA 326, uma mãe “per­dia”, no parto pre­maturo e impro­visado, dois fil­hos gêmeos.

Ah, aquele ceguinho que sem­anal­mente faz a linha For­t­aleza — Belém, já está iden­ti­f­i­cando com mais facil­i­dade quando entra e quando sai do Maran­hão.

Abdon Mar­inho é advo­gado.