AbdonMarinho - BOLSONARO E A NOVA DEMOCRACIA POSSÍVEL.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BOL­SONARO E A NOVA DEMOC­RA­CIA POSSÍVEL.

BOLSONARO E A NOVA DEMOC­RA­CIA POS­SÍVEL.

Por Abdon Marinho.

— O DOUTOR vê brecha pra dá certo?

Assim um querido amigo petista – daque­les que, se não são capazes de cor­tar o ded­inho como o líder da seita, não pen­sam duas vezes em fazer uma tat­u­agem em hom­e­nagem ao con­de­nado que cumpre pena por cor­rupção em Curitiba –, após rev­e­lar todo o seu pes­simismo e dizer não acred­i­tar que o futuro gov­erno dê certo.

Disse-​lhe que respon­de­ria por escrito.

Con­forme externei noutra opor­tu­nidade, minha man­i­fes­tação política no segundo turno das eleições pres­i­den­ci­ais foi pela abstenção.

Emb­ora vis­ceral­mente con­trário que se cedesse à chan­tagem do petismo que, ao meu sen­tir, teve grande importân­cia na eleição do novo pres­i­dente, por outro lado, minha for­mação e, sobre­tudo, princí­pios, não me per­mi­ti­ram que sufra­gasse o voto no opos­i­tor, não tinha como votar em alguém que já pro­feriu tan­tas enormi­dades, den­tre as quais a de dizer-​se defen­sor da tor­tura.

Difer­ente de muitos que ante a iminên­cia da vitória ou após a mesma se con­sol­i­dar, viraram “bol­sonar­is­tas de carteir­inha” e fiéis defen­sores de sua linha de pen­sa­mento (se é que existe algum), acho que ele nem nascendo outra vez seria um estadista à altura do nosso país.

A despeito disso, o sen­hor Bol­sonaro é o coman­dante do Titanic chamado Brasil e, como mem­bro de sua trip­u­lação, tenho o dever de torcer e con­tribuir para que chegue­mos todos sãos e salvos do outro lado da trav­es­sia.

Acred­ito ainda que ninguém dev­e­ria torcer ou se empen­har para que um gov­erno fra­casse.

O fra­casso dos gov­er­nos só trazem infortúnios aque­les mais frágeis e que, por si só não têm condição de defender-​se.

Até aqui, não tenho condições de pro­je­tar sucesso ou fra­casso do futuro gov­erno. Tenho um pro­fundo desprezo por con­teú­dos mes­siâni­cos de gov­er­nantes, acho que ten­tam usar Deus em seus próprios inter­esses e para jus­ti­ficar even­tu­ais fra­cas­sos. Entre­tanto, pelo que ouvi a respeito das medi­das ini­ci­ais (como redução da máquina pública, com­bate à cor­rupção e a vio­lên­cia, respeito à Con­sti­tu­ição), motivam-​me a acred­i­tar que possa ter sucesso.

Não é tam­bém por ter pro­fun­das divergên­cias com o pres­i­dente eleito, que tenha o dire­ito de descon­hecer, inde­pen­dente do resul­tado do gov­erno – o que somente saber­e­mos no futuro –, a sua grande con­tribuição à democ­ra­cia brasileira.

Vejam que iro­nia deli­ciosa, um suposto apren­diz de dita­dor dando uma grande con­tribuição à democracia.

A eleição do sen­hor Bol­sonaro foi inédita na história repub­li­cana e pode servir de inspi­ração para uma pro­funda trans­for­mação no mod­elo de fazer política e par­tic­i­pação popular.

Se nos despir­mos dos pre­con­ceitos perce­ber­e­mos que, pela primeira vez na história do país um pres­i­dente foi eleito sem o con­sór­cio do “pacto da elites”; sem está calçado nos con­chavos de Brasília; sem as estru­turas cor­rup­tas de máquinas par­tidárias; sem a influên­cia dos grandes con­glom­er­a­dos de comu­ni­cação ou do pode­rio econômico.

Pela primeira vez, temos um pres­i­dente eleito con­tando com a par­tic­i­pação pop­u­lar, que fez e finan­ciou sua cam­panha. E esta con­sumiu, em recur­sos finan­ceiros menos de dois mil­hões de reais, enquanto a do seu con­cor­rente direto gas­tou mais de trinta mil­hões e a pres­i­dente ante­rior, ofi­cial­mente, mais de trezen­tos mil­hões de reais – mas, segundo o sen­hor Antônio Palocci, o gasto real foi de um bil­hão e meio.

Um detalhe a mais, quase 90% (noventa por cento) dos recur­sos vieram da con­tribuição direta dos eleitores.

Na cam­panha do adver­sário direto, com seus mais trinta mil­hões, os recur­sos uti­liza­dos vieram dos cofres públi­cos: fundo par­tidário e fundo especial.

Trata-​se de fato de algo extra­ordinário – fico imag­i­nando se ele não tivesse tan­tos “senões” –, um pres­i­dente livre, final­mente, de tan­tas amar­ras, com­pro­mis­sos e inter­fer­ên­cias que levaram o país à beira do colapso.

A cegueira dos pre­con­ceitos ou dos inter­esses próprios não nos pode pri­var de enx­er­gar isso.

O que se viu com a eleição do sen­hor Bol­sonaro foi algo que nos remete ao ini­cio da rede­moc­ra­ti­za­ção do país – e, em escala infini­ta­mente menor –, com a eleição de alguns poucos dep­uta­dos eleitos por conta de sua história de lutas e por rep­re­sen­tar alguma coisa.

No Maran­hão foi o que vimos com a eleição de Juarez Medeiros e Con­ceição Andrade, como dep­uta­dos estad­u­ais e José Car­los Sabóia como dep­utado fed­eral. Eleitos graças ao apoio direto e finan­ceira de seus eleitores em 1986; o feito foi repetido, ainda, com Juarez Medeiros, Zé Costa, Luís Vila Nova, Domin­gos Dutra, Bened­ito Coroba, José Car­los Sabóia e out­ros poucos, em 1990.

A par­tir da eleição seguinte, à medida que caia o nível dos par­la­men­tos e aumen­tava a influên­cia do pode­rio econômico nas eleições.

Arrisco dizer que a grande maio­ria dos mandatos, senão todos, inclu­sive dos que assumirão em 1º de janeiro, foram “com­pra­dos”, uma ou outra exceção, ape­nas para jus­ti­ficar a regra. Diari­a­mente nos chegam noti­cias do quanto gas­tou os nos­sos “campeões de votos”, muitos deles, ver­dadeiras fortunas.

O que a cam­panha do sen­hor Bol­sonaro gas­tou é o que gasta, por exem­plo, um can­didato a vereador na cap­i­tal do Maran­hão (ou da região met­ro­pol­i­tana) ou um can­didato a prefeito de um municí­pio pequeno (dos menores mesmo). O resto é tudo na casa dos mil­hões, muitos mil­hões.

O que a eleição do sen­hor Bol­sonaro mostrou e res­ga­tou – e por isso deve­mos saudar como uma grande con­tribuição à democ­ra­cia –, é que as cam­pan­has políti­cas podem (e devem) ser difer­entes do que vem se fazendo até o pre­sente momento.

Mostrou que um cidadão sem pode­rio econômico, sem “vender” a alma ao diabo, sem estru­tura par­tidária, sem “com­prar” votos pode ser eleito.

O seu sig­nifi­cado mais emblemático é a devolução do poder ao seu tit­u­lar orig­i­nal: o povo, con­forme manda a Con­sti­tu­ição repub­li­cana.

Esta eleição, perdão por repe­tir, pela primeira vez, deu um sen­tido real ao pará­grafo único do artigo 1º da Con­sti­tu­ição Fed­eral que diz: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de rep­re­sen­tantes eleitos ou dire­ta­mente, nos ter­mos desta Constituição”.

O povo mostrou na eleição do sen­hor Bol­sonaro ser o ver­dadeiro “dono do poder”, fazendo e finan­ciando a sua eleição. Mostrou-​se, assim, o sen­hor do seu destino.

Este mesmo povo que colo­cou o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, no poder, como expressão das con­quis­tas da sociedade, deu um basta, os empurrou para os rincões do império da mis­éria, anti­gos domínios da Arena, que deu sus­ten­tação ao régime mil­i­tar por mais de duas décadas.

E temos aí uma outra iro­nia da história.

Ora, se o povo foi capaz de fazer isso com uma eleição pres­i­den­cial de uma nação-​continente, com quase 150 mil­hões de eleitores, o que impede que faça o mesmo com os futuros prefeitos, como os vereadores, com os próx­i­mos gov­er­nadores, dep­uta­dos e senadores?

Oxalá o povo tome o seu des­tino nas próprias mãos e faça as mel­hores escol­has para o seu futuro e que não tema con­ser­tar os erros que por­ven­tura cometa.

Abdon Mar­inho é advo­gado.