AbdonMarinho - OS HOMENS MAUS SÃO TODOS DE DIREITA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

OS HOMENS MAUS SÃO TODOS DE DIREITA.

OS HOMENS MAUS SÃO TODOS DE DIRE­ITA.

Por Abdon Marinho.

NESTES dias em que se cel­e­bra o cinquentenário da morte de Mar­tin Luther King Júnior, lembrei-​me daquela sua frase: “O que me pre­ocupa não é nem o grito dos cor­rup­tos, dos vio­len­tos, dos des­on­estos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me pre­ocupa é o silên­cio dos bons”.

Vive­mos tem­pos em que a bon­dade tornou-​se monopólio de uns poucos o que nos leva a sen­tir falta dos ver­dadeiros homens bons.

Para estes – homens “bons” da atu­al­i­dade – a bon­dade, o mérito é aquilo que prat­ica um deter­mi­nado segui­mento da polit­ica auto­de­nom­i­nado de “esquerda” enquanto que a mal­dade – toda ela – é o que prat­ica o restante da humanidade a quem chamam de “dire­ita”, “fascis­tas”, “retró­gra­dos”, etc.

Este é um fenô­meno mundial, que no Brasil ganha con­tornos bison­hos, senão vejamos:

Por estes dias a ilha-​prisão do Caribe, Cuba, escol­heu, indi­re­ta­mente, seu ter­ceiro “pres­i­dente”, em quase sessenta anos, 59, para ser pre­ciso e, talvez para comem­o­rar o fato, o novo gov­erno ini­ciou pren­dendo alguns opos­i­tores, os poucos que ainda têm a ousa­dia de dis­cor­darem do régime, desta vez as prisões polit­i­cas se voltaram con­tra o grupo chamado “Damas de Branco”, cole­tivo de mul­heres que protes­tam con­tra as prisões políti­cas de seus mari­dos, fil­hos, parentes…

Com as últi­mas prisões já pas­sam de oitenta o número de pre­sos políti­cos do régime comu­nista.

Estran­hamente, não se ouviu – e não se ouve – uma voz das chamadas “esquer­das”, dos chama­dos int­elec­tu­ais, dos chama­dos defen­sores dos dire­itos humanos, prote­s­tando con­tra estas prisões ou pelos demais pre­sos políti­cos, pre­sos por dis­cor­darem do régime, por exercerem o seu dire­ito de fazer oposição, pre­sos de opinião.

O mesmo com­por­ta­mento, ou seja, o mais abso­luto silên­cio destes gru­pel­hos, ocorre em relação à ditadura venezue­lana, respon­sável pela liq­uidação econômica do país o que já levou, nos últi­mos anos mil­hões de cidadãos a deixarem o país e que, a agudeza da fome, leva os que ainda con­seguem andar, a cruzarem a fron­teira rumo ao Brasil ou à Colôm­bia em busca de algo tão sin­gelo quanto um prato de comida, um medica­mento, um mín­imo de esperança.

Sobre isso o silên­cio dos “homens bons”.

Este é o mesmo silên­cio que se deu – e ainda se dar –, em relação à con­sol­i­dação da ditadura na nação viz­inha, com o encar­ce­ra­mento de opos­i­tores, prisões arbi­trárias, e sem for­mação de culpa, de qual­quer um que ousasse ou ouse dis­cor­dar do régime.

Nos próx­i­mos dias ocor­rerão – con­forme pre­visto – eleições pres­i­den­ci­ais sem a par­tic­i­pação dos opos­i­tores do régime, por estarem pre­sos, proibidos de dis­putarem ou por terem sido pegos de sur­presa com uma eleição mar­cada no tempo e con­forme a con­veniên­cia do apren­diz de dita­dor, Nicolás Maduro.

Pal­mas para a ditadura que para con­sol­i­dar a “rev­olução” mata de fome os cidadãos.

Tudo isso acon­te­cendo e não ouvi­mos os protestos dos nos­sos campeões das liber­dades, dos dire­itos humanos, pelo con­trário, o que ouvi­mos destes são saudações a estes regimes e dita­dores – e aos demais, como fiz­eram recen­te­mente em relação à Cor­eia do Norte.

Faço estas con­sid­er­ações para mostrar o quão con­tra­ditório tem sido o com­por­ta­mento destas pes­soas, destes int­elec­tu­ais, destas forças políti­cas que pregam a liber­dade, que se dizem defen­so­ras dos dire­itos humanos.

E, enquanto silen­ciam sobre tudo isso que nar­rei acima ou tem um com­por­ta­mento de apoio à tais mod­e­los políti­cos, por aqui tratam um cidadão con­de­nado a mais doze anos de cadeia por crimes comuns, tip­i­fi­ca­dos na leg­is­lação penal, cor­rupção e lavagem de din­heiro, como pri­sioneiro político. E vão além para diz­erem que uma eleição sem sua inviável can­di­datura é um “golpe” na democracia.

Afi­nal, que democ­ra­cia é essa mesmo?

Ah, entendi, então acham nor­mal os pri­sioneiros políti­cos de Cuba e da Venezuela, pre­sos de opinião, por dis­cor­darem do régime – e nem fale­mos no bru­tal e inom­inável mod­elo norte-​coreano, onde os opos­i­tores são abati­dos a tiros de can­hão e o poder pas­sar de pai para filho sem con­tes­tação –, mas acham que os crim­i­nosos daqui, apan­hados com a “mão na massa”, na prática de deli­tos diver­sos, são pri­sioneiros políti­cos, é isso?

Não deixa de ser algo estu­pe­fa­ciente, pois estas pes­soas, estes int­elec­tu­ais, estes seg­men­tos, silen­ciam ou defen­dem pub­li­ca­mente mod­e­los clara­mente crim­i­nosos que encar­ce­ram ou matam seus cidadãos pelo “delito de dis­cor­dar”, mas não se con­strangem em protestarem con­tra as prisões de crim­i­nosos comuns no nosso país, pes­soas que foram pre­sas depois de um reg­u­lar processo, com todas as garan­tias do con­tra­ditório e da ampla defesa, pre­vis­tas no orde­na­mento jurídico brasileiro, de todos con­heci­dos.

Será que querem uma leg­is­lação penal só para eles, onde cor­rupção, lavagem de din­heiro, pec­u­lato, traficân­cia de influên­cia não sejam crimes? Ou será que querem uma “imu­nidade para roubar” por serem “homens bons”?

Con­fesso que não entendo estes nos­sos int­elec­tu­ais, estes nos­sos «homens bons», defen­sores dos dire­itos humanos, etc., pois são pes­soas, tidas por inteligentes, int­elec­tu­al­izadas, que não só silen­ciam ou aplau­dem a vio­lên­cia na atu­al­i­dade nos mod­e­los políti­cos referi­dos acima, como, ainda hoje, têm como mod­e­los inspi­radores (com hon­radas exceções), os líderes mais san­guinários da história da humanidade.

Ainda hoje saú­dam Mao Tse Tung, respon­sável pela morte de mil­hões de cidadãos opos­i­tores chi­ne­ses; Josef Stálin, igual­mente respon­sável por out­ros mil­hões de mor­tos na antiga União Soviética e seus satélites; os Cas­tro, respon­sáveis por mil­hares de mortes de cidadãos cubanos e que, até hoje, agora sob novo comando, man­tém pri­sioneiros políti­cos nos seus porões, os últi­mos lev­a­dos à cárcere estes dias.

E, cita­mos estes, ape­nas para ficar­mos entre os mais con­heci­dos no mundo oci­den­tal, que ainda traz, den­tre os ícones inspi­radores desta nossa turma de “homens bons”, o médico rev­olu­cionário argentino, Ernesto ‘Che’ Gue­vara que, pub­li­ca­mente, numa sessão da Assem­bléia Geral das Nações Unidas con­fes­sou a existên­cia dos famosos “paredões” onde eram fuzi­la­dos os opos­i­tores na ilha caribenha dos irmãos Cas­tro. E, con­fes­sou com imensa sat­is­fação, com júbilo. Grande mod­elo para traz­erem escapando em camise­tas ou boinas.

Não con­sigo com­preen­der. Será que estes nos­sos int­elec­tu­ais, defen­sores dos dire­itos humanos, acham razoável defend­erem ou silen­cia­rem diante do arbítrio, dos mor­ticínios, dos assas­si­natos e encar­ce­ra­mento de opos­i­tores políti­cos, pelo “crime de dis­cor­dar”? Será que em nome de uma causa, de um pro­jeto político ou de situ­ações pes­soais, acham nor­mal que as leis do país não se apliquem a deter­mi­na­dos crim­i­nosos?

Desço, por fim, para a real­i­dade maran­hense. Por aqui o mundo político divide-​se politi­ca­mente, há mais de cinquenta anos, entre os ali­a­dos do Sar­ney e seus opos­i­tores.

Assim, para os os nos­sos int­elec­tu­ais, esquerdis­tas, defen­sores dos dire­itos humanos e o que os val­ham, basta se dizer anti-​Sarney para que todos peca­dos, como num passé de mág­ica, desa­pareçam. Cor­rup­tos que começaram a roubar ainda na bar­riga da mãe, se opos­i­tora do ex-​presidente, são anjos de can­dura, isen­tos de quais­quer pecados.

A mandinga serve tam­bém para curar os recém-​convertidos, esteve com Sar­ney a vida toda mas pas­sou, ainda que por con­veniên­cia, a apoiar os novos donatários do poder, para que seus peca­dos sumam. A mudança de lado é um elixir taba­jara da honestidade.

Por estes dias tive­mos dois fatos que con­sid­erei de gravi­dade extrema: um doc­u­mento onde a polí­cia mil­i­tar era ori­en­tada a col­her dados sobre as prefer­ên­cias políti­cas dos cidadãos no inte­rior, iden­ti­f­i­cando aque­las que se opun­ham aos gov­er­nos munic­i­pais e ao gov­erno estad­ual; e, emen­dado nesta notí­cia, a con­fis­são, da parte de um poli­cial mil­i­tar preso por con­tra­bando, de que o secretário de segu­rança do estado em pes­soa teria ten­tado “convencê-​lo” a implicar um dep­utado estad­ual e del­e­ga­dos de polí­cia como envolvi­dos na orga­ni­za­ção crim­i­nosa.

As duas notí­cias que sep­a­rada­mente têm gravi­dade ímpar, quando vem jun­tas, uma engatada na outra, dis­pensa maiores digressões. Sig­nifica o “Ovo da Ser­pente”, o prenún­cio de um estado de arbítrio, digno dos esta­dos crim­i­nosos que já nos refe­r­i­mos ante­ri­or­mente.

Como aceitar como razoável que as prefer­ên­cias políti­cas dos cidadãos sejam mapeadas por quem se encon­tra no poder? Como achar nor­mal que um secretário de segu­rança, que tem nas mãos a del­e­gação para coman­dar as forças poli­ci­ais, respon­sáveis por prisões e inves­ti­gações, par­ticipe de uma trama para implicar inocentes na prática de crimes?

São situ­ações de inimag­ináveis gravi­dades, sem prece­dentes na história recente do país. Pois mesmo a ditadura que durou vinte e um anos, não ousou fazer.

Seus arquivos, os arquivos da ditadura, con­stavam as fichas de opos­i­tores ao régime, mas daque­les da linha de frente, não se tem noti­cia de um mapea­mento de opos­i­tores municí­pio a municí­pio, eleitor a eleitor, como se ten­tou ou se fez por estas bandas.

Não menos grave a ten­ta­tiva de implicar del­e­ga­dos e um dep­utado estad­ual como inte­grantes de uma quadrilha de con­tra­ban­dis­tas, con­forme con­fes­sado pelo poli­cial mil­i­tar preso.

O que se esper­aria diante de fatos tão graves? Ora, que os ditos cidadãos de bem, int­elec­tu­ais, defen­sores dos dire­itos humanos, protes­tassem de forma vee­mente, cobrassem um rig­oroso pro­ced­i­mento inves­ti­gatório por parte das autori­dades.

O que se ouve? Nada. Os “cidadãos de bem”, os int­elec­tu­ais, as enti­dades da sociedade civil ou de dire­itos humanos ou enti­dades sindi­cais e mesmo par­tidos políti­cos, exceto os de oposição, parece-​me que acharam nor­mal, em pleno século vinte um, que tal situ­ação ocorra.

O que se ouve dizer é que o Palá­cio dos Leões – que disse nada ter com a história, que achava um absurdo tais fatos, que se tratava de uma fla­grante ile­gal­i­dade –, tra­balha no sen­tido de impedir uma inves­ti­gação rig­orosa que o caso requer.

Logo os atu­ais deten­tores do poder que dev­e­riam ter todo o inter­esse em provar que nada tiveram com o fato, con­forme dis­seram.

Pois é, igual­mente estranho, que pas­sada uma sem­ana, ninguém tenha fal­ado, do lado das autori­dades, em aber­tura de con­selho de jus­ti­fi­cação para apu­rar a respon­s­abil­i­dade dos ofi­ci­ais, e caso cul­pa­dos, excluí-​los dos quadros da PMMA.

Mais emblemático que isso só mesmo a investida do secretário de segu­rança ao dis­curso do dep­utado estad­ual suposta­mente impli­cado numa quadrilha de con­tra­ban­dis­tas: — o dep­utado é um ven­trílo­quo do «sar­ney­ismo», disse o secretário.

Está certo, os homens maus são todos de dire­itas e, no Maran­hão, ven­trílo­quos e dis­cípu­los de Sar­ney.

Abdon Mar­inho é advo­gado.