AbdonMarinho - A DESGRAÇA DAS OBRAS MAL FEITAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A DES­GRAÇA DAS OBRAS MAL FEITAS.

A DES­GRAÇA DAS OBRAS MAL FEITAS.

A imagem de um ônibus afun­dado em plena rua do bairro COHA­JAP, talvez tenha sido a mais emblemática do primeiro de janeiro do ano que se ini­cia. As tor­ci­das, asses­sores, adver­sários e desafe­tos do prefeito munic­i­pal – e, depois do gov­er­nador — cor­reram para ten­tar tirar seus div­i­den­dos eleitorais.

Em sua defesa, o alcaide, tam­bém através de incon­táveis asses­sores, tra­tou de dizer que a obra não era de sua respon­s­abil­i­dade e sim da con­ces­sionária de águas e esgoto da cap­i­tal, a famosa CAEMA, gerida pelo gov­erno estadual.

A fotografia, ou mel­hor, o fato por trás da mesma, não alivia a respon­s­abil­i­dade de ninguém e vem com­pro­var aquilo que já recla­mamos desde que pas­sei a com­par­til­har min­has ideias com os leitores e ami­gos: a pés­sima qual­i­dade das obras públi­cas agravando-​se a cada dia que passa.

A des­graça das obras mal feitas alastrou-​se pelo país como um rastilho de pólvora. Ainda por por estes dias assis­ti­mos uma ponte que mal com­ple­tara três anos de uso ruir em efeito dominó.

O Maran­hão, que ainda não perdeu o mal hábito de ampliar os defeitos nacionais, faz tempo que não temos a ale­gria de pagar­mos por uma obra durável.

Se fiz­er­mos um lev­an­ta­mento das rodovias estad­u­ais ver­e­mos que quase nen­huma tem durado mais que um inverno. Ao que parece são con­struí­das com o claro propósito de ficarem san­grando o estado através de refor­mas, emen­das e remen­dos, por anos a fio.

Quem cos­tuma via­jar pelo inte­rior do Maran­hão com fre­qüên­cia, como eu, já deve ter encon­trado uma estrada sendo feita e a mesma estrada já apre­sen­tar pon­tos a neces­si­tar de reparos.

Na ver­dade nem pre­cisamos ir ao inte­rior do estado para con­statar tal situ­ação de descal­abro, um sim­ples pas­seio pelas rodovias estad­u­ais que cor­tam a ilha demostram bem isso. Um dos mel­hores exem­p­los é a MA-​203, famosa dupli­cação da Estrada da Raposa no tre­cho do Araçagy. A obra que está cus­tando aos cofres públi­cos a bagatela de R$ 10 mil­hões por quilometro, que começou a ser feita em 2014, antes de ser con­cluída e entregue o asfalto, em quase toda a sua exten­são, começou a ceder, de sorte a não per­mi­tir a pas­sagem simultânea de dois veícu­los largos.

Para com­ple­tar, agora, sabe-​se, que vão refazê-​la na total­i­dade, alargando a pista. O pre­juízo com o que foi feito e não prestou, com a grama que foi plan­tada – e agora está sendo reti­rada –, com as cen­te­nas de postes e rede de elet­ri­ci­dade, decerto ficará com o con­tribuinte, mais uma vez.

Outro fato pitoresco ocor­reu na MA 204, nas prox­im­i­dades do local denom­i­nado Beira-​Rio, Maioba, Paço do Lumiar, ainda em 2014, inven­taram de alargar a pista, fiz­eram o serviço duas vezes, sem sur­tir efeito, numa das vezes antes de entregue já estava todo serviço teve que ser refeito, agora, mais uma vez, terão que refazê-​lo.

Nestes quase vinte anos de ativi­dade profis­sional, raras foram as vezes que não me deparei, quase anual­mente, com obras de reparos nas rodovias estad­u­ais, a MA 014, no tre­cho Pin­heiro — Vitória do Mearim é uma que parece está per­ma­nen­te­mente em obras. Não falta obras, assim como não fal­tam crat­eras. Outra que parece sem­pre pre­cisar de reparos é a MA que liga o Cujupe a Pin­heiro e a Gov­er­nador Nunes Freire. Ape­nas para ficar nas principais.

Na ver­dade, descon­heço alguma rodovia estad­ual que não esteja pre­cisando de reparos, inclu­sive aque­las con­struí­das no calor das eleições de 2014 com o claro propósito de turbinar as can­di­dat­uras oficiais.

Emb­ora os asses­sores e ali­a­dos do prefeito da cap­i­tal ten­ham cor­rido para defendê-​lo com relação ao ocor­rido no COHA­JAP, as obras da prefeitura, como acon­tece, no estado e nos demais municí­pios, pade­cem da mesma des­graça: são mal-​feitas. Não con­sigo esque­cer de uma inter­venção que ten­taram fazer na Avenida dos Holan­deses e que serviria para pas­sar com a tubu­lação des­ti­nada à drenagem da Vila Luizão. Atra­pal­haram o trân­sito por quase um ano e obra, pelo que se sabe, até hoje não foi con­cluída. Naquela ocasião, a exem­plo do que ocor­reu agora, nas primeiras chu­vas tudo que tin­ham feito foi lev­ado pelas águas.

Até as obras de mobil­i­dade, tão impor­tantes e bem-​vindas, apre­sen­tam o asfalto cedendo, às vezes, antes mesmo da inau­gu­ração, um exem­plo claro disso é o que ocor­reu no Anel Viário, na Areinha.

Obras mal feitas, na cidade e no Maran­hão, não casos esporádi­cos, um aci­dente, uma empresa que com má-​fé, agiu assim, infe­liz­mente é uma con­stante. É algo tão nat­ural que ficamos com a impressão que é nor­mal, que as obras devem mesmo serem refeitas todos os anos.

Uma obra rodoviária dev­e­ria ser feita para durar décadas, aqui não chega a durar dois inver­nos, no máx­imo. Nem parece que a engen­haria evoluiu tanto.

Como cheg­amos a este ponto?

As razões são várias, desde a ação dos cor­rup­tos que sugam, vinte, trinta, até sei lá quan­tos por cento, ao sis­temático desmonte da estru­tura de fis­cal­iza­ção do Estado.

Os fis­cais do estado pas­saram – quando muito –, a fis­calizar as obras prontas, sem con­ferir a com­pactação, sem ver­i­ficar a qual­i­dade do mate­r­ial, da base, do asfalto empre­gado, sem con­ferir a espes­sura, se obe­dece as especi­fi­cações téc­ni­cas, se apli­cado na forma e modo próprio, sem acom­pan­har a exe­cução, etc.

Ver­i­fiquem as obras estad­u­ais e época que foram feitas. Ire­mos con­statar que as mais recentes têm menos duração que as mais anti­gas feitas a trinta ou vinte cinco anos. Como se em deter­mi­nado momento, tivessem, delib­er­ada­mente, deci­dido por obras ruins, mal feitas, sug­ado­ras dos recur­sos públicos.

O triste e vex­am­i­toso episó­dio do COHA­JAP – onde a autori­dade estad­ual aparece para dizer que está sendo feito o reparo pela empresa con­tratada –, serve, na ver­dade, como o ateste de que o atual gov­erno não con­seguiu debe­lar os vícios her­da­dos dos gov­er­nos ante­ri­ores, que as obras con­tin­uam a pade­cer da mesma desgraça.

Uma obra feita há menos de um ano – a não ser que tivesse ocor­rido uma tragé­dia –, jamais era para está sofrendo reparos. Se está, é porque foi mal-​feita e porque o estado não cumpriu o seu papel de fis­calizar as eta­pas da obra.

Como foi ates­tada? A base era para ser aquela mesma? O asfalto para para ser daquela espessura?

As autori­dades não podem, sim­ples­mente, diz­erem que «reparos» estão sendo feitos. Faz-​se necessário a punição dos respon­sáveis, inclu­sive da própria empresa – já rein­ci­dente em fazer obras com este tipo de qualidade.

Faz-​se necessário que se des­culpem com a sociedade pela falta de zelo dis­pen­sado aos recur­sos públi­cos e pelos transtornos cau­sa­dos às pes­soas afetadas.

O gov­erno do estado pre­cisa usar o caso como exem­plo e fazer fun­cionar seus depar­ta­men­tos de fis­cal­iza­ção, devol­vendo, assim, a qual­i­dade às obras públicas.

A efe­tiva mudança passa por tratar as obras, os recur­sos públi­cos e a sociedade com respeito.

Abdon Mar­inho é advogado.