AbdonMarinho - SOBRE MENTIRAS, PADRES, GOVERNOS, PRESOS E PRECONCEITOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SOBRE MEN­TI­RAS, PADRES, GOV­ER­NOS, PRE­SOS E PRECONCEITOS.

SOBRE MEN­TI­RAS, PADRES, GOV­ER­NOS, PRE­SOS E PRE­CON­CEITOS.
Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós per­manecerdes na minha palavra, ver­dadeira­mente sereis meus dis­cípu­los; E con­hecereis a ver­dade, e a ver­dade vos libertará.(conforme João 8:31,32).
Em sendo ver­dadeiro o ensi­na­mento, e o é, o Maran­hão jamais será livre. Aqui, tenho por ver­dade, e acerto grande parte das vezes, a média pon­der­ada entre o que dizem os gov­ernistas, os oposi­cionistas e os baju­ladores de ambos os lados. É um começo para ter uma noção do que se passa. Padre António Vieira (16081697) que habitou as ter­ras maran­henses entre os idos de 1652 a 1661, disse, em um dos seus ser­mões mais con­heci­dos, que no Maran­hão até os céus mentem. Quem sou eu para duvi­dar de tão sábios ensi­na­men­tos?
Se já era assim nos tem­pos do sábio padre, o império da men­tira só aumen­tou nos mais trezen­tos e cinquenta anos que se seguiram, agora, muito mais ampli­ada, com os avanços tec­nológi­cos na área da comu­ni­cação.
Iso­lado aqui no sítio, sem acesso à inter­net – fuxiqueira-​mor dos arautos da men­tira – que não presta desde a sexta-​feira última, tomei con­hec­i­mento das várias ver­sões de uma suposta desavença entre um padre local e o gov­er­nador do Maran­hão, este velho e cansado de guerra.
Digo ver­sões, pois até agora não ouvi de fonte isenta o que de fato ocor­reu. Nota ofi­cial do gov­erno diz que o ligeiro mal-​entendido não ofus­cou o brilho do encon­tro, inclu­sive com pose para foto ofi­cial.
Noutra frente enti­dades lig­adas ao padre apon­tam intol­erân­cia do gov­er­nador ao diál­ogo e até indaga se o mesmo estaria a gozar de seu juízo per­feito.
As tor­ci­das e a explo­ração política que fazem do colóquio variam con­forme o inter­esse de cada um.
Os gov­ernistas apon­tam que o padre estaria insat­is­feito porque não recebe mais van­tagem inde­v­ida no com­plexo pri­sional. Uns, mais afoitos na arte da adu­lação, chegam a insin­uar que o padre seria a própria encar­nação do rabudo, partindo para desqual­i­fi­cação pes­soal do sac­er­dote. O que, vamos con­vir, não fica bem. Com quem veste saias não se briga, dizia meu velho pai na sua sabedo­ria de anal­fa­beto ao referir-​se às mul­heres, juízes e padres.
Os oposi­cionistas saíram com a acusação de que gov­er­nador trajara-​se de dita­dor e, se val­endo do poder do cargo, humil­hara o cura, tão somente, porque o mesmo ousara ques­tionar supos­tos avanços no sis­tema pri­sional do atual gov­erno.
Pois bem, depois de todas essas colo­cações, final­mente, ufa, cheg­amos à moti­vação da suposta desavença ocor­rida aos olhos dos próprios, no Palá­cio dos Leões: se houve ou não avanços no setor pri­sional nestes seis meses de gov­erno comu­nista.
O pároco teria argu­men­tado que não, que tudo estaria como dantes, senão pior.
O gov­er­nador teria contra-​argumentado que o seu gov­erno seria respon­sável por sub­stan­ciosas mudanças no setor pri­sional.
Numa dis­cussão civ­i­lizada, imag­ino que as coisas ocor­re­riam assim.
Como cos­tumo fazer uma média pon­der­ada entre os argu­men­tos, na incan­sável busca da ver­dade, acred­ito que ambos este­jam erra­dos.
Advo­gado da área civil, admin­is­tra­tiva, eleitoral e munic­i­pal, cos­tumo pas­sar longe do dire­ito crim­i­nal. Vou além, quando algum cliente me procura uma das primeiras coisas que digo é que não faça nada errado pois não con­tará comigo para ir à del­e­ga­cia ou visitá-​lo na cadeia.
Logo que formei, inven­tei de vis­i­tar um cliente no com­plexo pen­i­ten­ciário de Pedrin­has, fiz isso mais para aten­der ao pedido de um amigo. Aquela visita me con­venceu de vez a não querer advogar no crime. A visita que deu-​se na área que poderíamos chamar de «vip», me vez ver que para ficar ruim, ficar hor­rendo, abaixo da escala de civil­i­dade, ainda teriam que mel­ho­rar muito.
Essa foi a minha impressão. Nunca mais voltei por lá. A visita ocor­reu bem no começo dos anos dois mil, pelos meios de comu­ni­cação, através de cole­gas advo­ga­dos e de out­ras pes­soas, soube que, nestes quinze anos, as coisas pio­raram bas­tante.
Quando digo que ambos estão erra­dos o faço porque sei que nem Jesus Cristo descido do céu, resolve­ria o prob­lema pri­sional do Maran­hão, em seis meses, razão pela qual acho que se houve a cobrança além do que per­mi­tia o diál­ogo civ­i­lizado, o padre a fez sem razão.
Por outro, se a contra-​argumentação se deu, como dizem, de forma gros­seira, o gov­er­nador tam­bém está errado.
O gov­er­nante foi eleito para resolver estes, e tan­tos out­ros prob­le­mas, que asso­lam o Maran­hão. Pre­cisa se habit­uar às críti­cas, pois se agora, são sem razão, ao menos no meu pen­sar, mais para frente elas virão com justeza.
Ao gov­er­nante, numa situ­ação como essa, se não tem como con­tes­tar, caberia pedir paciên­cia e tol­erân­cia e não o con­trário. As situ­ações não são fáceis e a tendên­cia é que piorem muito mais, razão pela qual, cautela, serenidade e humil­dade, são os remé­dios mais efi­cazes.
Um gov­er­nador além de ser o primeiro servi­dor do estado é uma refer­ên­cia pater­nal de todos seus habi­tantes, tan­tos dos que o elegeu, quanto dos que votaram con­tra, por isso mesmo, até as críti­cas que rep­utar imere­ci­das, devem ser respon­di­das com dis­crição e fidal­guia. Jamais de forma gros­seira ou incen­ti­vando os asse­clas ou lacaios a par­tirem para a desqual­i­fi­cação pes­soal e moral dos críti­cos.
A questão prin­ci­pal que foge de todos debates sobre o sis­tema pri­sional diz respeito ao pre­con­ceito.
Os que se dizem de esquerda apon­tam para a sociedade a respon­s­abil­i­dade pela existên­cia de crim­i­nosos, como ela, sociedade, impusesse ao delin­quente sua con­duta. Nesta visão, o crim­i­noso é uma vítima, muitos até defen­dem a impunidade os mais racionais, que paguem pelo crime, que os eduque para que não cometam out­ros crimes.
Os chama­dos, por assim dizer, de dire­ita, enten­dem que os crim­i­nosos, aque­les que come­teram deli­tos não têm qual­quer dire­ito, que os cal­abouços do inferno já estão de bom tamanho.
Estas visões, dis­tor­ci­das, são respon­sáveis pelo fato de sobrarem pre­sos e faltarem vagas no sis­tema, dos pre­sos serem trata­dos como ani­mais ou que prisões ao invés de cumprirem, tam­bém, seu papel edu­cador, devolva estes indi­ví­duos para a sociedade bem piores do que os rece­beu.
Desde que me entendo por gente, acom­panho a vida política do Maran­hão e do Brasil. Nestes anos, que já são muitos, não lem­bro de ter ouvido nen­hum gov­er­nante prom­e­ter con­struir presí­dios. Cemitérios até já os ouvi prom­e­ter, presí­dio, nen­hum. Tam­bém nunca os vi bati­zar estas con­struções com o nome de nen­huma excelên­cia. Bati­zam esco­las, está­dios, ruas, fóruns, praças, avenidas, nen­hum presí­dio.
Ape­nas para ficar no exem­plo do Maran­hão, não existe por essas ban­das nen­hum presí­dio José Sar­ney, Desem­bar­gador Sar­ney, Gov­er­nadora Roseana Sar­ney, Gov­er­nador João Castelo, Gov­er­nador Edi­son Lobão, ape­nas para citar ao que nom­i­nal alguns logradouros públi­cos.
Ora, puro pre­con­ceito.
Os gov­er­nantes e a sociedade, de uma maneira geral, pre­cisam enten­der que o crime, como ensi­nava um bril­hante advo­gado, persegue o homem como sua própria som­bra. Ou seja, sem­pre exi­s­tirão crim­i­nosos, uns, inclu­sive, irrecu­peráveis. Pre­cisamos aceitar isso. Nen­huma sociedade, em tempo algum, erradi­cou a crim­i­nal­i­dade. O máx­imo que con­seguiram foi, depois de sécu­los, uma redução nos seus índices. No Brasil, não é difer­ente.
O Brasil, assim como pre­cisa de políti­cas públi­cas, esco­las, hos­pi­tais, pre­cisa de inves­ti­mento mas­sivo em prisões. Presí­dios que ofer­eçam condições dig­nas para o cumpri­mento das penas e a pos­si­bil­i­dade de recu­per­ação. Não é demais lem­brar que o crim­i­noso foi con­de­nado à prisão não à tor­tura ou ao inferno em vida.
Ao lado do inves­ti­mento em edu­cação, saúde, assistên­cia social, pre­cisamos de leis duras que des­en­co­ra­jem a prat­ica de deli­tos.
Pre­cisamos acabar com a falsa ideia de que o crim­i­noso é vítima, que pre­cisamos reduzir a pop­u­lação carcerária a qual­quer custo. Digo: é prefer­ível ter­mos mais pre­sos a ter­mos mais mortes do lado de fora das cadeias.
Urge romper com o ciclo vicioso. O cidadão comete o crime e não pode ir para cadeia porque não há vaga, se vai, as chances de sair mel­hor é zero, pois a cadeia não ofer­ece chances de recu­per­ação e nem mesmo de punição pelo delito cometido; pre­sos se amon­toando em del­e­ga­cias, reti­rando os poli­ci­ais que dev­e­riam está na inves­ti­gação crim­i­nal para vigiá-​los.
O país e a sociedade são víti­mas de uma dis­cur­seira tola que não resolve o prob­lema e que aumenta a crim­i­nal­i­dade e a inse­gu­rança nas ruas.
Abdon Mar­inho é advogado.