A TAL DA COERÊNCIA… A TAL DA VERGONHA…
- Detalhes
- Criado: Segunda, 04 Maio 2015 22:51
- Escrito por Abdon Marinho
A TAL DA COERÊNCIA… A TAL DA VERGONHA… O Partido Democrático Trabalhista — PDT, teve como presidente, enquanto vivo, Leonel de Moura Brizola, que o fundou quando do seu exílio, na esteira da Lei de Anistia, em meados do ano de 1981. Durante sua vida, de Brizola, podia-se dizer muita coisa, menos que não tinha coerência. Defendia suas ideias com uma veemência admirável, dizia que se mantinha as mesmas ideias era porque as condições do Brasil não mudara, eram as mesmas. Manteve a firmeza dos seus posicionamentos por toda vida, discordando-se dele ou não, nunca vi prosperar contra acusação de incoerência doutrinária ideológica ou acusações de corrupção. Com o perecimento de Brizola, assumiu a direção do partido o Sr. Carlos Lupi, uma espécie de antítese do pensamento brizolista. Em 2011, o Sr. Lupi, em meio a inúmeras denúncias de corrupção envolvendo a pasta que dirigia desde o governo anterior, pediu exoneração do cargo de ministro do trabalho. Isso após a Comissão de Ética Pública da Presidência da República, fazer tal recomendação, até então inédita na história do Brasil. A presidente da República agradeceu os relevantes serviços prestados pelo ex-ministro e assentou que, certamente, continuaria a prestar os mesmos serviços de onde estivesse. No Brasil, onde ninguém questiona ou parece não ligar para nada, não causou estranheza pelo fato do ex-ministro continuar no comando do partido e este (o partido) no comando do Ministério do Trabalho, embora através do representante de outra ala partidária. A ninguém socorreu perguntar, como era possível que o alguém que saíra «na marra» do ministério, em meio a um cipoal de denúncias de corrupção continuasse a dirigir o partido como se nada tivesse acontecido? Menos ainda que esse mesmo partido, continuasse a dirigir o órgão? Na época D. Dilma já pendurara a vassoura da faxina ética e o que era impróprio, corrupção ou bandalheiras de todo tipo, inclusive a merecer investigação pela Polícia Federal, ganhou o singelo apelido de “malfeito”. E como o tempo cura tudo, já ensinavam os mais velhos, os malfeitos foram esquecidos, e a presidente da República achou por bem demitir o ministro que o substituiu e nomear alguém mais ligado ao próprio ex-ministro que saíra após tantas denúncias de «malfeitos». O mesmo que teve a demissão recomendada pela Comissão de Ética da Presidência da República. Faço esse retrospecto porque leio declarações do Sr. Lupi, ex-ministro do trabalho dos governos Lula e Dilma, ambos do Partido dos Trabalhadores — PT, prestadas ao Jornal O Estado de São Paulo, um dos mais antigos e respeitados do Brasil, onde diz: “O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobras. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram”. O grifo é meu. As palavras – sobre as quais bem poucos duvidam da veracidade – são fortes demais para serem proferidas por um presidente de partido que integra a base do governo e do qual participa desde que assumiram o comando do país em 2003. Será que o Sr. Lupi só tomou conhecimento de toda essa corrupção, esse roubo, que acha excessivo, exagerado, agora? Através das noticias de jornais? Será que nunca ouviram os rumores do que acontecia na maior empresa do Brasil, para citar a Petrobras, ou em outros nichos do poder? Será que não acha estranho continuar a integrar um governo em que os mandatários maiores são contumazes ladrões do dinheiro público? Ladrões que perderam a medida do próprio roubo? Não disse que roubaram demais, exageraram? Como não sentem qualquer constrangimento em permanecerem em em tal governo? Que coerência existe em integrar um governo que sabe ser infestados de ladrões exagerados? Como podem compartilhar o poder com gente assim? Talvez para prevenir que os sócios de poder não avancem sobre os recursos dos trabalhadores, como Fundo de Amparo ao Trabalhador — FAT ou outros direitos dos trabalhadores. Seria uma explicação razoavelmente desavergonhada. Não? Mas, se já é assombrosa uma declaração desta natureza, feita por quem as fez, mais assombrosa ainda, é a reação do “partido dos ladrões exagerados”. Abro o site da legenda e não vejo um desmentido, um questionamento sobre as palavras do ex-ministro. Não ousam refutar, não acham nada demais que um ex-ministro diga que o partido roubou demais, exagerou no roubo. Não apareceram nem para dizer que não roubaram demais, apenas um pouco, que não houve o exagero. O mesmo fez o governo. O presidente do partido da base do governo disse que há uma quadrilha incrustada no governo, roubando, dilapidando o patrimônio público. O governo sequer pediu um esclarecimento. Se bem que nada há a esclarecer, as palavras são absurdamente claras. Então ficamos combinados assim: o presidente do PDT, que faz parte do governo, diz que o PT, partido do ex e da atual presidente, roubou demais, exagerou. O PT concorda com as declarações e nada diz. O governo acha que não há nada demais nelas. O PDT continua a fazer parte do governo. Tal situação não causa constrangimento a ninguém. E assim, todos ficaram, exageramente, felizes para sempre. Meu pai costumava dizer que vergonha na cara não ficara para todo mundo. Eu, criança, não entendia muito bem o que essa colocação significava. Vendo o que vejo hoje, as compreendo perfeitamente. Abdon Marinho é advogado.