AbdonMarinho - A CORRUPÇÃO OFICIALIZADA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A COR­RUPÇÃO OFICIALIZADA.

A COR­RUPÇÃO OFICIALIZADA.

Aneste­si­a­dos pelo vol­ume sem­pre cres­cente da cor­rupção no Brasil, poucos se deram conta da gravi­dade que foi a divul­gação – com cinco meses de atraso – do bal­anço da Petro­bras, ocor­rido no último dia 22 abril, por coin­cidên­cia o dia con­sagrado à chegada dos por­tugue­ses por estas ter­ras brasilis.

Depois de muitos anos a maior empresa brasileira reg­istrou um pre­juízo mon­u­men­tal, o que já seria motivo de apreen­são, ainda mais e prin­ci­pal­mente, porque, pela primeira vez na sua história foi esti­mado que, além do pre­juízo cau­sado pela incom­petên­cia – este é o termo. A incom­petên­cia cau­sou um pre­juízo de mais de 20 bil­hões a empresa, decisões moti­vadas pela polit­icagem, sem amparo téc­nico ou pela falta de zelo –, foi apu­rado que a cor­rupção, o sub­orno, a propina, fiz­eram a empresa perder, esti­ma­dos, R$ 6,2 bil­hões de reais.

O dado é ofi­cial, mais de 6 bil­hões escoaram pelo ralo da cor­rupção, din­heiro seu, meu, nosso, que todos os dias pag­amos um pouco da conta ao abaste­cer­mos nos­sos veícu­los, e, prin­ci­pal­mente, dos mil­hares de investi­dores da empresa que con­fi­aram suas econo­mias nas promes­sas dos gov­er­nantes do país diri­gentes da empresa. Din­heiro suado que foi parar na conta de empresários esper­tal­hões e políti­cos des­on­estos. Acred­ito que não exista outro exem­plo, em todo mundo e em toda história, com números tão expressivos.

Números estes, que ape­sar de absur­da­mente superla­tivos, são ques­tion­a­dos por pes­soas serias. Um exem­plo disso são os val­ores investi­dos nas refi­nar­ias pre­mium que con­stam noutra conta, estão jun­tos aos pre­juí­zos com as mes­mas refi­nar­ias e com o setor elétrico, num mon­tante de 7,3 bil­hões de reais. Um engen­heiro a quem con­sul­tei me garan­tiu que uma obra hon­esta não con­sumiria os mais de 2 bil­hões de reais que foram con­sum­i­dos na refi­naria de Bacabeira, ape­nas em ter­ra­plan­agem. Segundo ele, está claro que grande parte do que foi gasto ali, foi drenado para a cor­rupção. Não tenho como duvi­dar de sua análise, mesmo porque, pelo pouco que con­heço de engen­haria sem­pre me pare­ceu um vol­ume de recur­sos demais expres­sivo para limparem e faz­erem a terraplanagem.

Como este, são muitos os exem­p­los, levando-​nos à con­vicção de que já os ver­gonhosos números da cor­rupção na empresa, estão subes­ti­ma­dos, cor­rompi­dos para baixo, por assim dizer. Cor­romperam a corrupção.

Emb­ora a mídia, quase toda sub­sidi­ada pelo gov­erno, com a divul­gação do bal­anço que ofi­cial­i­zou a cor­rupção (como se se tratasse da coisa mais nor­mal do mundo, termo nas planil­has de bal­anços de empre­sas uma rubrica des­ti­nada a cor­rupção), tenha se apres­sado em dizer que que a crise na Petro­bras era uma página virada. Os que nisso creem são tolos, ingên­uos ou querem nos enga­nar. O que já é um mal recomeço.

A Petro­bras, difer­ente do querem fazer crer, está longe de sair do atoleiro. Trata-​se uma empresa das mais endi­vi­dadas do mundo, neste setor, são mais de US$ 100 bil­hões de dólares; a desval­oriza­ção do petróleo, apre­senta um cenário pouco promis­sor, sem con­tar o baratea­mento, cada vez mais pre­sente, de out­ras for­mas de ener­gia, fazendo com que o mundo se torne cada vez mais menos depen­dente do petróleo.

Equivocam-​se ao pen­sarem que a divul­gação do bal­anço rep­re­senta o fim dos prob­le­mas. Emb­ora fosse o certo a fazer diante da cres­cente pressão e do fato de que a empresa brasileira pode­ria ficar impe­dida de con­tin­uar operando nas bol­sas estrangeiras, a divul­gação do bal­anço serve de prova e reforça as ações judi­ci­ais de mil­hares de investi­dores que já ques­tionam na justiça de seus países pedindo reparação, e levará muitos out­ros a seguirem o mesmo caminho.

Se já tin­ham razão para bus­car reparação, agora têm a prova ofi­cial de que sofr­eram pre­juí­zos pela má gestão e, mais grave, pela corrupção.

A busca por reparação não se restringe ape­nas aos investi­dores estrangeiros, muitos brasileiros estão con­scientes que foram engana­dos (rou­ba­dos, seria a mel­hor palavra) já se orga­ni­zam em busca de ressarci­mento dos seus pre­juí­zos. Meu escritório, inclu­sive, já tem min­u­tas e pre­tende ingres­sar nos próx­i­mos dias com ações neste sentido.

Se para o público externo o dis­curso é um, a Petro­bras tem con­sciên­cia de suas difi­cul­dades, tanto é assim que pro­je­tos já em estado avançado de con­clusão como é o caso da refi­naria de Abreu e Lima, em Per­nam­buco e do pólo petro­químico do Rio de Janeiro, foram sus­pen­sos sem data para o reini­cio das obras, e as duas refi­nar­ias pre­mium, no Maran­hão e Ceará, após con­sumirem quase R$ 3 bil­hões de reais, foram sim­ples­mente canceladas.

No caso da refi­naria de Bacabeira, Maran­hão, a Petro­bras já até propôs a devolução do ter­reno ao gov­erno estad­ual. Talvez o gov­erno estad­ual tenha a ideia de abrir incen­tivos para um pólo indus­trial na área.

Nestes son­hos des­feitos, mel­hor sorte tiveram os potiguares, a ter­ceira refi­naria a ser con­struída no Rio Grande do Norte, e que pouco se fala, não chegou a sair do campo das espec­u­lações, não chegando a levar pre­juí­zos aos empresários locais.

O Brasil deste o dia 22 de abril pas­sou para a história como o país a ter uma rubrica nos seus bal­anços ofi­cial­izando a cor­rupção. Tal fato não é motivo só de ver­gonha ou con­strang­i­mento para todos os brasileiros hon­estos, vai além, trata-​se um vex­ame nunca antes exper­i­men­tado pelo país, uma nódoa que pas­samos a car­regar por muitos anos.

Não que ignorásse­mos a cor­rupção, um olhar mais acu­rado sabe que ela é maior do que o foi doc­u­men­tado até aqui e que se ram­i­fica por diver­sas out­ras empre­sas e órgãos gov­er­na­men­tais, mas pela primeira vez foi quan­tifi­cada – ainda que ques­tion­ada no seu vol­ume –, ofi­cial­izada em um balanço.

Um con­strangido pedido de des­cul­pas do pres­i­dente da empresa (que não tem culpa, posto que assumiu agora), não é sufi­ciente. O país exige que os cul­pa­dos por esse vex­ame, todos eles, não saiam impunes do episó­dio, que tudo seja apu­rado, todos os cul­pa­dos punidos sev­era­mente e todo o pro­duto do roubo devolvido aos cofres da empresa, aos cofres públi­cos e aos bol­sos dos mil­hares de acionistas.

O Brasil pre­cisa tirar uma lição deste vex­ame, não podemos, sim­ples­mente, nos con­for­mar com a falsa ideia que página foi virada. Não, não foi virada. Só será quando todos os envolvi­dos pagarem pelo vex­ame e a humil­hação que passa os cidadãos de bem deste país diante dos olhos das demais nações.

Abdon Mar­inho é advogado.