AbdonMarinho - ESTARIA EM CURSO A QUARTA MORTE DE JACKSON LAGO?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 21 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ESTARIA EM CURSO A QUARTA MORTE DE JACK­SON LAGO?

ESTARIA EM CURSO A QUARTA MORTE DE JACK­SON LAGO?

Antes de deixar este plano de existên­cia o ex-​governador Jack­son Lago teve duas mortes. A primeira foi a artic­u­lação des­en­cadeada pelos poderosos da República que lhe apeou do cargo de gov­er­nador dois anos após sua eleição. A segunda morte foi o processo eleitoral de 2010, em que muitos com que pen­sava con­tar e que se servi­ram do seu curto gov­erno lhe abandonaram.

Em ambas as mortes pre­de­ces­sora da morte física ele con­tou com o seu par­tido. Salvo umas defecções aqui e ali seus com­pan­heiros de cam­in­hada estiveram com ele. Quando lhe sobreveio o morte física, que muitos dizem ter sido abre­vi­ada por conta das duas mortes ante­ri­ores, o seu par­tido não aceitou o funeral de Estado que pro­puseram os adver­sários, preferindo velar-​lhe o corpo na histórica sede do par­tido na Rua dos Afo­ga­dos, 408, no Cen­tro de São Luís, ape­sar de todo descon­forto que cau­sa­dos aos mil­hares de ami­gos, cor­re­li­gionários e mil­i­tantes que dese­javam dar-​lhe o último adeus.

Faço esse breve ret­ro­specto ape­nas para dizer que muito me custa acred­i­tar que esteja em curso a quarta morte do velho líder e fun­dador nacional do partido.

Outro dia li numa matéria do jor­nal­ista Roberto Kenard de que o PDT de Jack­son e Brizola estaria cam­in­hando para um apoio ao senador Edi­son Lobão Filho ao gov­erno do Maran­hão. Trata-​se de uma infor­mação rel­e­vante, prin­ci­pal­mente por que divul­gada em primeira mão e com riqueza de ele­men­tos por um jor­nal­ista sério e não por um dos tan­tos aven­tureiros que ape­nas con­hecem as vogais e escrevem o que lhe man­dam, mas sim de alguém que tem apreço pela notí­cia e pela ver­dade dos fatos.

A mesma noti­cia foi con­fir­mada pelo próprio senador-​candidato em reunião com diver­sos par­tidos, segundo noti­ciou uma emis­sora de rádio. A vaga de can­didato a vice-​governador ofer­e­cida ini­cial­mente ao Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, seria a moeda de troca, assim como a indi­cação do dep­utado do PDT do Maran­hão para a vice-​liderança do gov­erno fed­eral. O pré-​candidato informa, ainda segundo a emis­sora, que a artic­u­lação para atrair os tra­bal­his­tas para o seu arco de aliança envolve­ria a cúpula dos par­tidos a nível nacional. Ele não disse, mais não tem como escapar a con­clusão, que essa artic­u­lação envolve­ria tam­bém a cúpula do PT, tendo sido esta a real razão de desi­s­tirem da vaga de vice, numa arru­mação que pegou de sur­presa até a direção estad­ual do par­tido que um dia antes, com festa e fan­farra, escol­hera seu can­didato, para con­cor­rer como vice-​governador.

Assim como as cúpu­las par­tidárias (Leia-​se: Sar­ney e Lula), decidi­ram mover céus e ter­ras pela cas­sação de Jack­son Lago – e fiz­eram isso desde o primeiro dia de mandato, criando toda sorte de obstácu­los e fac­tódes na mídia, insu­flando e colo­cando todos con­tra o seu gov­erno –, mais uma vez essas cúpu­las, acrescida agora da cúpula do PDT se unem para ten­tar, a rev­elia do povo, decidi­rem os des­ti­nos do Maran­hão. Para essas cúpu­las par­tidárias o povo e seus sen­ti­men­tos são ape­nas detalhes.

Assim como, para qual­quer um, pare­cia uma ousa­dia sem tamanho a apre­sen­tação do senador Lobão Filho como can­didato à sucessão, do mesmo modo, parece um despropósito ver­mos no palanque do can­didato do PMDB as lid­er­anças do PDT do estado. Sig­nifica dizer que a política brasileira atingiu o mais baixo está­gio de decadên­cia, onde em nome de con­veniên­cias momen­tâneas e inter­esses sub­al­ter­nos tudo pode acon­te­cer, todo tipo de acordo e aliança é aceitável.

Numa ótica cidadã, não tem como se con­ce­ber que aque­las pes­soas que estavam, não faz muito tempo, acam­pa­dos às por­tas do Palá­cio dos Leões em resistên­cia pelo mandato do líder ameaçado, este­jam hoje cog­i­tando ren­der hom­e­na­gens aque­les que estavam na posição de algo­zes. Aque­les que prom­e­teram dar o sangue con­tra o que chamavam de vio­lên­cia, ven­ham pedir votos jun­tos e irmana­dos em um só propósito. Então a “bal­a­iada” fora de época era só encenação?

Os mais descara­dos dirão que o próprio Jack­son Lago con­frat­er­ni­zou com o grupo Sar­ney em 2000. É ver­dade, acon­tece que a situ­ação após abril de 2009 é total­mente difer­ente. A par­tir da eleição de 2006 tive­mos uma cam­panha insidiosa e cruel con­tra Jack­son Lago e con­tra seu gov­erno, estes opos­i­tores não deram-​lhe um momento sequer de trégua. Pode-​se até dis­cu­tir se foram jus­tas ou injus­tas, as cam­pan­has e os ataques, qual­quer outro par­tido até pode apoiar este ou aquele can­didato do PMDB – aqui sequer se dis­cute o mérito dos can­didatos, se A é mel­hor que B ou vice-​versa –, jamais este cujo pas­sado torna ina­ceitável essa união. Caso a mesma venha ocor­rer, necessário que se cobre uma posição do par­tido, uma autocrítica pública, recon­hecendo que estiveram esses anos todos erra­dos e que, inclu­sive, a cas­sação, chamada de golpe judi­ciário, ao menos na ótica do par­tido, foi um ato de per­feita justiça.

Não há como aceitar que se faça difer­ente. Não pode sim­ples­mente as cúpu­las par­tidárias decidi­rem, como se aparta gado que se diga, quem fica com quem, sem se impor­tar com o pas­sado, com o pre­sente ou com futuro.

O caráter nacional dos par­tidos políti­cos, emb­ora impos­tos legal­mente as instân­cias infe­ri­ores, não des­o­briga que recon­heçam as pecu­liari­dades de cada local. No caso pre­sente não vejo como o diretório estad­ual, seus fil­i­a­dos e mil­i­tantes ven­ham aceitar tal imposição pois con­trária não só ao posi­ciona­mento histórico do par­tido como tam­bém seria con­ceder aos algo­zes do mesmo razão a tudo que fizeram.

Após ler a matéria e ouvir a con­fir­mação do senador no rádio per­gun­tei a um amigo, mil­i­tante político e que serviu no gov­erno do PDT o que ele achava de tal aliança. Ele olhou para mim com olhar incré­dulo e per­gun­tou: “Isso, é alguma piada?”

Se nas mortes ante­ri­ores Jack­son Lago teve o apoio dês seus com­pan­heiros e ali­ado, nesta quarta morte seriam eles próprios a empun­har a adaga o liq­uidar mais uma vez. Cos­tumo dizer que eleição, gan­hando ou per­dendo, não serve de esponja para apa­gar o pas­sado de ninguém.

Se parar­mos para anal­isar esses fatos da política maran­hense ficamos com uma certeza: se os bois ainda não começaram a voar sobre as praças das cidades, decerto que não tar­dará a acontecer.

Abdon Mar­inho é advogado.

abdon​mar​inho​.com