AbdonMarinho - O Pará no centro do mundo.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 21 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O Pará no cen­tro do mundo.


O Pará no cen­tro do mundo.

Por Abdon C. Marinho.

EXCETO por um grupo de venu­sianos que desceu ontem à noite na terra não há um ser vivo no plan­eta que con­siga igno­rar a emergên­cia climática que esta­mos atrav­es­sando.

A cada dia, a cada mês, a cada ano os espe­cial­is­tas aponta que foi o mais quente – isso até o seguinte.

Os rios do país agon­i­zam, mor­rem de sede um pouco mais a cada dia que passa enquanto são víti­mas da poluição ou da inclemente destru­ição provo­cada pelo bicho homem.

Em um ano tive­mos as maiores inun­dações na região sul do país e as maiores secas na região norte.

Os chama­dos rios amazôni­cos, segundo os espe­cial­is­tas, estão viven­ciando suas baixas históri­cas, rios que antes pare­ciam mares, min­guaram e em diver­sos lugares já não é pos­sível mais a nave­g­ação ou viraram deser­tos de areia.

Este ano o país exper­i­menta queimadas jamais vis­tas, onde tem veg­e­tação parece que tem fogo, tam­bém, segundo os espe­cial­is­tas, quase todos fru­tos da ação humana, crim­i­nosa ou ape­nas ignorân­cia.

Con­forme já con­fes­sado, o Brasil não está preparado para as tragé­dias climáti­cas, sejam enchentes, sejam as queimadas. Aliás, o Brasil nunca se preparou para nada: a poluição é desen­f­reada, o des­mata­mento sem lim­ites, a “gri­lagem” de ter­ras, a explo­ração ile­gal de garim­pos em rios e flo­restas, o mas­sacre dos povos orig­inários.

Mesmo diante de tudo isso que vive­mos, o que mais temos no Con­gresso Nacional são par­la­mentares defend­endo mais destru­ição, mais froux­idão nas leis, mais explo­ração des­or­de­nada dos recur­sos nat­u­rais.

A ganân­cia jun­ta­mente com a ignorân­cia fazem com que matem o que “tín­hamos” de mais valioso – sim, o Brasil é um país que “corre (ou dev­e­ria cor­rer) atrás do pre­juízo” para ten­tar mino­rar as con­se­quên­cias de anos e anos de leniên­cia com o meio ambi­ente.

Ainda não sei se se deram conta mas as pre­visões trág­i­cas que faziam sobre o que viria a acon­te­cer daqui a cem ou duzen­tos anos estão acon­te­cendo agora.

O futuro chegou – e ele não se mostra nada agradável.

A real­i­dade que vive­mos no Brasil – que até bem pouco tempo con­tabi­lizava como tragé­dia ape­nas a nossa classe política, não tín­hamos tor­na­dos ou furacões, não tín­hamos secas tão sev­eras ou enchentes tão fortes –, já era uma tônica de diver­sos out­ros países.

O mundo inteiro vive em sus­pense e sob a égide do medo.

Enquanto fazem guer­ras estúp­i­das ou mas­sacres insanos dev­e­riam estar bus­cando alter­na­ti­vas para sal­varem o plan­eta. Ainda não temos um plan­eta B. Logo mais, nada das coisas pelas quais ceifam tan­tas vidas inocentes, pelas quais se destroem tanto mutu­a­mente fará qual­quer sen­tido.

Esse logo mais, não se ref­ere a sécu­los ou mil­hares de anos, já podemos falar em meses, anos, no máx­imo décadas.

É nesse cenário pes­simista e des­o­lador que coloco o Estado do Pará, Brasil, no cen­tro do mundo. Não é o Brasil, é um estado da fed­er­ação.

Quando faço isso, voltando ao tema do texto, tenho por norte duas questões cruciais:

A primeira, ano que vem, prati­ca­mente daqui a um ano, em Belém do Pará, será real­izada a COP30, a Con­fer­ên­cia da ONU para o Clima. Essa reunião, acred­ito será a última opor­tu­nidade dos países enten­derem que a luta que pre­cisa ser travada é pela sal­vação do plan­eta e da vida nele exis­tente.

Diante do fra­casso da humanidade é certo que essa con­fer­ên­cia será a mais impor­tante de todas já feitas até hoje e será a última com chances das decisões tomadas faz­erem a difer­ença entre a vida ou morte do plan­eta.

A próx­ima COP, se mais essa fra­cas­sar, não creio que tenha mais algum sen­tido.

A segunda razão pela qual coloco o Pará no cen­tro mundo é pelo fato, ainda den­tro do con­texto da emergên­cia climática que vive­mos, aquele estado ter cel­e­brado acordo na ordem de 180 mil­hões de dólares com a Coal­izão LEAF para apoiar os seus esforços para a redução do des­mata­mento.

Esta­mos falando de quase um bil­hão de reais a serem investi­dos naquele estado no sen­tido de reduzir o des­mata­mento. São recur­sos para serem investi­dos em apoio aos povos orig­inários, ao desen­volvi­mento econômico sem des­mata­mento, em edu­cação, em saúde dos povos, em preser­vação de nascentes e recu­per­ação de rios, etc, – nem sei se é essa a des­ti­nação dos recur­sos, imag­ino que sim.

O mais impor­tante de tudo é que esse é ape­nas um “primeiro acordo”. Out­ros acor­dos com out­ros países ou gru­pos econômi­cos ren­dendo out­ros bil­hões cer­ta­mente virão – se hou­ver uma con­sci­en­ti­za­ção do que efe­ti­va­mente se trata –, para o estado e para os demais esta­dos amazôni­cos, a par­tir do Maran­hão, até além dos lim­ites das fron­teiras do Brasil.

Trata-​se um gesto sig­ni­fica­tivo e con­creto para a “sal­vação” da flo­resta amazônica – e que poderá servir de mod­elo para os demais bio­mas.

Entre­tanto, é bom que saibamos, que para tal acordo renda para o clima o que esper­amos que renda, e, por con­se­quên­cia, out­ros acor­dos sejam feitos, faz-​se necessário que ten­hamos resul­ta­dos pos­i­tivos.

O Estado do Pará, assim como os demais esta­dos brasileiros, pos­sui enormes desafios, a serem ven­ci­dos em diver­sos setores, ape­sar disso, ao que nos parece, tem bus­cado e sabido aproveitar as opor­tu­nidades que tem surgido.

Agora mesmo encontra-​se diante de um grande desafio e de uma extra­ordinária opor­tu­nidade.

Nesse sen­tido o Estado do Pará se coloca no cen­tro do mundo, seja pela COP30, seja por esse primeiro acordo, como o grande pro­tag­o­nista do que se espera de pos­i­tivo para o futuro do plan­eta e da vida.

Trata-​se de uma baita responsabilidade.

Trata-​se da maior de todas as respon­s­abil­i­dades.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.