AbdonMarinho - 202 anos da Independência - Reflexão sobre soberania, patriotismo …
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 21 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

202 anos da Inde­pendên­cia — Reflexão sobre sobera­nia, patriotismo …


202 ANOS DA INDE­PENDÊN­CIAREFLEXÃO SOBRE SOBERA­NIA, PATRIOTISMO

Por Abdon C. Marinho.

QUANDO ainda era menino aprendi aquela frase de Karl Marx que dizia: “a história se repete, a primeira vez como tragé­dia, a segunda vez como farsa”. Nunca con­cordei inteira­mente com ela, exceto na parte em que a história se repete. Muitas vezes como tragé­dia, muitas vezes como farsa. De certo é que, parece-​me, nunca con­seguimos apren­der nada.

Em diver­sas partes do mundo esta­mos tendo a opor­tu­nidade de assi­s­tir­mos a história se repe­tir, as tragé­dias se desen­volverem.

Os mais anti­gos ou mesmo aque­les que em alguma fase da vida tiveram a opor­tu­nidade de pas­sar perto de um livro de história devem saber o sig­nifi­cado da expressão “república de bananas”, muito em voga na primeira e na segunda metade do século pas­sado. Se não, uma dica, eram aque­les países que, a despeito de serem con­sid­er­a­dos sober­a­nos, out­ras nações ou mesmo cor­po­rações exer­ciam mais poderes sobre os assun­tos estatais que os cidadãos e/​ou gov­er­nos locais.

Era comum grandes empre­sas do setor de infraestru­tura, de ener­gia ou min­er­ação, etcetera, se jul­gassem acima das leis locais, as igno­rassem ou dissessem “as leis”.

Como muitas dessas nações tin­ham como ponto forte da sua econo­mia a pro­dução de bananas, essas nações acabaram por serem apel­i­dadas de “república de bananas” ou “república bananeira”.

Pois bem, não faz muito tempo, por ocasião das cel­e­brações do 202º aniver­sário da Inde­pendên­cia do Brasil, teste­munhei alguns fatos que fiz­eram repen­sar repen­sar sobre a antiquís­sima frase.

Imag­inem que vi (e ouvi) um dep­utado fed­eral, um rep­re­sen­tante do povo fazer um pro­nun­ci­a­mento no dia da Pátria em que começava por “agrade­cer” a empresário, um megaem­presário, por este afrontar a sobera­nia nacional.

Fiquei pen­sando se não está­va­mos diante da repetição da história como farsa ou como tragé­dia.

O mais curioso disso tudo é que o dito par­la­men­tar e out­ros próceres do mesmo evento se dizem patri­o­tas, con­ser­vadores, defen­sores da liber­dade, da pátria, da família, dos bons cos­tumes, etcetera e tal.

E lá estavam eles “que­brando lanças” numa espé­cie de Cruzada por alguém, um megaem­presário “ianque”, como se dizia out­rora, que escu­d­ado no seu pode­rio econômico “se acha” e se coloca acima das leis do Brasil.

Vejam, esta­mos diante de um campeão das liber­dades civis? Um Man­dela? Um Gandhi? Um Mar­tin Luther King?

Não. Se assim o fosse teríamos esse mesmo cidadão fazendo o que tenta fazer no Brasil em out­ras nações onde man­tém negó­cios “brig­ando” pelas liber­dades indi­vid­u­ais daque­les povos ver­dadeira­mente oprim­i­dos.

Vemos isso? Não. Na Índia, na China, na Turquia e em tan­tos out­ros países, se man­tém cor­dado e servil. Talvez porque tais países pos­suem regimes mais democráti­cos que o nosso.

Então quer me pare­cer que o “campeão” das liber­dades indi­vid­u­ais que os patri­o­tas nacionais pas­saram a venerar não é tão com­pro­metido quanto dizem com as causas dos cidadãos oprim­i­dos.

Dessa com­preen­são surgem out­ras inda­gações: o que leva pes­soas que se dizem “patri­o­tas” se postarem con­tra a sobera­nia da república e favoráveis as ingerên­cias estrangeiras? Pior que isso, se colo­carem ao lado do megaem­presário estrangeiro que na sua mega­lo­ma­nia se acha supe­rior às leis do nosso país?

Não parece bisonho que jus­ta­mente aque­les que dizem patri­o­tas sejam os primeiros a se colo­carem con­tra a sobera­nia do próprio país?

Engraçado, para dizer o mín­imo, que a prin­ci­pal “ban­deira” desses neo patri­o­tas é o com­bate ao “comu­nismo” e/​ou o medo que país se torne comu­nista.

E aí me recordo das primeiras aulas de história do giná­sio onde aprendi que um dos pilares da dout­rina comu­nista era jus­ta­mente o fim dos Esta­dos Nacionais. Aliás, o Man­i­festo Comu­nista, de 1848, de Karl Marx e Friedrich Engels, se não me falha a memória, é de onde surge a exor­tação: «Pro­letários de todos os países, uni-​vos!» (no seu orig­i­nal alemão­Pro­le­tarier aller Län­der, vere­inigt euch!). A ver­são pop­u­lar do slo­gan é «Tra­bal­hadores do mundo, uni-​vos!», e, ainda, há «Tra­bal­hadores do mundo, uni-​vos, vós não ten­des nada a perder a não ser vos­sos gril­hões», mis­tu­rando as três últi­mas frases do Man­i­festo Comu­nista. Uma vari­ação desta frase («Tra­bal­hadores de todas as ter­ras, uni-​vos») está escrita no túmulo de Marx.

Esses slo­gans cla­mam pela der­rubada de fron­teiras para que todos os povos se unam sob a famosa “ditadura do proletariado”.

Ora, ao faz­erem tábua rasa da sobera­nia nacional, os tais patri­o­tas, direta e indi­re­ta­mente, estão defend­endo os estatu­tos colo­ni­ais da sub­or­di­nação das nações a out­ras potên­cias – o caso em comento a um con­glom­er­ado econômico e em der­radeira instân­cia a um único homem –, a ideia que não deve exi­s­tir sobera­nia das nações e os próprios ideais que dizem com­bater: a ide­olo­gia comu­nista.

Mas vejam que tais quais os comu­nistas com seus slo­gans: “pro­letários de todos países uni-​vos”, “tra­bal­hadores do mundo uni-​vos” os nos­sos, por assim dizer “patri­o­tas” tem slo­gans semel­hantes, onde pregam a suprema­cia do povo. São eles que dizem quando pregam con­tra as insti­tu­ições: “supremo é o povo”.

No fundo não há dis­tinção entre os slo­gans, ambos pregam, no primeiro, a sobera­nia dos tra­bal­hadores sobre tudo, inclu­sive os Esta­dos Nacionais, o segundo que não inter­essa as insti­tu­ições da república pois o grito do povo nas suas é que é “supremo”.

Dessa con­strução lóg­ica ele­men­tar se depreende que tanto os comu­nistas do pas­sado quanto os nos­sos patri­o­tas do pre­sente são (ou defen­dem) a mesma coisa.

Como sei que não é bem assim, chego a con­clusão que o que falta efe­ti­va­mente a essas pes­soas que vão às ruas faz­erem saudações a empresários impe­ri­al­is­tas e se colo­carem con­tra as insti­tu­ições repub­li­canas e a sobera­nia nacional é aula de história. Não estu­daram nada no pas­sado e por isso mesmo não con­seguem enten­der os con­ceitos ele­mentares do que seja uma nação sober­ana.

É essa ignorân­cia que leva um dep­utado fed­eral, um rep­re­sen­tante do povo brasileiro a subir em um palanque para agrade­cer um empresário que só quer uma coisa: colocar-​se acima das leis do país.

Esse é o “ponto de corte”, inde­pen­dente de qual­quer con­sid­er­ação de fundo, o que pre­cisa ficar bem claro e esta­b­ele­cido é que em nen­huma hipótese a sobera­nia nacional pode ser vio­lada. Pode se dis­cu­tir e/​ou ques­tionar o que se dese­jar – e é bom que se faça isso –, o que não pode ser sujeito de qual­quer debate é alguém achar-​se supe­rior às leis.

É nesse ponto que os “patri­o­tas” per­dem a razão e viram “patri­otários”.