Por quem choram as mães?
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- Criado: Domingo, 15 Outubro 2023 13:51
- Escrito por Abdon Marinho
(Foto AFP)
POR QUEM CHORAM AS MÃES?
Abdon C. Marinho*.
SEMPRE que nos deparamos com tragédias humanas como as que vivemos atualmente em diversos cantos do mundo uma ideia me vem à mente: como estão as mães? Por quem elas choram?
Faço isso diante de todos os conflitos. As guerras na África; a guerra na Ucrânia devido a invasão russa; os conflitos nas Américas, a fome em todos os cantos do planeta.
Há uma semana, praticamente, desde que estourou mais esse conflito conflito entre o Hamas e o governo israelense, essa é uma ideia que não me sai da cabeça.
Primeiro, o sofrimento causado às mães judias ante o ataque terrorista do Hamas que ceifou a vida de centenas de judeus e não judeus no dia 7 de outubro. Jovens, idosos, homens, mulheres e até crianças que perderam a vida ou se encontram sequestradas, em condições indizíveis e sofrendo todo tipo de privações, humilhações e o risco permanente e iminente da morte.
Como estarão suas mães? Como aguentam tamanha provação?
Segundo, o sofrimento causado às mães palestinas ante a reação israelense.
O cerco à Faixa de Gaza há mais uma semana cria situações de violência e sofrimento ímpares.
Esse tempo todo estão sem água potável, sem eletricidade, sem alimentação, forçados a se deslocarem para o sul do território, sem saber se voltam as suas casas e com bombas sendo atiradas sobre suas cabeças, uma a cada dois minutos, segundo os especialistas que se deram o trabalho de contar.
Quão desesperadas não estão essas mães para protegerem seus filhos, para alimentá-los, para curá-los de suas enfermidades ou dos estilhaços das bombas ou mesmo o sofrimento que passam diante da morte que os rondam e está sempre presente?
Como essas mães refrigeram seus corações diante do medo, do desespero, da angústia, da impotência por nada poderem fazerem por seus filhos?
Caberia alguma comparação ou simetria entre os povos para saber quem sofre mais? Acredito que não.
Em maior ou menor proporção o sofrimento é igual para as mães.
Talvez não o seja para os que atacam e para os que são atacados, mas, para as mães, não.
Para elas o sofrimento é o mesmo de Maria diante do martírio de Jesus Cristo. O sofrimento de vê-lo padecer sob Pilatos, de ser humilhado, de carregar a própria cruz ao monte do calvário e ser crucificado.
Até porque, a verdadeira mãe sofre com a dor de outra mãe, mesmo que em campos opostos.
São capazes de sentir o desespero que acomete a outra.
Poderia examinar essa etapa do conflito judaico-palestino de forma bem prática.
Dizer, de forma protocolar, que o Estado de Israel tem total direito de defender-se mas, que mesmo o direito à mais ampla defesa possui limites; que a própria guerra possui limites muito claros nas convenções internacionais.
Poderia dizer que o direto que tem Israel de defender-se dos ataques terrorista do Hamas não o exime de observar tais convenções e a respeitar os direitos humanos das populações civis alojadas na Faixa de Gaza, que no fundo é uma prisão a céu aberto, e que os países de todo o mundo são cúmplices de toda desumanidade praticada contra o povo.
Poderia, ainda, chamar a atenção para o fato do governo israelense não poder ou não ser aceitável que use o pretexto dos ataques para confinar ainda mais o povo palestino, notadamente aquele que vive na Faixa de Gaza.
Guerra nenhuma, em tempos modernos, pode ter esse caráter expansionista.
Por isso devemos repudiar a invasão russa na Ucrânia; por isso devemos protestar contra qualquer tentativa do governo israelense de pretender um metro, sequer, de qualquer território, reconhecido como palestino.
Uma coisa são as incursões para irem atrás do Hamas, libertar os reféns subtraídos de seus familiares, outra coisa, bem diferente, é querer ou pretender acrescer qualquer metro de terra da Faixa de Gaza ao seu território.
Aliás, desde 1947, quando a ONU criou o Estado de Israel e a solução de dois estados diferentes em um mesmo espaço territorial (dividido entre o Estado de Israel e Estado da Palestina) que permanece insolúvel a questão da definição das fronteiras entre eles.
Já passa da hora – e faz tempo –, da ONU e seus organismos pararem com a politicagem e se debruçarem sobre essa questão resolvendo-a definitivamente, com ambos os estados respeitando os termos da resolução que dividiu o território entre eles.
Nesses anos todos, desde que “criaram” a solução de dois estados que não resolvem a questão fronteiriça com o povo palestino confinado em dois territórios: Faixa de Gaza (maior densidade populacional do mundo, com dois milhões de pessoas no espaço de 365 km2) e a Cisjordânia, com Israel, sempre que pode, transferindo judeus para áreas reconhecidas como palestinas.
Nada, repito, nada justifica um ataque terrorista com os praticados pelo Hamas, mas, por outro lado, a omissão reiterada dos organismos internacionais e mesmo de algumas nações em não protestarem ou fazerem “vistas grossas” a uma questão pendente desde 1947, tem sido o combustível para incentivar essa guerra e tantas outras que vieram antes.
Em 1947 resolveu-se o problema dos Judeus, massacrados e espoliados por todos os regimes autoritários do mundo, com a criação do Estado de Israel, mas criou-se um problema para os povos que ocupavam aquele território desde o início da Era cristã quando se deu a última grande diáspora que durou 19 séculos, pois somente a partir 1948 o povo judeu pode se reunir novamente em mesmo território.
Os conflitos veem desde então.
Desde 1948 que não há convivência pacífica entre judeus e palestinos, com diversas guerras, conflitos entre eles e o sofrimento indizível dos povos, principalmente, da população civil que em todas as guerras é quem mais sofre.
Muitas lágrimas as mães destes povos ainda verterão até que os senhores das guerras dêem-se por saciados com os seus lucros e os políticos tomem juízo.
Chorarão as mães pelos filhos que perderão nas guerras e pelos filhos que morrerão sem ter a chance de crescer; chorarão pelas privações e pelas as angústias de cada dia.
Deus salve as mães de tantos sofrimentos.
Abdon C. Marinho é advogado.