Recorte de mais uma década perdida.
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- Criado: Sábado, 09 Julho 2022 14:14
- Escrito por Abdon Marinho
RECORTE DE MAIS UMA DÉCADA PERDIDA.
Por Abdon C. Marinho.
UMA REDE SOCIAL, no último dia 4 de julho de 2022, informa que tenho fatos a recordar relativos àquela data. Comecei a rolar a tela e verificar fotos, situações, postagens até que me deparei com um “textinho” daquela data escrito há dez anos. Achei-o tão atual que o compartilhei novamente.
O texto cujo título é “Realidade”, narra uma das minhas viagens pelo interior do Maranhão e a discrepância existente entre a propaganda oficial e o que observava como a sendo a vida e as dificuldades do maranhense e do brasileiro em sentido mais amplo.
Em 2012 governavam o estado e o país, respectivamente, as senhoras Roseana Sarney e Dilma Rousseff.
O meu “diário” de viagem afirma “no meu périplo pelo interior, a constatação de que o mundo real é bem diferente da propaganda oficial” para dizer “quando cheguei ao Cujupe não encontrei passagem de volta em nenhum ferry-boat. Consegui fazer uma reserva no ferry das 21:10 horas. A distância do Cujupe a Pinheiro é cerca de 100 km, você gasta mais 1:30 horas de travessia, fazendo todo percurso em, no máximo, 3 horas. Pois é. Mas não é assim. Não temos ferry-boat suficientes. Isso em plena terça-feira“.
Hoje, quase diariamente, assistimos protestos dos usuários do sistema tanto do lado de Alcântara, no Cujupe, quanto de cá, São Luís, na Ponta da Espera. Quando voltei na quinta-feira de uma viagem pela baixada, para pegar ferry-boat das 17:30 horas, a fila de espera, mais uma vez, estava chegando na curva, o que significa tumulto quase certo pois não tem como atender com brevidade quem deseja atravessar.
Na semana anterior um amigo me disse que ficou mais de 8 horas na fila de espera – que já poderia chamar-se de fila do desespero –, até conseguir embarcar.
Ontem, sexta-feira, um dos dias com maior movimento no sentido Cujupe-Ponta da Espera, soube que havia um ferry-boat em atividade. Podemos imaginar o grau de angústia dos que têm que esperar por uma vaga para atravessar.
Como disse em textos anteriores não acredito em uma solução rápida para o problema da escassez de ferry-boat para a travessia rumo à Baixada Maranhense e vice-versa. Essa solução demanda tempo uma vez que não temos esse tipo de transporte à disposição no “supermercado” e mesmo recuperação dos que estão parados ou sucateados é algo que demanda tempo.
Não ajuda, também, a exploração política que fazem em torno do tema até porque, a maioria dos críticos, nos últimos dez anos, uma década, só para me referir à data do texto de 4 de julho de 2012, nunca deram um pio sobre o problema, destinaram verbas para uma rodovia ou ponte que reduzisse o tempo dos “baixadeiros” que precisam deslocar-se até a ilha e dos ilhéus que necessitam deslocar-se até a Baixada.
Acho, aliás, que esse tema nunca esteve entre as suas preocupações. Há dez anos, repito, o sistema já apresentava problemas.
Agora, às vésperas das eleições, tentam tirar “casquinha” de um problema para o qual nunca tiveram um momento de atenção.
Como já disse noutras oportunidades, amenizaria o clima de angústia e sofrimento das pessoas nas filas de espera do lado de cá e do lado de lá, se tivéssemos uma internet de qualidade a permitir durante as longas esperas que as pessoas pudessem trabalhar, divertir-se ou mesmo, apenas se comunicar. Mesmo uma cobertura de telefonia móvel já ajudaria.
Para angústia de cem por cento dos usuários do sistema deste transporte, tanto quem chega no Cujupe quanto os que chegam na Ponta da Espera, ficam incomunicáveis. São crianças, jovens e adultos que ficam por horas a fio sem qualquer comunicação.
Acredito que o governo estadual, deputados federais, estaduais e senadores poderiam, ao invés de estarem explorando o sofrimento dos cidadãos, fazerem algum tipo de gestão para iniciarem a implantação do 5G no estado por estes dois locais (Cujupe e Ponta da Espera), são ambientes restritos que não demandaria muito investimento para fazer as instalações, já se tem até torres de comunicação que poderiam ser usadas pelas diversas operadoras.
Há dez anos dizia que “finda a audiência, decidi voltar por terra, substituído, no máximo, 3 horas por quase 6 horas. Aí a realidade se torna mais presente, não bastasse a decadência das cidades por onde passamos, não se vê ao longo da rodovia produção de nada, áreas imensas sem produção alguma, homens, jovens sentados embaixo de árvores, vendo o tempo passar”.
Passados dez anos vemos que pouco ou nada daquela realidade se modificou. Continuamos com o estado mais pobre da federação a despeito de possuirmos um solo fértil, rios perenes com água em abundância.
Por onde passamos, nas cidades ou nos campos não vemos quaisquer sinais de atividades econômicas, não existem indústrias, não existe produção agrícola, as cidades estão decadentes e os campos ociosos e aquelas mesmas pessoas que vi nos alpendres das casas ou sob as árvores continuam lá em pleno horário de expediente, aguardando dia após dia que caia auxílios da várias bolsas, as aposentadorias ou os salários dos servidores públicos.
Como podemos sonhar com um estado desenvolvido se nunca fez-se nada no sentido de explorarmos as suas potencialidades?
Na mesma passagem, informo que “a rodovia estreita apresenta marcações de uma possível reforma, entretanto não havia homens ou máquinas na pista. Apenas numa localidade encontrei uma meia dúzia de trabalhadores tocando a reforma da MA-014, nas proximidades de Viana. Só. Nos cortes feitos se percebe a espessura do asfalto sugerindo ainda muitas reformas nos anos vindouros”.
A mesma realidade que se apresentava há dez anos continua se apresentando hoje. Quantas reformas nestes dez anos não foram feitas na MA-014? Não “adivinhei” que seria assim, apenas constatei – e continuo a constatar –, que o poder público “joga dinheiro fora”, milhões e milhões todos os anos com obras de infraestrutura feitas para não durar um inverno. A velha missão de enxugar gelo ou as velhas “estradas para morder”.
E continuava: “ao pegar a BR 135 em Miranda do Norte o caos se instala, com os veículos tendo que andar em comboios e sendo surpreendidos com perigosas ultrapassagens na estreita pista. Ora um carro tenta passar na nossa frente, ora o veículo que vem na mão contrária força uma redução de velocidade para evitar uma batida frontal”.
E não continua a mesma coisa?
Há dez anos dizia: “leio que a refinaria de Bacabeira foi cancelada”. E me perguntava: “Como adiada? Como cancelada? Cadê os políticos do Maranhão, tão poderosos e diligentes? Por que não cuidam dessas coisas elementares que atenderiam os interesses da população? Que interesses defendem, os seus, dos seus familiares?”.
Pois é, meus amigos, há dez anos diziam que a Refinaria de Bacabeira seria adiada. Alguns já dizia que seria cancelada.
O pior aconteceu, ficamos sem refinaria, sem os milhares de empregos, com dezenas de pequenos, médios e grandes empresários que acreditaram nos governos “quebrados” e o Brasil, país autossuficiente em produção de petróleo, tendo que pagar muito mais caro pelo combustível que utiliza e submetido, miseravelmente, as intempéries do mercado, da oscilação do dólar e aos humores dos “senhores das guerras”.
Naquela oportunidade, há dez anos, me perguntava: “Por que o Maranhão não tem um plano de desenvolvimento real, dentro de suas potencialidades?”.
Cadê o plano de desenvolvimento? Por que continuamos, praticamente, sem termos avançado quase nada nos índices de desenvolvimento humano e nos indicadores sociais – tendo, na maioria deles apresentado uma significativa piora?
Fechava aquele texto com uma constatação: “a sensação que temos é que os políticos do Maranhão não têm ideia nenhuma de como desenvolver o estado. Trabalham apenas para se elegerem e elegerem os seus a cada dois anos. Falta seriedade. falta, sobretudo, vergonha na cara, essa mesma falta de vergonha se estende também a população”.
Hoje, dez anos depois, gostaria de estar errado nas minhas previsões, gostaria de pedir desculpas a aqueles que de alguma forma se sentiram ofendidos com minhas palavras, não apenas as palavras escritas naquele texto específico de 2012 e que inspira este texto, mas de todas escritas antes e depois.
Infelizmente isso é algo que não posso fazer. A situação do país e estado, em particular, é de imensa dificuldade. O país volta ao Mapa da Fome da ONU, são mais de 33 milhões de brasileiros que não têm o que comer; são idosos, homens, mulheres, crianças, vagando todos os dias atrás de um prato de comida ou de um pedaço de pão.
Ontem, mesmo, cortou-me o coração as lágrimas de uma senhora chorando ao dizer que só conseguia fazer uma refeição por dia, só almoçava e por isso estava chorando. Mais difícil, ainda, é a situação dos idosos, senhorzinhos e senhorinhas já passando dos setenta, oitenta anos tendo que sobreviver nas selvas das ruas justamente na fase da vida que mais precisam de cuidados e acolhimentos.
Que país é este que deixa seus idosos perecerem? Que desgraça nos acometeu?
Não, não devo desculpas a ninguém, ainda mais considerando que estes mesmos políticos do Brasil e Maranhão em apenas uma década se tornaram multimilionários tendo como único emprego o mandato outorgado pelo povo, com poucas exceções.
E ninguém se pergunta como enricaram, como ficaram ricos “bem novinhos”.
Pobre Brasil!
Abdon C. Marinho é advogado.