DO POLO EXPORTADOR DE VEADOS ÀS MULHERES DO GRELO DURO.
QUASE ninguém encarou com naturalidade a série de impropérios dispensados pelo ex-presidente Lula às instituições da república, as autoridades constituídas e até mesmo as pessoas tidas como do seu grupo de influência.
Não vamos nos ocupar do comportamento boçal do ex-presidente, isso demandaria um tempo que não temos. Entretanto, não podemos deixar de registrar que esse comportamento não deveria causar estranheza a ninguém.
O tempo passou, o ex-presidente está no poder há mais de treze anos, a vida difícil ficou há muito para trás, assim como as dificuldades materiais, entretanto, aquilo que é inerente à condição humana permaneceu igual.
A vida inteira permeada de escândalos. Quem não sabe da colaboração do falso sindicalista com o governo militar, conforme narrado pelo filho do delegado e ex-senador Romeu Tuma? Os assassinatos nunca suficientemente explicados dos ex-prefeitos de Santo André, Celso Daniel e de Campinas, Toninho do PT? o golpe da Bancoop que lesou inúmeros mutuários?
O brasileiro, sempre cordial, tem o péssimo hábito de ignorar estes fatos, de esquecer a história apesar dos fatos sempre se imporem.
Antes do senhor Lula chegar ao poder – mas já um produto do gênio de marketing Duda Mendonça –, foi gravado, involuntariamente, nos bastidores de uma entrevista, onde dizia com toda sua vulgaridade que a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, era um polo exportador. Fazendo questão de acentuar: um polo exportador de veados.
Ora, o senhor Lula, já naquela que ficou conhecida como a fase "lulinha paz e amor", fora capaz de tamanha grosseria com a comunidade gay que sempre enxergou no discurso dele e dos seus algum respeito – ignorando todos os precedentes.
Agora, acuado por tantas denúncias, o mesmo senhor Lula é flagrado noutra inconfidência, igualmente chocante.
No interesse de usar os movimentos feministas a seu favor – e para fustigar os adversários –, refere-se às suas companheiras de partido (e de seus satélites), como as "mulheres do grelo duro".
Uma em especial, companheira de trabalho no instituto que leva seu nome, que não declinarei o nome por respeito, chegou a sugerir que a mesma ficara embevecida ao ser surpreendida, ainda durante o sono, por cinco agentes da polícia federal, imaginando tratar-se de presente dos deuses.
Como definir comportamento tão desumano e desrespeitoso contra pessoas que sempre estiveram a seu lado e por ele foram usadas? Será que as mulheres, independente de suas preferências sexuais, merecem esse tipo de tratamento? Será que alguma mulher consideraria um presente de Deus a possibilidade de sofrer um estupro coletivo? Certamente que não.
Somente na cabeça de uma pessoa que fez da exploração do próximo uma forma de crescer na vida é capaz de dispensar esse tipo de tratamento as pessoas, mais ainda pessoas que, ainda, o idolatram.
Esta não é primeira vez que mostro ser falso esse discurso de respeito às minorias usados pelos que se assenhoraram do poder no Brasil.
Quem não lembra destas pessoas defendendo e fazendo campanha política na Venezuela, com seus aliados de lá, tratando os adversários da pior forma, só se referindo ao principal deles como um "viadão"? Quem não sabe que babam o modelo cubano dos irmãos Castro que sempre dispensou o pior tratamento aos homossexuais da ilha? As relações pessoais, pra lá de afetuosas, com ditadores africanos que criminalizam o homossexualismo? O apoio oficial dos partidos da base à ditadura norte-coreana que comete todo tipo de crimes contra a humanidade?
Na verdade, essas minorias étnicas, marginalizados, homossexuais, negros, etc, sempre foram usados e conservados como um público à disposição e massa de manobra. Estão ali a justificar o discurso contra a "elite branca".
Não precisamos ir muito longe no tempo.
Venderam a ascensão do negro brasileiro como mérito de seus governos a nomeação do ministro Joaquim Barbosa para o STF. Quando este, no processo que ficou conhecido como "mensalão", não aceitou a canga que tentaram lhe impor – no caso absolver ou maneirar para seus corruptos de estimação –, passaram a lhe satanizar, inclusive demonstrando todo preconceito arraigado, cobrando fidelidade – como agora fizeram com Janot – e, frustados no seu intento, passaram a lhe atacar de todas as formas.
As gravações revelam como o ex-presidente trata a sua militância: como peões. Se fosse um jogo de xadrez, decerto que ele seria o rei e os peões estão no tabuleiro apenas para lhe proteger e aos seus familiares.
O que dizer da aquiescência desavergonhada ao que dizia o senhor Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, sobre possuir "alma de pobre", de ter comprado um sitio vagabundo? Aquele dos amigos.
Não precisamos ir muito longe no espaço para entender o quanto é falso esse discurso de defesa das minorias.
Quais as medidas disciplinares adotadas pelo PC do B contra o deputado estadual Fernando Furtado que referiu-se aos indígenas de uma tribo ameaçada de extinção como "veadinhos"? Além de todos impropérios contra eles e contra diversos outros seguimentos? Até agora nenhuma.
A revelação das inconfidências do ex-presidente nas interceptações telefônicas autorizadas e divulgadas pela justiça revela apenas que ele continua o mesmo boçal de sempre. O mesmo cidadão que se referiu à cidade de Pelotas como polo exportador de veados é o mesmo que agora se referem as feministas brasileiras, mais precisamente as do seu partido, como "mulheres do grelo duro".
Mais uma infâmia, uma vergonha, com a qual teremos que conviver enquanto tivermos memória.
Abdon Marinho é advogado.