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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Terça-feira, 26 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

O SILÊNCIO DOS CULPADOS OU A VENEZUELA É LOGO ALI. 

TODOS os dias centenas de venezuelanos cruzam a fronteira para o Brasil em busca de uma condição de vida melhor para si e para os seus. Aqui chegando os que não possuem meios e/ou qualificação suficiente,  lançam de qualquer coisa, inclusive do próprio corpo para sobreviverem. 

Fogem da escassez de alimentos, de remédios, da repressão política.

Os que ficam na Venezuela, diariamente, engrossam os cordões de protestos, violentamente reprimidos pelo governo, que, em apenas três meses, ceifou a vida de quase uma centena de cidadãos, sobretudo de jovens, na faixa de 18 a 25 anos. Não faz muito tempo, em apenas um dia, cinco jovens, nesta faixa de idade, perderam vida.

Os caraqueños mais humildes disputam com os animais as sobras das feiras livres e os refugos dos supermercados. Numa das cenas mais tocantes dos últimos tempos vi uma senhora, durante um protesto, enfrentar as forças governamentais com uma frase cortante: — protesto porque tenho fome. Vais me matar por ter fome?

Isso foi lá atrás, hoje os venezuelanos protestam porque, além da fome, da economia em frangalhos, da repressão política, querem democracia e não suportam mais o modelo bolivariano, implantado naquele país. 

Noutra ponta temos o governo de Nicolas Maduro acenando com mais autoritarismo, com mais ditadura.  

Já falamos em vezes anteriores sobre a crise na Venezuela e, inclusive, dos seus reflexos no nosso país, onde Roraima, porta de entrada destes irmãos do Norte, encontra-se à beira de uma crise humanitária, sem poder oferecer os serviços essenciais a estes migrantes e à sua própria população. 

Desta vez abordaremos o estranho silêncio da classe política brasileira ao que vem ocorrendo na Venezuela. 

Não falo do silêncio do governo, este até tem se manifestado com firmeza, cobrando soluções para a crise e pedindo democracia. 

O problema é que estes protestos são repelidos sob o argumento de que o atual governo é “golpista”, portanto, não possuindo qualquer legitimidade para reclamar de nada em relação ao país vizinho. 

Pois bem, se se pode alegar ilegitimidade do governo – que poderia  se estender até políticos da sua base, pelo raciocínio bolivariano –, o mesmo não se daria em relação aos políticos da oposição – aqueles que até ontem eram governo.

Estes políticos, que hoje estão na oposição, sobretudo, os ligados ao ex-presidente Lula – e ainda os mais radicais –, sempre defenderam o modelo bolivariano como o ideal para ser implantado no Brasil. Teciam loas ao ex-ditador Hugo Chavez e ao seu pupilo Nicolás Maduro, como figuras ideais do cenário político mundial. 

O Brasil nos governos Lula/Dilma, chegou ao ponto de contentar-se em ser coadjuvante – apesar de infinitamente mais rico e importante politicamente –, no contexto sul-americano, deixando a Venezuela como protagonista e “potência” regional. 

No exemplo claro das preferências ideológica superando a lógica política, o Brasil que, candidamente, aceitava ser coadjuvante, abria os cofres nacionais para investimentos no país vizinho – e não ao contrário –, na clássica situação do “rabo balançando o cachorro”. 

No único episódio em que a Venezuela, ainda através de Chavez, disse que iria investir no Brasil, foi na já famosa refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e levamos um “cano” bilionário, mais de 8 bilhões de dólares. 

Apesar do “cano” o Brasil continuou seus investimentos por lá, abrindo os cofres do BNDES para diversos empresários amigos para estes fazerem lá, na Venezuela, as obras estruturantes que também faltavam ao Brasil. 

Estes são recursos que o Brasil dificilmente receberá de volta. 

Pois bem, os políticos nacionais que participaram, endossaram, festejaram, rastejaram aos pés de Chavez e Maduro, hoje não têm nada a dizer sobre a crise política, a violência desenfreada – muitas vezes por ordem estatal –, contra os cidadãos, a dissolução das instituições e o fim da democracia. 

As vezes até procuro em seus sites alguma opinião sobre a situação venezuelana e nada encontro. É como se a Venezuela tivesse “sumido” do mapa para estes políticos brasileiros. 

Quando cobro essa coerência,  essa manifestação, faço isso porque estes políticos endossaram o chavismo, o modelo bolivariano. Se cobro dos ex-presidentes Lula e Dilma que digam algo, é porque o primeiro esteve lá participando da campanha que “elegeu” o senhor Maduro. É porque eles, com nossos recursos, recursos do povo brasileiro, contribuíram com a ditadura que se instalou por lá. 

Estes ex-governantes “fizeram o diabo” para elegerem Maduro. Até os seus marqueteiros foram deslocados para lá, regiamente pagos com dinheiro de propinas, conforme eles mesmos confessaram à justiça brasileira.

Estes, e tantos outros políticos brasileiros, ainda os que não contribuíram diretamente com a eleição de Maduro, sempre defenderam o modelo bolivariano. 

E não só os políticos, os chamados “intelectuais” foram na mesma onda. 

O que têm a dizer sobre a “constituinte” convocada por Maduro com o claro propósito de diminuir os poderes dos parlamentares e aumentar os seus? Que têm a finalidade de levar as próximas eleições para as calendas? Que pretende criar um modelo tardio de partido único com o poder entregue aos poucos bolivarianos que restam em detrimento do resto da população?

Ninguém escuta a opinião destes valentes sobre a atual realidade da Venezuela. Estão todos silentes. 

Este é o silêncio da culpa ou da covardia, conforme queiram.

Abdon Marinho é advogado.

 

Em tempo: Este texto foi escrito antes das declarações da senadora Gleisi Hoffmann, nos seguintes termos: “O PT manifesta seu apoio e solidariedade ao governo do PSUV, seus aliados e ao presidente Nicolás Maduro frente à violenta ofensiva da direita contra o governo da Venezuela e condenamos o recente ataque terrorista contra a Corte Suprema. Temos a expectativa que a Assembleia Constituinte possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da revolução bolivariana e que as divergências políticas se resolvam de forma pacífica”.