O AMBIENTE IDEOLÓGICO.
Por Abdon Marinho.
O LEITOR já deve ter percebido que tudo no Brasil se tornou motivo para exploração política dos lados que se engalfinham na guerra de poder.
Quando se fala “tudo” é na acepção mais ampla da palavra. Como numa guerra, não há espaço que não esteja em disputa ou trincheira que não seja suscetível à conquista.
Disputa-se tudo, até aquilo que deveria ser motivo de convergência – se houvesse alguma convergência no país.
Nesta “guerra”, principalmente, de vaidades, o que menos interessa é a verdade ou o bem-estar da sociedade, que não passa de plateia. Como na antiga brincadeira de cabo de guerra, um lado só estará satisfeito com a queda do outro, sem, entretanto, o aspecto lúdico de outrora.
Outro dia um amigo chamou minha atenção para a polêmica em torno da questão ambiental.
Na linha do que muitos dizem, não estaria havendo a mesma mobilização das infinitas instituições e entidades de defesa do meio ambiente que houvera pouco antes, por conta dos incêndios na Amazônia, agora, por conta do derrame de óleo no litoral brasileiro atingindo a vida marinha e toda a costa nordestina.
Com efeito, por ocasião dos incêndios na Amazônia, autoridades do mundo inteiro se manifestaram cobrando solução para o problema, chegando, inclusive, a sugerirem uma “intervenção” no território brasileiro ou que a floresta amazônica deixasse de ser considerada parte integrante do território nacional.
O governo brasileiro passou a ser tratado como um pária entre as nações civilizadas.
As entidades ambientalistas do mundo inteiro passaram a atribuir ao governo a responsabilidade direta pelos crimes ambientais que estariam ocorrendo como estratégia para destruição e exploração da floresta amazônica, como se os próprios integrantes do governo estivessem com as tochas nas mãos colocando fogo nas árvores.
Mesmo agora, após passado o ápice do problema, governadores da região, entre os quais o do Maranhão, que há muito tempo deixou que destruíssem suas florestas, foram literalmente “reclamar ao Papa” sobre os possíveis “maus tratos” impostos pelo governo federal a floresta amazônica.
Conforme assentei naquela oportunidade, o governo Bolsonaro teve sua parcela de responsabilidade pelos incêndios ocorridos, sobretudo, pelo discurso inconsequente de que devemos explorar as riquezas da floresta amazônica a todo custo, o que “abriu” oportunidade aos espertalhões que há anos grilam terras e exploram a floresta a se sentirem confortáveis para, inclusive, promoverem um “dia de fogo”, como ficou constatado nas investigações.
Outra, o governo reagiu mal e fora do tom ao que estava acontecendo no período, colocando a culpa no carteiro em detrimento ao conteúdo da carta.
O problema não era a divulgação das queimadas criminosas e sim as queimadas em si.
O fato de agora o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, informar que o mês de outubro apresentou o menor número de focos de incêndio em vinte e um anos não elide os prejuízos ocasionados pelos incêndios que ainda estão ocorrendo (apesar de serem os menores no espaço-tempo), assim como os que ocorreram anteriormente.
Como já disse: a floresta amazônica “encolhe” a cada ano sendo justa a preocupação dos cidadãos brasileiros e estrangeiros com o seu futuro.
Pois bem, enquanto a floresta ardia (e ainda arde), um outro desastre ambiental se desenrolava: o derramamento de toneladas de óleo cru na costa brasileira afetando a totalidade dos estados do Nordeste.
Apesar da gravidade do dano ambiental aos diversos ecossistemas marinhos, aos mangues, onde se reproduzem milhares de espécies e, mesmo, ao sustento de milhões de cidadãos, não vimos os protestos de entidades e ambientalistas que “entraram em guerra”, quando das queimadas na Amazônia.
Assim como o governo Bolsonaro, no episódio da queimada da floresta, os protestos dos baluartes do ambientalismo só foram aparecer para criticar a demora do governo na ação de combate ao óleo que invadia as praias, os estuários dos rios e os manguezais.
Emudeceram em relação a apuração das responsabilidades e se o derramamento de óleo aconteceu acidentalmente ou se fora o crime cometido deliberadamente contra o Brasil, sobretudo, quando revelado, por dados científicos, que o óleo que aparecia (e aparece) aos borbotões tinha origem venezuelana.
Apenas agora, mais de noventa dias depois da data inicial do desastre ambiental, ocorrido a 700 km da costa da Paraíba, aponta-se como principal suspeito de ter efetuado o derramamento de óleo uma embarcação de bandeira grega que fora carregada na Venezuela com destino à Malásia.
Com a embarcação identificada resta saber se foi acidental ou criminoso o derramamento de óleo e as razões para não darem o alarme do acidente – como remendado –, no sentido de prevenir ou minorar os danos a partir da adoção do Plano Nacional de Contingência – PNC.
Apesar do que temos até aqui revelado ser estarrecedor, impera o mutismo seletivo de entidades ambientalistas e de governos em relação ao acontecido.
Para começar o próprio navio responsável pelo “acidente” deveria ter se reportado às autoridades navais avisando do acontecido. Depois, quando constatado que se tratava de óleo de origem venezuelana aquele país deveria ter se oferecido para ajudar, informando que embarcações naquele período tinham sido carregadas com aquele tipo de óleo.
Ambos preferiram o silêncio. Por quais razões?
As descobertas até aqui se deram graças aos esforços do governo brasileiro, empresa, entidades e governos estrangeiros que não aqueles que poderiam e deveriam ter ajudado na alucinação dos fatos.
Vejam que mesmo cidadãos e entidades brasileiras, ditos defensores do meio ambiente, quando confrontados com a informação de o óleo que chegava às praias era oriundo da Venezuela fizeram pouco caso ou contestaram a informação técnica numa narrativa puramente ideológica, que, aliás, permanece até agora.
Para estes, a culpa pelo derramamento do óleo na costa do Nordeste é do governo brasileiro – que, como em tudo que faz, é atabalhoado –, e não daqueles que, efetivamente, derramaram (por acidente ou de forma proposital o óleo) e não reportaram as autoridades; ou do governo venezuelano que depois de saber a origem do produto, nada fez para ajudar na identificação dos responsáveis.
O certo é milhões de cidadãos brasileiros já estão pagando um preço elevado por um desastre ambiental enquanto a classe política nacional e a elas se agregando entidades de diversos matizes que se dizem defensoras do meio ambiente patinam nas suas narrativas ideológicas.
Onde iremos parar com tudo isso? Qual o futuro do país quando os interesses pessoais ou das ideologias se sobrepõem aos interesses nacionais?
Abdon Marinho é advogado.