A CULTURA DA DISCÓRDIA.
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- Criado: Sábado, 31 Janeiro 2015 10:51
A CULTURA DA DISCÓRDIA.
A pasta da cultura, tanto Maranhão quanto em São Luís, desde o tempo que minha memória alcança, nunca foi fácil. Sempre gerou conflitos entre as mais diversas forças que vivem e fazem girar suas expressões. Ora, dizem que um titular privilegia um ou outro grupo e por aí vai.
Essa profunda divergência talvez explique o fato de um estado com tanta diversidade cultural não consiga ser uma referência para o Brasil em nada. O carnaval não atrai quase ninguém para o estado, o festejo junino, momento de maior da nossa cultura, perde espaço para outras praças do sertão nordestino, como Campina Grande, Recife, Fortaleza. Até o nosso Bumba-meu-boi, perdeu seu status para seus similares no Amazonas.
Embora fossem esperadas reações a nomeação para a secretaria de cultura – qualquer que fosse o escolhido ou escolhida – acho que ninguém imaginou uma campanha tão acirrada e despropositada à escolha do governador. Até parece ser essa a mais importante secretaria do governo, o que não é verdade.
Pastas como a da Saúde, Educação, responsáveis pelos orçamentos mais vultosos e com uma atuação que alcança toda sociedade, passaram em brancas nuvens às críticas e vejam que é até possível numa primeira chamada que ninguém lembre os nomes dos seus titulares. Não se ouviu um questionamento mais enfático ou qualquer buchicho quanto à destinação dos seus comandos, se atenderia a esse ou aquele interesse político.
Outra pasta de igual relevância, a da infraestrutura, também não despertou interesse de críticos e até mesmo de adversários, ainda que quando se dizia o nome do titular da pasta o interlocutor vinha com uma invariável interrogação: quem??
A da Segurança que deixa a todos em suspense e é um ponto nervoso em qualquer governo passou indiferente ao crivo todos.
Já na pasta da cultura, impera a cultura da discórdia. Desde que o governador anunciou a titular, a pasta tornou-se objeto de uma falsa polêmica. A secretária não teve um minuto de sossego, seja para organizar o plano que pretende executar, seja para compor equipe, seja para planejar. Nem a famosa trégua dos cem dias, já tradicional e que em todo o mundo se concede aos novos gestores, lhe concedida. As campanhas foram tantas que pensei que não iriam deixar a secretária tomar posse. Depois da posse, ainda sem completar um mês de gestão, tentam criar todo tipo de desconforto.
Entretanto, como disse, trata-se de uma falsa polêmica.
Pelo que tenho lido aqui e ali, ninguém questionou, ao menos até aqui, a capacidade da escolhida, sua conduta pessoal ou técnica, a viabilidade ou seriedade de suas ideias para retirar o Maranhão do atraso no setor — até porque não lhe deram a chance de fazer nada, acho, nem formar a equipe ou nomear a pessoa encarregada de servir o cafezinho da repartição lhe deixaram fazer.
As críticas foram, pela ordem que lembro, que seria ligada ao antigo régime (o estado é tão atrasado que muitos acham que qualquer um serviu ou trabalhou em governos anteriores têm qualquer serventia); que estaria a trabalhar com as pessoas que faziam parte da gestão anterior; manteria os benefícios aos mesmos grupos de sempre; chegou-se até a dizer que a secretária era indicação de um deputado que está (?) em firme oposição ao atual governo. Por fim, notas de militantes e do próprio partido a quem a secretária faria parte da cota, o Partido Popular Socialista — PPS, com críticas e dizendo que não a apoia.
Pois bem, até onde me recordo, quando o governador à apresentou a sociedade como a escolhida para o setor, discorreu sobre as qualidades que a credenciava para o cargo. Não a conheço, não posso atestar. Mas as críticas que fazem, até onde sei, não colocam em xeque as credenciais que motivaram o governador na sua escolha. Ao menos, na minha percepção, tudo não passa de tempestade em copo d’ água, muito barulho por quase nada. Qual a razão do mundo vir abaixo? A secretária ainda não teve a chance nem de errar. Ainda não permitiram que errasse.
Pois bem, se não há nada na cultura, menos ainda há no governo recém empossado.
Digo isso porque uns mais exagerados ou mal intencionados, até falam em crise no governo ou entre este e os populares socialistas. Não vejo assim. O governo do Maranhão, depois de muitos anos, possui um capital de legitimidade muito elevado, ouso dizer, que poucas vezes se viu algo assim. Tanto é verdade que na sociedade e na classe política, exceto por aqueles que estão tendo os interesses contrariados e privilégios tolhidos, não se ouve o burburinho ou o coro do descontentamento.
O fato de um ou outro partido mostrar-se insatisfeito com a atuação de um determinado secretário não é e não pode ser motivo para se dizer que existe uma crise no governo.
Acredito, e essa foi uma das proposta do governador, que os cargos públicos, aí inclusos os ocupados pelos agentes políticos, não possam e não devam ser objetos de troca ou de barganha. Essa, aliás, uma prática que precisamos extirpar da cultura política nacional.
O governador, acredito, repito, está comprometido com essa nova forma de pensar e fazer política. Os agentes políticos de livre nomeação e exoneração devem ter como referência de poder e subordinação o governador e não o presidente de partido A, B ou C, o deputado ou quem quer que seja. Até para que o governador sinta-se à vontade para fazer as mudanças que achar devidas na hora que quiser.
Entendo que acabou o tempo em que havia loteamento de cargos entre partidos, entre políticos e que cada um fazia do seu espaço um governo paralelo.
Não faz muito tempo um prefeito me confidenciou um fato no mínimo curioso. Narrou-me que estava passando a pauta de reivindicação de seu município à governadora quando chegou a solicitação a ser resolvida em determinada secretaria. A governante o atalhou e foi logo dizendo: – em secretaria fulano de tal eu não me meto. Trate diretamente com ele. É isso mesmo, se tinha secretário que mandava mais que os que foram legitimamente eleitos. Daí vê-se o quanto a coisa estava fora de ordem.
Espera-se que o governador rompa, em definitivo com esse tipo de prática.
Nos tempo de eu menino (gosto demais desta construção de Bandeira), costumávamos dizer, quando um outro colega nos mandava calar a boca: “cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou”. Talvez seja a hora do governador dizer que não adianta fazerem biquinho ou servirem de bucha a alimentar a cultura da discórdia e que quem manda no governo é ele. Isso inibiria os que, de dentro da equipe, tentam construir dificuldades para manterem espaços mesquinhos de poder. O contrário disso é seguir o exemplo do prefeito da capital que até hoje, decorridos dois anos da posse, ainda forma equipe.
Abdon Marinho é advogado.