Pacto pela educação: um apelo aos novos e aos atuais gestores.
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- Criado: Domingo, 29 Dezembro 2024 13:29
- Escrito por Abdon Marinho
Pacto pela educação: um apelo aos novos e aos atuais gestores.
Por Abdon C. Marinho.
O TEMA que hoje trataremos já foi objeto de diversos outros textos ao longo deste ano e das últimas décadas.
Falaremos de educação.
Vou além, falaremos sobre a necessidade urgente de fazermos um pacto em torno da educação como estratégia para salvarmos as nossas crianças e o futuro do nosso país.
Desde sempre sou um grande exemplo do poder que a educação opera na vida das pessoas e por isso mesmo, um apaixonado pelo tema. Essa paixão fez com que investisse em projetos educativos como atividade paralela à advocacia, profissão que exerço com muito orgulho há quase trinta anos.
Imaginem uma criança nascida no interior do interior de um dos estados mais pobres da federação; filho de pais agricultores e analfabetos “por parte, de pai, mãe e parteira”; que, acometido pela poliomielite no primeiro ano de sua vida passou a conviver com a “paralisia infantil” desde então; que ficou órfão de mãe com pouco mais de cinco anos de idade; que foi criado como “Deus cria batatas em beiras dos rios”; o que teria sido dela sem a educação?
Bem, esse cara sou eu, como diria o rei Roberto Carlos. Mas isso são outros detalhes.
Tento passado pela “escolinha de latada”, que muitos não sabem do se trata, pelas unidades integradas das sedes do município, pelo ginásio Bandeirante, onde se fazia os três anos do fundamental maior, o ensino médio no Liceu Maranhense e por derradeiro o Curso de Direito na Universidade Federal do Maranhão, passei por todas as etapas do ensino público brasileiro e como estudioso do tema conheço cada uma de suas dificuldades.
Nos últimos trinta anos, como advogado, assessorei os mais diversos municípios do estado, ouvindo as histórias dos gargalos da educação – e tantos outros.
Esse ano recebi para o Natal Solidário, que realizo a 16 anos, um dos meus irmãos, com a esposa, uma de suas filhas, com seus dois filhos e uma amiga. Na “palestra” do final da tarde do dia 25 de dezembro, minha cunhada, professora desde o já longíquo ano de 1979, falava-nos de sua angústia e preocupação ao encontrar, nas suas idas ao mercado, crianças na faixa etária de 8, 9, 10, 11 anos “amanhecidas”, já, provavelmente, usuárias de drogas.
Pois bem, essa é uma tragédia cada vez mais frequente na maioria dos municípios brasileiros, de norte a sul do país temos testemunhos de crianças “abandonadas” à própria sorte por seus pais e familiares e feitas “invisíveis” pelo poder público.
Tenho conversado com alguns amigos gestores públicos sobre a necessidade e urgência de fazerem um “pacto pela educação” que contemple educação integral desde os quatro anos de idade para todas as crianças da rede; com o acompanhamento pelo poder público de sua frequência escolar.
A ideia é que as crianças e adolescentes fiquem o maior tempo possível na escola, de preferência, pelo menos das 7 às 17:30 horas em atividades educacionais, esportivas e culturais, seja através de escolas de tempo integral, educação integral ou de contraturno.
O importante é que tenhamos um acompanhamento real dessas atividades.
Como disse, tudo que trata de educação me interessa. Outro dia ouvi de uma técnica em educação a um gestor que ele poderia colocar as crianças de sua rede municipal das 7:30 às 14 horas e cadastrar como educação integral pois as crianças cumpririam as 35 horas semanais exigidas pela lei para aumentar ou mesmo dobrar os recursos da educação daquele município.
E acrescentava não “adiantar” colocar a criança mais tempo (além das 35 horas semanais) em atividade escolar uma vez que o MEC não iria repassar mais recursos para isso.
Embora seja uma “ideia” acredito que a mesma vise apenas o interesse da administração pública em ter mais recursos.
O pacto pela educação que falo já foca mais no interesse da criança/adolescente e do país. Precisamos de uma educação básica que eduque, que forme cidadãos capazes de contribuírem com o futuro da nação.
Entendo ser primordial que elas fiquem a maior parte do tempo em atividades educacionais, esportivas e/ou culturais nas escolas e/ou outros equipamentos públicos, sob a supervisão e acompanhamento do poder público.
Um pacto pela educação deve contemplar uma maior integração entre as secretarias municipais de educação, assistência social e saúde e os conselhos tutelares. Dentro da perspectiva de que o professor em sala de aula já reporte imediatamente após a “chamada” a ausência do aluno da sala ou da atividade complementar.
Reportada a ausência, o Conselho Tutelar juntamente com a Assistência Social vai “in loco” verificar o que aconteceu com aquela criança/adolescente e o acompanhar até que volte à sala de aula.
A Secretaria de Saúde já entra na verificação de algum problema de saúde ocorrido com a criança/adolescente, prestando toda a assistência necessária a sua pronta recuperação, bem como, no acompanhamento permanente do estado de saúde dessas crianças/adolescentes de forma preventiva, seja na saúde bucal, visual, etc.
Não podemos perder de vista que o Estatuto da Criança e Adolescente já estabelece esse público como prioridade absoluta de atendimento médico, hospitalar ou de qualquer assistência.
A emergência que vive o país não permite mais que cada secretaria, secretários, gestores e/ou profissionais só se preocupem com o seu “quadrado”.
As análises que tenho feito dos números do IDEB percebo (salvo exceções) que há uma redução de aproveitamento ao longo dos anos: os anos iniciais melhores que os anos finais e estes melhores que o ensino médio.
Ora, sendo o conhecimento acumulativo, não deveria ocorrer o contrário? As crianças não deveriam ir “melhorando” de conhecimento com o passar dos anos?
Tento entender o que tem ocorrido, as motivações que levam crianças/adolescentes a se desinteressarem pelo aprendizado com o passar dos anos.
Precisamos acender e manter acessa a chama do interesse pelo saber. Isso se consegue tornando a escola e as atividades complementares mais atrativas, com conteúdos mais dinâmicos e divertidos, com atividades esportivas que criem e fortaleçam os laços e que fomentem a disciplina.
Nada substitui o conhecimento e/ou o interesse pelo saber. Isso tem haver com o crescimento pessoal do indivíduo, por isso é tão importante esse fomento.
Quando apresentei meus projetos educativos na área de idiomas a um amigo ele me falou se não estaria fadado ao fracasso uma vez que existem diversas ferramentas tecnológicas de tradução instantânea. Disse-lhe: — nenhuma delas substituirá jamais o prazer do conhecimento.
Resposta semelhante dei a um outro quando disse que os meus “textões” poderiam ser substituídos por textos de Inteligência Artificial (IA). Dizer-lhe: — eu escrevo por prazer. Gosto se sentir as ideias fervilharem na mente enquanto formo frases e conteúdos.
Isso, também, torna mais urgente esse pacto pela educação: precisamos fazer com que as crianças/adolescentes entendam que não tem tecnologia capaz de substituir o seu conhecimento e inteligência, que nascemos e temos capacidades para desenvolver tecnologias e não sermos escravizados por elas.
Um dos maiores entraves para educação do país – sei que muitos concordam e outros discordam –, diz respeito à falta de compromisso de gestores e educadores. Já constatei isso por diversas vezes: o prefeito até deseja fazer uma educação diferenciada mas não conta com uma equipe suficientemente comprometida com as propostas de mudança e/ou melhoria para a educação.
No desafio de se fazer um pacto pela educação é necessário fazer o convencimento e vencer obstáculos internos e externos. Se aqueles que têm efetivo compromisso com a educação não forem persistentes acabarão por “desistir” de salvar as crianças e o futuro do Brasil.
Quando os novos gestores (ou mesmo os atuais) assumirem as responsabilidades pelos destinos de seus municípios precisam atentar para a necessidade e urgência de fazerem esse pacto pela educação pois só ela será capaz de operar a verdadeira mudança na vida das pessoas.
Abdon C. Marinho é advogado.