AbdonMarinho - A esperança por um futuro melhor.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A esper­ança por um futuro melhor.

A ESPER­ANÇA POR UM FUTURO MEL­HOR.

Por Abdon C. Marinho.

DOMINGO, 8 de janeiro, acordei muito mais cedo do que “de cos­tume”. Quase no horário “nor­mal” da sem­ana, às 4:30 horas da manhã.

Enquanto perseguia o sono para dormir mais um pouco pen­sava no que pode­ria ser o tema que abor­daria no nosso já céle­bre “tex­tão do fim de sem­ana”, quando sen­tasse logo mais na poltrona inspi­radora para escr­ever.

Assun­tos não fal­tam. E para quem gosta de escr­ever sobre política, a sem­ana que pas­sou foi um “prato cheio”, posse dos novos gov­er­nantes nos esta­dos e no poder cen­tral, uma sem­ana inteira de posses de min­istros, os primeiros “atro­pe­los”, os primeiros desac­er­tos, muitos min­istros desconec­ta­dos da real­i­dade do país falando bobagens, uma torre de Babel dos tem­pos mod­er­nos a ponto da sem­ana encer­rar com o pres­i­dente da República con­vo­cando os quase quarenta min­istros estado para “um pára pra acer­tar”.

Outro assunto ainda pre­sente na linha da política nacional é a irres­ig­nação dos der­ro­ta­dos com o resul­tado do pleito. Depois de ficarem acam­pa­dos por mais sessenta dias nas por­tas dos quar­téis pedindo golpe mil­i­tar, essa turma, emb­ora em menor grupo, prom­ete não des­cansar até o novo pres­i­dente “descer a rampa”. Até onde soube, con­tin­uam em suas redes soci­ais insu­flando os mil­itares brasileiros para o golpe mil­i­tar e orga­ni­zando mar­chas de protestos con­tra o gov­erno que ainda nem começou.

Todos estes assun­tos dariam bons tex­tos – e darão, em um outro momento.

Para hoje, pen­sei em um texto “para cima”, para ren­o­var as nos­sas esper­anças em um futuro mel­hor, onde os son­hos dos cidadãos e cidadãs, muito além das difi­cul­dades que enfrentarão durante todo o ano, pos­sam se realizar.

É uma tradição cristã que na primeira sexta-​feira do ano os crentes dirijam-​se as igre­jas em busca de bençãos para o ano que se ini­cia – o que tam­bém se pode fazer nos cul­tos e mis­sas domini­cais –, numa feliz coin­cidên­cia a data “caiu” jus­ta­mente no dia con­sagrado aos San­tos Reis, uma cel­e­bração que remete aos três reis magos que, seguindo a estrela do ori­ente, foram ao encon­tro do Rei-​menino para teste­munhar e o pre­sen­tear com ouro, incenso e mirra.

O ano que ini­cia vem junto com a posse de novos gov­er­nos o que, por si, já é um sinal de novos tem­pos e/​ou de ren­o­vação.

Ape­nas para ilus­trar o sen­ti­mento de que os novos gov­er­nantes tragam efe­ti­va­mente esper­anças e um futuro mel­hor para o povo brasileiro e maran­hense, reg­istro que achei muito aus­pi­cioso que tanto o gov­er­nante fed­eral quanto o estad­ual, este último, mais ainda, ten­ham dado destaque a questão da edu­cação.

O gov­er­nador reeleito, aliás, tem tratado disso desde o dia seguinte à sua reeleição e reafir­mado sem­pre que pode que a edu­cação será a primeira pri­or­i­dade do seu governo.

Como este é um assunto que me é muito caro, tenho escrito sobre ele con­stan­te­mente. Outro dia falei sobre o tra­balho her­cúleo para, ao menos, colo­car­mos a edu­cação nacional nós mes­mos pata­mares da edu­cação dos grandes países do mundo. Falava, inclu­sive, de recente pesquisa apon­tando a edu­cação nacional com uma década de atraso e, muito pior que isso, que levare­mos seis décadas para cor­ri­gir tal dis­torção.

País nen­hum avança sem uma base edu­ca­cional sól­ida.

A história está aí para provar que foram os povos que inve­sti­ram mais em edu­cação os que con­seguiram superar os seus níveis de pobreza e par­til­har o sucesso econômico entre os seus cidadãos.

Daí serem aus­pi­ciosas as falas dos novos gov­er­nantes a respeito da edu­cação. Claro que as falas, os dis­cur­sos, pre­cisam “virar” ações conc­re­tas em prol de uma edu­cação que seja de qual­i­dade e acessível a todas as cri­anças.

Uma ação estratég­ica do gov­erno estad­ual den­tro dessa política de se mel­ho­rar a edu­cação é o chama­mento de prefeitos e secretários munic­i­pais de edu­cação para um “alin­hamento” sobre a qual­i­dade do ensino fun­da­men­tal.

Nos anos em que me dedico a esse tema, me con­venci que o prob­lema cen­tral da edu­cação brasileira encontra-​se no ensino fun­da­men­tal – sem des­cuidar, claro dos anos seguintes.

É lá, com as cri­anças de tenra idade, que pre­cisamos mel­ho­rar a qual­i­dade do ensino, mais fer­ra­men­tas, mais con­teú­dos, fazendo com elas criem gosto pelo saber.

Vive­mos a cul­tura do adi­anta­mento.

Imag­i­namos que a cri­ança que não apren­deu nada ou quase nada nos anos ini­ci­ais do fun­da­men­tal vai con­seguir cor­ri­gir a dis­torção nos anos finais; se não acon­te­cer isso, apren­derão no médio.

A real­i­dade nos prova o con­trário. A cri­ança que não tem estí­mu­los nos primeiros anos, passa a ter um desapego cada vez mais cres­cente para a escola, aí começam a sur­gir a evasão esco­lar, o envolvi­mento com o crime, etc.

Quando a família ou o Estado se dão conta, aquela cri­ança que pode­ria ter um futuro bril­hante, já se tornou cliente do poder judi­ciário e freguês das polí­cias.

Cada vez mais cedo reg­is­tramos envolvi­mento de cri­anças e ado­les­centes com os mais vari­a­dos deli­tos. Cada vez mais cedo os pais não têm qual­quer con­t­role sobre os filhos.

Com isso, o drama social só vai aumento em uma pro­gressão geométrica.

Com isso perde o país, em riquezas, perde a sociedade, per­dem as famílias e per­dem os próprios jovens que pode­riam ter uma vida útil para a sociedade e para própria família.

Qual a con­tribuição que uma cri­ança que envereda pelo cam­inho dos atos infra­cionais e depois para crime deu à sociedade? Nen­huma.

A solução para a tragé­dia nacional anun­ci­ada, demanda tempo, demanda ded­i­cação, demanda recur­sos e é ape­nas uma solução: edu­cação.

As nações, os esta­dos, os municí­pios não gas­tam com edu­cação, eles investem. E o retorno é sem­pre infini­ta­mente supe­rior ao que inve­sti­ram.

Só a edu­cação, prin­ci­pal­mente a edu­cação pública, que é a grande respon­sável pela for­mação da maior parcela da sociedade, poderá nos levar a um futuro mel­hor.

É a edu­cação a única fer­ra­menta que tem poder de mudar a real­i­dade dos esta­dos e nações e a vida das pes­soas.

Nas min­has “pre­gações” sobre o tema – e tenho feito muitas, ulti­ma­mente –, cos­tumo dizer que sem a edu­cação nunca teria chegado a lugar nen­hum, talvez nem tivesse saído do povoado onde nasci – e do qual me orgulho. Tive poliomielite com cerca de dois anos, depois veio orfan­dade com quase cinco anos, filho de pais anal­fa­betos por parte de pai, mãe e parteira.

O que teria sido da minha vida sem a edu­cação pública?

Falava sobre a importân­cia da edu­cação na vida das pes­soas com o amigo Max Harley Pas­sos Fre­itas – um dos mel­hores con­ta­dores públi­cos do nosso estado, quiçá do país.

Dizia-​lhe da minha própria exper­iên­cia e contei-​lhe de um episó­dio que vivi e que não tenho razão para ocul­tar.

Acho que tinha por volta de onze ou doze anos, anos oitenta, vivíamos o “boom” dos garim­pos pelo estado do Pará e Maran­hão, só se falava que fulano ou sicrano haviam “bam­bur­rado” em Serra Pelada. Pela tele­visão, ainda em preto e branco, víamos aquele “formigueiro humano” subindo e descendo com sacos nas costas, com areia ou barro para serem lava­dos em busca do pre­cioso metal.

Os inte­ri­ores do Maran­hão estavam reple­tos de garimpeiros, viz­in­hos, ami­gos, alguns com idade quase igual a minha.

Foi de um destes que certa vez ouvi uma pro­posta que nunca mais esqueci.

Ele chegou para mim – tinha vindo e já estava voltando para Serra Pelada –, e disse: — Abdon, sabes o que tu pode­rias fazer? Pode­rias ir para o garimpo. Como tu és alei­jado, pode­rias ficar rico pedindo esmo­las.

Claro, foi só uma ideia e a pes­soa que a propôs jamais teve qual­quer intenção de ofender-​me, era, ape­nas, uma opção de vida que estava na mesa, como tan­tas out­ras.

Quando con­tei a Max o episó­dio, sen­sível, ele achou “muito forte” que alguém tenha sug­erido na minha infância/​adolescência que pode­ria pedir esmo­las no garimpo.

Vendo-​o à flor da pele, como na música de Zeca Baleiro, mudei de assunto.

Mas essa foi a opção para muitas pes­soas. Muita gente deixou a escola, o tra­balho na roça para irem ten­tar a vida nos garim­pos naque­les anos oitenta. E ainda hoje essa é uma opção para muitos maran­henses e brasileiros; e, reg­istro, nada tenho con­tra, mas que seja uma opção e não a “única opção”. Os cidadãos, prin­ci­pal­mente, cri­anças e ado­les­centes pre­cisam terem out­ras opor­tu­nidades para faz­erem suas escolhas.

Quase quarenta anos depois, com muita lev­eza, porém com muita seriedade e sem vitimismo, posso dizer que foi a edu­cação que me salvou-​me de viver de esmo­las no garimpo de Serra Pelada ou nas ruas do Brasil.

Esses e tan­tos out­ros fatos nos enchem de esper­ança por um futuro cada vez mel­hor.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.