AbdonMarinho - JÁ CHEGA! NÃO É, BOLSONARO?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

CHEGA! NÃO É, BOLSONARO?


JÁ CHEGA! NÃO É, BOLSONARO?

Por Abdon Marinho.

HAVIA prometido não falar sobre o sen­hor Bol­sonaro, a menos, claro, que ele fizesse alguma coisa bem inusi­tada, como, por exem­plo, chutar alguma mul­her grávida na Praça dos Três Poderes, no sen­tido lit­eral e com gravi­dade.

Assim deliberei, por enten­der que todo esse tumulto cau­sado pelo pres­i­dente e que tem o condão de enfraque­cer as posições do país, interna e exter­na­mente, não é fruto (ape­nas) da ignorân­cia, é tam­bém um método.

Para ele não importa o quanto ridículo e descon­tro­lado se mostre, o que importa é ficar na mídia, tornar-​se um assunto incon­tornável nos veícu­los de comu­ni­cação.

Se alguém tinha alguma dúvida sobre a efe­tiva apli­cação do dito pop­u­lar “falem mal, mas falem de mim”, não tem mais.

Firme neste propósito foi que deixei de comen­tar, dias atrás, a live/​escândalo em um pres­i­dente da República, sem qual­quer fil­tro e com base em infor­mações abso­lu­ta­mente fal­sas, afir­mou que a vacina con­tra COVID causava ou facil­i­tava a AIDS (Sín­drome da Imun­od­efi­ciên­cia Adquirida, na sigla em inglês).

Que espé­cie de imbe­cil, diante uma pan­demia que já ceifou mais de 5 mil­hões de vidas no mundo, só no Brasil, mais de 600 mil, que tem na vaci­nação em massa a chance de con­tro­lar o vírus e devolver a vida dos cidadãos à nor­mal­i­dade, seria capaz de uma fala tão irre­spon­sável?

O nosso país, os números estão aí para provar, é a prova mais elo­quente que a vaci­nação é efi­caz. Dimin­uí­mos o con­tá­gio e as mortes aos pata­mares mais baixos desde que a pan­demia se alas­trou no país.

A resposta para per­gunta ante­rior é respon­dida pelo próprio pres­i­dente. No seu “pas­seio” pela Itália quando suposta­mente dev­e­ria par­tic­i­par do Encon­tro do G-​20, segundo ele, deu um “pisão” no pé de Ângela Merkel, a chanceler alemã, quando ela virou pra olhar o autor da façanha, exclamou ao vê-​lo: —só podia ser você!

Como em roda de bar de “pé sujo”, a maior autori­dade do país, conta a única coisa de rel­e­vante que fez no encon­tro dos vinte países mais impor­tantes do mundo – já que nem apare­ceu para a foto ofi­cial no encon­tro –, “pisar” no pé de Ângela Merkel.

Pois bem, Merkel iden­ti­fi­cou o imbe­cil capaz de se van­glo­riar por pisar-​lhe o pé e por espal­har de forma irre­spon­sável que a vacina “causa” AIDS, sem qual­quer respaldo téc­nico e com base em uma “fake news” pro­movida por gru­pos anti-​vacinas ao redor do mundo, o “só podia ser você”, do qual se van­glo­riou, diz mais do que mil teses.

Só mesmo ele seria capaz de “ati­rar” con­tra a única coisa pos­i­tiva que vem acon­te­cendo no país, o sucesso na vaci­nação, com uma sus­peição tão cruel.

A AIDS, ape­sar da eficá­cia no seu trata­mento e das pes­soas con­seguirem con­viver com ela por toda a vida, ainda é uma doença cheia de estig­mas, que a acom­panha desde o seu surg­i­mento no iní­cio dos anos oitenta, de “peste gay à morte certa”.

Ao difundir que a vacina causaria AIDS um pres­i­dente da República, pelo efeito dev­as­ta­dor que causa, pode impedir dezenas de mil­hares de pes­soas de se imu­nizarem e perderem a vida por causa disso. Inclu­sive, pelo receio de con­traírem a AIDS e atraírem todos os seus estig­mas e pre­con­ceitos.

Feliz­mente, autori­dades e cien­tis­tas do mundo inteiro cor­reram para des­men­tir, mais uma vez, a patranha.

Mas, e pelos motivos ditos no iní­cio, tinha deix­ado “pas­sar” esse absurdo, assim como não me ani­mou falar sobre o “pas­seio” pela Itália e seus des­do­bra­men­tos, desde a ausên­cia de qual­quer reunião bilat­eral impor­tante até a agressão a diver­sos jor­nal­is­tas no exer­cí­cio profis­sional.

Que­bro o “com­pro­misso” diante da notí­cia que li em diver­sos veícu­los da imprensa dando conta que vinte e um cien­tis­tas con­dec­o­ra­dos com a Ordem do Mérito Cien­tí­fico pelo pres­i­dente Jair Bol­sonaro (sem par­tido) decidi­ram recusar a hom­e­nagem em uma ação cole­tiva.

A decisão dos cien­tis­tas, segundo os próprios afir­maram na carta-​aberta, deu-​se após o pres­i­dente, em decreto datado do dia 5 de novem­bro, haver can­ce­lado a con­cessão da hon­raria a dois out­ros cien­tis­tas, tam­bém agra­ci­a­dos no primeiro decreto, Adele Ben­za­ken e Mar­cus Lac­erda.

Os motivos para os “desagra­ci­a­men­tos” foram essen­cial­mente “bol­sonar­is­tas”: Lac­erda foi um dos primeiros pesquisadores a demon­strar que cloro­quina é inefi­caz no trata­mento con­tra a Covid-​19. Já Ben­za­ken desagradou o Palá­cio do Planalto após pub­licar uma car­tilha des­ti­nada a homens trans, durante a época em que ocu­pava o cargo de dire­tora do depar­ta­mento de HIV/​Aids do Min­istério da Saúde, con­forme matéria da Revista Veja.

O decreto con­tro­ver­tido traz out­ras “bizarrices”, a começar pelo pres­i­dente da República se auto admi­tir na Ordem Nacional do Mérito Cien­tí­fico.

Nem sei se isso é legal­mente pre­visto, mas, vamos com­bi­nar, que colo­car Bol­sonaro e ciên­cia na mesma “página” não é algo razoável. Aliás, é algo tão desproposi­tado que só encon­tra lugar na auto con­cessão.

Ninguém mais, além do próprio Bol­sonaro, o acharia mere­ce­dor de ser incluído na tal Ordem do Mérito Cien­tí­fico, que acred­ito dev­e­ria ser des­ti­nada aos cien­tis­tas que efe­ti­va­mente ten­ham serviços cien­tí­fi­cos presta­dos ao país e a humanidade.

Bol­sonaro não ape­nas se acha mere­ce­dor, como se auto admi­tiu na Ordem dire­ta­mente na classe Grão-​Cruz e como Grão-​Mestre, vá ter autoes­tima ele­vada assim na casa do c…

O cara agora é grão-​mestre da Ordem do Mérito Cien­tí­fico. É algo tão inusi­tado quanto as dezenas de títu­los de “doutor hon­oris causa” que o ex-​presidente Lula cole­cio­nou ao redor do mundo.

São casos típi­cos em que o “hon­rado” desmerece a hon­raria.

Certa vez um amigo vereador de São Luís, per­gun­tou se não gostaria de rece­ber o título de cidadão do municí­pio. Disse que não era mere­ce­dor. Na ver­dade, já haviam “fulanizado” tanto o título que emb­ora me hon­rasse recebê-​lo, preferi dec­li­nar.

Acho que os cien­tis­tas que renun­cia­ram a hon­raria dev­e­riam ter renun­ci­ado à mesma, não ape­nas pela exclusão dos dois cole­gas, mas, sobre­tudo, por não com­bi­nar que cien­tis­tas de ver­dade inte­grem a mesma ordem cien­tí­fica que o sen­hor Bol­sonaro e, ainda mais, numa grad­u­ação infe­rior a dele, um notório inimigo da ciên­cia que tem tra­bal­hado com inco­mum ded­i­cação para destruir todo o avanço cien­tí­fico que foi con­struído no país até aqui.

Bas­taria que olhas­sem para as condições em que se encon­tram as suas insti­tu­ições e uni­ver­si­dades.

Chega a ser ver­gonhoso que só ten­ham renun­ci­ado a hon­raria con­ce­dida após a exclusão dos dois cole­gas.

Com o gov­erno repleto de mil­itares – muitos já sem qual­quer brio –, fico imag­i­nando como rea­giriam se vis­sem um recruta ser alçado dire­ta­mente a patente de gen­eral. Cer­ta­mente é como se sen­tem os cien­tis­tas de ver­dade ao verem inte­grar uma ordem cien­tí­fica pes­soas como Jair Bol­sonaro, Mar­cos Ponte, Car­los França, Paulo Guedes e Mil­ton Ribeiro. Tudo gente boa e com vasta con­tribuição à ciên­cia nacional.

Em meio a tan­tos out­ros absur­dos, o pres­i­dente grão-​mestre da ordem cien­tí­fica, parece ape­nas mais uma bizarrice da nossa republi­queta de bananas que nem mere­ce­ria que gastásse­mos nosso tempo com ela e se o faço é ape­nas para teste­munhar o quão fundo já atin­gir­mos no que­sito da degradação moral.

O pres­i­dente se auto nomear Grão-​mestre da Ordem do Mérito Cien­tí­fico do Brasil, acho que já chega, não é, Bolsonaro?

Abdon Mar­inho é advogado.

P.S. Após a divul­gação do texto, difer­ente do con­sta no decreto da imagem, um amigo avisou-​me o pres­i­dente já era o grão-​mestre da tal ordem, por decreto de 2015. Ora, em sendo assim qual a neces­si­dade de ser “admi­tido” como grão-​mestre neste novo decreto? Além do mais, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral ninguém é obri­gado a fazer algo senão em vir­tude da lei. Se não tem uma lei neste sen­tido ele pode­ria recusar a tal hon­raria e não pagar esse “mico”.

Comen­tários

0 #1 Amélia Soares 10-​11-​2021 13:33
Ver­gonhoso
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