AbdonMarinho - Da transviadônica de Lula à “boiolagem” de Bolsonaro.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Da trans­vi­adônica de Lula à “boio­lagem” de Bolsonaro.

DA TRANS­VI­ADÔNICA DE LULA À BOIO­LAGEM DE BOLSONARO.

Por Abdon Marinho.

se pas­saram mais de trinta anos desde que o ex-​presidente Lula, em visita a Pelotas, no Rio Grande Sul, sug­eriu que aquela cidade seria um pólo expor­ta­dor de “vea­dos”. O áudio cap­tado indisc­re­ta­mente (parece-​me que ele não sabia que o micro­fone estaria lig­ado) daria conta que o então político sem mandato ainda pro­pusera a con­strução de uma rodovia lig­ando a cidade gaúcha à cidade de Camp­inas, em São Paulo, a “trans­vi­adônica”.

Depois da “trans­vi­adônica”, dos tem­pos que o político ainda son­hava em ser pres­i­dente da República, depois de sê-​lo – acho que em 2017 ou 18 –, quando acos­sado por inves­ti­gações poli­ci­ais da chamada oper­ação Lava jato, o ex-​presidente Lula, nova­mente cap­tado em áudios indis­cre­tos, desta vez autor­iza­dos pela justiça, sug­eriu que colo­cassem mil­i­tantes do sexo fem­i­nino na linha de frente de protestos, referindo-​se a elas como sendo “mul­heres do grelo duro”. Até hoje não sei o que sig­nifica isso.

Ainda naquela opor­tu­nidade por conta de uma oper­ação na sede do Insti­tuto Lula e nas casas de alguns dos membros/​funcionários, sug­eriu que deter­mi­nada secretária ao vê os poli­ci­ais “invadindo” sua casa pen­sou tratar-​se de um atendi­mento de uma prece. Induzindo que a mesma gostaria de ser “ata­cada” por aque­les homens.

Durante todos esses anos a mil­itân­cia política lig­ada ao ex-​presidente Lula sem­pre se esqui­varam ou ten­taram jus­ti­ficar as falas homofóbi­cas e/​ou pre­con­ceitu­osas, desprovi­das de edu­cação e respeito do seu líder.

Por estes dias, em visita ao Maran­hão, o atual pres­i­dente da República, sen­hor Bol­sonaro, tam­bém gravado indisc­re­ta­mente repetiu a “graça” do ante­ces­sor feita há trinta anos, ao ser apre­sen­tado ao guaraná Jesus, disse: “Agora eu virei boiola. Igual maran­hense, é isso?”, disse o pres­i­dente entre risos. “Guaraná cor-​de-​rosa do Maran­hão aí, quem toma esse guaraná aqui vira maran­hense”, com­ple­tou mostrando a bebida.

Em tem­pos de inter­net, com a reper­cussão à fala gan­hando o mundo, inclu­sive sendo objeto de debates nas redes de tele­visão, à noite o pres­i­dente, na sua live sem­anal e vestindo a camisa de um pop­u­lar time maran­hense, “emen­dou” um pedido des­cul­pas tomando nova­mente o guaraná Jesus e dizendo que “não sen­tiu nada”. Tudo isso entre mux­oxos e piad­in­has.

Acred­ito que a des­culpa tenha até saído pior que a ofensa ini­cial.

Existe alguma difer­ença entre dizer que “Pelotas é um grande polo expor­ta­dor de vea­dos” ou a refer­ên­cia às “mul­heres do grelo duro” e “agora virei boiola. Igual maranhense”?

Talvez a única difer­ença seja que as duas primeiras tenha sido pro­feri­das pelo sen­hor Lula antes e depois do mesmo ser pres­i­dente, já a última, a fala do sen­hor Bol­sonaro, tanto em solo maran­hense quanto aos mux­oxos e piad­in­has durante a live se deram em pleno exer­cí­cio do cargo.

Vive­mos tem­pos de ineditismos. Acred­ito ser a primeira vez que um pres­i­dente da República se refira a pop­u­lação inteira de um estado, inclu­sive, muitos seus ali­a­dos e defen­sores como “boio­las”.

Idên­tico, tam­bém, é o com­por­ta­mento dos “fac­ciona­dos” de ambos os lados.

Assim como os lulis­tas estão há anos fin­gindo que nunca houve tal ofensa ou fazendo pouco caso das mes­mas, o mesmo ocorre com os bol­sonar­is­tas, que acharam lindo o que o seu líder disse e defen­dem nas redes soci­ais e meios de comu­ni­cação a sua fala.

Dizem: — o Bol­sonaro falou de diver­sas coisas, só reper­cu­ti­ram isso; — o pres­i­dente falou dos mil­hões em inves­ti­men­tos para Maran­hão; — o pres­i­dente fez mais pelo guaraná Jesus do que qual­quer outra pes­soa.

Out­ros até se saíram com a inusi­tada tese de que o pres­i­dente chamou os “maran­henses de ‘boio­las’ de forma car­in­hosa”.

E por aí vai. Morro e entendo o com­por­ta­mento de “mili­ton­tos” que são capazes de

‘pas­sar o pano’ para tudo que seus líderes dizem ou fazem. Chega ser engraçado que todos estes que se calaram ou jus­ti­ficaram todas as asneiras do Lula durante anos agora virem cen­sores do Bol­sonaro, não que ele não mereça sev­era cen­sura, mas porque nunca dis­seram nada ante­ri­or­mente.

Já disse por diver­sas vezes que não dev­e­ria ser con­sid­er­ado ofen­sivo dizer que alguém é homos­sex­ual, gay, etc.

Os últi­mos tex­tos que abordo o assunto, que lem­bro foram: “A ofensa gay”, onde trato de um entrevero entre os hoje senadores Roberto e Wev­er­ton Rocha, onde o primeiro referiu-​se ao segundo e ao pres­i­dente do seu par­tido como um casal e fechava a pub­li­cação dizendo que “dese­java feli­ci­dades ao casal” e por ocasião do rece­bi­mento de uma queixa ofer­tada pela esposa do senador Wev­er­ton con­tra o senador Roberto, pelo mesmo fato, no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF. O título do texto é “Insin­u­ação de ‘viadagem’ aflora pre­con­ceitos até no Supremo”.

Nestes dois tex­tos os leitores encon­tram com maiores detal­hes o que penso.

Descarto tanto das falas do ex-​presidente Lula quanto do atual pres­i­dente Bol­sonaro a ausên­cia de pre­con­ceitos. Ambas foram man­i­fes­tações de quem vêem os gays como seres humanos infe­ri­ores e ambas foram feitas com intu­itos de ofender as pessoas.

Emb­ora muito comum entre os brasileiros, não con­sigo enx­er­gar graça no chamado “pre­con­ceito recre­ativo”, este em que as pes­soas tiram motivos para riso de situ­ações físi­cas ou situ­ações sex­u­ais de out­ras pes­soas.

O gordo, o magrelo, o negro, o albino, o defi­ciente, o gay, não são motivos de graça para ninguém.

Não é por sua situ­ação que devem ser motivos de cha­co­tas ou dis­crim­i­nações.

No caso do pres­i­dente o caso se reveste de maior gravi­dade, não só pela hon­radez e respeito que o cargo requer, como rep­re­sen­tante de todos os brasileiros, inclu­sive dos gays e dos maran­henses, mas, tam­bém, porque ele pautou sua car­reira política inteira reforçando pre­con­ceitos con­tra as pes­soas, chegando ao ponto de, em deter­mi­nada entre­vista, ter dito que preferiria muito mais um filho morto a um filho gay, muito emb­ora saibamos que todos os seus fil­hos este­jam bem vivos, com a graça de Deus, e um ou outro até ensaie sair do armário de vez em quando. E ninguém tem nada com isso.

Um pres­i­dente da República é pres­i­dente de todos e deve respeito a todos os pre­si­di­dos. Ainda que seja hon­esto, tra­bal­hador, que faça obras impor­tantes e necessárias, isso não lhe dar o dire­ito de ofender os sen­ti­men­tos de nen­hum cidadão. Ainda que traga “bur­ras” de ouro não lhe per­mite dizer asnices.

O Brasil é um país que enfrenta desafios imen­sos, é a econo­mia que não vai bem, com o dívida pública con­sumindo quase a total­i­dade do PIB, é o dólar nas alturas, é o desem­prego com números absur­dos, é a fome que ronda o lares de mil­hões de brasileiros, é a crise ambi­en­tal que se tornou a maior da história, é a edu­cação que não avança, é a saúde que não atende como dev­e­ria, é a cor­rupção que drena os recur­sos públicos.

Com tan­tos prob­le­mas, pre­cisamos de um pres­i­dente da República que se pre­ocupe com os fun­dos da nação e não com fun­dos dos seus cidadãos. Destes, cada um cuida do seu como mel­hor lhe aprou­ver.

Ah, ape­nas encer­rar, o pres­i­dente e seus adu­ladores podem tomar guaranás ou bebidas de qual­quer cor que não cor­rerão o risco de ficarem “boio­las” por conta disso.

Noutra palavras, não poderão usar essa des­culpa se quis­erem “soltar a franga”.

E, para os que não sabem, no Maran­hão não temos “boio­las”, ape­nas “quali­ras” e nen­hum por ter tomado guaraná Jesus.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Comen­tários

0 #2 abde­laziz san­tos 31-​10-​2020 21:40
Texto per­feito. Relem­brar o que disse o Lula anos atrás mostra o caráter homofóbico de ambos, Lula e Bolsonaro.
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0 #1 Amélia Soares 31-​10-​2020 18:24
Con­cordo ple­na­mente, a questão não é a brin­cadeira em si, pois out­rora, em out­ras gestões, vez ou outra, ocor­ria. Prob­lema maior é de quem fala, o inter­locu­tor, que pelo cargo que ocupa não dev­e­ria tecer comen­tários desnecessários e com pre­con­ceitos gri­tantes. Cau­sando descon­forto aos maran­henses e aos brasileiros a nível inter­na­cional. Fal­tou litur­gia, respeito e postura
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