AbdonMarinho - O BRASIL DO AVESSO: A OUSADIA DOS FORAS DA LEI.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O BRASIL DO AVESSO: A OUSA­DIA DOS FORAS DA LEI.

O BRASIL DO AVESSO: A OUSA­DIA DOS FORAS DA LEI.

NÃO SEI se li, vi ou se ape­nas delirei sobre a existên­cia de um mundo do avesso. Neste mundo o Pinóquio não men­tiria, pelo con­trário só falaria a ver­dade e seria «ten­tado» a todo momento pelo grilo falante a men­tir e a come­ter desati­nos; o Lobo Mau seria devo­rado por Chapeuz­inho Ver­melho; o Zorro seria preso todos os dias pelo sar­gento Gar­cia; Eliot Ness seria preso por Al Capone; o mal seria o valor moral em detri­mento do bem; o certo seria o errado e este (errado) o correto.

Situ­ações assim só são imag­ináveis num mundo de ficção cien­tí­fica. E não falo ape­nas das fábulas.

O Brasil, de uns tem­pos para cá, resolveu tornar-​se esse mundo de ficção: um país do avesso, visto a par­tir da imagem inver­tida através do espelho.

Onde você imag­i­naria um sem­i­nário para con­tes­tar ações da Polí­cia Fed­eral, do Min­istério Público e do Poder Judi­ciário no com­bate à cor­rupção desen­f­reada? Onde se imag­i­naria os servi­dores públi­cos imbuí­dos deste propósi­tos – às vezes com o risco da própria vida –, serem tacha­dos como inimi­gos públi­cos? Ora, no Brasil.

O Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, esteve no comando do país de janeiro de 2003 a agosto de 2016, quando a pres­i­dente Dilma Rouss­eff teve o mandato cas­sado. Neste tempo vimos crescer, como política de Estado, os maiores esque­mas de cor­rupção que se tem notí­cia no mundo, em todos os tem­pos. Os esque­mas tin­ham dois propósi­tos bási­cos: o apar­el­hamento do Estado para con­tin­uarem hegemôni­cos e o enriquec­i­mento de seus mem­bros, ali­a­dos, partícipes do saque da nação.

Os esque­mas que vieram à tona desde o chamado escân­dalo do «men­salão» – em que parte da cúpula par­tidária foi com­pel­ida a con­hecer o sis­tema carcerário a par­tir da per­spec­tiva interna –, estão sendo desmon­tado na chamada Oper­ação Lava-​Jato, graças ao tra­balho de poli­ci­ais, del­e­ga­dos da Polí­cia Fed­eral, procu­radores e juízes, prin­ci­pal­mente os vin­cu­la­dos a oper­ação sedi­ada em Curitiba, Paraná.

A oper­ação, além de trazer ao sol todo lamaçal de cor­rupção que afun­dava (e afunda) o país, está sendo respon­sável, até certo ponto, pela resti­tu­ição do alcance e por uma certa mudança de ati­tude de algu­mas empre­sas públi­cas e privadas.

Ape­sar disso – e talvez por conta disso –, começam a levantar-​se tan­tas vozes con­tra a atu­ação de poli­ci­ais, procu­radores e juízes.

E, é neste ponto que o país parece ter enveredado pelo avesso.

Fico per­plexo com as coisas destes tem­pos. Outro dia o Par­tido do Tra­bal­hadores — PT fez um sem­i­nário inti­t­u­lado «O que a Lava Jato tem feito pelo Brasil». Um incauto pen­saria que o par­tido, que foi cri­ado sob o dis­curso da ética, da moral e do com­bate à cor­rupção, iria cer­rar fileiras na defesa da oper­ação. Ledo engano. O sem­i­nário teve o propósito jus­ta­mente con­trário. Para os valentes do par­tido e seus apoiadores, a Oper­ação Lava Jato é uma ameaça a democ­ra­cia, é um desre­speito a Con­sti­tu­ição, um ataque ao estado indu­tor do cresci­mento, que trans­for­mou o país num estado de exceção, e tan­tas out­ras aleivosias.

Em resumo, para estes valentes, a cor­rupção é menos danosa ao país que o seu com­bate. O com­bate à cor­rupção é o ver­dadeiro mal do Brasil da atualidade.

São os poli­ci­ais, procu­radores e juizes, os ver­dadeiros inimi­gos da pátria e não os ladrões que enricaram enquanto cri­anças ficavam sem esco­las, enquanto pacientes mor­riam, enquanto as safras se per­diam por falta de infraestru­tura. Com­bater a cor­rupção levou o país a que­bradeira de empre­sas, do comércio…

A dis­cursão chegou a esse pata­mar. E, vejam que não sou defen­sor de muitas coisas feitas no curso de tal oper­ação, sou con­tra o espetáculo midiático, não duvido que tenha ocor­rido algum abuso (ou abu­sos), por vezes, acho que alguns destes agentes, em nome da causa, ou imbuí­dos de bons propósi­tos (de bem-​intencionados o inferno está cheio), ten­ham bus­cado a pro­moção pes­soal. Mas o que se está dis­cutindo não é isso.

A pauta dos que aproveitaram o poder con­ferido pelo povo para se locu­pletarem não é essa. A pauta destes é se diz­erem víti­mas. Eles, ladrões do din­heiro público são as víti­mas enquanto que aque­las pes­soas que estão, com o risco da própria vida, desmon­tando seus esque­mas cor­rup­tos, são algo­zes. Al Capone passar-​se por vítima, nem pre­cisamos dizer que o Brasil é o país da piada pronta.

Ainda com as insanidades do tal sem­i­nário, ou as diver­sas teo­rias con­spir­atórias que inven­tam dia sim e no outro tam­bém na mídia, não se mostram sat­is­feitos, ten­tam escapar de todos os malfeitos que praticaram pela porta da politização.

É como se nos dissesse: tudo que esta­mos assistindo é uma trama dia­bólica dos inimi­gos do Brasil, dos impe­ri­al­is­tas amer­i­canos, da dire­ita inter­na­cional, da rede globo e todos os demais inimi­gos de sempre.

Querem que acred­i­ta­mos que os dela­tores, que estão con­fes­sando e resti­tuindo parte do roubo são todos men­tirosos. Devem ser. E aque­las con­tas rec­headas de din­heiro no Brasil e no exte­rior não exis­tem, nunca exi­s­ti­ram, estão devol­vendo o din­heiro em sol­i­dariedade ao país. São beneméritos

Agora mesmo um «cole­tivo» de juris­tas assi­nam um man­i­festo acu­sando um juiz de par­cial­i­dade apre­sen­tando como provas meras espec­u­lações de cunho político.

Outro dia foi a vez de um pré-​candidato, no caso, o sen­hor Ciro Gomes, bra­vatear: «ele que mande me pren­der. Vou rece­ber a turma dele na bala». Pelo con­texto da bra­vata, o «ele» é o juiz Sér­gio Moro, a «turma dele» a que se referiu deve ser a Polí­cia Federal.

Vejam se não vive­mos num país onde as coisas estão fora de ordem. O suposto pres­i­den­ciável do PDT, vestido de coro­nel do século 19, trata as insti­tu­ições que dev­e­ria respeitar como se estivesse na sua fazenda. Não que sua bra­vata tenha qual­quer efeito prático, até onde se sabe não responde, até aqui, por nen­huma con­duta tida por ilícita. Mas se estivesse, iria tratar a Justiça desta forma? Rece­ber a PF a bala?

Pois é, mas, se quanto a Ciro Gomes, ninguém escreve o que fala, pois a fama de bra­vateiro vem de longe – emb­ora ainda tenha gente capaz de aplaudir suas insanidades, como neste episó­dio referido –, o mesmo não se diga do ex-​presidente Lula, este age de forma delib­er­ada con­tra as insti­tu­ições e suas insanidades, infe­liz­mente, encon­tram eco no seio da sociedade. Aí mora o perigo.

O ex-​presidente, sabedor que sua situ­ação é inde­fen­sável e que os seus atos são passíveis de punição pela leg­is­lação penal, tem como estraté­gias de defesa dois pon­tos prin­ci­pais: hora apresenta-​se com vitima de uma irman­dade de con­spir­adores con­tra seu pro­jeto lib­ertário (a cor­rupção lib­erta!), hora afrontando as insti­tu­ições da República.

O medo de ir para a cadeia – o que já teria acon­te­cido em qual­quer parte do mundo civ­i­lizado –, o faz colo­car em risco os avanços con­quis­ta­dos até aqui, daí o sem­i­nário de elo­gio ao crime, daí a poli­ti­za­ção exarce­bada de sua defesa.

O ex-​presidente e os seus sabem dos crimes que come­teram, muitos já os con­fes­saram (emb­ora ten­tem igno­rar isso, out­ros não demoram mais a fazê-​lo), por isso ten­tam a todo custo traz­erem o debate eleitoral do ano que vem para este ano. A ideia é: ainda con­de­nado pas­sar aos seus que foi injustiçado para não dis­putar as eleições.

A insanidade e ousa­dia dos foras da lei não con­hece lim­ites. Vai desde a inusi­ta­dos comí­cios em velórios a sem­i­nários e debates com o propósito de inverter a lóg­ica razoável das coisas, onde ven­dem crim­i­nosos como inocentes e poli­ci­ais, procu­radores e juízes, como inimi­gos da nação.

O próx­imo grande ato de ousa­dia crim­i­nosa já foi pro­gra­mado para dia 03 de maio, em Curitiba. Os audazes, com din­heiro dos tra­bal­hadores, recol­hi­dos através do imposto sindi­cal e de out­ras for­mas, pre­ten­dem levar mil­hares de mil­i­tantes, do país inteiro, para Curitiba na intenção de ten­tar intim­i­dar a Justiça, que neste dia ouvirá o ex-​presidente como réu numa das ações que responde.

Será que com isso pre­ten­dem obstruir a justiça e impedir a con­de­nação do réu, caso exis­tam provas sufi­cientes? Será que pre­ten­dem infor­mar a nação que os seus crim­i­nosos não mere­cem e não serão jul­ga­dos por tri­bunais bur­gue­ses, como cos­tu­mam dizer? Ou será que pre­ten­dem levar o país a uma guerra civil e lançar mão do poder de qual­quer jeito?

O ato pro­gra­mado para Curitiba tem o propósito de intim­i­dar as insti­tu­ições do país. Mais uma prova clara de querem um país do avesso e com uma única ver­dade: a dos criminosos.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 Emer­son 05-​04-​2017 19:49
Muito bom texto! Parabéns!
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