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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

SONHOS, ENGODOS E DECEPÇÕES.

Já contei aqui a história de um amigo muito querido que se tornou símbolo de toda a bandalheira promovida pelo governo da companheirada dentro da Petrobras. Deu-se o seguinte: buscando um investimento seguro para uma aposentadoria confortável ele atendeu ao apelo do governo e usou suas economias e, junto com parte do FGTS,   comprou ações da empresa. 

Ele, assim como tantos outros, lamentaram não poder usar mais recursos do Fundo de Garantia e assim comprar mais ações da empresa pois estaria, não só garantindo uma aposentadoria tranquila, como ajudando o país e evitando que as ações da empresa símbolo da nação caíssem nas mãos dos especuladores internacionais.

As últimas notícias dão conta que ele, por confiar nas palavras do governo, está amargando, em dinheiro de hoje, um prejuízo de quase 80% (oitenta por cento) do capital investido, se considerarmos a desvalorização dos títulos e o que poderia ter auferido com a correção do saldo do fundo.

Lembrava deste episódio ao refletir sobre o comunicado oficial feito pela Petrobras de que decidira cancelar em definitivo a construção das refinarias Premium I e II, a primeira no Maranhão e a segunda no Ceará, depois das mesmas terem consumido quase 3 bilhões de reais, dos quais, mais de 2 bilhões na planta do município maranhense de Bacabeira. 

A Refinaria Premium I de Bacabeira foi apresentada como a redenção do Maranhão. Um investimento que serviria para catalisar diversos outros e retirar o estado das últimas posições em tudo que é indicador já inventado. Só empregos, seriam mais de meio milhão. Os mais ufanistas diziam que o desenvolvimento no entorno do empreendimento ofuscaria até a capital do estado. 

Revelei inúmeras vezes, desde a inauguração da pedra fundamental – um ato politico feito com o claro propósito de turbinar a campanha da ex-governadora Roseana Sarney e seus aliados no estado e, ainda, da então candidata Dilma Rousseff –, minhas desconfianças com o projeto. 

Sempre torci para está errado, que de fato construíssem a dita refinaria e ajudassem o Maranhão como um todo, e principalmente, as regiões do seu entorno do atraso de uma vida.

Não eram desconfianças infundadas. Me perguntava como iriam construir três refinarias de uma vez no nordeste. Primeiro que a Abreu e Lima, em Pernabuco, com obras mais avançadas já consumia muitos recursos, saltando de uma previsão de gastos iniciais de US$ 2 bilhões de dólares para quase US$ 30 bilhões de dólares. Segundo, onde iriam achar tanto petróleo para refinar. Ainda mais quando os venezuelanos, que se comprometeram entrar de sócios no negócio e que arcariam com metade dos investimentos, o abandonaram. Espertos esses aliados, viram mais rápido que os brasileiros que se tratavam de um negócio destinado a enricar a muitos espertalhões.

Outra particularidade do empreendimento que despertava minhas reservas era o fato de tais projetos: as duas refinarias, Maranhão e Ceará, não fazerem parte de planejamentos mais antigos. Uma refinaria, ao menos em qualquer lugar sério do mundo, demanda anos e anos de estudos e planejamento. 

A primeira vez que falaram nas duas refinarias foi em 2009. Já em 2010 estavam, às vésperas da eleição que reelegeu Roseana Sarney e elegeu Dilma Rousseff, os grandes da República, reunidos em Bacabeira, para o lançamento da pedra fundamental. Em resumo, o empreendimento tinha todas as características de um golpe eleitoreiro.  O que o tempo acabou por confirmar.

Infelizmente, mais uma vez, escolheram a população de Rosário e Bacabeira como suas vítimas mais diretas. A mesma região que ainda conserva, próximo ao canteiro da refinaria, os escombros do um dia foi chamado do Pólo de Confecções de Rosário, também chamado, à época, de a primeira redenção da região e não passou de um golpe que tomou dinheiro público e deixou inúmeras famílias endividas. Hoje os escombros da refinaria olha para os escombros do pólo de confecções.

Movido por essas desconfianças e pela falta de dinheiro declinei dos vários convites que me fizeram para comprar terrenos, vender alguma coisa e investir, etc. 

Diferente de mim – que desconfiei do discurso salvacionista do então presidente Lula e seus próceres, pois via que os empreendimentos não tinham sustentação, que o Brasil não era essa nova Arábia Saudita, que vendiam –, muitos brasileiros acreditaram no governo e investiram parte de seu patrimônio, senão todo, em projetos no entorno da refinaria, muitos brasileiros, abandonaram seus estados de origens, suas famílias e correram para a nova fronteira econômica que se descortinava no Maranhão. Muitas famílias colocaram seus filhos para fazerem cursos voltados para  área com a certeza de emprego garantido. Essas famílias, perderam dinheiro, esses jovens perderam um tempo precioso. 

Um amigo me dizia, outro dia, que sempre desconfiou, assim como eu, do projeto, mas que tinha um fio de esperança de que o mesmo fosse em frente, principalmente depois de todo o dinheiro gasto. 

O fim da refinaria, é com certeza o fim do sonho e das economias de muitos cidadãos.

Os políticos do Maranhão, uns com cinismo, uns com oportunismo, outros como inocentes inúteis, falam em cerrar a fileira pela refinaria. Muitos destes que falam em protestos sabiam que as reais chances do projeto ir em frente eram nulas, que não passava de bilionário golpe com fins políticos-eleitorais e tentam fugir do linchamento moral. Os demais querem mesmo é ter algum discurso.

Acredito que suas excelências deveriam gastar suas energias neste começo de legislatura para buscar projetos de compensação ou para discutir algum modelo de desenvolvimento. 

Embora a bandeira da refinaria possa render muitos discursos, o debate deve ser travado com um mínimo de realismo. 

A situação Petrobras, em que pese a melhora momentânea, por conta da demissão de sua diretoria, está longe de ser confortável: o roubo de seus ativos por empresários, políticos e funcionários, alcança uma cifra ainda longe de ser calculada, mas que se sabe, alcança mais de uma centena de bilhões de dólares; o valor de mercado da reduzido a metade; a infinidade de ações de cidadãos que sofreram prejuízos devido aos desfalques que todos conhecem. A isso, some-se o cenário internacional: o barril de petróleo que ameaçava chegar a US$ 150 dólares, hoje, chega a pouco mais de US$ 40 dólares; a retração da economia mundial; a exploração por diversos países de outras fontes de energia. Tudo isso contribui para mostrar que a empresa brasileira, se a partir daqui fizer tudo certo, ainda levará um tempo considerável, para se recuperar. A exploração do pré-sal, com os preços do petróleo no mercado internacional, não será um negócio muito vantajoso. 

Diante toda essa crise não vejo como termos sucesso na luta retomar as obras da refinaria de Bacabeira. Nem agora, nem num futuro breve. Talvez daqui a 20 anos. Se o empreendimento ensejava desconfianças, com o preço do barril do petróleo nas alturas, a ideia do pré-sal era apresentada como a nova fronteira e as ações da empresa “bombavam” nas bolsas de valores do mundo, chegando a alcançar um pico de até R$ 70 reais isso quando o litro da gasolina era pouco mais de um real.

A realidade hoje é totalmente diversa. Apenas para citar um exemplo, ainda com o aumento das ações da empresa, o valor de uma ação compra pouco mais de dois litros de gasolina.

Como sugestão aos nossos parlamentares, talvez devessem buscar uma explicação, plausível, para o fato de uma ação da empresa não ser suficiente para comprar três litros de gasolina enquanto o barril de petróleo, que alcançou mais de 100 dólares, não valer a metade do que valia. 

Talvez devessem se perguntar que auto-suficiência é essa.

Abdon Marinho é advogado.