O DIREITO DE SE OPOR.
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- Criado: Sábado, 18 Abril 2015 19:00
- Escrito por Abdon Marinho
O DIREITO DE SE OPOR.
A festa, muito animada, já corria há horas. Não era para menos, depois de quase trinta anos, finalmente, o grupo político, chegara ao poder naquela cidadezinha, perdida no meio do nada, naquele árido sertão. Firmino, o candidato eleito, depois de sucessivas derrotas, e que observava tudo, percebeu que seu compadre Antonio Lima estava meio borocoxô, desanimado, tristonho.
Foi ter com ele.
– O que foi, meu compadre? Só temos motivo para alegria, depois de quase trinta anos, ganhamos a eleição, derrotamos nossos adversários.
Antonio Lima respondeu-lhe:
– Pois é, meu compadre, depois de quase trinta anos, finalmente ganhamos a eleição. E estou triste por isso mesmo, porque agora, terei que me separar dos meus companheiros de tanto tempo. Esse negócio de ser governo não é comigo. Quero lhe avisar que estou indo para a oposição.
E assim fez.
Já contei aqui, acredito, o conselho que costumo dar a alguns clientes do meu escritório, sobretudo, os prefeitos municipais. Costumo dizer-lhes que suas verdadeiras preocupações não são os seus opositores e sim os seus aliados, as pessoas que ele colocou no centro do poder. Notadamente, se estes auxiliares, aliados de primeira hora, são parentes, pois aí se acham duplamente credores da vitória, uma por ter feito campanha, outra por ser parente, como o poder fosse uma extensão da da família ou dos negócios familiares..
Estes, sim, se mal intencionados, e são raros os que não estão, causam mais estragos à administração pública que uma praga de gafanhotos no trigal.
Lembrava-me destas histórias ao analisar os últimos fatos da política maranhense.
Outro dia me chamaram a atenção para o pronunciamento que uma deputada fazia contra o governo estadual, este, com sérias acusações ao mesmo. Acho positivo que isso ocorra – não os fatos narrados na denúncia da deputada –, mas que tenhamos alguém no parlamento atento ao que se passa na máquina administrativa, denunciando à sociedade. Esse é o papel da oposição. Dar publicidade, escarafunchar nos escaninhos. O papel fiscalizador do poder legislativo, não só comporta, como exige isso.
A sua credibilidade perante a sociedade será mantida e medida quanto maior for a consistência de suas denúncias, quanto maior for o comprometimento de suas palavras com o interesse público e com a verdade. Se mentir, distorcer a verdade por conta de seus interesses pessoais ou de seu grupo político, cairá nos descrédito, e mesmo quando falar a verdade a terão por mentira.
São poucas as pessoas, principalmente quando estão no poder, entenderem o papel da oposição e valorizar. Não compreende que uma oposição bem feita vale muito mais que aliados desonestos e bajuladores. Estes, nos seus interesses inconfessáveis, tentam por todos os meios ocultar a verdade dos governantes, colocam-o numa redoma, filtrando e informando-o dos assuntos que deveria saber em primeira-mão, da forma como as notícias e as verdades lhes são convenientes.
Dentro desta linha de pensamento vi com surpresa, não faz muito tempo, um deputado estadual, pai de um alcaide, reclamando que algumas pessoas que fazem oposição ao prefeito reuniram-se, segundo ele, “na calada da noite”, para “tramar» manifestações públicas contra a administração municipal. Pareceu-me um saudosismo tardio do régime de exceção. Primeiro que se a reunião ou reuniões, não se deram com o intuito de promover ou praticar qualquer ato ilícito, elas podem ocorrer em qualquer hora do dia ou da noite, sem dever satisfação a ninguém.
Segundo, o papel da oposição é esse. Ela tem o direito de protestar livremente contra esse ou aquele governo, contra essa ou aquela medida, sendo pacífico o protesto e dentro das balizas legais, faz é bem a democracia.
Estou certo que as manifestações ou protestos só ocorrem e ganham respaldo popular, devido a ação ou omissão dos governantes. Caso não dessem motivo, ainda que fizessem discursos, manifestações, escrevem artigos, não iriam muito longe. Na velocidade que corre a informação nos dias de hoje, todos veriam que as manifestações e protestos não teriam razão para existir e levariam ao descrédito seus patrocinadores.
O que se percebe é que se o governo não tem muita clareza do seja oposição, esta também não fica muito atrás. Sobre os discursos de reclamação do pai do alcaide, vi uma opositora (?), representante da edilidade, dirigir-se a uma delegacia de polícia. Fora registar um Boletim de Ocorrência por ter sido “acusada” de fazer oposição. Como se tivesse sido acusada de praticar qualquer ato delituoso, qualquer crime. Trata-se de um povo esquisito que não sabe o que é, o que quer, o que faz e para onde almeja ir.
No plano municipal – é assim que vejo –, a suposta “oposição” causa menos dano à administração que os próprios integrantes do governo, basta ver os alagamentos cada vez que chove, os buracos que brotam do asfalto, como o mato que brota nos canteiros, e nem se fale das inúmeras vezes que assistimos o setor de obras se ocupar de remendar os remendos das pistas. São essas coisas que enfraquecem a autoridade municipal diante da população, e não reuniões ou protestos. Estes só existem diante do vácuo de gestão.
Se no plano municipal a situação de desgaste é favorecida pelo tempo em que o governo nega as respostas pretendidas pela sociedade o mesmo não deveria ocorrer com o governo estadual com pouco mais de cem dias no poder.
Não deveria. Mas vem ocorrendo.
Na realidade, verdade seja dita, o governo estadual parece frequentar as cordas com mais assiduidade do que era de se esperar, principalmente e sobretudo, tendo em vista o governo ser composto, em grande maioria, pelas mais brilhantes cabeças do mundo jurídico do Maranhão, quiçá do Brasil. Apesar disso, dia sim, noutro também, a oposição capitaneada, praticamente, por uma única deputada, tem discursos dos mais variados sobre práticas governamentais pouco ortodoxas, estejam elas certas ou não, o fato que dia sim e no outro também, temos os integrantes do governo tendo que vir a público prestar esclarecimentos ou em “bate-bocas” por meio das redes sociais.
Não era para ser assim, o novo governo sempre soube que não teriam folga um dia sequer. O próprio governador disse logo após a vitória, que ela, a vitória nas urnas era apenas o primeiro passo para a derrota do grupo político até então no poder e que permanece com seus tentáculos enraizados na estrutura administrativa.
Esse controle da máquina pública pela oposição adversária, facilita o trabalho da oposição ao governo.
E, se é certo que uma andorinha não faz verão, uma só Andreia, munida das informações e contando com a falta de experiência de muitos integrantes do novel governo, faz a oposição.
Abdon Marinho é advogado.
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