AbdonMarinho - O DIREITO DE SE OPOR.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O DIRE­ITO DE SE OPOR.

O DIRE­ITO DE SE OPOR.
A festa, muito ani­mada, já cor­ria há horas. Não era para menos, depois de quase trinta anos, final­mente, o grupo político, chegara ao poder naquela cidadez­inha, per­dida no meio do nada, naquele árido sertão. Firmino, o can­didato eleito, depois de suces­si­vas der­ro­tas, e que obser­vava tudo, perce­beu que seu com­padre Anto­nio Lima estava meio boro­coxô, desan­i­mado, tris­tonho.
Foi ter com ele.
– O que foi, meu com­padre? Só temos motivo para ale­gria, depois de quase trinta anos, gan­hamos a eleição, der­ro­ta­mos nos­sos adver­sários.
Anto­nio Lima respondeu-​lhe:
– Pois é, meu com­padre, depois de quase trinta anos, final­mente gan­hamos a eleição. E estou triste por isso mesmo, porque agora, terei que me sep­a­rar dos meus com­pan­heiros de tanto tempo. Esse negó­cio de ser gov­erno não é comigo. Quero lhe avisar que estou indo para a oposição.
E assim fez.
Já con­tei aqui, acred­ito, o con­selho que cos­tumo dar a alguns clientes do meu escritório, sobre­tudo, os prefeitos munic­i­pais. Cos­tumo dizer-​lhes que suas ver­dadeiras pre­ocu­pações não são os seus opos­i­tores e sim os seus ali­a­dos, as pes­soas que ele colo­cou no cen­tro do poder. Notada­mente, se estes aux­il­iares, ali­a­dos de primeira hora, são par­entes, pois aí se acham dupla­mente cre­dores da vitória, uma por ter feito cam­panha, outra por ser par­ente, como o poder fosse uma exten­são da da família ou dos negó­cios famil­iares..
Estes, sim, se mal inten­ciona­dos, e são raros os que não estão, causam mais estra­gos à admin­is­tração pública que uma praga de gafan­ho­tos no tri­gal.
Lembrava-​me destas histórias ao anal­isar os últi­mos fatos da política maran­hense.
Outro dia me chama­ram a atenção para o pro­nun­ci­a­mento que uma dep­utada fazia con­tra o gov­erno estad­ual, este, com sérias acusações ao mesmo. Acho pos­i­tivo que isso ocorra – não os fatos nar­ra­dos na denún­cia da dep­utada –, mas que ten­hamos alguém no par­la­mento atento ao que se passa na máquina admin­is­tra­tiva, denun­ciando à sociedade. Esse é o papel da oposição. Dar pub­li­ci­dade, escara­fun­char nos escan­in­hos. O papel fis­cal­izador do poder leg­isla­tivo, não só com­porta, como exige isso.
A sua cred­i­bil­i­dade per­ante a sociedade será man­tida e medida quanto maior for a con­sistên­cia de suas denún­cias, quanto maior for o com­pro­me­ti­mento de suas palavras com o inter­esse público e com a ver­dade. Se men­tir, dis­torcer a ver­dade por conta de seus inter­esses pes­soais ou de seu grupo político, cairá nos descrédito, e mesmo quando falar a ver­dade a terão por men­tira.
São pou­cas as pes­soas, prin­ci­pal­mente quando estão no poder, enten­derem o papel da oposição e val­orizar. Não com­preende que uma oposição bem feita vale muito mais que ali­a­dos des­on­estos e baju­ladores. Estes, nos seus inter­esses incon­fessáveis, ten­tam por todos os meios ocul­tar a ver­dade dos gov­er­nantes, colocam-​o numa redoma, fil­trando e informando-​o dos assun­tos que dev­e­ria saber em primeira-​mão, da forma como as notí­cias e as ver­dades lhes são con­ve­nientes.
Den­tro desta linha de pen­sa­mento vi com sur­presa, não faz muito tempo, um dep­utado estad­ual, pai de um alcaide, recla­mando que algu­mas pes­soas que fazem oposição ao prefeito reuniram-​se, segundo ele, “na cal­ada da noite”, para “tra­mar» man­i­fes­tações públi­cas con­tra a admin­is­tração munic­i­pal. Pareceu-​me um saudo­sismo tar­dio do régime de exceção. Primeiro que se a reunião ou reuniões, não se deram com o intu­ito de pro­mover ou praticar qual­quer ato ilíc­ito, elas podem ocor­rer em qual­quer hora do dia ou da noite, sem dever sat­is­fação a ninguém.
Segundo, o papel da oposição é esse. Ela tem o dire­ito de protes­tar livre­mente con­tra esse ou aquele gov­erno, con­tra essa ou aquela medida, sendo pací­fico o protesto e den­tro das bal­izas legais, faz é bem a democ­ra­cia.
Estou certo que as man­i­fes­tações ou protestos só ocor­rem e gan­ham respaldo pop­u­lar, dev­ido a ação ou omis­são dos gov­er­nantes. Caso não dessem motivo, ainda que fizessem dis­cur­sos, man­i­fes­tações, escrevem arti­gos, não iriam muito longe. Na veloci­dade que corre a infor­mação nos dias de hoje, todos veriam que as man­i­fes­tações e protestos não teriam razão para exi­s­tir e levariam ao descrédito seus patroci­nadores.
O que se percebe é que se o gov­erno não tem muita clareza do seja oposição, esta tam­bém não fica muito atrás. Sobre os dis­cur­sos de recla­mação do pai do alcaide, vi uma opos­i­tora (?), rep­re­sen­tante da edil­i­dade, dirigir-​se a uma del­e­ga­cia de polí­cia. Fora reg­is­tar um Bole­tim de Ocor­rên­cia por ter sido “acu­sada” de fazer oposição. Como se tivesse sido acu­sada de praticar qual­quer ato deli­tu­oso, qual­quer crime. Trata-​se de um povo esquisito que não sabe o que é, o que quer, o que faz e para onde almeja ir.
No plano munic­i­pal – é assim que vejo –, a suposta “oposição” causa menos dano à admin­is­tração que os próprios inte­grantes do gov­erno, basta ver os alaga­men­tos cada vez que chove, os bura­cos que bro­tam do asfalto, como o mato que brota nos can­teiros, e nem se fale das inúmeras vezes que assis­ti­mos o setor de obras se ocu­par de remen­dar os remen­dos das pis­tas. São essas coisas que enfraque­cem a autori­dade munic­i­pal diante da pop­u­lação, e não reuniões ou protestos. Estes só exis­tem diante do vácuo de gestão.
Se no plano munic­i­pal a situ­ação de des­gaste é favore­cida pelo tempo em que o gov­erno nega as respostas pre­tendi­das pela sociedade o mesmo não dev­e­ria ocor­rer com o gov­erno estad­ual com pouco mais de cem dias no poder.
Não dev­e­ria. Mas vem ocor­rendo.
Na real­i­dade, ver­dade seja dita, o gov­erno estad­ual parece fre­quen­tar as cor­das com mais assiduidade do que era de se esperar, prin­ci­pal­mente e sobre­tudo, tendo em vista o gov­erno ser com­posto, em grande maio­ria, pelas mais bril­hantes cabeças do mundo jurídico do Maran­hão, quiçá do Brasil. Ape­sar disso, dia sim, noutro tam­bém, a oposição cap­i­taneada, prati­ca­mente, por uma única dep­utada, tem dis­cur­sos dos mais vari­a­dos sobre práti­cas gov­er­na­men­tais pouco orto­doxas, este­jam elas cer­tas ou não, o fato que dia sim e no outro tam­bém, temos os inte­grantes do gov­erno tendo que vir a público prestar esclarec­i­men­tos ou em “bate-​bocas” por meio das redes soci­ais.
Não era para ser assim, o novo gov­erno sem­pre soube que não teriam folga um dia sequer. O próprio gov­er­nador disse logo após a vitória, que ela, a vitória nas urnas era ape­nas o primeiro passo para a der­rota do grupo político até então no poder e que per­manece com seus ten­tácu­los enraiza­dos na estru­tura admin­is­tra­tiva.
Esse con­t­role da máquina pública pela oposição adver­sária, facilita o tra­balho da oposição ao gov­erno.
E, se é certo que uma andor­inha não faz verão, uma só Andreia, munida das infor­mações e con­tando com a falta de exper­iên­cia de muitos inte­grantes do novel gov­erno, faz a oposição.
Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 michael 22-​04-​2015 11:50
Rsrsrsr muito bom. O último pará­grafo é fenom­e­nal. Rsrsrsrsrsrs.
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