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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

PEDE PRA SAIR, QUEIROGA!

Por Abdon Marinho.

PARECE que estou ficando velho. Sou de um tempo em que as pessoas cultivavam o amor próprio, o autorrespeito, zelo pelo bom nome.

Ainda lembro do meu saudoso pai dizendo que o maior patrimônio de um homem era o seu nome. Dizia também que “quem muito se abaixa o fundo aparece”. 

Apesar de ouvir tais coisas há, no máximo, trinta ou quarenta anos, parecem saídas de filmes ou séries de época, tal a distância em relação aos dias atuais. 

Vejo cidadãos para quem tais coisas mas parecer refletir um comportamento de abobados.

Vejo pessoas, que todos sabem ladrões portarem-se como se fossem os paladinos da moralidade. Querem enganar a quem? Será que não sabemos que fizeram fortuna desviando os recursos públicos, matando pessoas nas filas dos hospitais, negando o conhecimento e o futuro de crianças, negando alimentos a uma multidão de famintos?

Como se fôssemos tansos, exibem-nos suas fortunas conquistadas às custas do suor e das lágrimas de milhões de brasileiros.

Outros, escravizados pelo chamado status ou pela fama dos cargos, pouco ligam para o amor próprio, pelo zelo do nome e acabam por perder o respeito dos demais e o próprio autorrespeito. 

Vejam o caso do “ainda” ministro da saúde, Marcelo Queiroga.

Na sua página na internet, o Ministério da Saúde, apresenta o titular da pasta, no que interessa, da seguinte forma: 

“Médico cardiologista, Marcelo Queiroga foi presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), sendo membro permanente do seu Conselho Consultivo. Integra, desde os anos 90, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba na qualidade de Conselheiro Titular, tendo ocupado a diretoria por duas ocasiões. No Conselho Federal de Medicina, foi membro da Comissão de Avaliação de Novos Procedimentos em Medicina, por 4 anos. Atualmente, preside a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).Natural de João Pessoa (PB), Queiroga é formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba (1988)”.

Muito embora não seja um currículo de grande vulto, dele sequer precisaria se lhe sobrasse zelo pelo bom nome, o amor próprio e o autorrespeito. 

Imagine que você – seja que profissão tenha –, seja contratado para fazer um trabalho e o seu contratante não se ocupasse de outra coisa que não fosse sabotar a sua missão, fazer justamente o oposto do que você, o profissional contratado, recomenda. 

O que você faria? 

Imagine que você, emprestando seu nome a uma missão fosse tratado com desrespeito ou menosprezo.

O que você faria?

Para as duas perguntas, se você tem um pouco de pudor – a velha e desusada vergonha na cara –, o que lhe resta é agradecer e pedir para sair. Pode fazer usando qualquer desculpa, inclusive, ignorando os reais motivos. 

Pois bem, após a desastrada gestão do general Pazuello frente ao Ministério da Saúde, o senhor Queiroga assumiu a pasta com a missão de emprestar seu nome, sua técnica e conduzir-nos nesta que é a maior crise sanitária de todos os tempos. 

Disse que iria se guiar pela ciência respeitando os protocolos já usados e que renderam resultados nos outros países. 

Talvez envaidecido pelo prestígio do cargo de ministro de estado, o senhor Queiroga tenha esquecido de combinar com o chefe, o senhor Bolsonaro e, por isso, se tiver vergonha, deve passar sofridos constragimentos.

Desde que assumiu o “chefe” não passa um dia sem desafiar as regras preconizadas pelo Ministério da Saúde como essenciais para o combate à pandemia. Dia sim e no outro também promove desnecessários eventos com aglomerações; tem ojeriza ao uso de máscaras e, nem a título de exemplo e para inspirar os seguidores, consegue usá-las – no Brasil pois no estrangeiro usa –, sem contar que não cessa de prescrever medicamentos para a COVID já descartados pela ciência e pelo resto do mundo há mais de ano. 

Como se todo o conhecimento científico do mundo estivesse errado e só ele certo, não cessa no absurdo. 

E o que faz o ministro da saúde que prometeu se guiar pela ciência? Nada.

Como desculpa diz não ser censor do presidente.

Que o tratamento à base de medicamentos recusados pelo mundo científico permanece no site do Ministério da Saúde, por seu conteúdo “histórico”.

Ora, se nem o empregador está disposto a seguir a recomendação do seu ministro, o que faz ele no cargo?

Não fica constrangido ao pedir para a patuleia adotar um comportamento que nem o seu empregador e, em tese, principal interessado no êxito do serviço, adota? 

Não sente constrangimento por convidar alguém para um cargo do Ministério e a pessoa não ser nomeada por falar a língua da ciência que jurou seguir?

Pior, ter que manter uma equipe que passa longe dos postulados científicos. 

A falta de envergadura moral – pois se tivesse, já teria entregue o cargo há muito tempo –, faz com que o seu chefe aumente o nível de humilhação pública. 

A última – mas não a derradeira –, foi referir-se ao ministro de estado do seu governo como “um tal de Queiroga”. 

Neste caso, a humilhação significa a desmoralização do próprio governo e do seu presidente. Eu, presidente, não nomearia um “tal de coisa alguma” para o meu governo.

Um médico, presidente disso ou daquilo, ex-dirigente de entidade assim ou assada, aceitar o tratamento de “um tal de Queiroga”!? 

O ministro, fazendo jus ao que disse meu pai, já tendo se abaixado tanto, talvez não tenha achado nada demais na forma desrespeitosa como foi tratado pelo presidente/chefe. Tivesse vergonha na cara teria cobrado respeito.

Mas o desrespeito – que a muitos soaria como insulto –, veio acompanhada de uma “ordem” das mais exdrúxulas – para o momento.

O presidente da República do país em que estão morrendo quase duas mil pessoas por dia pela pandemia, com a soma total se aproximando de meio milhão de vidas perdidas e onde a  vacinação agora que alcançou 11% (onze por cento) com duas doses, disse que recomendara ao “tal Queiroga” que ultimasse um parecer visando a dispensa do uso de máscaras pelas pessoas já infectadas e/ou que já tenham sido imunizadas. 

Desnecessário dizer que não existe qualquer amparo científico ou lógico para a “ordem” transmitida para o “tal Queiroga”. Tanto assim que a comunidade científica, não apenas do Brasil, mas do mundo, reagiu com estupefação à ideia de sua excelência.

O “tal Queiroga”, entretanto, além de não fingir indignação, confirmou o parecer, apenas ressalvando que seria um estudo para o “futuro”. 

Diante da reação de autoridades e cientistas, o próprio presidente ensaiou uma meia-volta, no dia seguinte disse que essa “recomendação” dependeria de aceite de governadores e prefeitos já que ele, presidente, “não apitaria nada nessa questão”. 

Apesar de todas essas humilhações públicas e até desrespeito, o tal Queiroga – agora sem aspas –, parece que ainda não se deu por achado ou que a sua coluna pode vergar-se ainda mais. 

Conhecesse o sentido da palavra brio já teria pedido o “boné”.

Pede para sair, Queiroga!

Abdon Marinho é advogado.